Volume IV – Arco 12
Capítulo 97: Crise nas Montanhas
O ar intoxicado do poço agredia as narinas do rapaz. As águas negras e seus cadáveres putrefatos logo abaixo da superfície o cercavam. O relâmpago tingiu o poço de branco, revelando sua companhia. Era um homem de barbas brancas, vestindo uma malha rasgada.
“Neste mundo, quem decide são os poderosos”, ele disse.
“Eu não queria isso”, o rapaz respondeu.
“Pode acreditar, ninguém queria. Mas todos fomos vencidos pela força”
Tudo voltou à escuridão. Várias mãos se envolvendo, agarrando e puxando o rapaz. Pescoço, perna, braços. A água negra penetrava seus pulmões. Depois um rugido da terra. Ele deslizava para o abismo, porém rente às paredes do precipício. Alguma coisa para se segurar. Espalhando os braços ele esperou que o milagre viesse, enquanto a torrente de lama o varria para a morte quando…
— Ah! — ergueu-se da esteira onde se deitava.
Suas mãos apertavam o cobertor rasgado, observando o presente, numa caverna iluminada por velas. Seus companheiros olharam na sua direção por um instante, depois voltaram ao que faziam. Fora da sua visão de trás uma voz doce perguntou:
— Mais um pesadelo?
— O mesmo de sempre — respondeu ele, coçando os olhos.
— Prometeu que seguiria em frente, Suzaki — sussurrou Nubi abraçando seus joelhos escondendo seu rosto.
— Me chame de Zeta — respondeu virando-se para a garota.
A caverna escura de repente foi iluminada por uma luz verde, junto a um alarme que soou do lado de fora. O portal na entrada da capela revelava Nobura e Seth que entravam nos domínios.
— Qual é a da vez? — perguntou Mayuri.
— Houve uma reviravolta inesperada — Seth entrelaçou os dedos.
— Itoshi adiantou seus planos — rosnou Nobura — Houkara avançou sobre o território azul.
Atento às palavras do líder, imediatamente Suzaki ameaçou a se levantar em direção a saída, quando foi segurado pela criança, que sussurrou novamente:
— Se está voltando, é porque nunca quis ter saído.
O príncipe renegado se soltou dos frágeis braços de Nubi, percebendo os olhares dos outros súditos em detrimento de sua caminhada até o homem mascarado que nem ao menos havia o convocado.
— Manda lembranças para os seus amiguinhos, Zeta! — comentou Shunara rindo.
— Epsilon — chamou Seth com expressão de satisfação, com Kimijime obedecendo.
— Venha também — ordenou Nobura.
Seu rosto desfigurado continuou inexpressivo encarando Suzaki que o ignorou, dando um passo para o lado.
— Tem duas semanas para concluir a campanha — explicou o mascarado — Mais que isso, não serão acionados no deserto. Leve-os daqui, Seth.
Um portal cobriu os dois rapazes e o feiticeiro, estourando eles para longe dali. O trio se materializou em um acampamento, no pé de um monte. Seus muros de madeira guardavam guardas que observavam a mata escura morro acima com suas lunetas
“Entendo, o Monte Nokyokai”, refletiu Suzaki, olhando debaixo pra cima.
As mesas para refeição estavam preenchidas somente pela metade. Já as cabanas estavam todas vazias, exceto por uma. Seth deixou seus convidados nesta, e se retirou.
Lá dentro, Houkara estava debruçado numa mesa recheada de peças de armadura enferrujadas, picaretas e martelos. No fundo havia um mapa do monte acima deles, rasurado por giz preto. Suzaki reconhecia aquelas rotas, as mesmas que havia dito naquele dia ao general.
— Senhor — disse Suzaki.
Houkara ergueu a cabeça para reconhecê-los, antes de revirar o entulho na mesa novamente:
— Pelo menos, Nobura reconheceu a necessidade de um dos nossos para vencermos.
— Ele aqui sabe o que acontece se algo der errado aqui — provocou Kimijime, cutucando Suzaki com os cotovelos — Eu sou a sua garantia de sucesso.
— A temporada de tempestade é em poucos meses — disse Suzaki — Ainda que conquistemos Nokyokai, estaremos presos lá até que…
— Você já me deu sua contribuição tática, azul — puxava um relógio de bolso entre a montanha de pertences — Agora só preciso da sua obediência, para sucarteamos toda sua raça de pestes.
Suzaki levou as mãos à sua espada nas costas, quando Kimijime encostou no seu braço. Ele visualizou o corpo de Houkara partido em dois por um breve instante até que voltou à realidade com a voz de seu parceiro:
— Ele não será um problema.
Suzaki encarou Kimijime que sorria, na medida que tirava suas mãos da empunhadura.
— Assim espero — respondeu Houkara, guardando o relógio no bolso — Estes foram os espólios somente do primeiro dia. Mesmo sendo uma pocilga, eu esperava que esse exército imperial tivesse mais a oferecer. São um bando de pobretões.
— Quanto falta para o topo? — perguntou Suzaki.
— Eu quero atingir o topo até o final da semana. Eles estão dando menos trabalho que os isolacionistas — soltou uma gargalhada — Tivemos zero baixas em um dia inteiro! Que fracotes. E por falar nisso…
Houkara sacou um único relógio da pilha, depois correu para a saída da sua cabana. Ele encheu o peito e gritou:
— Eu levo vocês à vitória e é assim que me pagam?! Um mísero relógio de bolso?! Queimem o resto, junto com o peso morto!
— Peso morto? — perguntou Suzaki para Kimijime.
— Você vai ver — respondeu o súdito, saindo da cabana.
Os homens de Houkara invadiram a cabana, recolhendo tudo que havia na mesa. Enquanto isso, Suzaki seguiu Kimijime para um terreno ao lado do acampamento. Uma pilha de corpos de Heishis recebia o lixo descartado pelo general Kuro. Um dos guardas acendeu uma chama e deixou tudo queimar.
— O que estão esperando?! — gritou Houkara da entrada do acampamento — Voltem lá e me entreguem algo de valor!
“Os poderosos que decidem…”, Suzaki pensava observando as labaredas.
— E vocês — apontou Houkara aos dois Súditos — conquistem o monte!
Enquanto os gritos de desespero dos soldados na fornalha atingia o ambiente, algumas centenas de homens abandonaram o acampamento armados da cabeça aos pés, com Kimijime e Suzaki os seguindo logo atrás.
O dia amanheceu no internato mirim ao som dos alarmes do complexo. O lugar estava cheio de Senshis, preenchendo transportes com todos os tipos de carga. Em pouco tempo, os mirins acordaram para formar do lado de fora, onde seus professores esperavam por eles.
— Os avanços das tropas Kuro chegaram antes do esperado — Iori tomou a palavra — Mas não se enganem, vocês se preparam para este momento. A partida dos escolhidos começa de forma efetiva e imediata.
— Os que estão portando as pulseiras, podem dar um passo na direção de Arata — sinalizou Tomio — os que estão sem, na minha frente.
As filas dos mirins se desmanchavam para formar outras de acordo com as ordens. Durante essa troca, a turma se cumprimentou uma última vez.
— Vamos Jin — Umi puxou seu irmão para perto, sem tirar os olhos de seu pai.
Nakama corria para um lado, quando sentiu algo tocar o seu ombro.
— Você precisa ficar bem! Vai lutar sem mim dessa vez — dizia Yachi — Lembra de fazer um sacrifício assim que puder e escute seus superiores.
Jin tendo seu braço puxado ainda sim acompanhou a despedida dos dois irmãos, reparando em Umi na sua frente. Um pouco distante da multidão, Yukirama observava de braços cruzados, quando Masori passou por ele.
— Só porque não vou ficar de olho em você, não significa que vai poder arrumar confusão.
— Masori — puxou seu braço — se cuida.
Ela respondeu com um sorriso antes de ser solta por Yukirama de volta à formação. Mais a frente, Katsuo esperava na fila dos que não receberam a pulseira, até notar uma larga sombra projetada atrás dele.
— Tchau — disse Kazuya.
— É, até — se virou estendendo a mão — quanto tempo será que ficaremos sem…
— Ei — gritou Yanaho se aproximando o interrompendo.
— Poxa — levou a mão à cabeça — seu que essa hora ia chegar mais… mesmo assim não sei como fazer isso.
— Até o fim — estendeu o punho para o amigo — acredite, nos veremos de novo.
Katsuo saltou para Yanaho, o abraçando:
— Até o fim.
Kazuya apenas virou-se de costas seguindo caminho, até que Iori deu o último aviso para se apressarem. Assim que as fileiras ficaram prontas, Arata avisou aos de pulseira:
— Eu irei acompanhá-los até o império Ao. Nosso destino é a sua fronteira com o território Kuro, o monte Nokyokai.
— Enquanto vocês, virão comigo para o deserto — explicou Tomio para sua fila — Esperamos receber a próxima incursão deles por lá.
“Katsuo…”, refletia Yanaho notando a apreensão no rosto do amigo, “O deserto foi perigoso até para mim”.
Iori caminhava entre as fileiras, procurando por um mirim até que parou na frente de Usagi:
— Me dê a sua pulseira.
— Espera, por quê?
— Eu estava procurando por você. Tivemos uma troca de última hora — ergueu a vista por cima das filas — Tsuneo, erga seu braço.
Tsuneo, posicionado em paralelo com a fileira de Usagi, olhou para os lados. Aiko arranhava a palma da sua mão. Timidamente, ele ergueu o braço direito. Iori foi ao seu encontro.
— Mas… por que eu comandante? — Tsuneo recebia o objeto.
— Silêncio — interrompeu Iori — A decisão foi feita.
Deixando a fileira, Iori permitiu que Tsuneo e Usagi trocassem de filas. No meio do caminho, Usagi o puxou pelo braço dizendo:
— Proteja a todos.
O comandante observava a troca, logo após cruzou os braços declarando aos presentes:
— Tomio estará com vocês no deserto. Arata e eu vamos acompanhá-los em Nokyokai.
— Dado o nosso histórico com os azuis, nossos líderes já enviaram um encarregado para mediar nossa recepção — explicou Arata — Mesmo assim fiquem perto de seus supervisores ou dos Senshis encarregados do seu pelotão no campo de batalha.
— Precisamos conquistar a confiança deles — concluía Iori — Mas sem demonstrar fraqueza.
Todos embarcaram nas carruagens e transportes disponíveis. Os grupos se dividiram em duas caravanas, que se separaram na primeira bifurcação da estrada.
Um viajante conduzia sua humilde carroça pelas montanhas. O ar rarefeito o fazia expandir ainda mais sua volumosa barriga atrás de forças para chegar ao seu destino. Foi na próxima curva, que a estrada empurrou as montanhas para o lado, revelando a capital Ao.
Pelo caminho, uma criança passou na frente da condução do sujeito. Ela estava com os braços cheios de laranjas manchadas de cinza, correndo para pegar uma que caiu na lama.
Após uma parada abrupta, ele estendeu a mão atraindo a fruta caída para suas mãos. A criança a seguiu, como se ainda estivesse perseguindo o vento, até dar de cara com seu benfeitor.
— Não é bom comer isso — dizia Onochi, enfiando a mão na sua bolsa — Vamos fazer uma troca, criança.
— Devolve! — ela protestou
— Um momento — puxou duas maçãs e a ofereceu ao menino — Você me fala onde comprou essas frutas e eu te dou mais dessas. O que você acha?
A criança deu uma mordida na maçã e imediatamente começou a devorá-la. Ela concordou com a cabeça e correu para a rua adjacente. Onochi a seguiu ainda na carroça até um vendedor, ocupado na entrada de uma casa.
A barraca do sujeito estava afundada na lama. Ele andava de um lado para o outro, erguendo o joelho até as cinturas enquanto movia as frutas mais escuras da frente para o fundo.
— Obrigado, criança — entregou mais frutas para ele — Lembre-se de dividir com seus amigos.
A criança partiu, porém o vendedor continuou a mexer nas frutas, quando Onochi cruzou os seus braços:
— Faz ideia do que está vendendo para as pessoas?
— Pelo visto você não é daqui, ninguém neste lugar tem o luxo de escolher o que come — o vendedor recolheu as mãos — E eu tô tentando ganhar a vida honestamente.
— Ouvi falar que as plantas que crescem no vale são deliciosas — pegou uma laranja — Mas também me disseram que as tempestades dizimam os pomares.
— Esse daí, nem se o Sol caísse do céu, ele faria alguma coisa — apontou para o palácio no horizonte — Agora, dá o fora daqui. Sua cara vai assustar os meus clientes.
— Eu tenho uma ideia melhor — largou mão da laranja e abriu a carroça.
Poucos minutos depois, Onochi partiu para o castelo. A bancada que havia deixado para o vendedor estava repleta de frutas frescas, de todos os tipos.
— Cobre um preço justo — estalou as rédeas — Compre comida de verdade com o que ganhar.
Os olhos do vendedor brilhavam frente a bancada, fazendo-o se emocionar. Quando virou para agradecer, o Shiro já havia partido.
Chegando no precipício entre a cidade e o palácio logo a frente, Onochi colocou seus cavalos para descansarem e saltou da ravina. Em poucos segundos, ele se ergueu acima da montanha, na altura dos muros do palácio imperial.
— Mas o que… — os sentinelas avistaram o Shiro — Atirem nele!
— Sem violência — afirmou Onochi, sentando na beirada e puxando um envelope da sua bolsa — Eu vim em nome da Aliança Orange. Seu imperador tem assuntos a tratar conosco.
O Heishi tomou o bilhete das mãos de Onochi, olhou para frente e o verso, trocando olhares com seus parceiros. Em pouco tempo, o Shiro foi conduzido ao andar mais alto na casa imperial, exceto pelas torres.
A sala que o aguardava tinha uma mesa larga, forrada por um mapa enfeitado por peças de metal e couro. A parede ao fundo era totalmente composta por vidraças, protegida com telhas e grades de ferro do lado de fora, mas com plena vista para a estrada que vinha do norte.
Satoru estava de costas para a entrada, encarando seu reino logo abaixo, quando o estalo do fechar da porta captou sua atenção:
— Imichi não veio?
— Sou Onochi Shiro, irmão dele. Fui enviado para ajudar neste momento de crise.
— E que crise — disse Satoru, virando para a mesa — veja.
— O exército Kuro já avançou tanto? — reconheceu os botões pretos.
— Estão avançando faz dias — apontou para o mapa — Não há lugar para circundar o monte, então o único caminho é subindo.
— Então a batalha já começou. Seus homens podem segurá-los até a chegada dos Aka?
Satoru puxou da gaveta um saco de pano. Ao abri-lo, ele jogou os botões na mesa, ao lado das peças azuis. Estes novos tinham uma fita vermelha enrolada em seu diâmetro.
— Estamos com um contingente reduzido de Heishis depois do incidente com a corte. Pagamos mercenários pelo serviço, porém…
— Estão sem dinheiro? Os Aka poderiam contribuir.
— Nokyokai é uma região perigosa por si só. Não sabemos até quando esta campanha vai durar. Infelizmente, dinheiro algum paga o sofrimento de uma guerra em meio às tempestades dos meses seguintes — movia as peças vermelhas à frente das azuis — Mesmo assim, acredito que seu exército vai cumprir com o objetivo.
— Os Aka estão a caminho, sou garantia disso, mas… isso será o suficiente para repelir a ameaça?
— Repelir é uma palavra forte — se virou de costas, encarando a estrada que levava ao norte — Eu vejo benefício em apenas atrasá-los.
— Há homens de sua guarda agora com risco de vida na fronteira. Se os Kuro conquistarem o monte, será tudo por nada.
— Deixe que eu me preocupe com os Heishis — dizia com as mãos para trás — Em momentos como esse, sacrifícios são necessários.
— Até mesmo os civis? Há cidades no caminho.
— Já cuidei disso. Não tem mais nada de valor naquelas cidades. Mas os Kuro não precisam saber — continuava olhando pela vidraça.
— Trabalhar com o pior cenário em mente — Onochi avançava as tropas Kuro no mapa — como espera vencer assim?
Avistando a estrada para o norte, Satoru reconheceu um homem à cavalo vindo na direção do palácio. Ele se virou para Onochi, mudando o tom da voz:
— É claro que não queremos que chegue a este ponto. Eu quero convidá-lo a pensar em outra perspectiva. Com as tempestades vindo nos próximos meses, onde você prefere que nossos inimigos fiquem? Protegidos na Depressão Kuro, ou enclausurados nas cavernas de Nokyokai, privados da luz do Sol e de recursos?
— Melhor ainda, onde queremos nossos próprios homens quando essa hora chegar? — se perguntou Onochi.
— Está começando a entender — caminhou até a porta, após ouvir uma batida.
Ao abri-la, um jovem de pele clara e cabelo amarrado estendia um pergaminho, com um selo azul marinho nele. O imperador o leu por alguns segundos, então o dispensou. Onochi observou tudo, sentado diante da mesa de guerra, quando sua companhia se virou para ele.
— Espero que seus amigos cheguem logo — dizia Satoru — Agora se me der licença, preciso atender a um chamado. Volto em breve.
— Não vou a lugar algum — comentou Onochi, reparando nas fitas vermelhas entre as peças azuis e pretas.
O exército azul estava em retirada para o topo de Nokyokai. O rugido da marcha dos Kuro estremecia a terra. Aqueles que rastejavam no chão eram executados na hora.
Alguns poucos Kuro saíam da formação para pilhar e recolher os corpos. O pequeno time conduzia um carrinho de mão pelo terreno arrasado, enchendo até a borda com os pertences deles.
— Eu tô começando a achar — Kimijime levava a mão ao queixo — Que destruir toda a sua família não foi nada demais.
Suzaki permaneceu calado, com os olhos fixos nos cadáveres. Seus rostos estavam fracos, e pele cadavérica. De repente, a terra estremeceu outra vez. Ambos os súditos olharam para o topo. Era uma enxurrada de pedras descendo sobre eles.
— Dispersem! Dispersem — ordenou um guarda.
Kimijime subiu numa árvore. Suzaki ficou parado, esperou um enorme pedregulho vir na sua direção e o partiu com sua espada. A formação da Guarda Pacificadora havia sido dividida em dois pelo ataque surpresa. Uma parte ficou pelo caminho, esmagada pela avalanche.
Em pouco tempo, novos Heishis surgiram. Eram três pelotões, que circundam as duas metades da tropa. Suzaki olhou para Kimijime, notando o recuo das tropas Kuro.
— Já que derrubar a corte não foi o bastante, imagino que tenha ainda mais a destruir — comento Kimijime ainda no galho da árvore — essa é sua deixa, Zeta.
Suzaki tomou impulso. Um raio costurou o primeiro grupo de Heishis, deixando um rastro de corpos. Ele saltou pelos ombros da primeira fileira, até descer e deslizar com sua espada pelos soldados mais ao fundo da formação, com todos o cercando conseguiu notar o respeito dos homens de armadura que tremiam de medo sem nenhum avanço.
— Será que... é-é ele? — comentou um dos Heishis.
— Estão com medo? — respondeu Suzaki, juntando suas mãos — Bom.
Seu kazedamu os arremessou para todos os cantos. Com uma parte dos inimigos dispersos, Suzaki se encontrou com a metade da Guarda Pacificadora.
Os homens de Houkara seguiram em linha reta, matando o que aparecia em seu caminho até se encontrarem com o restante do pelotão. A outra metade estava cercada por dois terços dos reforços Heishis, mas a chegada de Suzaki e seu pequeno exército obrigou o exército azul a desistir do contra-golpe.
Assim que se uniram, os Kuro contabilizaram suas primeiras baixas. Durante a evacuação, Suzaki perseguiu um Heishi atrasado, notando sua dificuldade de ficar em pé pelo peso. O interceptou pregando contra uma árvore com sua espada, notando a palidez e espanto em seus olhos.
— Por favor — o homem fechava o olho — Não me machuque. Eu faço o que você quiser.
— Por que está aqui? — apertou sua arma contra o ombro dele.
— Eu tenho família. Eu imploro, me leva mas não faz nada com eles.
— Com peninha dos seus, Zeta? — disse Kimijime, chegando por trás de Suzaki.
Suzaki tirou a lâmina do ombro do homem, que caiu de quatro no chão, se afastando com os olhos vidrados no rosto do súdito que chegava.
— Você não é um Heishi. Quem te colocou nessa luta? — Questionou Zeta.
— O imperador… ele disse que a gente tem que proteger a nossa terra… De invasores. Eu queria fugir — apertava a ferida aberta — mas os Heishis me obrigaram.
— Nada mudou mesmo — Suzaki deu as costas.
— Tá olhando o quê? — disse Kimijime para o homem, puxando sua espada.
Surdo às súplicas do homem, Suzaki deixou seu companheiro acabar com sua vida. O exército Kuro se dividia outra vez. Uma parte descia a montanha com a pilhagem, enquanto que a outra prosseguia para o topo.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.