Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume IV – Arco 12

Capítulo 100: Acerto de Contas

O solo secava na medida em que a chuva cessava no topo da montanha. Os Senshis subiam a passos vagarosos. A luz de suas auras estava apagada, escurecendo a floresta. No caminho deles, havia os restos de Heishis executados. Cada rolar de pedra ou sopro gélido nos arbustos, eriçava os Aka da linha de frente até decidirem se estacionar mais uma vez. 

Após dez minutos de espera, um barulho ritmado chegou aos ouvidos de Iori. Sua mão levantada sinalizou aos seus homens que se prepararam, todos escondidos em árvores e arbustos. 

O barulho do metal tilintando com os passos crescia. Iori aguardou todos ficarem à vista para medir os seus números, quando finalmente abaixou o braço:

— Agora!

A floresta se acendeu em um vermelho alvejado e cegante. Os Kuro mais recuados, viram seus parceiros em poucos segundos mortos no chão, na medida em que seus olhos se acostumaram com a cor das auras. 

A Guarda Pacificadora puxou suas armas, enquanto os Aka tiravam as suas dos corpos das primeiras baixas. Independente da desvantagem inicial, eles avançaram somente para encontrar uma linha impenetrável nos Senshis. Os Kuro fitavam seus olhos, mas não havia dúvidas ou recuo em nenhum dos seus inimigos.

— Avancem! — ordenou Iori, ao passo que a barreira de escudos Senshi convidou os Kuro a avançarem.

Da barragem vermelha, brotaram lanças que perfuraram mais inimigos. O muro Senshi avançou agora de maneira disforme, caçando os Kuro. Iori correu na frente, até ser agarrado por um inimigo. Eles rolaram no chão, com o general Aka parando por baixo. Sua espada fora do alcance.

Ambos fitaram os olhos um do outro, quando Iori puxou uma faca da sua cintura perfurando seu lado. 

— O que vocês fizeram? — o Kuro perguntou, antes de uma espada brotar de suas costas.

Jogando o inimigo para o lado, o Senshi ergueu Iori do chão. Mais dois inimigos vieram até eles. Iori desviou do primeiro, atravessando sua faca no pescoço nele. O segundo foi aparado pelo Senshi ao lado, dando tempo para o general pegar sua espada do chão e separar sua cabeça do corpo.

— Senhor — o Senshi ergueu a cabeça — Estão recuando! 

— Se apoiaram muito em seus poderes oculares — limpou o sangue do rosto — em condições iguais as coisas mudam. Senshis, vamos mostrar o que é um exército de verdade! 

A convocação de Iori foi cortada por uma pedra voando pelo céu. Ele reparava em sua direção, enquanto o objeto disparado sobrevoava todo o campo, atingindo a retaguarda. O impacto ocorreu bem perto dos mirins na formação.

— Pedras a caminho! — gritou um dos Senshi — Protejam-se sem dispersar!

— De onde eles tiraram isso? — perguntou Umi. 

Não demorou muito para outro disparo descer sobre eles. Dessa vez, vinha bem na direção da mirim. De repente, um vendaval desviava o pedregulho, salvando ela da morte certa. Yanaho aterrissou no meio deles, suspirando aliviado:

— Essa foi por pouco.

— Valeu. Quem consegue arrastar uma catapulta pro topo do monte? — questionou Umi.

— Deve estar vindo do outro lado do monte — interrompeu Yukirama, trazendo um Heishi com a cabeça sangrando. 

— Será que querem cortar rotas de fuga? — percebia Yanaho, notando seu companheiro colocar o soldado no chão — Se for o caso, temos que tirar os feridos daqui logo.

Yukirama repousou o Heishi numa árvore e fechou seus olhos. Kazuya veio logo a seguir com mais dois resgatados nos braços ainda respirando. Outra catapulta caiu, pert dali, mas ninguém se feriu. Os Senshis do meio da formação recuaram:

— Não dá para ficarmos aqui. A linha de frente precisa avançar sem se preocupar com vocês. Esses Heishis são peso morto na batalha.

— A maior parte já foi resgatada — sinalizou Kazuya — Eu duvido que vamos encontrar mais sem irmos próximo a linha de frente. 

— Vamos fazer o quê? Recuar — cruzou os braços Yukirama — É uma longa descida. Precisamos achar um abrigo para quem sobreviveu. O monte é grande, tenho certeza que…

— Nada disso — apontou o Senshi — Todos tem que ficar juntos. Ficaremos expostos sem os núcleos.

— Vocês conhecem a área, certo? — Umi chutou um dos Heishis no chão — Estamos aceitando sugestões.

O sujeito acenou com a cabeça. O segundo Heishi se levantou, apoiando as costas no tronco, tentando falar: 

— As montanhas… Tem cavernas dentro. Estávamos descendo até uma quando encontramos vocês. 

— Não temos outra escolha — Yukirama pedia ao Senshi.

Umi esboçou um sorriso convencido, enquanto os mirins trocavam olhares entre si antes de pegar cada um dos Heishis nos ombros. O responsável pelo pelotão protestou:

— Se recuarmos agora, vamos ceder terreno para eles.

— Ao inimigo, não vamos ceder nada — uma voz gritou de trás. 

Todos se viraram de costas. A voz que chamou por eles já aquecia o coração dos mirins. Subindo a montanha, estava Arata e Kurome, liderando um pequeno grupo de guardas de ambas as forças aliadas.

— Vocês demoraram — comentou o Senshi — Estão chovendo pedras na gente. Se continuar assim, a gente não vai ficar junto por muito tempo.

— Alguma baixa dos núcleos? — indagou Arata.

— Nenhuma, Senhor. 

— Então, minha presença na linha de frente não é necessária — se voltou a Kurome — Seus homens podem avançar. Eu cuido dos Heishis

— Nada disso. Vocês podem acabar com essa luta agora — interrompeu o Tsuki, se voltando aos mirins — Não estavam falando de um abrigo? Eu posso levá-los. O restante das crianças podem descer.

— Não podemos descer assim — protestou Yukirama — Quando encontrarmos um lugar pros feridos podemos voltar. Se eu fui enviado para cá foi para lutar, independente da minha função

— Mirins não tem voz no campo de batalha — respondeu Arata, se aproximando do garoto.

— Um dos meus pode acompanhar seus recrutas a levar os feridos. O restante dos Heishis na linha de frente são um risco menor para vocês, do que seus mirins, comandante Arata — sugeriu Kurome com as mão na cintura — não podemos perder tempo com isso.

O olhar de Arata para Yukirama baixou sua guarda no mesmo instante. O mirim já virava de costas pronto para partir com os feridos, quando o comandante disse:

— Os mirins vão procurar essa caverna com o Heishi. Quando encontrarem, aguardem a luta se afastar daqui para descer a montanha. Se não avançarmos, Yukirama tem a minha permissão de liderá-los em combate. Comigo aqui, Yanaho não precisa ser mais o núcleo reserva para os outros Senshis, então pode ficar e ajudar os mirins nisso.

— Obrigado, professor — respondeu Yukirama, se juntando ao Heishi para partir. 

Com a resposta positiva do professor, Yanaho apenas observou o olhar preocupado de Arata que seguiu para linha de frente com os demais Ao sem ao menos se despedir.

O céu noturno sobre o palácio imperial dava espaço para o tímido azul daquela manhã. Satoru acordou da sua larga e solitária cama com um fio de luz deslizando pelas densas cortinas de seu quarto. 

Sem levantar-se da cama, ele soou o sino ao lado da cama e seus criados chegaram no mesmo minuto. Quando terminou de ser vestido com um roupão de lã, lhe entregaram uma carta com selo dourado. O imperador tomou uma vela com um pequeno prato de ouro e a leu no caminho para a sala de guerra.

Ao abrir suas portas, se deparou com um Onochi, debruçado sobre a mesa, olhos entreabertos. As travessas de comida estavam todas esvaziadas. O mapa permanecia recheado de peças, algumas entrelaçadas nos dedos gordos e inquietos do Shiro.

— Já voltou para cá? — perguntou o imperador.

— Nunca saí — sussurrou Onochi, quase que para si mesmo — não é minha intenção incomodar. Sinto muito.

— Meus olhos pregam peças em mim de manhã. Abri essa sala pensando ser um fantasma — sorria Satoru, repousando a vela próxima ao mapa — pela dificuldade da viagem, imaginei que estivesse ainda de cama.

— Os anos de viagem acostumam — recuou na cadeira — você, sendo quem é, deve ter um motivo mais útil para estar de pé antes do nascer do sol.

— Intuição correta — jogou a carta sobre o mapa — os Aka chegaram em Nokyokai.

— Isso é ótimo! — devorou a mensagem com as mãos e os olhos — Ryoma é um homem íntegro, imperador. Rogo para que tenha mais oportunidades para ver isso.

— As autoridades Aka tem estado mais… flexíveis nos últimos anos — levava a mão ao queixo — não sei se deveria mas… invejo como eles contornaram a crise deixada pela pulsação. 

— Então soube? — questionou Onochi, acariciando sua própria orelha. 

— Os Kiiro não relataram nada, quando tentaram nos alcançar. Só restava uma alternativa.  

— Foi um momento bem difícil para todos.

— Não me diga — Satoru pegava uma das peças com fita vermelha — da noite para o dia todo mundo começou a morrer. Eu mal conseguia respirar. Conhecendo os vermelhos, imagino que tiveram que fazer sacrifícios para contornar a crise. 

Onochi deixou a carta de lado, engolindo seco. Voltando a mexer nas peças, ele disse:

— Os sacrifícios por algo que você nem sabia que tinha ocorrido são os piores. Todos fomos pegos de surpresa. Para mim e meu irmão, dói especialmente. Lutamos para tirar o estigma desses nascimentos, preparar a sociedade a superar este tabu, porém da forma como foi… Somos completamente contra.

Satoru jogou sua peça com fita vermelha no meio das pretas, antes de se levantar.

— É claro que são — andou para a janela para admirar o raiar do dia — tenho comigo que mesmo os Shiro nunca deixariam a pulsação acontecer. Não tinha como ninguém saber de nada.

— Pois é — Onochi cerrava o punho sobre a mesa — Eu valorizo sua postura diante disso tudo, imperador. Fico feliz que tenha chegado a hora de acertar as contas com o passado.

— Eu também, Shiro — de costas para o Shiro, Satoru abriu um sorriso — mais do que você imagina.

As montanhas se banhavam na luz solar, iluminando o caminho para o norte. Os pássaros sobrevoaram o palácio, anunciando a chegada do novo dia.

O topo de Nokyokai, no começo daquela manhã, era remoto, coberto de sangue dos que caíram na tempestade que por ali passou. Agora estava completamente ocupado pelas forças da Guarda Pacificadora. Enquanto a maioria descia a montanha em busca de combate, um pequeno contingente de homens erigia uma fortaleza improvisada.

Cabanas eram erguidas, defesas eram postas, além de um braseiro, exposto em uma torre de madeira recém construída. As chamas eram contidas por uma chapa de metal, que impedia a fumaça de subir ao céu. Os homens ao seu redor abanavam as brasas, quando ouviram um grito vindo da base da torre.

– Fogo – gritou Houkara, erguendo sua espada para o alto.

Removendo a chapa de metal, a fumaça preencheu do céu. Em pouco minutos, um meteoro subiu do outro lado da montanha, iluminando o céu em seu ápice. Na descida, ele cruzou o outro lado da montanha, acertando o que quer que estivesse lá embaixo. Os guardas foram ao delírio.

– Silêncio! Silêncio – ordenou o general – Eu quero atualizações. Por que está demorando tanto? O que há de tão forte na descida que já não destruímos quando chegamos aqui?

Um guarda subiu ao topo. Cambaleando por uma grossa flecha cravada na coxa, ele trazia consigo um carrinho de mão até seu superior.

– General, não tem apenas azuis aqui. Os vermelhos vieram para ajuda-los!

– Uma boa notícia – vestiu um anel de prata que tirou no bolso – O máximo que esses pobretões azuis me trouxeram foram essas quinquilharias. O que esses vermelhos tem?

– É diferente. Eles resistem aos nossos golpes, nossas táticas, não são como os Heishis da subida. Se isso continuar, vamos precisar recuar pela primeira…

– Você não respondeu a minha pergunta – interrompeu apontando a espada.

– Isso foi tudo que tiramos – mostrou o carrinho – Não matamos muito.

Os objetos no carrinho não passavam de equipamento. Braçadeiras de couro, espadas de aço e escudos partidos. Houkara pegou um desses escudos, com as mãos trêmulas. Sua pele enrubesceu e suas veias saltaram do pescoço:

– Além de inconvenientes... Eles são humildes. Por que o Cônsul me castiga? Por que me enviar a terras tão miseráveis? – jogou o escudo no chão e pisou nele – Matem! Matem todos!

Ele caminhou para a beirada da montanha, encheu o peito e espalhou os braços:

– Tragam-me os súditos!

Descendo o barranco, as forças mais próximas escutaram o chamado. Entretanto, a sua procura seria concluída mais adiante. Rodeado por inimigos, Suzaki tirou sua lâmina do peito de um Senshi caído. Os demais cruzavam com a Guarda Pacificadora, porém o súdito percebia algo diferente. Seus olhos não estavam escuros.

Um disparo de origem desconhecida mandou uma flecha na sua direção, que foi interceptada por um Senshi que gritou:

– Eu não vou deixar você morrer!

O projétil perfurou sua barriga. Ele apenas levantou-se, arrancou a flecha e a ferida se fechou. O Senshi então se virou para Suzaki, mas estava olhando através dele, para alguém nas suas costas.

– Descansar, Senshi – disse Kimijime, relaxando a postura do homem – Esses vermelhos são como brinquedos que nunca quebram. De nada.

– Eles não costumam resistir a golpes tão fatais – Suzaki olhou ao redor – Devem estar compartilhando energia.

A Guarda Pacificadora foi empurrada para trás da sua linha outra vez. Os súditos se encontraram cercados, novamente.

– Temos que voltar – disse Suzaki, dando um passo à frente.

– Ainda está com pena de jogar outro relâmpago?

– Há poucas nuvens no céu. Estou mantendo elas no topo para proteger a nova base – seus olhos brilharam em azul – Eu não preciso delas para lidar com isso.

Na contramão das forças Kuro, vieram um trio de homens até os dois:

– Súditos! Houkara chama por vocês. Efetivo e imediato.

Suzaki deu uma boa olhada no exército Aka diante dele. Era uma formação compacta, todos muito próximos. Alguns mais recuados que outros. Foi então que ele se virou para os mensageiros do general, concordando com a cabeça. Contudo, ele trilhou o caminho pelas árvores, de onde sempre voltava para ver de cima os inimigos que avançavam sobre os Kuro.

De volta para o topo, Houkara os aguardava sentado numa pedra, experimentando a braçadeira de couro que lhe deram. Mesmo na presença dos dois súditos, ele apenas olhou de canto, já voltando ao seu objeto de interesse:

– Eu posso saber por que da demora em chegar na base?

– Eles têm balistas posicionadas em cada lado da montanha – Kimijime comentou – Não dá para flanquear.

– Só isso? O melhor exército, meu exército, da história derrotado para gravetinhos pontiagudos?! – jogou a braçadeira no chão, encarando eles – Espera, o que esse Senshi faz aqui?

– Meu guarda-costas, gostou? – Kimijime pegou a espada da cintura do Senshi – Ele acredita que eu e Zeta somos companheiros de batalha.

– Eles estão imunes ao poder ocular – interrompeu Suzaki – acho que ele pode nos responder melhor sobre isso – completou olhando para o Aka presente. 

Kimijime ficou de frente para o Senshi. Seus lábios se contorceram em um sorriso e ele inclinou a cabeça dizendo:

– Ai, esses Kuro são barra pesada. E aqueles olhos? Não consigo ver nada. Como você consegue, irmão?

– Fique perto dos núcleos – respondeu o Senshi – Não podemos nos distanciar muito da energia Shiro deles.

Shiro... Eles são Aka não Shiro – disse Houkara, cruzando as pernas.

– Os Aka tem a capacidade de transferir iro entre si. Juntos suas capacidades físicas e de regeneração aumentam. Agora afastados – Suzaki puxou sua espada e cortou a barriga do Senshi – São mais fracos.

O Senshi agonizou no chão. Aos poucos, o sangue parou de escorrer de seu abdômen. Suzaki prosseguiu:

– Esse compartilhamento de energia os permite saber onde cada um está. Um radar natural baseado em sangue.

– Isso ainda não responde por que eles teriam energia Shiro – Kimijime ajudava o Senshi a ficar de pé – Como eles compartilham algo que não têm?

– Iro branco é latente em todas as cores primordiais. Os Shiro trabalham com os Aka não é de hoje. Eles ensinavam apenas um grupo seleto.

– Mas agora fizeram uma exceção – Houkara soltou uma gargalhada, antes de ficar de pé – Isso é bem a cara deles mesmo. Para um Ao você sabe bastante, andou viajando por aí?

– Do alto eu pude ver que as balista estão protegendo a retaguarda da formação contra flanqueio – disse Suzaki, olhando para Kimijime.

– Eles têm muitos homens, sustentados em batalha por uma minoria – Houkara falava, passando por eles – As posses de um homem são suas conquistas. Suas riquezas devem ser protegidas, mas nunca guarde-as num único lugar. Esses núcleos estão espalhados igualitariamente pelo campo de batalha, atrás das linhas, provavelmente alinhadas com as balistas.

Houkara caminhou para a torre do braseiro, gritando aos homens:

– A fuga deles não importa mais. As catapultas devem atacar o centro, próximo da linha de frente. Para ontem! – virou para os súditos, apontando para eles – E vocês... Cuidem disso!

Os dois súditos obedeceram as ordens prontamente, às suas próprias maneiras. Kimijime desceu a montanha pelos lados, Suzaki seguiu em linha reta para o campo de batalha. O filho mais novo de Koji voltou a subir nas árvores e aguardou. A batalha continuava abaixo dele, até que escutou as ordens de Houkara no topo para lançarem outro projétil.

Ele acompanhou a artilharia até seu ápice. Quando desceu, a nuvem negra que cercava o topo da montanha atingiu o objeto com um raio, partindo ele em inúmeros pedaços flamejantes com endereço na metade da formação. 

A Guarda Pacificadora esperou, enquanto o exército Aka se separou momentaneamente. Nesses poucos minutos, uma das metades era sobrepujada pelos Kuro. Suzaki então foi ajudar suas tropas a enfrentar o segundo grupo, pois ele havia achado a localização de seu alvo.

Ele desceu das árvores na frente dos Senshis arremessando sua espada no meio deles. A lâmina fez uma curva larga, rodopiando para trás da linha de frente. Os Senshis das pontas correram para o centro para interceptá-la com um golpe. A arma de fulgur do súdito então ricocheteou de volta às suas mãos. 

Durante a ofensiva dos Kuro, um quarteto Senshis desenhou um diamante ao redor de um deles, antecipando outro arremesso. Mas Suzaki avançou sobre uma das pontas pessoalmente.

Os outros Senshis se prontificaram a ajudar, quando um deles perfurou o coração do próprio aliado. Era o mesmo que Kimijime havia controlado, atrás das linhas inimigas.

– O que você está fazendo? – gritou um Senshi.

– Cadê a artilharia? – perguntou outro.

Com o Senshi-núcleo exposto pelo segundo agressor, Suzaki balançou sua lâmina lateralmente. Um único corte fatal, que separou a cintura do restante do corpo. Em um único golpe, a luz dos olhos dos Senshis apagava e os Kuro ganhavam mais alguns metros.

O Senshi sob efeito de ilusões parou na frente de Suzaki. Seus olhos ganharam consciência novamente.

– O que aconteceu? Onde estou?

Uma flecha viajou até a sua cabeça, o matando na hora. Encarando o cadáver com o crânio aberto aos seus pés, Suzaki disse:

– Sem mais utilidade para ele, Kimijime? 

Kimijime se divertia com o destino do sujeito controlado, usando sua risada para atrair os olhares de outros do exército adversário.

Perto dali, Iori se unia com uma dupla de Senshis que portavam tochas. Em fila, eles reuniram suas energias e condensaram o fogo em uma esfera quente. Um segundo grupo veio de trás, disparando as chamas contra o exército inimigo.

O fogaréu erradicou uma fileira de inimigos. Contudo, pela direita, longe das labaredas, a Guarda Pacificadora aparecia.

— Como pode? — olhou para o lado — As balistas foram comprometidas? Onde está o núcleo daquele lado?

Outro pedregulho apareceu de trás da montanha, sendo partida em pedaços por um trovão. A saraivada caiu no flanco enfraquecido, derrubando mais Senshis.

Senshis, levantem seus escudos! Aproximem-se dos núcleos centrais!

Por trás dos homens de Iori, a cavalaria liderada por Kurome e Arata chegaram. Os Tsuki saltaram de suas montarias, rasgando as gargantas dos Kuro de maneira sincronizada. Enquanto Arata se aproximou do flanco, sua aura clareou, renovando as energias Shiro dos Senshis, que começaram a revidar. 

— Os azuis mandaram reforços — Iori se aproximou de seu companheiro — Como você conseguiu?

— Seis cabeças mal dá para chamar de reforço, mas trouxe mais Senshis comigo. A base vai ficar enfraquecida.

— Vamos garantir que não chegue a esse ponto.

Outra chuva de pedras caiu, agora pela esquerda. Os Senshis dali se juntaram ao centro, retraídos por uma ofensiva Kuro que vinha de lá e do centro, pouco depois do ataque flamejante Aka

— Droga — Iori olhava por cima dos ombros, enquanto defendia um golpe — Mais um?

— Dois núcleos mortos, um atrás do outro — dizia Arata, finalizando um guarda que havia penetrado na formação — Está pensando a mesma coisa que eu?

— Não é possível — revidou, perfurando a barriga de seu inimigo — Recuar! Todos atrás da linha.

Cobertos pela cavalaria de Kurome, os Senshis restantes formaram uma nova defensiva com seus escudos. A primeira se protegia dos ataques frontais, enquanto as outras se protegiam do ataque aéreo com escudos altos. 

Arata recuava para junto dos outros núcleos, quando uma onda de choque atravessou as defesas Aka

— Voltem — gritava Arata, indicando com as mãos — A retaguarda está procurando um refúgio. Vamos reagrupar com eles.

Os Kuro rompiam os escudos do lado esquerdo por um instante, permitindo que uma rajada de vento arremessasse Arata e outro Senshi-núcleo para o fundo da floresta. 

O comandante acabava de se erguer quando viu o outro portador de energia Shiro empalado sobre uma poça de sangue, debaixo da lâmina de duas pontas do inimigo na sua frente.

— Separados não são tão fortes assim — Suzaki puxou sua espada do corpo.

— Ainda somos o exército mais forte deste continente — levantou sua arma — Não nos subestime!

Arata bateu as espadas com o súdito do caos. Do primeiro impacto, saltou uma faísca dos metais, apenas para ser manuseada e disparada pelo Senshi numa rajada flamejante à curta distância. 

As chamas atiradas, no entanto, se espalharam pelos lados. No centro da fumaça, Suzaki estava de mãos unidas e ofegante.

— Conhece técnicas Shiro — disse Arata, correndo para a esquerda— Já sei quem culpar por ter descoberto nossa estratégia. 

— Vocês são tão convencidos de que estão acima dos outros — corria em paralelo — Ajudam outros países porque sabem que é o jeito mais fácil de manter sua dominância. 

O súdito arremessou sua espada na frente do Senshi, que saltou na direção oposta. Seu oponente veio com chute, que foi agachado. Recuperando sua espada, Suzaki colidiu outra vez com Arata:

— Eu não sou um político, as circunstâncias me fizeram um comandante. Na verdade, sou mais útil como um professor.

— De que utilidade foram seus ensinamentos, se te trouxeram até aqui?

— Mal te conheço, e já tenho certeza que qualquer um dos meus alunos dá dez de você de várias maneiras.

— Então por que não estão aqui? — apontou sua lâmina —  várias maneiras, mas menos a que importa. 

Sem aviso, a cavalaria dos Tsuki apareceu. Um deles enlaçou Suzaki, o arrastando pela terra para batê-lo em um tronco. Eles o puxaram novamente, mas o último Heishi Celestial cortou a corda. 

— Suzaki Sora — Kurome descia do cavalo, se juntando a Arata — Você tem muito a responder.

— Koji, Satoru… Não importa — Suzaki reconhecia a lua em suas roupas — O oportunismo Tsuki nunca muda. Vão compartilhar o mesmo fim que dei a Yomi.

Os outros membros do grupo de Kurome se reuniram ao redor de Arata. O professor do mirins olhou para os dois lados, depois para Suzaki antes de apertar o cabo da espada.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

 



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