Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume IV – Arco 12

Capítulo 106: Distante Pt.2

O que sobrou das forças Ao e Aka viajaram pelas montanhas para uma cidade distante de Nokyokai. Uma larga ponte sustentada por arcos de pedra ligava um posto avançado Heishi com as moradas e castelos mais a frente. A caravana dos azuis cruzava a entrada, enquanto os vermelhos foram retidos. 

Os Heishis de guarda os direcionaram para os estábulos nos fundos da base às margens do precipício, com vista para o outro lado da ponte. Apesar da densa névoa, era possível ouvir o rio correndo para uma cachoeira abaixo. Em cima, um pequeno castelo surgiu entre as montanhas e as nuvens baixas, com duas torres de pedra nas pontas e um muro alguns metros mais alto que as casas cobrindo a vista. 

O primeiro a descer da carruagem foi Onochi, que logo confrontou os Heishis no portão do pequeno forte:

— O que significa tudo isto? Temos feridos nossos e seus aqui. Não se importa com eles?

— Ordens de cima, embaixador — respondeu o Heishi cruzando sua lança com a de seu par no portão — No que estiver ao nosso alcance, vamos ajudar, mas temos ordens expressas para nenhum estrangeiro cruzar a ponte para Kumokai. 

Onochi voltou para os Senshis, que já haviam improvisado nas mesas de madeira espalhadas leitos para os feridos. O principal e mais ocupado deles, tinha o comandante deitado sobre vestes vermelhas. Passando às pressas por ele vinha Jin, que mergulhou na roda espessa de pessoas. O Shiro ouvia suas discussões na borda da pequena multidão:

— Ele não acorda. Tá a mesma coisa desde a partida.

— Parece que está impermeável à energia que transferimos. 

Onochi pediu licença aos Senshis, até se aproximar da mesa. Iori estava despido de sua armadura, com as roupas por baixo sujas de sangue e manchadas de preto. Jin segurava sua mão inerte, ao passo que alguns dos curandeiros tocavam seu corpo com a aura ativada. Iori mantinha a mesma respiração relutante.

— Isso não adianta de nada — Os Senshis da roda encararam uns aos outros atrás da origem daquela intervenção, até que Yukirama brotou entre eles passando a mão no braço de Iori — Isso aqui — É chamado seiva da noite. Ela entrou no corpo dele pelas feridas, e enquanto a gente não limpar ele, pode esquecer a transferência de energia — mostrava os dedos sujos do líquido preto.

— E como você sabe disso tudo moleque? — um dos Senshis na mesa o afastou.

— O Arata tava com isso antes de morrer — os adultos fizeram silêncio — Eu vi com meus próprios olhos. A gente precisa tirar isso dele.

— Vocês — Onochi encostou no ombro do Senshi — Eu vi os efeitos daquilo no exército inimigo. Ele não tem a menor chance neste estado.

— E o que você quer que eu faça? 

— Os Heishis nos deixam sair para qualquer lugar menos a cidade — Onochi apontou com a cabeça para o precipício — Posso levá-lo para o rio. 

— Negativo — o Senshi começou a enrolar Iori em sua capa — Sem o comandante, você é o nosso chefe agora. Deixe que nos levamos. 

— Eu vou — Jin interrompeu.

— E a sua irmã? — Yukirama perguntou — Melhor chamar ela.

— Ela não quis ver o corpo até agora — Jin olhou ao redor, procurando por ela — Duvido que mude agora.

— Muito bem, não vamos perder tempo temos que curá-lo — alertou Onochi.

— Anda, me ajuda aqui — o Senshi terminava de enrolar Iori, o colocando nos braços — Alguém empresta um cavalo?

Quando trouxeram o cavalo, Yukirama terminou de colocar o corpo de seu comandante na sela e recuou para junto do mestre de Yanaho. Jin e o Senshi caminhavam para a saída até que a garota que foi mencionada arregalou seus olhos para o corpo de seu pai embrulhado:

— Isso é…

— Umi — Jin se virou — Não é o que está pensando, ainda dá para consertar as coisas — estendeu a mão — vem, te explico no caminho.

Ela tomou a mão do irmão, os dois subiram na bagagem onde estava o corpo.   Yukirama observava a partida deles com o comandante, antes de seguir caminho. 

— Ei garoto, obrigado pela informação — se aproximou Onochi.

— Do que adianta? Posso sentir a energia dele enfraquecendo com os ferimentos. Iori está lutando pela sua vida há dias. Pode não ser o bastante.

— O que nos basta é acreditar na verdade, depois de tudo que passou certamente Iori sairá dessa com vida. 

— É, agora eu sei de onde ele tirava tanto otimismo — concluiu Yukirama partindo pelos estábulos. 

O shiro observou com um leve sorriso o mirim seguir caminho. Passando pelos leitos improvisados, escutando gritos e correrias, até corpos daqueles que não resistiram aos ferimentos. 

Do lado de fora, seus companheiros estavam em uma espécie de praça em um campo aberto próximo de onde os veículos estacionaram.

Os guardas da cidade onde foram barrados distribuía suprimentos, enquanto os mirins sentavam em torno de uma mesa de madeira redonda, apenas um deles estava de pé sem desviar o olhar dos portões da cidade. 

— Tsuneo, dá pra você sentar e relaxar? — chamou Yachi — não adianta ficar encarando, eles não vão nos deixar entrar. 

— Eu sei, só que… 

— Yukirama! — gritou Yanaho se levantando — como estão as coisas? 

— O comandante ainda está vivo, levaram ele para um riacho para limpar os ferimentos. Só nos resta esperar. 

— Sem o comandante não estaríamos aqui — tremia as mãos cerradas — aquele cara que lutou contra ele, nunca vimos nada parecido.

— Eu não... pude fazer nada — Aiko abaixava sua cabeça — pessoal, me desculpem. 

— Se ele não foi capaz de vencê-lo — completou Kazuya — então nenhum vermelho aqui poderia. 

— Estão falando do “monstro” que Umi comentou? — colocou as mãos na cintura — Bom, ele não fez grande coisa quando resgatamos Iori — afirmou Yanaho.

— Iori o deixou ferido o bastante para fugirmos — se levantou Yachi — não pudemos fazer nada, na verdade ele mesmo pediu para que não fizéssemos… — interrompeu as lamentações, quando Yukirama tocou seu ombro. 

— Chega, a batalha acabou — encostou seu dedo indicador no centro da mesa — e estamos aqui, vivos. Essa guerra está muito distante de seu fim, e vai ser nossa sobrevivência que vai importar ao fim de cada luta. Se passamos por essa, podemos passar por outras! — aumentava o tom de voz, erguendo os braços — Imaturos não irão durar muito, e eu sou o melhor exemplo disso. Então vamos nos preparar daqui pra frente para justificar tudo o que aprendemos com Arata! 

O silêncio perdurou entre os jovens, que relaxavam ao tempo que uma brisa atravessaram todos ali, até que Tsuneo notou: 

— Você está mais falante do que o habitual. 

A fala fez Yukirama cruzar os braços, arrancando sorrisos de Yachi e Yanaho enquanto Aiko apenas desviava o olhar sentada. 

— Gostei — uma voz surgiu de fora do círculo da conversa — foi uma luta dura, devem se orgulhar de suas vidas. 

— Mestre — reconhecia a voz virando-se apenas para encontrar Onochi se aproximando — o que faz aqui? — perguntou Yanaho mudando sua expressão.

— Vim sinalizá-los de algo importante, mas antes — com uma pena com tinta em mãos, tirava um grande pergaminho do bolso — eu soube que alguns de vocês presenciaram a luta de Iori, preciso de informações. 

— Só vimos as coisas acontecendo, não como funcionam — tomou a frente Yachi — ele controlava sangue, talvez até fluidos no geral — coçava a cabeça — apesar de ser uma técnica Aka, ele tinha mais familiaridade com o elemento do que nós. 

— Como assim? Isso não faz o menor sentido — disse Yukirama. 

— Provavelmente estava usando técnicas proibidas — respondeu Kazuya — só tem uma forma de você treinar mais habilidades com o sangue além do que já realizamos. 

— E aquele cara não parecia se importar nem um pouco com a vida alheia — completou Yachi. 

“Matar pessoas para aprimorar a habilidade, com quem pensa que você se juntou, Suzaki!”, pensou Yanaho cerrando os punhos. 

— Entendo — fazia anotações — Ele tinha alguma habilidade anormal além dessa? — fazia anotações. 

— Além de ser a pessoa mais feia que já vi, não sei dizer, notou algo Tsuneo? 

— Iori conversou muito com Jin no caminho antes da luta, ele deve saber mais. 

— Muito bem, eu agradeço pelos relatos — levantou Onochi — agora preciso que me escutem. Grande parte de nós irá partir nos próximos dias de volta ao Reino Aka. Porém terei que designar três mirins para continuar o suporte aos Senshis que ficarem — coçou a barba — mas como não conheço bem vocês gostaria que decidissem entre si, com exceção dos mais feridos, claro. 

— Podemos escolher ir embora? — perguntou Tsuneo. 

— Três terão que ficar. Caso vocês não tenham decidido até a tarde, eu irei escolher. Isso pelo menos até Iori acordar — respondia o Shiro. 

— Não terá problemas com isso branquelo — tomou à frente Yukirama — mais do que nunca precisam da gente aqui, então eu fico. 

— Certo — sorria — irei sinalizar os Senshis que ficarão, o restante que estiver decidido pode procurar por eles nos estábulos. 

— E você Yachi? — perguntou Tsuneo com os olhos arregalados. 

— Pra falar a verdade eu sinto que deveria mas… gostaria muito de estar lá para receber Nakama, quando retornar da outra batalha. 

— Eu vou ficar! — gritou Yanaho — não vou fugir dessa também — colocou a mão no ombro de Yukirama. 

— Sobre isso — virou-se de costas — Yanaho, me acompanhe. 

Os dois seguiram para dentro de um dos veículos, enquanto o restante de mirins apenas observava. Yukirama passava seu olhar pelos mirins, percebendo que um dos que estavam assentado em torno da mesa havia sumido. 

Indo até as carroças, o garoto de capa vermelha tinha seu rosto fechado por todo o trajeto. Onochi puxou a porta de correr de um dos veículos, com os bancos de trás colocando aluno e mestre frente a frente. 

— Espero que tenha se saído bem e não ter dado muito trabalho — levava a mão até o ombro do menino — estou feliz que esteja… 

— Conta outra — interrompeu afastando a mão do mestre — Sei muito bem o que te trouxe aqui. Afinal, foi da boca dele que descobri sobre o encontro que tiveram.

— Então ele te disse — escorou as costas — muita coisa aconteceu desde aquilo, Yanaho. 

— Você devia ter me contado assim que nos encontramos, como contou para ele o que aconteceu no deserto! Ele te disse que estava com problemas, não é? Devíamos ter feito algo, nós podíamos…

— Não — cruzou os braços — um problema de Suzaki não deve se tornar seu problema. 

— Isso não combina muito com a profecia — sorriu sarcasticamente — que coisa né, nós lutamos e nada aconteceu. Talvez por isso eu tenha que ficar e encontrá-lo de novo. 

— Você não vai ficar. 

— Não pode decidir isso por mim — desviou o olhar — temos que ir atrás de Suzaki, de repente na próxima vez a profecia se cumpre, né? Não foi para isso que me treinou? 

— Pare, agora — apontou o dedo na face do garoto — não subestime a ordem, ela move todos os cantos por um propósito, mas não quer dizer que o mundo não cobre por cada passo que nós damos. Seja a profecia real ou não, eu sou seu mestre, e estou dizendo que não está pronto! 

— E se mesmo assim eu me sentir pronto? 

— Então pode me entregar a sua capa — estendeu a mão — se seu senso de justiça te leva ao caminho da arrogância, vai acabar esquecendo dos lugares, pessoas e tudo que te trouxe até aqui. E isto é tudo o que essa capa representa, você carrega sua história e a deles em suas costas.

Após a sugestão de Onochi, Yanaho se calou por um momento, porém apenas abriu a porta de correr, saindo do veículo sem nem ao menos cumprimentar seu professor.

Longe dali, em direção ao rio, um Senshi conduzia o cavalo vagarosamente montanha abaixo, carregando Iori na montaria, tendo seus filhos como companhia. A névoa clareava na medida em que o som das águas nas rochas se tornava mais aparente. 

— Eu nunca tinha visto ele lutar — disse Jin tentando puxar assunto. 

— Você nunca saiu com ele para o trabalho — Umi mantendo olhar em frente — Eu já.

— Todas as lutas eram assim?

— Meu pai é excelente, raramente eu notava que precisava de ajuda — desviou seu olhar — diferente dessa luta, onde vocês preferiram correr!

— Iori pediu por isso, esse era o plano desde o começo — se explicava, recebendo apenas o silêncio da garota em troca — por favor, Umi, precisa acreditar em...

— Uma vez, quando eu era muito pequena, bandidos atacaram a carruagem que estávamos. Com o carro virado, eu assisti escondida até que vi ele sendo atingido — levava a mão à testa do pai — foi aí que corri para tentar ajudá-lo. Ele não só me empurrou para de volta dos escombros, como também me deu o maior esporro que já tomei. 

— Eu diria que é bem a cara dele.

— Sim — mantinha o rosto cabisbaixo — está acostumado a fazer as coisas darem certo sozinho. 

— Imagina se ele tivesse acordado para ouvir você dizer isso — Jin ria, colocando a mão no peito de Iori.

— Jin — Umi virou o rosto, olhando fixamente para ele — Quando vocês voltaram para o acampamento, ele disse alguma coisa?

— Crianças — o Senshi interrompeu — Estamos chegando.

O cavalo seguiu pela margem do rio até um pequeno lago. O acompanhante dos dois jovens sentou-se em uma pedra na margem e ali ficou. Umi e Jin desceram o Iori do cavalo e tiraram suas roupas antes de o colocarem na água.

A seiva da noite e o sangue de suas feridas escorriam pela água cristalina, se misturando até o fundo. A pergunta feita pela garota perdurou pela mente do jovem que trazia à memória a noite em que tudo aconteceu diante de seus olhos.

A floresta era preenchida pelos gritos da batalha. Tsuneo e Yachi estavam em um canto, aguardando Iori e seu criado, que conversavam debaixo de uma barricada.

— Esse cara é diferente de tudo que já enfrentamos. Se continuar assim, muita gente não vai escapar dessa.

— Eu não tô entendendo — Jin colocou a cabeça por cima da barricada para ver a luta — por que me chamou aqui?

— Por algum motivo aquele monstro tá indo atrás das meninas, ele gera ilusões que parecem muito reais e ainda por cima controla sangue — colocou as mãos no ombro de Jin — eu preciso que vocês fujam enquanto eu enfrento ele, senão todos vamos morrer! 

— Não me diz que isso é um sacrifício — a pergunta fez Iori desviar o olhar — pode lidar com ele, né? 

— Não importa o que aconteça comigo, não temos muito tempo, me escute — colocou o dedo no peito de Jin — vocês devem sobreviver! Nossos superiores precisam saber o que aconteceu aqui.

— Saber que perdemos? Qual é a sua? Melhor todos sobreviverem pra isso! 

— Ninguém sabe, mas eu suspeito que os Heishis tinham outro objetivo nesta batalha, diferente de repelir os Kuro. Arata parecia saber de algo — juntou as duas mãos do mirim nas dele — Jin, por favor, você é a único que posso confiar agora.

— O que quer que eu faça?

— Quero que guarde segredo. Ninguém deve saber disso até vocês voltarem para casa — apertou as mãos de Jin — Nenhum pio enquanto tiver Heishis por perto! Nem para os Senshis, nem para qualquer amigo seu, ninguém! Quando retornar, quero que busque por um amigo meu chamado Masaki, ele pode levar essa informação até nossos superiores. Eu não sei o que essas gralhas querem, eu só sei que confiar neles nos trouxe até aqui. 

— Pare de falar como se não fosse voltar conosco — pegou o pai pelo colarinho.

Mais um disparo da catapulta caiu sobre o exército Aka. Muitos pulavam a barricada em meio a uma fuga generalizada de Senshis. Iori engoliu seco pegando no pulso de Jin:

— Eu te dei tudo que podia pelo seu pai, desde que não pude estar lá para salvá-lo. Apesar de tudo, te criei como um filho sem cobrar nada em troca, até hoje. E agora, se algo me acontecer Jin, Umi estará por sua conta. 

— Já disse para cessar esse drama todo, nós vamos sair dessa! 

— Mesmo que eu saia daqui vivo, esta guerra está distante do fim. Nem sempre estarei lá para proteger vocês — colocou sua testa na dele — sei que nunca quis seguir os passos de seu pai, mas por favor, prometa que vá proteger a minha filha!

— Tá — afastou Iori — Eu prometo.

Jin voltava para o presente, os ferimentos de Iori estavam todos tampados e bem limpos. Cumprindo o objetivo da incursão dos três até o rio. Ainda assim o corpo do comandante permaneceu em coma, porém com a saúde preservada. Lamentando o ocorrido os dois irmãos se afastaram do Senshi por um momento, com a mirim insistindo em sua pergunta: 

— E então Jin, ele disse alguma coisa antes? 

— Só disse para fugirmos, nada além disso.

Já era de tarde quando retornaram para os estábulos com Iori limpo de toda a seiva de noite. Os Senshis deitavam seu corpo enrolado na capa de volta em uma das mesas, enquanto toda a tropa se mobilizava ao redor na expectativa do despertar do comandante. Com a transferência de energia, as feridas cicatrizaram, sua respiração acalmava, porém sua face permanecia inalterada.

— Isso é novo. Ele está estável de saúde, mas ainda em coma — um dos curandeiros explicava. 

Todos se comoviam ao tempo que Onochi se aproximava da mesa, onde Umi e Jin acompanhavam tudo mais próximos do corpo do pai:

— Aquele cara… Ele fez isso. 

— Está falando do... 

— Vocês dois devem ser os filhos dele — se aproximou o Shiro — Jin, né? Me falaram que pode ter mais informações sobre o sujeito que deixou Iori nesse estado. 

— Aquele desgraçado — tomou à frente Umi — ele usava ilusões para manipular quem bem entendesse, da forma que queria. 

— Iori te contou isso? — estranhou Jin. 

— Não, cabeça oca — Umi recuava — Eu vi na floresta. Os guardas perdiam e recuperavam a consciência como se nada tivesse acontecido. 

— Muito bem — Onochi se encaminhou até o corpo de Iori — Yanaho, me ajude aqui. 

O mestre cochichou ao seu discípulo, os dois ativaram suas auras, o vermelho escarlate se misturou ao iro de cor branca. Os dois tocaram suas mãos ao corpo do comandante, bastando alguns segundos para o sujeito na maca improvisada começar a gritar desesperadamente. 

— O que vocês fizeram?! — Umi ia em direção a eles, sendo segurada por Onochi.

Todos se assustaram ao redor, depois de alguns gritos o comandante voltou a mesma expressão de desilusão, se esperneando na cama enquanto os Senshis tentavam acalmá-lo.

— É como eu suspeitava — dizia Onochi cabisbaixo — Iori está sob efeito de um poder divino. É alguma técnica que deixou sua mente num transe infinito. Como não conhecemos o poder do sujeito que fez isso, não há como reverter. 

— Tem como sim! — gritou Umi — é só irmos atrás daquele bicho feio, ele consegue reverter! Tenho certeza disso! 

— Não é tão simples assim — colocou as mãos na cintura — bem, já que estamos todos reunidos aqui, solicitei a entrada na cidade do grupo que ficará no império. Então aqueles que já foram designados e decidiram por isso, juntem seus pertences e me encontrem na ponte o mais rápido possível.

Jin ficava próximo acompanhando Iori em coma na mesa, quando notou Umi partindo rapidamente para o abrigo, perseguindo sua irmã, os dois passaram correndo pelos outros mirins que caminhavam para próximo dos veículos. 

— Ei, Umi — tentava alcançá-la — o que pensa que tá fazendo? 

— Isso não pode ficar assim, vou atrás daquele monstro e fazer ele reverter o transe — juntava seus pertences em uma bolsa. 

— Não íamos ficar juntos? Espera, precisamos voltar para cuidar de seu pai! 

— É por isso que você vai voltar — apontava o dedo pra ele — você nunca quis isso, agora tem a desculpa perfeita para sair dessa. 

— Umi, eu... 

A discussão era interrompida pela chegada dos outros mirins, Tsuneo corria até sua bolsa já cheia pronta para partir. Ao tempo que os outros juntavam suas coisas, Yachi perguntou:

— Yukirama está pronto? Tem certeza que não quer ir embora?

— Absoluta, e você? Já se decidiu? 

— Só resta um para ficar né? Tem outra opção? Kazuya está ferido, Tsuneo cagado de medo, Umi e Jin vão precisar ficar com o pai — pegava em uma corrente dourada, com um pingente em formato de fogo — eu queria muito poder ver meu irmão o quanto antes, mas provavelmente serei escolhido para ficar. 

— Então não se preocupe — virou-se Umi — eu vou ficar, já me decidi sobre — disse passando por todos em direção ao lugar designado. 

Todos observaram a partida da mirim que saiu sem nem olhar para trás. Logo os olhos deles cercaram o irmão dela, que envergonhado deu meia volta em alta velocidade, obrigando Yanaho que chegava a desviar de sua frente. 

— Bom, eu já estou pronto para ir embora, já que já tem três para ficar.

— Na verdade dois — chegava Yanaho — meu mestre me ordenou a voltar aos Aka.

— Não vai ter jeito então, terei que fazer um ritual por aqui para guardar a vida do meu irmão — dizia Yachi enquanto guardava o pingente no bolso. 

— Espera — olhou de um lado para o outro — onde é que tá a Aiko?

Naquela tarde, as nuvens tomavam cores rosas bloqueando a passagem do pôr do sol. Os Senshis se agrupavam antes da travessia da ponte que levava até a cidade, entre os muitos homens que eram confiscados por soldados do outro exército, Umi avistava de longe um rosto conhecido que cresceu seus olhos em surpresa, enquanto se aproximava: 

— Então você vai ficar também... é bom saber que alguém me entende, Aiko. 

— Meu pedido de perdão não é o suficiente para compensar o que aconteceu, Umi — curvava a cabeça — eu escolhi ficar, por que mais que qualquer um aqui sou a que precisa dar uma resposta. Eu causei aquela confusão toda, aquela coisa estava atrás de mim afinal. 

— Obrigada, de verdade — disse abraçando sua amiga. 

Com o abraço, Aiko pode ver um dos companheiros correndo na direção deles enquanto via no fundo o restante do grupo dos mirins. 

— Umi! — Jin chegava suspirando fundo com as mãos nos joelhos — Eu-eu preciso falar com você. 

— É aqui que nos despedimos, meu pai e minha mãe precisam de você — se virou. 

— Eu sei que vai parecer estranho mas... eu estou certo disso, eu quero ser um Senshi! — afirmou Jin alcançando a mão da Umi — não sei se serei um grande guerreiro como meu pai, porém certamente vou proteger as pessoas que importam para mim — puxava a mão da garota — então por favor, deixe que eu fique e vá cuidar de seu pai! 

— Não — colocou a outra mão no peito do irmão — Jin, eu mal consigo olhar para ele naquele estado, eu disse para você uma vez que não queria nada disso — soltou sua mão da dele — mas agora, não poderia ser mais grata por chegar até aqui e poder resolver isso, poder fazer dá certo. Quero que volte e cuide das coisas lá — afastou o irmão. 

— Umi... 

— Que que tá havendo aqui? — perguntou Yachi chegando junto a Yukirama — o que faz aqui Aiko? 

— Ela decidiu ficar comigo, eu e ela temos coisas pessoais a tratar. 

— Nada disso, Aiko passou por muita coisa, ela não deve ficar — questionou o mirim mais velho. 

— Na verdade eu devo ficar, pois não pude fazer nada enquanto todos se metiam em confusão por minha causa — tomou à frente — Yachi, eu ouvi sobre seu irmão... você já fez o suficiente aqui, deixe comigo agora. 

— Eu... Yukirama o que acha?

— Por mim tudo bem — caminhou em direção à ponte — mas não sabemos quando e se iremos voltar, então melhor se despedirem. 

— Yachi — se aproximou Aiko, entregando uma carta — é para Usagi, aqui tem tudo o que ele precisa saber. 

— Pode deixar — pegava o objeto — obrigado por isso, Aiko. 

Aiko e Yukirama partiam na frente acompanhando os Senshis que seguiam a longa ponte até os portões da cidade, quando um grito do aluno de Onochi surgiu de trás: 

— Ei, Yuki! Não pense em se perder pelas montanhas. 

— Até parece — elevou sua voz sem olhar para trás — não é eu que estou fugindo dessa vez! — sorria timidamente. 

Yanaho sorria, depois de notar Jin cabisbaixo ao seu lado vendo Umi andando em diante, até que ela parou por um momento olhando para trás: 

— Essa batalha ainda não acabou para mim, tomarei o lugar de meu pai aqui. Não espero que me entenda, até logo Jin.  

O garoto ficava sem resposta, Yanaho se aproximava dele e dos demais, entrelaçando seu braço em sua nuca: 

— Ei, não fica assim, Umi sabe se cuidar. 

— Não é isso, eu prometi ao pai dela que iria protegê-la mesmo eu não sendo capaz disso — socou a própria coxa — e na primeira oportunidade eu deixei ela ir para longe de mim! Eu sou um fracassado, como vou poder cumprir com essa promessa? 

— Na verdade eu diria que você está no caminho certo agora — se colocou à frente do amigo. 

— Como é que é? 

— Você disse que quer ser um Senshi, né? Ninguém quer virar um porque valoriza a própria vida — colocou o punho no lado esquerdo do peito de Jin — Senshis lutam para dar sua vida pelos outros, então... entende que não há como ser um fracassado querendo ser um guerreiro para cumprir a promessa que fez? 

— Até que faz sentido — sorria Jin. 

— Vamos voltar, seu pai precisa de você — passou pelo garoto — assim também teremos tempo para treinar e ficar mais forte, para proteger todos. 

— Ele não é bem meu pai... — voltou seus olhos ao céu — mas obrigado Yanaho.

Sozinho e ainda com a visão no alto, se distraiu com um feixe que atravessou as nuvens. Forçando seus olhos, observava Umi distante passando para dentro da cidade, ao tempo que traçava seu objetivo:

“Não será por você pai, mas agora… farei de tudo para ser um grande guerreiro.”

Os portões da cidade de Kumokai estavam fechados com as tropas de reforços Aka adentro. Onochi recuava pela travessia, dando ordens para mobilização e retirada dos vermelhos restantes que preparavam a partida pela noite.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

 



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