Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume IV – Arco 12

Capítulo 106: Distante Pt.1

A manhã já havia chegado para Nokyokai. A dupla de mirins terminava sua luta contra contra o súdito Zeta atrás do homem largo com suas túnicas brancas, mas com os olhos fixos em seu oponente, que por sua vez só tinha olhos para seu antigo mestre.

Suzaki se preparava para atacar, quando mais homens da Guarda Pacificadora surgiram da floresta, cercando Onochi e os jovens por todos os lados.

— O general vai gostar disso. Essa raça está em falta — dizia um membro. 

— Zeta, obrigado pela captura desses moleques e do Shiro. Houkara pediu que assumíssemos daqui.

— Não subestimem o Shiro — Suzaki tomava a frente dos guardas — Eu lidero, fiquem na retaguarda.

Com o súdito dando um passo à frente, o menino de capa vermelha repetiu o gesto apenas para ser impedido pelas mãos de seu mestre: 

— Eu mandei ficar atrás de mim! Essa luta acabou. 

— Veio aqui pela profecia também? — provocou Yanaho. 

— Agora não é o momento para isso — respondeu olhando de um lado para o outro. 

— Então foi assim que se conheceram — sussurrou Yukirama, recuando para cobrir os guardas que vinham na retaguarda — droga, é melhor você ter um plano, branquelo. 

— Suzaki — se colocou em posição de ataque — desde sempre eu notava que tinha algo errado. Eu temia que pudesse, mas quis acreditar que você fosse superar as…

— A comoção veio agora? — interrompeu, arrastando a espada no chão — Engraçado, eu não vi isso com os Kiiro do deserto, muito menos com os trabalhadores destas minas. Só depois que sangue de vocês é derramado, é onde você traça a linha? Quando eu mostro do que sou capaz?!

Das lâminas de Suzaki uma corrente elétrica saltou pela terra, apenas para se dissipar a metros do trio. Os guardas mesmo assim fecharam o cerco ao redor dos cercados. 

— Ele não está brincando — sussurrou Yanaho. 

—  Para toda aquela conversa de paciência, acreditar, paz, você é só mais um que se curvou a escória imperial — Suzaki apontou sua lâmina de fulgur — agindo por conveniência para garantir uma paz que no fundo nunca existiu. Isso também não te parece injusto, mestre?

— Um aluno de verdade, procura ter a experiência de seu mestre para poder questioná-lo. Minha compaixão com você, não é sinal que quero começar um debate. Na verdade, vim terminar com as coisas — respondeu Onochi, unindo as mãos.

Subitamente, o chão no qual os três pisavam se desprendia do solo como uma plataforma esculpida como quadrangular perfeito. Os homens de preto congelaram com aquele pedaço de terra flutuante, que levava Onochi e os garotos embora.

Sem perder tempo, Suzaki arremessou sua arma, rodopiando na direção dos alvos. Contudo, na medida em que a lâmina de fulgur se aproximava do Shiro, ela desacelerou até frear dentro da plataforma, pairando como se estivesse debaixo d’água. Zeta ainda tentou chamar sua espada de volta, mas as linhas de energia em seus dedos não conseguiam se conectar à arma.

— Então esse é o seu poder divino? — percebia trocando olhares com eles. 

— Eu sinto muito, Suzaki — encarava seu ex aluno enquanto subia com os mirins — De verdade. 

— Não irei deixá-los escapar! Satoru irá pagar! — berrava seguindo a plataforma que se deslocava no céu.

Quando o Shiro disparou sua arma daquela altura, o obrigando a ceder em sua busca. Yanaho sentou-se na beirada da plataforma com os braços apoiados nas coxas e as mãos no rosto, vislumbrando seu antigo amigo uma última vez.

Presos em um impasse, os Tsuki se viram rodeados pela guarda pessoal de Houkara. Kurome a meros centímetros de seu alvo, tinha sua espada bloqueada por dois homens em armadura negra, com apenas os olhos negros a mostra. O general olhava para seus agressores com desdém, antes de dar a ordem:

— Que astúcia. Acabem logo com isso. 

Kurome recuou, revelando uma esfera presa no seu cinto. Ele sacou o objeto e o arremessou. Seus parceiros se cobriram com seus mantos imediatamente. A explosão pintou aquele pequeno pedaço do acampamento de preto, exceto por Kimijime, cujo casulo de sangue que construiu se dissolveu em contato com o líquido.

“Isso é…”, percebeu o súdito, olhando para o chão.

Os soldados da Guarda Pacificadora estavam tomados de seiva da noite. Os menos protegidos, caíram no chão tremendo, enquanto aqueles em armadura tiveram seus olhos cegados pela substância, na tentativa de proteger seu general. Os Tsuki largaram mão de suas capas, revelando seus corpos totalmente protegidos. Kurome rapidamente abriu as gargantas de seus oponentes mais próximos.

— Seu imundo. Pensa que sou um rato indefeso? — Houkara sacou sua espada.

Com um só golpe, Kurome atirou a espada do general Kuro para longe. Quando olhou para suas mãos, estava sangrando. Dois de seus dedos estavam no chão, um deles com um anel antes de ser chutado na seiva. O general rastejou para recuperá-lo, mas sentiu o gosto das botas do líder dos Tsuki na sua boca.

— Para mim, você não passa de uma formiga que se acha maior que os outros — respondeu Kurome.

De repente, o sangue no chão dos guardas recém assassinados e das mãos de Houkara rastejaram pelo corpo de Kurome, pressionando seu pescoço, e segurando seu braço armado. Seus companheiros tentaram cobri-lo, porém a explosão da bomba atraiu mais guardas para contê-los.

— Acabou a brincadeira — disse o súdito — vão morrer aqui e agora! 

— Então você é o outro diferente — Kurome tentava arrancar a gosma do seu braço.. 

— Já que gostam tanto desse veneno, vou fazer vocês experimentarem. 

Kimijime se apoiava em um barril próximo para se sustentar com os dois pés, quando percebeu algo cobrindo a luz daquela manhã. Era uma plataforma flutuante, carregando três pessoas. A sombra crescia e crescia, até começar a cair sobre o súdito, que usou de seu apoio como impulso para saltar para longe do impacto.

Kurome se livrava das amarras, mas Houkara se rastejou para perto de seus homens, que cercavam agora o trio que acabara de chegar para perto do Tsuki

— É um milagre que ainda estejam vivos — comentou Kurome, pegando o anel de Houkara do chão.

— O milagre chegou pra vocês também pelo visto — apontou Yukirama — se não dermos um fora agora, não vamos ter outra chance. 

— Esse deve ser o monstro que as meninas comentaram — percebia Yanaho, comentando com seu mestre — Eu sinto um Aka por aqui. 

— Deve ser Iori — Kurome respondeu — Se perdeu no meio dos guardas de preto, mas ainda está lá.

— Tá olhando o que? — Kimijime rastejava pelo chão — Quer saber o meu gosto, gorducho?

Uma forte pressão se espalhou pelos Kuro. Kimijime já não conseguia se erguer do chão e os Kuro ficaram paralisados. 

— Yanaho, leve-os até ele — ordenou Onochi —  Estou logo atrás de vocês!

Guiado pelo radar de sua cor, Yanaho conduziu o grupo pelos guardas paralisados, enquanto Onochi os defendiam da enxurrada de reforços que pressionavam o acampamento. Entre a seiva jogada no chão e outros corpos, os mirins puxaram seu professor, manchado em preto.

— Está vivo — Yanaho tocava seu pulso — Mas muito ferido.

— Ele não vai aguentar muito assim — Yukirama limpava a seiva do rosto de Iori — não consigo transmitir meu iro com essa porcaria nele.

— Vamos logo, vocês curam ele depois — Kurome os puxou.

No instante em que o grupo deixou os muros da base, Onochi desfez a pressão sob a Guarda Pacificadora, antes de se juntar ao grupo. Kimijime voltava a respirar, mas ainda lutava para sair do chão, quando Suzaki voltava da floresta:

— Para onde eles foram? 

— Animais, eu não vou sair daqui mais pobre do que quando entrei! — apontou Houkara pressionando os dedos — não os deixem fugir! 

A Guarda Pacificadora rugia no encalço dos fugitivos. Os Tsuki lideravam o grupo, com os mirins e seu comandante logo atrás, quando Onochi parou de correr.

— As carruagens devem estar perto — disse Kurome — Posso ouvi-las daqui.

— Bom — afirmou Onochi, unindo as mãos na direção dos seus perseguidores — Eu encontro vocês lá.

— Anda logo — Yukirama puxava Yanaho, que já se virava para assistir — Deixa ele fazer o dele.

A aura branca cresceu ao redor do Shiro. Seus pés elevaram-se do chão, pouco acima das árvores, o bastante para os Kuro virem a sua larga figura contra o céu claro. Uma última vista antes de um tufão esmagador tombar as árvores, soprar suas folhas dos galhos e varrê-los a metros de distância do acampamento. 

Mesmo na fumaça e destroços do kazedamu, Onochi via uma única figura emergindo dela. Descendo ao nível do chão, contemplado os hectares que acabara de arrasar, ele apenas ouviu o grito inconfundível de seu aluno:

— Onochi!!!

O alto som do vendaval seguido do grito assustou e estremeceu a caravana liderada por Uchida, que seguira para longe da base. Dentre as tantas carruagens, um pequeno grupo de mirins via as horas passar, mas uma entre eles só tinha olhos para o que havia deixado para trás. 

— Umi — Jin alcançava a irmã, virada para a janela —  eu… 

Sua irmã virou a mão antes do rosto, com uma bofetada que jogou o rapaz para perto de seus outros colegas. No assento oposto, Aiko abraçava a si mesma, afundada entre os braços e joelhos, quando sentiu uma parada brusca que a forçou a se apoiar para não cair. 

Eles haviam cruzado uma ponte. Umi foi a primeira a descer para ver o que se passava, mas logo os Heishis a impediram de avançar. Ela se afastou da carruagem, andou para a beirada de um desfiladeiro e ali ficou. 

Mesmo distantes, os mirins viam seu corpo resistindo aos soluços. Jin abriu a carruagem para segui-la, mas Yachi o segurou:

— Melhor não.

— O que você faria se fosse com o Nakama?

— Falo por você. Toda essa viagem e você não deu uma palavra.  

— É que… Eu cheguei a conhecer meu pai. É diferente… — sua mão estremecia para fechar a porta da carruagem novamente — Comigo as coisas só… acontecem. E eu fico.

— Tá tudo bem — Yachi bateu nas costas do colega.

— Tudo bem? Primeiro o professor Arata e agora o comandante — Tsuneo socava sua coxa — Yanaho e Yukirama também, aqueles dois.

— Onde eles foram se meter? — lamentou Yachi — Era só terem ficado no acampamento!

— Eles escolheram isso — concluiu Kazuya — Sabiam o que estavam fazendo. 

A resposta de Kazuya mergulhou a conversa em um silêncio, pausado somente pela respiração ofegante de Aiko, que logo fugiu pelo seu lado da carruagem. Tsuneo acompanhou pela janela, sua ida para outra carruagem, com os outros Senshis

Dentro da carruagem, porém Jin batia nas próprias pernas:

— Droga, droga, droga! 

Foi então que os ventos balançaram a carruagem. A ponte também começou a tremer, de modo que Umi se afastou da beirada do desfiladeiro e tanto Heishis quanto Senshis estranharam a origem do fenômeno. As suas dúvidas foram sanadas quando um homem flutuante fez a curva na estrada, ao mesmo tempo que um grupo de sobreviventes corriam saindo da mata. 

— Jin, são eles! — Yachi apontou. 

— Calma — Tsuneo abria a porta da carruagem — Eles tão trazendo mais alguém.

Aterrissando com os mirins, Onochi foi saudado pelos Senshis, que logo tomaram o corpo de Iori das mãos dos mirins. 

— A gente limpou um pouco — dizia Yukirama — Mas ele ainda precisa de energia. 

— Iori — Jin passava por cima de seus colegas para chegar perto — Como ele tá? Ele tá bem? 

— Ele está vivo — dizia Yanaho — só que a gente tem que ir logo. 

Quando o Kurome e seus subordinados cruzaram a ponte, Onochi com um gesto das mãos, soprou a ponte em pedaços, montanha abaixo. 

— Da próxima vez eu vou na sua casa começar a destruir os seus móveis — Uchida saiu entre os Heishis apontando o dedo no rosto de Onochi.

— Vamos embora logo! — Kurome se colocou entre eles — Pode falar pro Satoru que a ordem foi minha. A rota para as cidades leva pelo menos uns dois dias a mais. 

Umi avistou seu pai ser levado para dentro de uma carruagem, antes de embarcar junto com seus outros colegas. Quando eles começaram a se mover, ela manteve a cabeça para dentro do carro.

— Umi, seu pai está... — Jin começou a dizer mas se impediu.

— Eu sei — Umi cobriu o rosto inexpressivo, limpando as lágrimas.

A Guarda Pacificadora ressurgia dos escombros do último ataque de Onochi. Houkara estapeou a poeira de suas roupas e batia o pé com seus homens. 

— Temos muito trabalho a fazer — gritava o general — Achem os cavalos, peguem eles. O resto, deem um jeito de construir algo com o que sobrou. Não temos o dia todo!

— Se me der licença — Kimijime erguia o resto de uma cabana de cima dele — Eu preciso cuidar de um problema.

— Logo você? Esperava essa falta de compromisso do azul!

— Nós te demos Nokyokai, Houkara. E eu não sou carpinteiro — saiu mancando para fora do acampamento — Tem algum problema? Resolva com Itoshi depois.

— Olha o que fizeram comigo? — Houkara exibia as mãos para o súdito que já davas as costas ao general — Era um anel de ouro, sabia? Agora ele está nas mãos daqueles impuros!

Kimijime mancou pela floresta até a estrada mais próxima, onde Suzaki retornava da estrada à cavalo. 

— Encontrei este cavalo assustado pelos ventos e fui mais a frente. Eles destruíram a ponte. Podemos alcançá-los ainda, tem uma estrada que contorna a próxima montanha. Vai levar uns dias, mas é o nosso caminho.

— Já amanheceu, Zeta — subiu na montaria, atrás de Suzaki — A farra acabou.

— Estou indo em direção ao palácio do imperador, se não tem o poder para continuar, melhor descer. 

— Tem razão — impôs as mãos sobre a cabeça dele sem que percebesse — mehor seguirmos seus instintos, Nobura ficará satisfeito com isso — sorria. 

— Dominaremos o Império em menos de meses de conflito — os olhos de Suzaki eram consumidos pela escuridão — irei destruir Satoru… e cada um deles! 

— Vamos em frente — se segurava no cavalo em alta velocidade — Houkara está logo atrás, não se preocupe.

— Não preciso dele — conduzia o animal sem olhar para trás — já fiz isso com minhas próprias mãos, posso fazer de novo.

Com Kimijime contendo as risadas, Suzaki cavalgou de volta para o monte da batalha, em direção a Depressão Kuro. Os membros da guarda pacificadora eram abandonados pelos súditos, ao tempo que o general se erguia com os olhos em sua mão enfaixada. 

— Vamos rodar, a vitória é nossa! — o anúncio foi acompanhado por um breve alvoroço. 

A Guarda Pacificadora seguiu para base da montanha montada pelos inimigos, com o plano original organizado com Suzaki em mãos, Houkara levou o restante de todo o dia para armar os preparativos definitivos da invasão. 

Dias após o término da bem-sucedida incursão, Houkara descansava em uma tenda na antiga base da aliança entre azuis e vermelhos. Agora, na posse de seus pertences, mas sem os recursos de seus predecessores, ele coçava seus dedos decepados em silêncio, imaginando o anel que perdera ainda na sua posse, quando seus homens apareceram.

— General — os homens abriram a tenda — Está pronta.

— Eu serei o juiz disso. Preparem meu transporte.

O general subiu em um dos cavalos e foi conduzido pelos contornos das montanhas menores da região. De repente repararam em outra ponte sem quaisquer guarnição.

Após atravessar a passagem vagarosamente, o cavalo disparou pela estrada. Ainda naquela tarde mais da Guarda Pacificadora seguiram pela mesma rota. Com o sol brilhante no céu, encontraram as primeiras casas e moradores imundos se esgueirando em mais cavernas típicas da região. 

Os guardas do general se apoderaram das primeiras estruturas de rochas, aprisionando os mineradores, Houkara invadia o local procurando por preciosidades. Não demorou muito para perceber potes contendo um líquido preto que logo lhe chamava atenção. 

— Parece com aquela tinta que o desgraçado que me tirou o anel usava no rosto — pegava um dos frascos — nossos homens ficaram paralisados quando atingidos. 

— Este líquido é expelido pelas árvores dessa região — o guarda avisava o superior — foi relatado por um morador.

— Interessante, o Cônsul vai gostar disso — sorria. 

Após confiscar as cavernas, os moradores que restavam em suas casas eram perturbados pela marcha da Guarda pacificadora, que tomava a enfraquecida cidade das montanhas aos gritos de seu líder:

— Vocês foram abandonados para morrer. Nós vamos cumprir com esta expectativa, é claro. Mas antes, vão nos servir!

Enquanto os guardas tiravam os moradores de suas casas, um deles gritava:

— As minas não. Qualquer coisa menos as minas! Já tiraram tudo de lá, eu juro.

Houkara olhou para o alto e viu uma entrada maior, no fundo da cidade. Em poucas horas, os moradores foram colocados para extrair seiva do lado de fora, mas o general estava nas minas, vagando por um corredor que uma vez tinha um brilho cegante. As jazidas estavam nuas, exceto por lascas. O acompanhante do general recolheu algumas lascas, cuja luz da lanterna que trazia as fazia brilhar.

— Senhor — exibia o minério para ele — Levaram tudo, mas eu nunca vi nada parecido.

— Eu conheço uma jóia quando vejo — a tomou das mãos do guarda — E pelo visto o imperador de araque deste lugar também.

Na depressão Kuro, às margens dos povoados, Nobura caminha pelos campos próximos a capela onde residiam os súditos. Sua cabeça estava erguida, admirando as estrelas, mas sua mão guardava uma pedra entre os dedos. 

— Estou aqui , Épsilon — adentrou a capela.

— Vai ser rápido — o súdito apoiava-se em uma muleta — Sei que me quer no deserto o quant…

— No deserto você será um incômodo, ainda que consiga se recuperar a tempo — interrompeu com sua voz rouca — quero controle nesta batalha. 

— Eu entendo — abaixou a cabeça — Se eu sou um risco comparado à Mayuri ou Seth, depois de todos esses anos… Que dirá alguém que sequer tem um ano com nosso pequeno grupo.

— Zeta deixou de ser responsabilidade sua no momento que retornou da batalha.

— Por isso mesmo — Kimijime interrompia seus passos na entrada da caverna — que você deveria ver isso.

A caverna tinha uma única tocha acesa. Uma sombra inquieta balbuciava naquele breu, com os passos inquietos de um lado para o outro que ecoavam pelas paredes de pedra:

— Não estamos longe da capital, Kimijiime! Vou atravessar essa espada no imperador nem que seja a última coisa que eu faça!

O súdito desprovido da ilusão ouvia um estalo e recuou. Nas mãos de Nobura, a pedra que estava lá já era pó, que escorria por seus dedos. O líder dos súditos entrou na caverna, tomou a tocha e acendeu a capela. Depois, observou o rapaz preso em seus devaneios atacar o vento com sua lâmina de duas pontas até entrar no caminho de seus golpes. 

Suzaki balançou sua espada até ela agarrar na mão de Nobura. Foi então que os olhos enegrecidos do último Heishi Celestial clarearam. De uma hora para outra, seu rosto reconhecia o homem diante dele, e sua mera imagem foi o bastante para derrubá-lo no chão.

— Mas o que…

— Queria ir até o imperador? — perguntou Nobura, jogando a espada de Suzaki para o lado.

— Eu vou matar eles — Suzaki se arrastava para longe do mascarado — Não era esse o plano? Que diferença vai fazer eu ser aquele que vai matá-los, se no final vão todos morrer?

Descendo até Suzaki, Nobura o pegou pelo pescoço e o bateu contra a parede. O jovem se debatia nas mãos do mascarado, na medida que as veias da testa saltavam da pele.

— Se por acaso tivesse se tornado imperador, esse propósito ainda seria o mesmo? Ou se ainda tivesse ficado com aquela mulher na caverna, ainda teria as mesmas ambições?

— Me… solta — lutava para respirar. 

— Sua convicção ainda é fraca, nascida do ressentimento pelas coisas que não pôde obter — soltou o pescoço — Vou corrigir sua primária falta de disciplina, mas não vou colocar em risco nossa guerra por isso.

Suzaki desabou no chão às tosses. Seu rosto mudou de cor na medida em que o ar voltava a encher seus pulmões. 

— Eu fiz o que você pediu, posso fazer de novo! — suplicou, reparando no outro súdito contendo as risadas nas sombras — então foi você! 

— Eu apenas te dei o que você queria — jogou os braços para o alto. 

— As ilusões de Kimijime seduzem somente os convencidos por ela — se colocou a frente de Suzaki — você foi fraco. 

— Você precisa de mim! — curvou a cabeça involuntariamente. 

— Está me confundindo com seu pai — a fala de Nobura fez Suzaki ceder ficando de joelhos com os olhos no chão — de pé! 

A ordem de Nobura gerou a reação do Zeta no qual ele esperava. Cruzando os braços rodeou o jovem enquanto concluía:

— Eu não preciso de você, preciso Zeta. Eu posso tirar a vida daqueles que você quer, mas está disposto a aceitar que o algoz pode ser outra pessoa? Está disposto a encará-los da mesma forma que mataria uma pessoa que nunca guardou rancor?

— Estou.

— Se quer se provar para mim, deve parar de querer se provar para eles. Eu iria te poupar do que está por vir, mas agora a próxima batalha será sua chance de colocar seu coração no lugar certo — encostou em seu ombro — Vá descansar, partimos amanhã.

Com um aceno da cabeça, Suzaki caminhou para seu canto na caverna e adormeceu. Saindo da caverna, Kimijime esperava por Nobura:

— Eu juro que não tinha outra maneira de convencê-lo a vir.

— Seus ciúmes me serviram, Épsilon, mas da próxima vez que agir assim, vou devolvê-lo à sarjeta — segurou sua cabeça — Não saia da capela pela próxima semana.

Kimijime calou-se e obedeceu, deixando Nobura no campo, acompanhado somente pelas estrelas no céu daquela noite. 


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.



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