Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume IV – Arco 12

Capítulo 105: Início do Pesadelo

A imagem de Jin empalado na espada de Kimijime ficou gravada nos olhos emocionados de Iori. Uma vida inteira passou diante dos seus olhos, começando por uma lápide aos seus pés. 

Era uma tarde quente, as folhas vermelhas caíam sobre o cemitério, também coberto pelas capas dos Senshis mortos em batalha, todas amarradas em suas lápides. De frente para ela, um pouco mais a frente do atual comandante, estava uma mulher ajoelhada, lutando contra seus soluços.

— Foi a primeira vez que fomos para batalhas diferentes — dizia Iori.

— Eu não sei mais o que fazer — uma mulher limpava as lágrimas por baixo do véu — A minha vida, a do meu filho… Os nossos planos estão todos aqui! 

— Eu sei, mas precisa se acalmar Nika — Iori a erguia do chão — Precisa ser forte pelo Jin. Ele vai precisar mais do que qualquer um.

— Yamoto sempre quis que ele fosse um grande Senshi. Como eu poderia ajudá-lo agora? Sou apenas uma mulher. Como, Iori? Como eu poderia salvar o sonho do meu marido?

— Só porque ele se foi, não significa que seu sonho terá o mesmo destino — olhava para uma criança sentada na colina perto dali, debaixo das árvores — Yamoto deve permanecer vivo em nossos corações.

— Você promete? — Nika também se virava para ver o filho — Eu não vou abandonar vocês, juro. Posso visitar, posso cobrar uns favores e…

— Os custos serão meus. Só não esqueça do seu papel de mãe — começou a andar até a colina — o garoto se tornará um grande Senshi, eu prometo. 

Jin era acolhido pelo som dos galhos agitados acima, além dos insetos que rastejavam na grama. Seus sapatos chutavam a terra, testando a reação dos pequenas criaturas, que corriam para suas tocas ao menor incômodo. Assim que Iori chegou ao seu nível, chegou a vez da criança se esconder enfiando a cabeça entre os joelhos.

— Melhor erguer essa cabeça, garoto — agachava até a sua altura — Sou Iori, lembra de mim?

— Você é amigo do papai — abraçava os joelhos — ou era… 

— Sempre serei — colocou a mão sob o cabelo da criança — da mesma forma que você sempre será filho de Yamoto. 

— Mamãe disse que ele não está mais aqui… — ameaçou derramar lágrimas.

— Ele está aqui — colocou o dedo sob o peito da criança — Seu pai sempre quis grandes coisas para você, e sua mãe também — ficou de pé — Eu vou te ajudar a continuar sendo filho deles, se vier comigo. 

A criança erguia a cabeça. Iori estendia a mão para ela. Tomando aquela mão, Jin terminou em uma nova casa. A mulher da casa tinha gentileza de sua mãe, apesar de outra aparência. Diferente da moça nostálgica, encontrava um algoz em seu novo quarto, no qual em um breve encontro já gerou gritos do novo hóspede, chamando atenção de Iori.  

Correndo até o quarto encontrou Jin sob os calcanhares da sua tirana, que se gabava aos pais enfurecidos:

— Saia de cima dele, Umi?!

— Se quiser me substituir terá que fazer melhor, fracote.

Enquanto sua esposa consolava Jin, Umi foi levada aos gritos para outro quarto:

— Qual é a sua, mocinha? — questionou Iori.

— Aquele fracote perguntou onde ia dormir! 

— Ninguém vai substituir ninguém — cruzou os braços — ele é um garoto da sua idade. O papai prometeu que no futuro ele vai se tornar um grande guerreiro. Para isso, ele vai viver com a gente.

— Não me convenceu — virou as costas. 

— Sabe, eu e o pai dele éramos uma boa dupla. Acredito que você e Jin também podem formar uma parceria — virava sua filha de volta — ele precisa de nossa ajuda. É da nossa responsabilidade e temos que fazer isso dar certo, entendeu?

A garota balançou a cabeça de baixo para cima, antes dos dois voltarem para seu quarto onde Jin estava sentado na cama ao lado da mãe de Umi. A filha de Iori marchou para frente do garoto, estendeu a mão e falou em alta voz:

— Sou a Umi. É um prazer. 

Jin ofereceu a mão, a qual Umi agarrou ferozmente, balançando para cima e baixo. Iori dividiu uma risada de alívio com sua esposa, mas o fim daquele conflito só havia começado uma nova história. 

Iori terminava de embarcar Umi na carruagem, bem ao lado de seu meio-irmão, quando olhou para a rua e encontrou a mão do menino que criou, de pé do outro lado da calçada, conversando com sua mulher. Fechando a porta, ele recuou para a carruagem seguir seu caminho, na medida que as duas se aproximavam dele.

— Ele nunca teria sido admitido sem sua ajuda — disse a mulher sorrindo.

— Não esparava que viesse Nika, chegou a falar com ele?

— Falei. Ele não parece querer muito, mas está conformado. É o bastante por enquanto. 

— Jin vai entender sua missão melhor lá dentro — a esposa de Iori respondeu — confio que Umi o ajudará nisso, não é, querido? 

— Veremos. O primeiro passo foi dado. Agora é com eles. 

— Graças a vocês — Nika juntava as mãos do casal nas dela — O sonho de Yamoto continua. Obrigada por terem salvo nossa família. 

A frase reverberou sob a mente do comandante das tropas Aka, cuja mão agora vacilava no cabo de sua espada. Mesmo distante, ele pôde ouvir o corpo de Jin sussurrar as suas últimas palavras, enquanto olhava para ele:

— Sinto muito… pai. 

Os olhos de Iori se fecharam. A raiva crescia dentro de si, não pela cena diante dele mas porque sentia, sabia a natureza de tudo aquilo. Soltando um forte suspiro, ele voltou a abrir sua vista. Kimijime corria na sua direção com a espada prestes a estocá-lo. 

No último instante, Iori sacou sua espada e esperou o golpe inevitável. Sangue escorreu pela boca dos dois quando seus corpos ficaram agarrados um no outro, resultado de ambas as suas espadas cravadas no tronco de cada um. Iori forçava a espada de Kimijime para fora de sua barriga, tentando se recuperar. Já a perna do súdito vacilava, pois a lâmina atingiu na altura de seu quadril.

Umi, Jin e os outros mirins, estavam atrás do súdito, gritando pelo que parecia uma eternidade para que o Senshi escapasse do transe.

— Você percebeu de novo — suspirou Kimijime ainda sorrindo — mas agora foi tarde demais. 

— Eu não sou o pai dele — respondeu Iori percebendo a ilusão de Jin morto se desfazer — e é por isso que enquanto eu estiver vivo, não deixarei o sonho morrer!

— Iori! — Jin gritava

— Pai! — Umi partiu na direção dos dois combatentes — Temos que ajudá-lo agora! 

Kimijime sequer virou a cabeça para os mirins. Apenas o sangue jorrado no caminho de seu trajeto foi o bastante para agarrar as pernas de Umi, para então mais daquele líquido vermelho explodir da terra, entrelaçando a mirim em sua teia. 

— Já que o sonho não quer morrer — largou a sua arma, agarrando a face de Iori — que tal transformá-lo em pesadelo?

O olhar direto de Kimijime nos olhos de Iori, engoliram sua consciência. O comandante Aka soltou um berro, antes de desabar no chão. Com o olhar enegrecido, ele esperneava por alguns segundos até acabar inconsciente.

— Meu pai… — dizia Umi ainda tentando se soltar — O que é que você fez com ele?! 

Kimijime arrancou a espada de seu quadril aos gemidos. Os mirins estavam a alguns metros dele, mas o súdito foi obrigado a mancar, enquanto o grupo usavam suas espadas para tentar cortar a teia vermelha que prendia Umi, sem sucesso. 

— Parece que ver esse tal de Jin morrer, foi demais para mente dele. Ficou fraca como um barro para eu esculpir o que bem entender. Neste exato momento ele só consegue ver vocês morrerem, de novo e de novo, sem poder fazer nada!

— Quando eu te pegar — gritou Umi — Não vai sobrar nada!

— Temos que fugir — disse Yachi para Jin, puxando ela para o lado contrário — eu tenho um plano, quando eu der o sinal quero que me ajude a pegar Umi para corrermos — sussurrava. 

— Deixa eu contar uma coisa, para minhas ilusões funcionarem a pessoa precisa estar convencida dela. Imagine a miséria de saber que — dizia Kimijime, apontando para o corpo atrás dele — o que quebrou a mente do cara foi o medo que tem de ver vocês morrerem! Todo esse papo de “grandes guerreiros”, pra no fim nem ao menos acreditar que vocês possam fazer alguma coisa! — segurava a risada. 

Tomando emprestado a lâmina de Umi com a sua, Yachi produziu faíscas para queimar as teias, mas o sangue na rede rastejou para a lâmina.

— Esse truque eu já vi — Kimijime se aproximava.

Mesmo assim, uma centelha saltou entre as lâminas presas. Yachi agarrou a oportunidade, lançando uma labareda que correu a poça de sangue, rompendo a prisão de Umi.

— Todos para trás — gritou Yachi.

O fogo chegou em Kimijime, que rolou no chão para desviar o golpe. Ele tentou se colocar de pé, mas seu corpo cedeu aos ferimentos. Prostrado no chão, ele só podia ver os mirins disparando para longe dali, com Umi nos braços de Jin e Yachi, se debatendo para voltar.

— Droga, não consigo me mexer. Isso mesmo, só isso que podem fazer: Fugir. 

Umi era levada aos berros, clamando por seu pai enquanto Jin deixava uma lágrima escapar. Iori estava entre as muitas poças de sangue do campo de batalha com os olhos completamente arregalados disperso da realidade daquela noite.

Após deixarem o acampamento, Yanaho e Yukirama encontraram uma luta praticamente decidida na floresta. Os Aka corriam na direção contrária dos dois mirins, debaixo de uma chuva de pedras e o número avassalador de inimigos. 

— Tarde demais — dizia Yanaho — A gente vai perder?

— Já perdemos — respondeu Yukirama. 

Uma árvore caiu na frente dos rapazes, por cima de um Senshi, que ficou pelo caminho da debandada do exército Aka. Yukirama foi na frente, levantando o tronco com a ajuda da vítima.

— Minha perna — protestava o Senshi — Eu vou precisar de um tempo para me recuperar.

— A gente tá aqui — Yukirama o puxava para fora.

O Senshi, assim que foi colocado de pé, mancou durante os primeiros passos, quando a Guarda Pacificadora furou as linhas defensivas. Yukirama, que ainda carregava o Senshi nos ombros, apenas olhou para Yanaho, que se colocou na frente deles.

Defendendo os primeiros golpes, o aprendiz de Onochi esperou seus inimigos acumularem para soprá-los algumas dezenas de metros para longe. Virando para trás, escutou apenas o chamado de Yukirama:

— Ele já consegue andar. Vem logo!

Porém, antes que pudesse agir, uma chuva de facas, vindas das árvores caiu sobre o pequeno grupo de homens Kuro. Um último guarda lutou para ficar de pé, quando uma espada atravessou sua garganta, vinda de um Tsuki de trás de uma das árvores.

Sem reagir, Yanaho e Yukirama foram tomados pelo grupo para fora do caminho das forças inimigas que não cessavam de vir. A dupla foi levada para atrás de um barranco raso, de onde assistiram a invasão ao acampamento.

— Onde você estava?! — gritou Yukirama — O que você está fazen-

— O que pensam estar fazendo aqui?! — Kurome tapava a boca do mirim com as mãos, reconhecendo outro que vestia a capa vermelha — Já até imagino, Suzaki né? 

O mirim apenas confirmou com a cabeça enquanto Yukirama se soltou:

— Yanaho conheceu ele, acha que pode convencê-lo a parar!

— Ele tá sumido para sua sorte — riu Kurome —  Não entenderam nada do que falei? Não tem a menor chance contra ele. Ninguém tem.

— E o que você faz aqui? — sussurrou Yanaho — Assistindo todo mundo morrer, enquanto não faz nada!

— Alguém está por trás deste exército. Com a batalha decidida, precisamos evacuar, mas não antes de ferir nosso inimigo. 

— Então vai se esconder aqui nessa fossa até alguém aparecer — brincava Yukirama, colocando a cabeça por cima do barranco para assistir a batalha — De onde tirou essa ideia brilhante?

A conversa do grupo foi cortada por urros sincronizados da Guarda Pacificadora:

— Um reino!

— Um povo? — sussurrava um Tsuki.

— Um destino — a Guarda gritava em resposta.

— Ele está aqui — respondeu o Tsuki a Kurome.

— Então vocês estavam… escutando? — questionou Yanaho.

— A guarda estava dividida. Pude escutar os homens deles debatendo sobre o avanço ser a melhor ideia. Disseram que foi ideia de um tal de Épsilon — se escorou no barranco, apontando para a frente — Era questão de tempo até o restante aparecer, e o homem certo vir junto.

— E por que estamos aqui? — questionou Yukirama — Se não querem o Suzaki, deixa a gente ir.

— Porque ele certamente vai aparecer. Se vão morrer, façam isso servindo para alguma coisa. Vão até Suzaki como desejam, distraiam ele e dêem a brecha que precisamos!

— Tudo bem — respondeu Yanaho. 

— Tudo bem? — Yukirama correu até o companheiro — não ouviu? Esse cara quer nos usar como isca — encarou o Tsuki que apenas ignorou. 

— Eu preciso falar com Suzaki, já conversamos sobre isso, mesmo que você não vá, eu vou.

— Não vou deixar ir sozinho — Yukirama respirou fundo, se virando para Kurome — tá, qual é do plano brilhante?

A base era tomada por todos lados. Kimijime mesmo debilitado, se viu rodeado por homens vestidos de preto, liderados por uma figura encapuzada bastante familiar. Ela arrancou sua espada do peito de um cadáver no chão, antes de abaixar seu capuz.

— Batalha não parece seu forte — disse Suzaki, medindo os ferimentos de Kimijime.

— Imagina se fosse — Kimijime se erguia sozinho — Em poucas horas avancei o que você levou uma noite inteira para fazer.

— Eles estão enfraquecidos. Estavam antecipando a derrota — grunhiu — planejaram a fuga.

— E daí? Podem correr, nós vencemos.

— Para você pode ter acabado — Suzaki segurava sua espada com mais força — Mas para mim, não.

— É mais um até logo do que um adeus — olhava para as mãos trêmulas — deixei a garota fugir…

A Guarda Pacificadora fazia um túnel de homens em continência para a passagem de Houkara, que desfilava ao entrar na base. Os súditos olharam para seu chefe naquela batalha vagar pelos corpos com um capacete de prata nas mãos. 

Procurando riquezas, ele encontrou a espada de Iori do lado do sujeito que ainda estava com olhos esbugalhados no chão. A arma mesmo suja foi reconhecida pelo general. 

— Esse corpo, matem-no! — exigiu Houkara. 

— Não, este aí é meu. Konjiru vai gostar dele — interviu Kimijime — assim posso barganhar com aquela mulher. 

— Isso vai ter que servir — ergueu o capacete Heishi numa mão e a espada do Senshi na outra — Os Heishis deste lado da montanha são mais refinados. Vou ter que me contentar com esta peça. Veja, são como animais empalhados. Aqui jaz, o patético exército imperial Ao e o decepcionante exército Aka

— Eu não tenho tempo para isso — resmungou Suzaki, indo na direção do inimigo em fuga.

De repente, facas cortaram o ar. Alguns guardas caíram, enquanto Kimijime ficou paralisado pelas dores. Os subordinados de Kurome saltaram da floresta para emboscá-los, ao passo que o próprio líder partiu diretamente para o general, onde bateu nas lâminas com dois guardas pessoais de Houkara, a centímetros do alvo.

— Os Tsuki costumavam ser mais covardes — disse Suzaki pronto para atacar Kurome. 

O antigo Heishi celestial dava um passo à frente quando de repente foi soprado para dentro da floresta. Esperando por ele no galho das árvores, veio Yukirama descendo com sua espada contra a lâmina de duas pontas do príncipe renegado.

— Onde ele está?! — gritou Suzaki.

— Ainda não te mostrei tudo o que tenho — deslizou sua espada pelo fulgur do adversário — do atrito saltou uma faísca. 

O fogo se alastrou até a capa de Suzaki. Mais ainda, seus pés sentiram um desnível no chão, a terra o estava varrendo contra uma pedra. Distante de seu oponente, ele apenas viu Yukirama erguer os dedos num sinal, que fez as labaredas em suas roupas subirem. Suzaki havia se tornado uma pira viva, quando Yanaho chegou até seu parceiro que completou sua fala:

— É assim que se usa fogo.

— Ele não deve ter se recuperado totalmente da noite anterior. Sem kazedamu e as tempestades, está vulnerável. 

A espada de Suzaki rasgou as chamas, viajando na direção da dupla de mirins. O kazedamu de Yanaho a jogou na direção contrária, retornando a arma para as mãos de seu dono, que saía do fogaréu sem a sua capa negra.

— Disse que na hora de morrer era sempre você e nunca seu pai — Yanaho se aproximava, Yukirama logo atrás dele — mas agora parece que nunca é você, sempre os outros. 

— A vida de quem aceita as coisas como estão não me interessa.

— Elas podem lutar. Eu vi — abaixou a cabeça — Da mesma forma que vi você tentando nos impedir de fazer isso em Midori.

— Mesmo que eles lutem, e depois? Seu reino está ajudando as mesmas pessoas que tentaram invadi-los meses antes. Quanto tempo essa farsa vai durar?

— Isso não justifica nada! Só porque o fracasso pode acontecer vai impedir todo mundo de tentar?

— A única tentativa é destruir tudo! Aqueles que governam esse mundo, todos estamos aqui por conta deles! E por isso farei eles pagarem. 

— Mesmo que mate os reis como fez com seu pai, e depois? 

— Só sei que depois de matar vocês, irei em direção a capital, finalizar o que comecei! 

As espadas nas mãos de Yanaho e Yukirama sentiram um forte puxão, desequilibrando os dois ao tempo que o outro mirim se assustava segurando o metal com força: 

— O que quer que vá dizer a ele, Yanaho. Fale logo! 

Yukirama foi o primeiro a ser puxado. Yanaho soprou seu kazedamu para afastar o braço de Suzaki do pescoço de seu parceiro. Livre do magnetismo, Yukirama atacou ao mesmo tempo, mas o súdito pulou acima das duas espadas, espalhando suas duas pernas em um chute duplo. O fogo do primeiro ataque de Yukirama voltou para suas mãos, que arremessou bolas flamejantes em seu oponente. 

Utilizando de sua longa arma como impulsão, Suzaki buscava a copa das árvores para escapar dos tiros. As árvores ardiam em chamas com os ataques de Yukirama, a fumaça havia se tornado visível mesmo na escuridão daquela madrugada. O súdito mantinha um olho no seu próximo passo e outro no mirim, quando uma bola de fogo passou longe dele. No entanto, Yanaho aparecia atrás com as mãos juntas. 

Suzaki desceu dos galhos, na medida em que o kazedamu transformou aquele pequeno objeto incandescente em um jato de fogo. Com sua espada ele cortou o tronco que absorveu o ataque parcialmente. Sua pele ainda ardia e os pulmões o sufocavam com o gás. 

“Muito quente, por algum motivo…”, a bolha de energia ao seu redor piscava fracamente. “Eu não consigo atrair os metais”.

Correndo pela fumaça, veio Yukirama com um corte horizontal, bloqueado pela guarda de Suzaki. Yanaho veio por trás, forçando um giro do súdito. Ainda balançando sua arma como uma hélice, ele encontrou a defesa de Yanaho, forçou sua espada contra o chão, onde fincou uma das pontas da sua arma. 

Apoiado na empunhadura, Suzaki rodou na própria espada chutando não apenas seu oponente imediato como também Yukirama que vinha para outro ataque. Yanaho caído, entrelaçou suas pernas em Suzaki, que puxava sua espada da terra. Os dois caíram, mas o mirim ficou por cima, forçando sua lâmina contra o cabo central da arma de duas pontas de seu ex-amigo. 

— Você não sabe de tudo — dizia Yanaho — Pensa que o mundo te largou, que ninguém mais se importa. Mas eu tô aqui! Terminei preso porque quis acreditar no que a gente prometeu naquele dia. E eu não fui o único que sofreu por você!

Uma corrente de eletricidade correu de Suzaki para sua lâmina, eletrocutando o rapaz em cima dele antes de chutá-lo de cima. Não demorou para Yukirama vir, com uma bola de fogo numa mão e a espada na outra.

A corrente na espada de Suzaki percorreu o corpo do companheiro de Yanaho ao menor contato com o fulgur. As chamas escorreram entre seus dedos, cujo braço foi agarrado por Zeta, que o jogou contra o mirim de capa vermelha. 

— Minhas lágrimas já secaram, Yanaho — caminhava em direção a eles — Se a nossa promessa não passasse de um devaneio, não teríamos terminado desse jeito. 

— Terminamos desse jeito por que você buscou isso — se levantou novamente.

— Pessoas como você serão mastigadas e cuspidas por eles, assim como o seu pai. É assim que quer terminar?

— O que disse?!

— Yanaho — Yukirama segurava sua perna — fique calmo. 

— Deve ser difícil dar a vida pelos mesmos que estão matando ele aos poucos. Esse é o sonho que seu pai e sua mãe se sacrificaram para você realizar? 

Yanaho puxou a perna para longe do alcance de Yukirama, gritando enquanto batia espadas contra Suzaki.

— Quem você pensa que é para falar do meu pai! 

O próximo ataque do mirim acertou a árvore logo atrás de seu adversário. Com o braço exposto, Suzaki desceu uma cotovelada que fraturou seu braço, abandonando sua espada no tronco. Com o outro braço ele atacou, mas terminou chutado contra o chão. 

Por fim, Zeta pisou em seu antebraço ainda ferido pelo ataque flamejante da luta anterior, fazendo Yanaho gritar de dor. 

— Acabou — Suzaki mexia o calcanhar debaixo dos ossos de Yanaho — disse que queria me fazer uma pergunta, espero que sirva como suas últimas palavras.

— Suzaki você… — ameaçou terminar sua frase.  

Por um momento o mirim de capa vermelha reparava no rosto desfigurado de seu ex companheiro, lembrando-se do rosto tímido e juvenil do Suzaki do passado. Em sua mente reverberou o pedido de Aiuchu junto as memórias com o prodígio que um dia foi sua referência:

“Não conte a Suzaki sobre isso, por favor”

Enquanto Yanaho encarava seu oponente de baixo para cima, Yukirama correu ao seu socorro sendo repelido por uma barreira de eletricidade que surgia ao redor dos dois. 

— Não — arregalou seus olhos. 

— Quem venceu essa luta? — terminou sua pergunta, ao tempo que uma brisa atingia os dois, resultado da energia ao redor 

De repente o antigo Heishi celestial deixou de sentir o peso de seus corpos. Sem conseguir se mexer ele foi elevado ao ar, Yukirama se impressionava com o que estava vendo, porém Yanaho sorria ao perceber do que se tratava. Suzaki logo foi arremessado no tronco de uma árvore distante dos dois mirins. 

A escuridão da floresta foi invadida por uma aura branca que iluminou os arredores vindo do alto como um anjo. Um homem com uma capa branca surgia na frente dos mirins, guardas se aproximavam seguindo o mesmo sujeito. Suzaki se erguia frente a frente com o homem largo de túnicas da mesma cor de sua aura, franzindo suas sobrancelhas. 

— Que nostálgico — disse Suzaki apontando sua lâmina — Não estou surpreso com seu atraso, Onochi.

— Fiquem atrás de mim — dizia o Shiro encarando seu ex aluno — tudo acabará logo.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

 



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