Volume IV – Arco 12
Capítulo 102: Vitória
Na encosta de uma montanha, protegido por muros de madeira pontiagudos, havia a morada dos Tsuki. A resistência ao Império de Koji recuava dos portões. Sem guarda ou vigilância, todos habitavam a pequena vila sem preocupação, exceto pela noite tempestuosa. Porém, na mais alta das casas, dois homens discutiam sobre a tormenta que se aproximava.
— O acordo está feito — dizia Yomi, olhando a tempestade pela janela, de costas para sua escrivaninha — Suzaki será entregue ao Koji amanhã. Então, tudo estará terminado.
— É, tudo — dizia outro de túnica escura, sentado numa poltrona acolchoada, jogou a cabeça para trás — Inclusive nós.
— Meu filho morreu por causa dessa disputa, Kurome.
— Pensa que o Koji liga? Ele nunca honrou nenhum acordo. Você vai morrer no minuto seguinte.
— Suzaki é um problema maior que também não está nem aí. Pensa que ele se importa com os Tsuki, só porque salvou a sua vida na invasão do Marquês?! — se virou da janela — Sabe por que travamos essa guerra secreta?
— Eu quero saber por que vamos perdê-la — desceu a cabeça do encosto — tudo por causa de um moleque.
— Koji também era só um moleque — sentou em outra poltrona frente a frente com Kurome — O problema é que estas pessoas nunca se viram como um, na verdade nem como homens comuns. Nem mesmo outros reis enxergam as pessoas como Koji enxerga.
— E o que isso tem a ver? Se pensava tudo isso antes nunca teria aceitado o moleque se juntar com a gente.
— Eu acreditei no julgamento do Ryo. Estava errado assim como ele. Koji infectou a própria família com essa doença, de que só eles são excepcionais e todo mundo é o meio para os fins deles. Gente assim, não deveria existir.
— Então ainda vai tentar ganhar do Koji?
— Koji será vencido pela velhice, mas esse maldito criou um herdeiro perfeito. Se deixarmos esse garoto vivo, o resultado pode ser catastrófico. Essas pessoas tomam o que querem, não prestam contas a ninguém, até não sobrar mais nada.
— Eu não estarei lá para ver você se render — se retirava — ficarei escondido com os outros que discordarem.
— Nosso Império não vai aguentar duas gerações de Sora, governando estas terras. Devemos escolher o menor de dois males. Somente um monstro pode matar outro. Com o tempo, vai entender porque fiz o que fiz.
As palavras do finado Yomi ressoavam no ouvido de Kurome, assim como os trovões que rugiam do céu. O Tsuki recobrava consciência, na medida em que seus companheiros corriam na tempestade de raios. Um deles foi torrado alguns metros à frente.
“Era nessas horas que você diria ‘Eu te avisei’, não é Yomi?”, refletia se levantando.
Durante sua fuga, ele encontrou um dos mirins jogado entre as árvores, desnorteado. Os outros dois o puxavam do chão:
— Vamos embora, depressa!
— Eu ainda… — Yanaho empurrava os colegas para o lado — posso lutar.
— Chega de conversa fiada — Kurome passou pelo trio, puxando o mirim revoltado pela capa.
O corpo do garoto fez pouca resistência. Sua perna manca, rapidamente cedeu aos puxões de Kurome, até finalmente ser conduzido por Yukirama.
— Me solta, precisam de mim para vencê-lo — dizia Yanaho — comigo a barreira dele…
— Cale a boca — interrompeu Kurome — ninguém vai enfrentá-lo — completou o Tsuki enquanto continuavam em fuga.
O quarteto percorreu alguns metros se juntando a outros de túnicas escuras pela floresta. Debaixo de raios, trovões, a fúria do céu era especialmente incômoda à audição apurada de Kurome, que isolava os sons com seus pensamentos:
“Satoru pode até ser um monstro, o que é de se esperar de um filho do Koji. Mas este moleque está em outro nível. Ele tem poder para fazer o que quer. Dessa vez seguirei seu conselho Yomi, e colocarei os dois monstros para se matarem, para assim… terminar com os Sora e sua descendência.”
As tempestades começaram a cessar, mas não a tagarelice do aprendiz de Onochi:
— Ele ainda está lá. Deve ter enfraquecido com todo esse poder que usou. É só deixar vocês no caminho de volta que eu…
Kurome parou de correr abruptamente. Yanaho, que corria olhando para trás, bateu nas costas do homem, caindo sentado no chão.
— Moleque — o ergueu do chão pelas roupas — Se eu ouvir mais uma palavra da sua boca a respeito daquele, daquela… coisa de novo, eu te jogo de volta naquele campo pessoalmente.
— Você não conhece ele como eu. Não durou nem dois minutos. Eu quase…
— Não há como vencer! — Kurome lançou Yanaho de volta ao chão — Acha que meia dúzia de golpes desesperados vão fazê-lo parar?! Já jogaram uma droga de um exército nele!
— Você sabe de algo — se levantou Yanaho, mas o Tsuki apenas virou o rosto — O que aconteceu com ele? Responde!
— Eu sei o bastante para ficar longe e também conheço um atalho — virou pros outros mirins — deviam estar agradecendo que eu trouxe vocês — seguia com os outros Tsuki.
Yanaho continuou olhando para trás quando foi puxado por Yukirama:
— Vamos com ele, não vamos ter outra chance para isso. Mesmo que vença ele, tem um exército aqui!
Yanaho acenou positivamente, os três continuaram em frente descendo pela montanha seguindo os Ao. A tempestade encolhia ao redor do seu epicentro, na medida em que o resplendor da manhã escorria por aquele pequeno aglomerado de nuvens.
Longe de Kurome e dos mirins, porém com vista para a tempestade de raios, um sujeito encapuzado subia pelas rochas como degraus de uma escada. Na medida em que pisoteava as poças de sangue, que escorriam até a terra abaixo, sua túnica era manchada pela cor vermelha. No topo, com vista ampla para o campo de batalha, havia uma balista armada, mas ninguém operava o mecanismo.
Descendo seu capuz, Kimijime agachou sobre um corpo ainda quente, e impôs suas mãos sobre ele. Uma flecha viajou do mato abaixo até sua capa, apenas para ser amortecida pela pegajosa camada vermelha do tecido. A chama na ponta do projétil minguou naquele mesmo instante também.
O súdito virou diretamente para a origem do disparo. O arqueiro, que se encolhia na moita, encontrou os olhos do seu algoz, mas atirou mesmo assim. Coma vista escurecendo, ele correu para dentro da floresta. Kimijime desceu das pedras ao seu encalço, porém foi envolvido por flechas vindo de outras direções. Espiando para o lado, um deles mirava com os olhos cerrados.
— Mesmo na morte o sangue dos seus camaradas valem de algo? — tirou a capa — Eu acho que faço um proveito melhor dos seus cadáveres.
O próximo tiro acertou a capa, sem ninguém dentro. Sem sons de dor ou impacto, o Senshi abriu os olhos e viu Kimijime parado. Seu próximo disparo foi direto na sua cabeça. No entanto, não passava de uma miragem, que se desfazia na medida em que uma fria lâmina atravessava sua barriga. O corpo do atirador caía no chão, seu sangue escorrendo pela terra.
— Sabíamos que estava vindo. O que você fez com as outras balistas? — o Senshi rastejava, jogando os braços para alcançar os tornozelos de seu inimigo — meus olhos… não posso ver..
— Então sinta — Kimijime caminhava por cima do corpo, atraindo o sangue para a palma da sua mão — Eu vou te dar um pequeno gosto.
Os demais arqueiros miravam no corpo desfalecido de seu companheiro. Kimijime já estava em movimento, o sangue acumulado nas suas mãos era jorrado sobre alguns troncos, que se tornaram alvos das flechas. O Senshi com a vida nas últimas, coberto pela escuridão do poder ocular Kuro, pôde somente ouvir a energia de seus companheiros minguarem um a um.
O último também abriu seus olhos atirando na figurava que caminhava até ele. As flechas sequer atingiam sua carne. No mundo real, fora da sua cabeça desesperada, a boca de Kimijime salivava com seu alvo se aproximando dele até finalmente rasgar o seu pescoço com sua espada. O súdito que o Senshi vira caminhando até ele se dissipou no ar, outra miragem. O verdadeiro terminava de esquartejar seu corpo sem vida com as próprias mãos.
— O sangue de vocês tem um calor diferente — Kimijime massageava seu rosto com o sangue nas suas palmas.
Terminado com os Senshis, Kimijime tomou sua túnica de volta e subiu de volta à balista, onde se sentou na beirada. Dali, ele pôde ver o exército Kuro avançando sobre a gruta, no encalço dos últimos Senshis daquele campo de batalha.
As pernas bambas e os braços cruzados logo se enrijeceram, quando um brilho verde se fez notar pela sua visão periférica.
— Épsilon — dizia Seth, caminhando pelo portal — esta batalha já está próxima do desfecho pelo o que parece.
— Uma hora ou outra você tinha que aparecer — respondeu Kimijime — o que você quer?
— Alfa tem pressa. Nossa próxima incursão está perto. — colocava uma das mãos no queixo — Onde está Zeta?
Kimijime deu de ombros e acenou para as nuvens carregadas na distância:
— Quer acalmar o novato? Vá em frente, diga a ele para vir…
— Não vim destituí-lo das suas obrigações, vim lembrá-lo — circundou-se com uma bolha — Alfa quer vocês de volta amanhã pela manhã.
— Amanhã eu e Suzaki deveríamos escoltar Houkara para este lado da monte. É loucura pensar em dominar tudo em tão pouco tempo?
— Quando voltar pode dizer isso ao Nobora pessoalmente — a bolha brilhava, prestes a estourar — ele estará aguardando, mas não por muito tempo.
Quando o portal sumiu, não havia mais ninguém ao lado de Kimijime. O súdito se pôs de pé e pisoteou a face de um dos cadáveres aos pés da balista. De repente, as nuvens começaram a se dissipar. A tempestade de raios havia cessado completamente:
— Então o esquentado já botou tudo para fora — pensou em voz alta — Bem, já assisti o suficiente. Hora de ir na frente.
Seu raciocínio foi cortado outra vez, agora por um estrondo vindo da gruta que desabava sobre a Guarda Pacificadora. Kimijime desceu de onde estava, indo ao encontro da nuvem de poeira que engolia a floresta.
— Eles estavam fugindo e de repente… — Questionou um Kuro, até que viu Kimijime chegando por trás — Épsilon, esta gruta era o esconderijo deles.
— Era uma armadilha, eles atraíram vocês, idiotas! Tem sorte de terem sido poucas baixas — colocava sua espada na nuca, enquanto se posicionava à frente do exército que sobrou — Nosso caminho direto para a base foi cortado, mas seguiremos ladeira abaixo. Me acompanhem e prometo derramar sangue o bastante para compensar! Vamos acabar com isso essa noite!
Na base da montanha, Iori estava deitado em uma cama, rodeado por seus subordinados, quando Uchida atropelou os Senshis na entrada.
— Qual o significado disso? Onde está Kurome? Quero respostas agora!
Os Senshis formaram um escudo ao redor de seu comandante até que ouviram suas ordens de abrirem espaço. Iori estava sentado a beira de seu leito, destituído de sua armadura, coberto em cicatrizes frescas:
— Tomamos uma surra, esse é o significado disso tudo.
— Homens feitos, consolando um ao outro na falta de mulher? Que eu saiba esta não é uma novidade para os Aka.
— O que foi uma novidade para mim foi a força de seu exército, ou a falta dela.
— Os Kuro são adversários formidáveis. Nunca disse para subestimar o inimigo.
— Vocês os subestimaram! Para sua sorte, ainda não perdemos — Iori desceu da cama, se aproximando de Uchida — Nossa última jogada ainda pode funcionar, mas vou precisar de uma parceria de verdade. Colocar qualquer um numa armadura de Heishi não vale.
— O imperador vai saber dessa insolência — Uchida deu um passo para trás.
— Isso se você sobreviver ao dia de hoje para contar! — apontou para o topo — Todos morreram lá em cima. Precisa de nós agora, como vai ser?
Uchida engoliu seco e ajeitou suas roupas. Seus Heishis estavam prestes a saltar sobre os Senshis de Iori, mas foram dissuadidos por seu gesto de calma. Ainda em silêncio, ele apontou para o lado de fora. Iori o seguiu pelo acampamento.
— Quanto tempo até nossos inimigos chegarem? — questionou Uchida, jogando as mãos para trás.
— Derrubamos uma gruta inteira sobre eles. Diria que eles vão se reagrupar para atacar mais tarde. A perspectiva mais generosa é ao anoitecer.
— Então durante esta manhã, os preparativos para a fuga devem estar prontos — caminhou para os estábulos próximo às barricadas nos fundos — Temos uma dúzia de carruagens e uns cinco montarias.
— Mover todos os suprimentos deste acampamento seria impossível sem deixar homens para trás.
— Desista, sem suprimentos não vão sobreviver à viagem até a cidade mais próxima. Alguns terão que ficar.
— Claro que entre essas pessoas nunca estará você, né? — Iori cruzou os braços.
— Com quem pensa que está falando? Sou um líder militar destacado, o imperador precisa de mim. Seu rei pensaria a mesma coisa de você.
— Ainda assim, vamos manter o mínimo na viagem — acariciou um dos cavalos — Destrua o resto, nossos inimigos não podem ter espólios a essa altura.
— Duvido que esta seja a última das suas exigências Senshi. O que está ruminando nesta sua cabeça?
— Sobrou apenas um núcleo de energia Shiro — coçava o queixo — Aquele líquido preto que Kurome usava nos olhos…
— Será providenciado. É melhor vencer esta batalha, Senshi. Caso contrário farei pressão para o fim da nossa parceria.
Os Heishis viraram o rosto para a floresta na subida da montanha. Os mirins ergueram a voz. A inquietação do acampamento não passou despercebido pelos dois líderes que, mesmo distantes puderam ver a razão de todo o tumulto. Kurome havia retornado junto aos poucos Tsuki sobreviventes, acompanhado com outros três mirins.
Ele logo procurou refúgio em meio aos Heishis, mas foram os garotos que chamaram mais atenção.
— Meninos — Aiko correu até os três — Olha só para vocês! Como é que…
— É uma longa história — explicou Yukirama se voltando para Kazuya — Já parou o sangramento?
— Sempre fui assim — Kazuya passava a mão no curativo.
Yanaho se soltava do ombro de Kazuya, engatinhando escorando em uma parede, de repente desabou no chão.
— Yanaho! — gritou Yachi sentindo seu pulso.
— Ele lutou sozinho com aquele cara — comentou Yukirama, cerrando o punho.
O rapaz que desafiou o súdito ainda estava respirando. Os Senshis logo o recolheram do chão, acompanhados pelos mirins. Enquanto Yanaho era tratado, Yukirama e Kazuya eram rodeados pelos outros companheiros do lado de fora da cabana médica.
— Então era esse cara que estava causando as trovoadas lá de cima — disse Jin, sacudindo as pernas — Olha a furada que a gente foi se meter…
— Cadê o Arata? — perguntou Tsuneo.
— O professor não pôde voltar — sugeriu Yukirama.
— Morreu em combate — confirmou Kazuya — O garoto do relâmpago o matou.
Os olhos dos jovens se voltaram cresceram, enquanto Tsuneo que encolhia a cabeça entre os ombros, mascarando sua expressão com as mãos.
— Como… como isso? — Yachi se aproximou do rapaz.
— Tentamos salvá-lo, mas o cara de olhos azuis pegou o professor despre…
Interrompeu a fala, com as memórias da morte de Arata borbulhando em seu, subindo para sua garganta para terminar em um vômito violento.
— Professor… — lamentou Aiko deixando escapar um lágrima.
— Kazuya — Yachi se afastou de Yukirama — Se precisar de um tempo para relaxar…
— Estou bem — esticou as pernas na terra — Arata antes de professor era um Senshi. Uma hora ou outra isso podia acontecer — dobrou os joelhos e os abraçou — com certeza estava pronto.
— Eu preciso ver o Iori — Tsuneo ficou de pé e partiu.
— Não vai fazer nenhuma besteira Tsuneo — avisou Yachi, antes de se virar para Kazuya — ele foi o último a falar com o Arata antes de partir, se tudo terminar bem… irei sacrificar algo em nome dele o quanto antes — juntou suas mãos, indo em direção a Tsuneo.
Quando terminou de vomitar, Yukirama pegou água da cabana para se limpar, recuperando o ar entre os goles. Mais tarde os mirins foram convidados a ficar ao lado de Yanaho do lado de dentro, exceto por Umi e Jin, que se juntaram ao esforço da evacuação.
— Droga, nem ao menos consegui me despedir dele… — lamentou Jin com os olhos no chão.
Em contrapartida, Umi observava seu pai distante enquanto os dois carregavam caixas de um lado para o outro. Iori gritava ordens aos Senshis a todo momento. Ele ainda estava apenas de roupas, armado apenas com a sua voz severa.
— Faz tempo que não o vejo assim — comentou Umi, fechando a porta da carruagem.
— Assim como? — perguntou Jin.
— Quando você chegou ele melhorou é verdade. Mas antes ele sempre voltava para casa desse jeito. Respirar errado perto dele parecia um crime, tudo era motivo de gritos.
— Isso não é muito diferente do que já vi. Tem certeza do que tá falando?
— Olha só para ele, ele sabe que o Arata morreu — Umi apontou com o dedo — só tá tentando evitar de pensar muito sobre isso e também sobre nós aqui.
— Não sei onde está querendo chegar…
— Presta atenção, tonto — empurrou levemente o irmão — O meu pai quer proteger a gente, mas nada irrita ele como não levar um compromisso a sério.
— Duvido que os Senshis tão de brincadeira aqui.
— Não os Senshis! Os azuis. Tem alguma coisa errada aqui. E mais alguém sabe — começou a andar de volta para a cabana — você viu como Tsuneo ficou com a morte do Arata, Yachi disse que ele foi o último a falar com ele, né?
— Ei, ei — puxou Umi de volta — vai meter o nariz onde não é chamada para você ver. A gente tá junto nessa, lembra?
— Eu lembro. E você? Vai dar para trás?
Distante do caos da batalha, o sol crescia frente à capital do império. O clima agradável pelos corredores do palácio era confortado pelo aroma perfumado do início de mais um dia. Na sala de reunião, Onochi andava de um lado para o como se ignorasse tudo ao seu redor.
O imperador em sua mesa pegava uma xícara de chá entornando sob sua boca, com os olhos atentos a ampulheta em sua mesa, próxima ao fim.
— Eu insisto, relaxe e faça sua refeição — apontou para um prato tampado.
— Raramente não sinto fome — se escorou em uma das vidraças — mas é comum quando estou preocupado — observava a cidade abaixo.
— Eu entendo, mas estamos longe para fazer algo — se levantava da mesa, acenando para seu servo — a próxima carta deve estar próxima a chegar. Se não sabemos o que está havendo lá, prefiro ser otimista a respeito de nossos objetivos — colocava sua única mão sob o ombro de Onochi — achei que vocês Shiro pensassem assim.
— Meu irmão se sai melhor nisso — se virou se dirigindo à mesa, entornando chá em uma xícara.
— Talvez deveria visar ser como ele.
— É o que faço todos os dias — se sentou em uma cadeira frente ao mapa da guerra.
— Confie em mim, tenho certeza que boas novas estão por vir — via pela janela um Heishi se apressando pela estrada.
A areia que descia da ampulheta estava para se esgotar, Onochi bebia o líquido quente enquanto respirava fundo tentando conter o movimento inquieto do seu pé, que batia no solo repetidas vezes.
A sala quieta de repente foi perturbada pela abertura abrupta da porta. Sem nem ao menos ser solicitada ou autorizada a entrada, uma garota era segurada pelos guardas com um pergaminho na mão.
— O que é isso? — se espantou Onochi.
— Senhor, ela invadiu assim que fiscalizou o documento — justificaram os guardas.
— Soltem ela, agora. — ordenou Satoru se colocando à frente — Kyoko, levante-se!
— É ele — estendeu o papel.
Abrindo o pergaminho, Satoru devorava a informação ao tempo que Onochi crescia seus olhos se aproximando:
— Sabe Shiro, diferente de você eu nunca visei ser como meu irmão. Sempre quis conquistar as coisas no tempo certo, ao invés de tentar fazer justiça com as próprias mãos.
— Diga logo, o que diz?
— “Suzaki Sora está aqui, o topo do monte foi tomado” — lia, fechando o documento logo depois.
Onochi incrédulo deu dois passos para trás por um segundo, antes de imediatamente partir para a saída sendo alertado pelo imperador:
— Uma viagem até a região de Nokyokai demora cerca de um dia e meio Onochi. Mesmo que vá pode ser tarde demais.
— Mais um motivo para não perder tempo aqui — passava pelos guardas na porta.
Com sua partida, Satoru amassava o documento com sua única mão, arremessando contra a parede. Soltando um suspiro acompanhado com sorriso logo depois.
— O que vamos fazer? Suzaki não pode sair impune! — esbravejou Kyoko.
— Na verdade sugiro que eu tenha que pensar em uma punição a você na verdade por seu descontrole — apontou para a ampulheta prestes a esgotar — a escavação foi concluída, a partir de agora o que tiver de acontecer por lá, vai acontecer.
— Como pode ignorar a presença dele em nosso território depois de tudo?
— Com sabedoria — voltou-se a vidraça com a luz do amanhecer gerando uma sombra atrás dele — até mesmo ele perceberá que estamos por cima nessa, caso não passe de Nokyokai o que é altamente improvável não será um problema — virava a face para Kyoko — nós já vencemos esta batalha.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.