Volume IV – Arco 11
Capítulo 90: Um Mundo para Nascer
“Ninguém ganhou a última guerra nem ninguém ganhará a próxima”.
- Eleanor Roosevelt
No interior de um castelo de pedra, passos de duas de suas autoridades ecoavam pelos corredores escuros. Dispensando os guardas, adentravam por uma enorme porta. O local era iluminado de ponta a ponta por lamparinas, revestido em madeira, com estátuas ao lado das janelas e quadros de glórias expostos nas paredes.
Chaul andou para seu trono, abaixo de um mural escondido por cortinas. Seu assento era inteiramente em ouro, com um estofado em vermelho.
— Por que precisamos passar por essa discussão novamente, Ryoma? — comentou, repousando sua coroa coxa enquanto sentava.
— A última vez que houve uma ruptura entre os Aka e Shiro, foi justamente na Guerra do Sangue — se aproximou levando as mãos para trás — Sabemos muito bem como aquilo terminou.
— Também não queremos repetir o sangue Ao derramado nesta guerra. Como Rei, não posso permitir que nada ameace a vida de qualquer cidadão — pegava uma garrafa — quero afastar o pensamento de matar uma criança, porém há centenas, talvez milhares de vidas em jogo.
— Eu tenho um mal pressentimento a respeito disso tudo — observava um dos quadros.
— Todos nós — enchia um copo de vinho — não criamos o problema, mas teremos que lidar com ele. Ainda que encontremos o pai, a responsabilidade cairá sobre nós de tornar a pulsação o menos letal possível tanto para mãe quanto para o nosso povo.
— Eu receio pela ignorância dos Ao.
— Também duvido que saibam — descia a bebida pela garganta — Contudo vejo isso como uma vantagem. A reação deles só nos provocaria as chamas da guerra antes da hora.
Terminado de beber, Chaul bateu a taça no braço do trono:
— Simplificando, nossas opções são: abortar a criança e o mundo continua o mesmo, ou fazemos da criança cidadã Aka, conservamos nosso acordo com os Shiro e renovamos nossos votos de guerra contra os Ao.
— Qualquer que seja sua vontade, eu acatarei — se curvou.
— Minha vontade — se levantou — é que você decida isso o quanto antes. Estou farto desta situação.
— Se sou eu que vou decidir, alteza — batia no lado esquerdo do peito — peço permissão para assumir a responsabilidade publicamente, por todas as vidas perdidas, Aka ou Ao. Caso decida pela quebra do tabu, a história não pode lembrar de um rei que sujou as mãos com o sangue de nosso povo.
— Permissão concedida. Está dispensado.
O Senshi Supremo Ryoma deixou a sala do trono naquela noite. No dia posterior havia revivido toda a conversa com o Rei, enquanto observava um jovem mirim seguindo para dentro de uma carruagem ao mesmo tempo que se perdia em um ensinamento:
“É melhor que não dê ouvidos ao medo ou suas presunções, seus sentimentos são enganosos. Você precisa acreditar em algo maior que suas concepções.”
“Algo que decida nosso futuro, né, velhote?”, pensou, retornando para o hospital.
Descendo do porão e caindo direto no corredor do hospital, Uka carregava debaixo do braço um caderno, recheado de folhas, algumas penduradas na borda. Quando chegou no quarto de Aiuchu, ouviu uma voz familiar vindo dali que o fez hesitar em abrir a maçaneta.
— Preciso falar contigo — uma voz veio de trás.
Uka deu um sobressalto, ficando de costas para a porta.
— Senhor Supremo! Nós já não conversamos ontem?
— Não o bastante, ande comigo — apontou o caminho da saída com os braços — Ele ainda deve estar aqui quando você voltar.
Sua proposta foi respondida com um mero aceno de cabeça. Com o primeiro passo para o lado de fora, Uka cobriu os olhos da luz solar. Durante todo o caminho, o médico encarava somente seus pés, chutando as folhas secas no caminho até que o Supremo colocou a mão no seu peito:
— Chegamos.
Uka ergueu a vista. Estavam em um extenso lago, povoado por barcos ocupados por pares homens que jogavam suas redes na água. Ryoma tomou um banco de madeira bem ao lado e se sentou.
— Tivemos que transformar aquela casa em um hospital, mas não será por muito tempo — afirmou Ryoma — Aqui é um lugar pacífico demais para trabalho. Gosto da distração, para um lugar perto do centro. O que acha?
— É muito bom, Senhor.
— Eu tive um momento a sós com o Rei ontem — cruzava os braços suspirando fundo — Ele deixou sob meu julgamento a vida e a morte do bebê.
Na água dois homens lançaram uma rede. Ao puxarem a encontraram vazia. Eles remaram para outro lugar. Ryoma prosseguiu:
— Quais são as nossas opções?
— Creio que já as conhece, Supremo.
— Passou noites em claro somente para me dizer o óbvio sobre a pulsação?
— Não, senhor.
Os dois permaneceram entretidos nos trabalhadores que lançaram sua rede em outro lugar. Dessa vez eles sentiram um puxão das águas e seguraram firme.
— Uka — Ryoma continuou — O que você pensa disso tudo?
— Eu não sou estúpido. Sei porque me chamou aqui — respondeu, sentando-se no lado vago do banco — Chiyome está bem. Faz anos desde que perdemos nosso filho, ela já superou.
— E quanto a você?
— Desde aquele dia, tenho estudado sobre a gravidez, a reprodução da vida e seu efeito no iro. Nós seres humanos somos diferentes dos animais, apesar das cores preto e branco serem abundantes na natureza. A concentração e redistribuição não os afeta em nada. Isso não quer dizer que isso não possa ser manipulado.
— Então você encontrou uma solução?
— Minha pesquisa buscava proteger as duas vidas, da mãe e do bebê, não matar um número incalculável de pessoas no processo. Eu sou um médico. Se uma pessoa vem até mim, eu tenho que salvá-la. Isso que estamos fazendo é totalmente diferente.
— A decisão é minha, não sua. E ela está tomada.
Os homens no barco puxaram com toda sua força a rede, jogando-a de volta no barco. Ela estava repleta de peixes que saltitavam pela suas vidas. Os urros de sucesso da dupla ecoaram pela margem do lado.
— Neste caderno — encarou o livro no colo, antes de entregá-lo a Ryoma — tem tudo.
Ryoma começou a folheá-lo.
— A morte decorrente da pulsação acontece porque a natureza não distingue as criaturas mais fortes das mais frágeis. Ela cobra uma taxa igualitária de energia de todos os seres vivos daquele iro para criar a nova cor. Retirar um décimo de um Senshi pode adoecê-lo por dias, mas de um idoso é fatal. Só que nós Aka tem a capacidade de transferência de energia.
— Em vez de sermos drenados contra nossa vontade, podemos fornecer de bom grado.
— É uma presunção, mas não todos. Minha teoria é de que as civilizações que sofreram a pulsação se recuperam porque iro não é uma quantidade fixa, ele é cultivado. A praticidade aumenta a quantidade existente de iro. Então alguns poucos melhor treinados dando uma parte maior do que a pulsação os pede…
— Poderia compensar as pessoas que não poderiam perder nada. Mas quem tem o perfil para suportar isso?
— Qualquer Senshi em boa forma com pouco mais de cinco anos de serviço. Podemos fazer testes nos próximos meses. Uma dúzia deve ser o bastante para o bebê e para estabilizar o cirurgião.
— Pensei que o parto fosse natural.
— Tudo que te contei agora é o resultado da minha pesquisa recente. A outra envolveu o parto mal-sucedido do meu filho. Bebês em posições pouco convencionais no útero resultam em um parto doloroso, lacerações no interior da mãe e uma possível morte de ambos.
— No fim salvamos Chiyome, mas — disse Ryoma, fechando o caderno e o entregando a Uka — qual a relação com nosso problema?
— Aiuchu não terá forças para empurrar a criança — tomou o objeto e o deixou de lado no banco — Uma incisão localizada pode remover a criança. Precisamos de alguém para alimentá-la com energia, se a sobrevivência dela for um objetivo. Essa pessoa não precisa seguir os rígidos padrões que enumerei para pulsação.
— Pode ser a própria Chiyome como Doula, precisa ser alguém em que a mãe confie.
— É, talvez — dessa vez foi Uka que suspirou fundo encarando suas mãos apoiadas na coxa.
— Isso não é sobre você, Uka — levantou Ryoma — É sobre o reino. Tenho certeza que Chiyome entende isso. Esvazie a si mesmo de sua paternidade, e volte ao dever assim que estiver descansado.
O Supremo abandonava Uka que erguia a cabeça para a claridade do dia, encarando o lago. Os pescadores acabaram de voltar para terra firme e enchiam suas cestas de peixes.
Dentro dos cômodos da casa onde circulavam os guerreiros do reino. Um sujeito se apressava sendo seguido por alguns dos guardas que permitiram sua passagem até o segundo andar.
Batendo na porta em três toques, fez com que o interior silenciasse. A porta era aberta por uma mulher de baixa estatura, com cabelos claros ondulados e amarrados.
— Branco? — interrompeu Aiuchu sentada em sua cama — é você não é?
A chegada do Shiro acendeu os olhos da garota. Ele se sentou ao pé da cama:
— Imichi, é ela — apontou para a porta — A mulher de olhos vermelhos de quem tinha falado. Chiyome o nome dela.
— Deve ser a Doula — coçava a nuca — sinto muito, devo estar atrapalhando.
— Estava apenas conferindo a temperatura dela.
— Deveria agradecê-la — ergueu a mão — Aiuchu me disse que você é a única que fala com ela.
— Esse é meu trabalho — ignorava o aperto passando pelo Shiro — Aiuchu é uma garota forte e vai precisar ser mais ainda nos próximos meses. A dor de dar à luz é muito solitária — levava a mão à testa da garota.
— É por isso que estou aqui — recuou o braço — o Supremo concordou com o nascimento!
Até mesmo o nariz de Aiuchu escorria com as suas lágrimas. Chiyome terminou seu exame, recostando-a na cama para se deitar:
— Ela está com febre. Parece ter uns cinco meses de gravidez e a criança já está afetando o organismo. Parece que seu sonho vai se realizar. É isso mesmo que você quer?
— Acho que nasci para passar por isso — levou as mãos à barriga — meu filho vai nascer, eu sei disso.
— Todas as mães nasceram para isso — disse Chiyome se afastando da cama — Eu sei como é tentador fazer de tudo pela criança, mas precisa colaborar com todos aqui pro seu próprio bem.
— Ela é cabeça dura mas seguirá com o que for recomendado, eu prometo — se aproximou Imichi rindo.
— Descanse — se retirava do quarto — Quando estiver no último mês, você será movida para o quarto de parto para vigiarmos mais de perto.
De saída, Chiyome rapidamente fechou a porta atrás dela, se escorando no corredor. Ela passou um interminável minuto ali, presa às memórias do passado, até afastar o pensamento com um balançar da cabeça.
Meses depois…
No hospital, Aiuchu foi movida para o quarto de parto, internada sob os cuidados de Uka e Chiyome integralmente. Ryoma havia terminado de supervisionar o esvaziamento do antigo leito, quando se despediu, cavalgando para o sudoeste do território.
Chegando a uma das zonas de treinamento, encontrou uma forma de Senshis sentados na grama, pernas cruzadas e em completo silêncio.
Imichi passava pelas fileiras, quando reconheceu Ryoma na borda da formação.
— Como ela está?— Imichi deixava seus alunos sozinhos.
— Veremos Chiyome em breve — descia do animal, apontando para os homens com a cabeça — precisam mesmo ficar tão agrupados?
— Está me pedindo para fazer com um exército inteiro em poucos meses, o que Yanaho levou anos para dominar. Os Aka podem transferir qualquer energia uns para os outros, não apenas de cor vermelha. Então pequenos pelotões terão uma reserva de energia Shiro compartilhada, grande o bastante para resistir ao poder ocular dos Kuro.
— Não sei se devíamos comparar Senshis treinados com um adolescente sem experiência prévia. E quanto aos Principais?
— Onochi está com eles — apontou para o templo sobre o terreno.
Enquanto subiam as escadas do templo, eles viram um Senshi de tapa-olho aparecer no topo das escadas gritar do alto:
— Eu não aguento mais! Alguém me tira daqui!
O homem então foi puxado para dentro por um força invisível.
— Seu irmão está com dificuldades? — perguntou Ryoma.
Enquanto Imichi coçava a nuca rindo, percebiam Onochi arfando na entrada. Os outros Principais permaneceram meditando, mas o caolho andava de um lado para o outro:
— Isso é um embuste, ô gordão! Diz para ele, Oda!
— Date — Oda abriu os olhos — Senta logo.
— Assim você atrapalha os outros — afirmou Onochi — A próxima vou te colocar na mesma sala do Musashi. Ele não será tão tolerante quanto eu.
O aviso do Shiro endireitou a coluna de Date e o sentou de volta para ao exercício. Imichi chegava com as mãos no ombro de seu irmão cansado, que protestava:
— Quando me disseram que os Principais precisavam de treinamento especial e acelerado, pensei que fossem mais disciplinados — limpou o suor da testa.
— Os outros não parecem estar com muita dificuldade — retrucou Ryoma.
— Oda sempre falta nossos exercícios. Hoje é uma exceção. Kusonoki, Chiyome e Honda são dedicados, mas os outros — Onochi jogou os cabelos para trás — Eles estão acostumados a ensinar. Os dias de aprendizado deles acabaram há anos.
— E naquela sala? — reparou Ryoma, até encontrar uma antesala de onde saía um brilho esbranquiçado
— É o Musashi — respondeu Onochi — Oda insistiu para respeitarmos o espaço dele. Está em outro patamar.
Chiyome e Oda se levantaram do chão, indo ao encontro dos três.
— Tem visto Aiuchu recentemente? — perguntou Imichi.
— Ela está animada — respondeu Chiyome — Em breve a hora dela vai chegar. Ficarei por lá a partir de hoje a noite, de prontidão.
— Desembucha logo, Ryoma — provocou Oda — Não veio aqui apenas para fazer pouco caso de mim e da minha equipe.
— Como vamos até o final com a mãe — Ryoma puxou o cartaz de Suzaki do bolso — A pergunta que resta é o que faremos com o pai. Ele foi visto com um homem chamado Seth?
— Exato — Imichi acenou com a cabeça — Este homem tem as mesmas capacidades que me mantiveram distantes do território Kuro por muito tempo. É seguro assumir que o incidente com o Patriarca, os Midori e até mesmo o massacre da corte Ao estejam interligados.
— Então provar esta ligação é o caminho para nos reconciliar com nossos inimigos na montanha.
— Eu ando pensando — Oda cruzou os braços, se escorando numa das altas colunas — E se essa pulsação for parte do plano deles?
— Aiuchu nunca… — Imichi levantou a voz.
— Ela não precisaria saber — Ryoma complementou — Esta tempestade parece perfeita demais.
— Suzaki sequer conhecia Imichi quando nos deixou — Onochi interviu — Muito menos sabíamos do seu envolvimento com Aiuchu.
Chiyome se agachou perto de um canteiro de flores do pátio:
— Pelo que ela me disse, eles se conheciam há anos. Este garoto era um viajante que esbarrou nela como você, Imichi.
O Shiro mais velho se debruçou no parapeito:
— Comigo foi diferente.
— O fato é que há uma mente por trás disso. Precisamos revelá-la — levantou a voz Ryoma — Os Kiiro estão muito dispostos a uma aliança. E graças a Imichi, os Midori podem nos ouvir.
— Precisa ouvi-los também, Supremo — Imichi interrompeu.
Oda encarou o Supremo de canto.
— Eu sei. Podemos unir este continente contra a ameaça que vem. Suzaki é nosso objetivo prioritário.
— Não — Imichi se virou — Nosso objetivo ainda é Aiuchu. Depois, cuidarei de Suzaki.
— Ai ai, não sei como consegue conversar com eles — cruzou os braços Oda se retirando.
— Não vai voltar para treinar? — Ryoma questionou Oda.
— Treina quem não sabe. Vamos Chiyome!
— Nos vemos no parto — acenou com a cabeça.
Quando ela passou, Onochi buscou o olhar do irmão para dispensá-lo de volta à sua pedagogia. Imichi consentiu com os olhos, deixando apenas Supremo que notava a diversão na expressão e olhar do Shiro ao lado, enquanto ele mantinha a expressão fria e preocupada.
O escritório de Uka era o porão no hospital onde Aiuchu era cuidada. Enfiado entre o teto rebaixado e sua escrivaninha, ele rabiscava madrugada adentro até que alguém colocou a cabeça para dentro.
— Senhor Uka — gritou a enfermeira — A Aiuchu está...
Um tombo ressoou para dentro da sala.
Uka desceu, encontrando a mulher pálida, porém ilesa. Quando o primeiro Senshi apareceu no corredor, ele exclamou:
— Chama o Ryoma! É agora.
Quando espalhou as portas do quarto de parto, o lugar já estava lotado. Ryoma estava perto da lareira semi-acesa, enquanto Chiyome e Imichi acalmavam Aiuchu na cama:
— Acredite, estamos do seu lado. Vai dar tudo certo.
— Eu preciso que você respire. Só vamos conseguir fazer isso juntas — Chiyome unia suas mãos nas dela, guiando para duas cordas penduradas na parede — Faça força enquanto puxa, e não se importe com mais nada além disso!
Uka pediu passagem para Imichi, que foi para junto de Ryoma nos fundos. Os Senshis selecionados fizeram um semicírculo ao redor da mesa.
— Isso vai doer — afirmou Uka, acenando para os Senshis ativarem suas auras — Eu preciso que controle sua cura, senão não vamos tirar a criança.
Assim que a luz das auras dos Senshis refletiu na cabeceira, Uka começou a abrir o ventre de Aiuchu, que jogou a cabeça para trás um grito.
Ryoma assistia a tudo recostado na lenha, quando de repente o lugar começou a esquentar. O Supremo cambaleou, porém Imichi o colocou para descansar na poltrona mais próxima.
— O que quer que esteja fazendo, Uka. Faça rápido — disse Ryoma, apertando o próprio peito.
Por sua vez, os gritos de Aiuchu eram separados por períodos intermitentes de força. A corda em cada uma das suas mãos já estava estendida até o máximo.
— Eu não sei até quando consigo mantê-la estável — alertou Chiyome.
— Espera — as mãos de Uka procuravam o bebê — te achei.
Chiyome caiu do chão, com sua aura apagada.
— Redirecionem um pouco do iro para…— Uka ordenou aos Senshis.
— Meu filho... — balbuciou Aiuchu, soltando as cordas — tem que sobreviver.
— Ninguém vai morrer hoje — gritou Imichi.
— Tire essa criança do ventre — chamou Ryoma colapsando da cadeira até o chão — agora!
Os Senshis começaram a cair de joelhos. O corpo Uka começava a ceder à pulsação até que seus braços finalmente encontraram a posição certa.
Um choro alto reacendeu sua vista turva e energizou seus braços. O bebê agora estava nos braços de Uka, que cortou seu cordão umbilical. Uma onda de energia jogou todos Senshis para a inconsciência. O quarto mergulhou na escuridão. Uka deitou a criança no berço ao lado.
— Seja bem-vindo ao mundo — Imichi, iluminou o redor com sua aura espiando as mãos do médico, logo depois pegando o neném em seu colo.
— Eu sinto muito — sussurrou o médico cerrando o punho, enquanto removia a placenta de Aiuchu desacordada.
Foi então que seus ouvidos captaram uma respiração fraca. A barriga aberta de Aiuchu começou a cicatrizar-se. Uma aura vermelha, porém esbranquiçada começou a iluminar a sala.
— Eu tive que mudar os planos — Chiyome emergia do chão.
— Aiuchu não cumpriu nosso acordo. Ela renegou a si mesma, dando até mesmo minha energia para o filho. Eu a deixei perder as forças, na esperança de que transferir meu iro branco pudesse reanimá-la. Afinal, ela foi aluna de Imichi.
Chiyome lutava para se manter de pé quando seus olhos e pernas cederam, prestes a desabar no chão seus braços eram segurados por Uka que apoiou ela em seu corpo:
— Por que não me contou...
— Para a criança nascer, precisei fazê-lo descartar Aiuchu. Você sempre agiu melhor quando a decisão já estava tomada — sorria de forma timida.
O choro da criança alcançaram os ouvidos da mãe que abria timidamente seus olhos, mesmo ainda muito fraca, permanecia derramando suas lágrimas sob suas olheiras profundas. Ryoma se reerguia com suspiros cansados, observando o Shiro se aproximando de Aiuchu.
— É um menino como previa — disse Imichi indo em direção a ela.
— Yu-su-ke… — estendeu seu dedo para tocá-lo.
Yusuke segurava o dedo da mãe, providenciando o primeiro contato entre eles. Enquanto ele era repousado no peito de Aiuchu. Seu choro tomou conta do hospital, cujas enfermeiras que recobraram a consciência rapidamente vieram para tratar dos Senshis debilitados. A maioria já estava consciente.
Uka abria as cortinas deixando com que a luz do amanhecer invadisse o local. A luz laranja do crepusculo iluminava o quarto recheado, com todos se reerguendo.
— Os Senshis tem pulso — afirmou um dos médicos — isso quer dizer que…
— Conseguimos — respondeu Imichi voltando-se para o Supremo.
Ryoma desviou seu olhar, focando na janela onde o sol se erguia do horizonte, escutando suspiros e até gritos de alivios por parte da equipe.
— Ainda não acabou — disse levando as mãos para trás, ao tempo que o choro do bebê ainda ressoava.
Capa Original Volume IV (1):
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.