Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume III – Arco 10

Capítulo 89: Acreditar

Sentado em um banco largo e estofado na entrada, Yanaho olhava para as idas e vindas dos Senshis. Alguns cruzavam a porta, enquanto outros subiam as escadas, sempre acompanhados por uma ou duas pessoas de avental branco e luvas.

Foi durante essa observação que os olhos de Yanaho capturaram Onochi. O pupilo desviou o olhar para outro grupo de Senshis que passavam, porém o Shiro permaneceu em direção ao garoto.

— Como você está? — sentou-se ao lado dele na poltrona — Midori é um lugar muito difícil. Imichi me contou que cruzaram com um feiticeiro.

— Eu estou aqui, não estou? Não teve nada demais — virou-se para a porta, cruzando os braços — Quer saber, vão me contar o que está acontecendo logo ou vou voltar para o internato amanhã sem mais nem menos?

— Era sobre isso que queria falar mesmo. Tem uma garota aqui, ela está grávida. Só sei que ela foi cuidada por Imichi há algum tempo, mas ele não havia revelado isso nem mesmo para mim. 

— E o que tem de tão grave nisso? 

— A garota é vermelha, porém nunca havia pisado neste território, a criança que está esperando é uma mestiça — curvou o olhar para o chão.

— Então é sobre o tabu — apoiou os cotovelos nas coxas e a face nas mãos — a união de duas cores primordiais distintas… como foi com os verdes no passado. O que vai acontecer com ela e o bebê?

— Eu não sei. Nenhum tabu existe para ser quebrado, o nascimento dessa criança pode matar inúmeras pessoas. E se os Aka permitirem esse nascimento e de alguma forma isso for conhecido… Eu não faço a menor ideia de como vamos convencer as nações de nossa inocência.

— Então é isso?! — levantou-se do banco — Vão matar o bebê sem mais nem menos? Duvido que Imichi concordaria com isso!

— Calma, sem gritar — tentou segurá-lo — Essa informação não pode sair daqui.

— Como posso ficar calmo? Já parou para pensar nela?

— A pulsação é um risco para ela também. As chances dela morrer durante o parto são altíssimas.

— E se ela quiser a criança mesmo assim? Perguntaram isso para ela?

Alguns Senshis pararam para olhar a discussão que se iniciava. Quando percebeu a atenção indesejada, Yanaho voltou a se sentar. Onochi abaixou a cabeça:

— Nós vamos lutar para o nascimento dessa criança. E nos preparar para as consequências. Não preciso lembrá-lo de que isso fica entre nós. 

— De segredos você entende bem — desviou o olhar de seu mestre.

— Você é importante para mim, Yanaho — levantou-se, apoiando a mão no ombro — Acredite nisso, te preparei para você ser o que está sendo, um herói! — sorria para o jovem que fingia indiferença — Estarei ocupado agora, então essa será a nossa despedida. Comporte-se no internato.

— Meu pai está bem?

— Está sim, sua visita revigorou seu ânimo — dizia prestes a sair — te manterei atualizado sobre isso, não se preocupe.

A cabeça de Yanaho tombou toda para trás. Seus olhos encaravam o teto, enquanto seus pulmões liberavam longo suspiro. Ele continuou a observar a movimentação dos médicos por mais alguns minutos até começar a agir. 

Subindo as escadas para o segundo andar, começou a assistir o fluxo dos médicos. Não demorou muito para reconhecer o quarto, onde a grávida estava mantida, através dos Senshis que se revezavam na porta.

Yanaho esperou a troca do grupo para então escalar o casarão pelos fundos. Entrando pela janela, foi recebido com o olhar assustado de Aiuchu. 

— Não se preocupa — estendeu as mãos — Eu não vou fazer nada com você.

— Essa é a primeira vez que alguém aparece assim. O que você quer?

— Ouvi falar do que aconteceu — apontou para a barriga dela — Nunca vi nada parecido.

— Eu também, mas está tudo bem. 

— Então — se sentou na cama ao lado dela — Não se arrepende do que aconteceu?

— Por que me arrependeria? A Ordem está no controle, tudo aconteceu para que eu voltasse, que nem o Branco me falou.

— Só que o seu problema é diferente, ou ainda vão te contar isso?

— É tudo que eles falam para mim — ela olhou para porta — Pode me chamar de egoísta, mas a vida dele também tem valor. Ele merece viver

— E se ele crescer sem você? Ainda valeria a pena?

— Ele sempre terá companhia. Se a minha vida tiver que ir para ele sobreviver, tudo bem. Eu sei que é bobo, difícil de entender mas…

— Não, eu entendi tudo.

— Você é o segundo a me dizer isso. Fora os médicos, tem uma mulher que me visita desde antes do Imichi chegar. Ela é bem gentil, está sempre perguntando do bebê — levou as mãos à cabeça — Agora que eu percebi. Eu sei o nome dela, mas não o seu. Me chamo Aiuchu.

— Yanaho.

O rosto cheio de vida de Aiuchu, então desmanchou. 

— Então, você veio por causa do Suzaki.

— Como? Você conhece ele?

— É, Suzaki, o azul. Tem outro?

— Essa não — Yanaho se levantou da cama — Não, não, não. Vocês dois…

— Ele me visitava de vez em quando. Às vezes falava de um gordo que ensinava ele, também tinha uns verdes. Agora Yanaho ele falava muito mais. 

Os pontos se ligavam, Aiuchu permanecia na cama percebendo a reação e expressão assustada de Yanaho que dava passos para trás.  

Sentados em uma sala reservada do hospital, os irmãos Shiro assistiam junto com as autoridades do reino Aka um homem riscar uma tela em branco com um pincel molhado com tinta escura. 

Na mesma mesa estava Ryoma. O Rei Chaul assistia de trás com a coroa no colo, enquanto Oda estava escorado na porta. O apresentador tinha um avental branco, mas com um bóton vermelho e dourado no peito. Assim que terminou de desenhar, tirou suas luvas sujas.

— Tudo que sabemos sobre a Pulsação veio do incidente com os Midori. Ela afeta principalmente pessoas frágeis de saúde: crianças, idosos ou doentes. Nossa teoria é de que a energia para a nova cor é descarregada no momento do nascimento, mas ela é construída durante a gestação. Isso explica porque as mães e pais dos verdes não morreram e seu efeito na população Kiiro e Ao foi retardado. No entanto, o caso desta moça é diferente. O bebê no ventre de Aiuchu será o marco zero de uma descarga de energia como nunca registrado. Não há métodos conhecidos de prevenção no momento, exceto pela interrupção da gravidez. 

— Em outras palavras, a criança é uma aberração que suga Iro — comentou Oda com os braços cruzados — Ainda temos dúvidas sobre o que fazer?

— Teoricamente, toda criança suga iro de seus progenitores e semelhantes de mesma cor. A diferença é que este processo se atenua na medida em que a população cresce — explicou o médico.

— Um acordo de população com os Ao está fora de cogitação? Sendo sincero aqui, a gente tem uma bomba nas nossas mãos. Poderíamos cobrar os azuis por isso. Uma segunda pulsação deve jogar eles em um caos, se tudo que vocês disseram for verdade sobre aquele príncipe — Oda encarou os Shiro.

— Declarar nosso conhecimento acerca dessa situação, ainda mais sobre quem é o pai desta criança, só nos colocaria em rota de colisão com os azuis — comentou Ryoma — Independente de nossas opiniões, declarar uma pulsação é uma ameaça.

— Aí é que está, já estamos em rota de colisão com eles há muito tempo — cruzou os braços —  Isso é problema de vocês, não meu. Deixaram eles livres agora tem que segurar o peso.

— Sempre fomos livres — respondeu Imichi — sinto muito Principal, mas não somos militares, apenas aliados voluntários. 

— Precisa entender nossa perspectiva — Ryoma se debruçou na mesa — Nestes últimos meses suas desventuras nos trouxeram mais problemas que soluções. A pulsação é uma ameaça ao nosso reino, conseguem aceitar a morte de inocentes porque esconderam a existência de uma Aka por todos esses anos?

Imichi se preparava para falar, quando Onochi o interrompeu:

— Já explicaram este cenário à vítima? O que ela pensa de tudo isso?

Oda tossiu seco. Chaul cruzou as pernas. Imichi continuou de onde seu irmão havia começado:

— Quando a encontrei, ela nem sabia das cores ou da pulsação. Ao mesmo tempo, já tinha tanto medo de estranhos. Por conta do isolamento que ela viveu durante todos esses anos, nunca imaginei que ela fosse ter contato com outras pessoas. Estava alheia dos riscos.

— Os jovens e seus nervos à flor da pele — comentou Oda.

— Vocês encaram a percepção da garota como um chamado a pedir sua opinião, mas nós vemos pela via oposta. Ela não pode responder por si mesma, muito menos pelos inúmeros inocentes que serão mortos — Ryoma ergueu a voz — Já é de muita consideração nossa confiar em vocês depois do fiasco com os Kuro.

— A doula me contou que a paciente deseja ir até o fim com a gestação — o médico sinalizou.

A sala ficou em silêncio, cortado depois pela voz grossa do Rei:

— Eu nunca arriscaria a vida de nosso povo. Estou inclinado a encerrar essa gravidez, mas a mãe é uma de nós. A pergunta mais importante a ser feita é se a criança, mesmo tendo origem mestiça, tem sangue Aka? Por que se for, proteger os nossos se torna um dilema.

— Sobre uma coisa seu Supremo está enganado, alteza — Imichi respondeu — Não nos trouxeram aqui por consideração nenhuma. Precisam de nós para protegê-los do poder ocular dos Kuro. Vocês não são mais a única nação que divide nossos valores. Se esta criança não nascer, este será o fim de nossa parceria.

— Está disposto a arriscar a segurança de todos os territórios, e causar uma guerra com o Império, só para que a vontade da mãe seja feita? — perguntou Ryoma.

Imichi se levantou, acompanhado por seu irmão.

— Eu não abro mão dos meus princípios por nada. Ainda temos tempo para contornar esta situação antes que Aiuchu dê à luz.

— Podem ir então — disse Oda, abrindo a porta. 

Com Imichi e seu irmão cruzando a porta, Ryoma apontou a saída para seus dois subordinados, ficando de pé:

— Muito obrigado pela colaboração, Uka. Preciso de um momento a sós com vossa alteza. Dispensados.

Ainda no quarto de Aiuchu, Yanaho levava as mãos à cabeça, andando de um lado para o outro. Toda vez que chegava perto da porta, espiava para ver se um médico se aproximava.

— Eles demoram para voltar — afirmou Aiuchu.

— Sabe onde Suzaki está?

— Não — levou uma mão à barriga — ele fugiu sozinho.

— Então fez tudo isso com você e agora te abandona — socou sua coxa — Como ele pôde fazer isso? 

— Ele fez a escolha dele e eu a minha. 

— Ele te deixou sem escolha! — subiu a voz — está presa e com a vida nas mãos de gente que nem conhece.

— Eu sou livre assim como meu filho — abria um sorriso tímido — todos vocês podem enxergar isso como um peso, mas eu sinto como se tivesse nascido para suportar isso. Vou pagar o preço que for para Yusuke ter a sua liberdade de vir a este mundo.

Yanaho voltou para a janela, depois se virou para ela.

— Suzaki não vai voltar, se ainda pensa nisso. 

— Meu coração queria fugir com ele, mas a Ordem nunca permitiu que fossemos juntos. Depois que ele se foi, eu percebi que já não estava mais sozinha. E que o meu chamado não era fugir, e sim aceitar. 

— Yusuke será o nome dele? — subiu na mureta, erguendo a vista para o céu já escurecido — Todas as mães são assim?

— Sim, será Yusuke… é o que me resta — acariciava sua barriga.

Passos vinham do corredor. Antes de saltar, Yanaho despediu-se dizendo: 

— Então precisa acreditar até o fim. Faça isso e a criança nascerá.

— Ei Yanaho — o garoto parava já com um dos pés para fora do quarto — não conte a Suzaki sobre isso, por favor — após a fala, ele partiu — Obrigada — disse com o quarto já vazio, com a porta se abrindo, revelando uma mulher de olhos vermelhos.

Na manhã do dia seguinte, Yanaho estava pronto para embarcar de volta ao internato dos mirins. Após guardar sua bagagem na traseira da carruagem, ele deu uma última olhada no hospital até que um grupo de guardas saiu pela porta, liderados por Ryoma.

— Supremo?! — Yanaho curvou a cabeça. 

— Precisa ficar inteirado de tudo que aconteceu desde sua partida — sinalizou seus Senshis para tomarem cavalos nos estábulos à frente — Seus pares estão recebendo treinamentos diferentes.

— Pensei que estávamos próximos da promoção. 

— Por conta do incidente com os Kuro a promoção está adiada por tempo indeterminado. Até mesmo os Senshis estão inclusos nesses treinamentos. Não podemos enviar um homem ao campo de batalha sem estar protegido contra os Kuro. Você é nossa única exceção, porém está atrasado nas técnicas Aka.

— Desculpa perguntar, mas — coçou a cabeça — Como está Kiiro depois do meu julgamento?

— Parte desta nova mobilização também vai envolvê-los. Caso seu julgamento ainda o preocupe — cruzou os braços — isto ficou no passado. O Rei preferiu que nossa testemunha em seu favor não nos colocasse em conflito com a Dinastia. Conquistamos os dois objetivos, em parte graças a Imichi. E pelo estado atual das coisas, você já deve reconhecer que foi o melhor a ser feito. 

— Mas então — apontava para o hospital — o que vai acontecer com aquilo? 

— Este é meu único aviso: isso não lhe diz respeito. 

— Se me permite uma pergunta a mais — olhou para o céu — você teve uma mãe, Supremo?

Ryoma encarou o garoto da cabeça aos pés, cruzando os braços sem esboçar reação alguma até que Yanaho se envergonha:

— É que… eu acho incrível o amor que elas têm por seus filhos mesmo antes de nascerem, é só isso. 

— Está na hora de seguir em frente, garoto — estendeu a mão, para subi-lo até o assento do passageiro — obrigado pelos serviços prestados. 

— Tudo que fiz veio do Mestre Onochi — tomou seu lugar na carruagem — apesar de tudo, a decisão de me enviar foi sua.

Yanaho se curvou uma última vez e o transporte partiu, cercado por outros cavalos conduzidos por Senshis. Enquanto observava o veículo, Ryoma acendeu antigas memórias: 

“É melhor que não dê ouvidos ao medo ou suas presunções, seus sentimentos são enganosos. Você precisa acreditar em algo maior que suas concepções.”

“Algo que decida nosso futuro, né, velhote?”, concluiu, retornando para o hospital.

A carruagem que trazia Yanaho para dentro dos muros do internato, estacionou pouco depois do portão de ferro. O mirim desceu com a bagagem nas mãos, mas foi rendido pelos Senshis antes de mesmo de dar seu primeiro passo. 

— Está atrasado, Yanaho! Tomio quer vê-lo — um deles o puxou pelo braço — que coisa é essa na sua testa.

— Eu acabei de chegar. O senhor Tomio não deve estar procurando por mim…

— Sem uniforme e ainda com uma faixa verde? — gritou outro — Você tem dois minutos para ficar decente! 

Empurrado para os dormitórios, Yanaho teve tempo somente de jogar seus pertences na cama e se trocar para que seu quarto não fosse invadido por seus superiores zangados. Por sua vez, eles o arrastaram para longe dos pátios de treinamento. Não havia nenhum mirim ou professor à vista.

Yanaho sentia a nostalgia, como se estivesse em casa novamente. Eles pararam de caminhar quando atingiram uma grade, que separava o complexo no fundo com o pé de uma colina. 

— Tomio não queria me ver? Cadê todo mundo?

— Estão trabalhando, como você deveria — abriu uma passagem para ele entrar —   Você não volta aqui sem ter encontrado eles ou vai terminar dormindo no mato!

Yanaho olhou para os dois Senshis, na esperança de que fosse alguma pegadinha, porém logo foi empurrado grade adentro. Sem alternativas, o rapaz correu pela mata.

O Sol daquela tarde minguava, na medida em que se escondia do outro lado da montanha, perdendo espaço para as sombras das árvores. Yanaho seguiu sua fraca luz como uma bússola, sem desacelerar por um segundo sequer até finalmente atingir o topo.

De repente, o lugar estremeceu. Yanaho avistou uma explosão, seguida por um incêndio logo abaixo. Ele correu para a origem, quando mais algumas árvores acenderam em chamas. Já era possível ouvir vozes familiares:

— Precisa ter mais controle, Umi. Quer assar todos aqui?!

Yanaho espiou por trás de uma árvore o olhar de reprovação de Tomio e Arata com Umi, enquanto Jin chegava trazendo ela para perto.

— Olha e aprende — apontou para Yukirama que dava um passo à frente.

Das mãos do rapaz uma bola de fogo nasceu, prestes a ser arremessada na direção onde Yanaho estava escondido. O aluno de Onochi prendeu a respiração, uniu as mãos e esperou. Quando o calor ao seu redor cresceu, ele desferiu seu kazedamu  em defesa.

Todo o fogo da floresta se extinguiu, restando somente fumaça. Os alunos trocaram olhares entre si, até que o responsável saiu da fumaça.

— Senhor Tomio, me disseram que estava aqui.

Tomio não disse uma palavra sequer. Seu assistente por outro lado.

— Colônia de férias — rosnou Arata, indo ao seu encontro — Dessa vez nem o seu mestre fora de forma vai livrá-lo de mim! 

A advertência de Arata, no entanto, foi suplantada pelos cochichos dos alunos:

— Yanaho?! 

— Ninguém falou nada para a gente.

— Onde você estava?

Foi então que Tomio cessou à inquietude deles:

— Basta! O exercício está encerrado. Arrumem as tendas. Hoje vocês passarão a noite aqui.

Yanaho foi jogado aos seus pares, mas não trabalhou imediatamente. Procurou longe do aglomerado de alunos, onde Katsuo e Kazuya, mais isolados, já montavam suas cabanas. 

Katsuo estava coberto pela tenda semi-erguida, recebendo estacas de seu companheiro quando ouviu um chamado:

— Pode me dar uma que ajudo a montar, Katsuo — pediu Yanaho.

— Como se alguém aqui se importasse — resmungou — Kazuya, me dá mais uma.

Kazuya não entregou nada. Katsuo então colocou a cabeça para fora do pano.

— Vai me dizer que se distraiu de novo, Kazu… — as palavras escaparam da sua boca — Yanaho!

Ficando de pé, Katsuo deixou a barraca desmontar-se para abraçar seu amigo:

— Quanto tempo, poxa. Nem uma carta.

— Não sou bom com pincéis como você — coçava a nuca — mas é, eu finalmente voltei. 

Depois, o mirim sentiu algo beliscar o seu braço, se assustando virou-se para encontrar o enorme torso de Kazuya, com o rosto inexpressivo:

— Você é de verdade mesmo. 

— E você continua o mesmo estranho de sempre! — gritou Yanaho. 

A situação arrancou gargalhadas de Katsuo que levava a mão as contrações em sua barriga.

Quando terminaram de construir a cabana, Yanaho saiu para encarar o pôr de sol, acompanhado de Katsuo.

— Você ficou esse tempo todo no deserto?

— Fui para outros lugares também. Todos já sabem manipular fogo?

— Uns melhores que os outros — esfregou o braço com uma das mãos — De mim mal sai uma faísca. Deve ter encontrado muitos lugares bonitos, um dia quero poder desenhar todos. Me fala, como é lá fora?

— Perigoso — puxou seu amigo para perto pelos ombros — Mas tem muito o que ser desenhado. Por isso — estendeu seu punho na direção do céu alaranjado — quero fazer do mundo um lugar melhor. 

— Então estou no caminho certo andando ao seu lado — repetiu o gesto do amigo — um dia vai me mostrar mais paisagens como essa para eu produzir muitos quadros. 

— Vamos sim e mostrar pro seu pai que não é besteira. 

Os dois riam no topo da colina, ao tempo que o sol se despedia, Kazuya observou os amigos expressando seus sentimentos, ao lado da cabana com o mesmo olhar morto de sempre. Katsuo se desgarrou indo para o cômodo, restando apenas Yanaho que se despedia do objeto celeste, encarando as estrelas acima que apareciam timidamente. 

“Eu vou te encontrar Suzaki, e mostrar pra você que ainda acredito na promessa que você abriu mão”.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.





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