Nisoiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume III – Arco 10

Capítulo 88: Dom da Vida

O sol se escondia nas montanhas, projetando a sombra da noite sobre o riacho que serpenteava as rochas, inundando a floresta com o som das suas águas agitadas. Os cânticos das aves seguiam uma melodia vistosa próximo a uma caverna onde uma garota repousava, abraçada com uma jaqueta azul claro. 

— Suzaki você esqueceu o anel — a garota chamava nos fundos da sua casa de pedra. 

A visão turva do sujeito não deu ouvidos ao chamado, indo para fora da caverna.

— Ei, Suzaki… espera — estendeu a mão, prestes a se levantar — Suzaki!

De repente a visão da luz ofuscante da saída da caverna deu lugar ao teto úmido coberto por estalactites. Ela olhou para o lado e estava acompanhada somente pelo anel ao alcance das mãos. Os sons da floresta a arrastaram de volta para a realidade:

“Só mais um sonho” 

Seu coração se acalmou no ritmo dos gotejos que desciam do teto. Ela ficou sentada na sua cama improvisada e quando percebeu, as gotas que caíam no seu colo não vinham das formações e sim de seu rosto.

Mais tarde, a garota retornou ao lago próximo de casa. Enquanto lavava seu rosto, ela via seu reflexo na superfície das águas. Seu estômago embrulhou e sua garganta ardeu. Após uma leve tontura, Aiuchu vomitou.

“Acho que só queria ter alguém como você ao meu lado”.

A voz do príncipe perturbava sua mente frágil.

“Aiuchu, não pode me prender aqui”. 

Ela tampava os seus ouvidos, agitando a água com as pernas. A angústia apertava sua garganta que não tinha mais força de produzir grunhidos. Ela se arrastou para dentro das águas até o lado mais fundo do lago. Mais um passo e estaria completamente submersa.

— Coloque a mão no peito. 

A voz de Imichi ecoava na sua mente:

Pressione com a outra, respire fundo. Consegue sentir? — perguntou Imichi.

O que é isso?

É o seu coração batendo, ele bombeia umas setenta vezes a cada minuto. Esse processo é o que espalha toda a sua essência para os outros membros, como se fosse uma chama que aquece nosso corpo. 

Uma chama que aquece… Por quê?

— Desde muito tempo eu venho pensando nisso, sabemos para que e por que esse processo acontece, agora… pelo o que nosso coração bate de verdade?

A corrente a arrastava para o fundo, mas seus pés trêmulos passaram a lutar contra a água. Ela nadou rapidamente para terra, e ficou estirada no chão. 

“Desde que eu nasci… ele vem batendo”, pensou Aiuchu.

Naquele mesmo riacho, Imichi e Aiuchu dividiam um cesto de comida:

— Meu irmão fez essas coisas na fazenda dele. Sabia que ele conheceu seus pais? 

Aiuchu olhou para Imichi confusa.

Não a sua mãe de antes, os outros. Aqueles que te deram à luz. Seus pais eram um casal de animadores de crianças. Eles viajavam pelo meu reino, brincando com elas, fazendo truques enquanto os pais trabalhavam. Eu costumava levar meu irmão para lá.

A garota permaneceu com olhar confuso. Então ela apontou para a maçã e depois para ela. A seguir apontou para o pano branco que forrava o chão com a cesta e depois para Imichi.

Ah, mas os Shiro e Aka sempre tiveram uma relação muito estreita. Mesmo com o rompimento devido a Guerra do Sangue, seus pais podiam ir e vir quando quisessem por conta dos recreios que organizavam. Eles até te levavam junto nas viagens, quando…

Imichi ficou trêmulo, sua expressão tranquila tomava um olhar de desespero, quando Aiuchu alcançou seu punho o despertando do transe: 

O que houve com eles?

Os seus pais sumiram junto com o povo da minha cor. Você estava desaparecida também. Pensei que não havia restado nada além de mim e meu irmão, mas você… Aiuchu, tenho certeza que seja mais uma que restou.

A noite já caíra sobre ela. Aiuchu ainda estirada, percebia a luz do luar alcançar seus olhos vermelhos, no topo do domo enquanto concluia a lembrança do Shiro.

Acredito que de alguma forma você foi parar numa correnteza famosa que conecta o meu antigo território com o Império Ao. Isso explica como você como vermelha surgiu nos azuis. 

Se levantando no presente, a garota levava a mão a barriga, continuava com os olhos vidrados no objeto celeste.

“Esse é o dom da minha vida? Desde a corrente que conecta o território Shiro com o Império Ao. Do incidente e perigo de uma Aka nos Ao, levando a vida de minha mãe. Até todos esses anos aqui, meu coração está batendo. Porque? Pelo que?”.

— O motivo, apesar de simples, é o que nos envolve e provê propósito para tudo que nos cerca. A Ordem nos conduziu até aqui e eu preciso cumprir com o chamado dela. 

“Chamado?”, seus questionamentos foram respondidos pelas memórias com Imichi. 

Lágrimas desciam de seus olhos, ao tempo que ela sentia outro batimento dessa vez surgindo de sua barriga. 

“Eu não estou… na verdade, nunca estive sozinha.”, sorria elevando os olhos ao céu.  “Obrigada, Ordem”.

Retornando para a caverna, ela começou a juntar o pouco que tinha, reparando no mapa que havia guardado, dado por Imichi. Saindo ela virou-se para a entrada uma última vez antes de partir.

— Nós realmente amarrou seu cabelo, colocando o anel em seu dedo Sempre temos escolha.

O gramado da propriedade de Hiroshi era pisoteado pelas crianças de Hideki, que corriam com espadas de madeiras nas mãos, perseguidas por Yanaho e Mitensai igualmente armados. Elas gritavam ordens umas às outras, cercavam o órfão com pontapés e golpes até que o mirim ergueu dois deles do chão com os braços. Foi então que todas se juntaram ao redor dele, o derrubando no chão.

Da janela do escritório improvisado na casa, uma mesa de jantar cercada de papéis e pergaminhos, com uma tinta secando na pena, Hideki assistia tudo àquilo com um sorriso no rosto. Contudo, o doce som das gargalhadas e gritos seriam interrompidos pelo bater da porta. Dai entrou às pressas.

Com barba feita, deixou sua braçadeira verde na mesa, depositando um pilha de papéis diante seu pai.

Finalmente voltou — estendeu a mão para cumprimentá-lo — Já fazem quantos meses?

— Desde minha vitória fazem três — continuou remexendo nos papéis — Corri para que as crianças não me vissem. Estou atrasado demais para brincar.

— As coisas estão ruins em Chukai?

— Na verdade, estão ótimas. Treze facções concordaram em formar uma Confederação — jogava as folhas para o lado, como se procurasse alguma coisa — O restante deve aceitar se sujeitar a nós, para facilitar acordos e proteção. 

— Então o que te preocupa?

— Raito sumiu desde a morte do Akira e quando visitei o território da Masai, ela não estava lá. Eles seguiram seus próprios caminhos. 

— Dai, você sabe a verdade — segurou em seu ombro — nem sempre as pessoas vão te ajudar pelas suas razões, eles têm as suas próprias.

— Há razões — puxou um cartaz da pilha e o exibiu — maiores que outras.

O desenho no cartaz era de um jovem, cabelos nos ombros, de olhos claros. Abaixo da gravura um nome: “Suzaki Sora. Entregar vivo para o Império Ao”.

De repente, alguém entrou na casa. Sua capa branca esvoaçava pelos móveis, na medida que entrava de cômodo em cômodo.

— Hideki, como estão as crianças? O Dai já deu algum sinal de — parou na sala de jantar, vendo pai e filho — vida?

— Precisamos vê-lo, Imichi — disse Dai, mostrando o cartaz de Suzaki — Está na hora. Chame o pessoal.

Com a sinalização de Dai, o grupo era novamente reunido, partindo para os limites do território, em um densa mata. Perto do final do dia, o grupo havia chegado na floresta Hercínia. Dai e Mitensai caminhavam à frente de Imichi, Yanaho e Noriaki. 

— Ainda é difícil acreditar que Suzaki possa ter feito tudo isso — disse Mitensai, olhando para o campo outrora arrasado, que já se recuperava.

— Por que vamos encontrar esse tal de Munny? — murmurou Yanaho.

— Ele é um caçador que habita estas matas há um bom tempo — respondeu Dai — Se alguém viu o que aconteceu naquele dia, foi ele.

— Como sabe que ele está por aqui, Dai? — questionou Noriaki.

— Quando ajudei Suzaki a voltar para o Império, notamos lanças perdidas na mata. Ele só tinha usado o porão do Açougueiro para fugir. 

Eles entraram por uma trilha estreita, até encontrarem uma caverna. Na entrada, peles estendidas, lanças apoiadas na parede de pedra e uma carne na fogueira acesa.

Uma voz sussurrou da floresta:

— Eu não vou voltar.

Yanaho e Imichi começaram a olhar ao redor. Uma lança balançou as folhagens, aterrissando ao lado de Dai. Munny tornou a falar:

— Um predador de verdade não anuncia a sua presença até a hora certa. Eu não nasci ontem.

— Não viemos aqui por sua causa — mostrava o cartaz com o rosto desenhado na direção do arremesso — eu fiz um acordo com ele, por isso sei onde está Munny. Se alguém viu o que aconteceu no templo dos azuis, esse alguém é você.

Tudo que restou da floresta foi o som dos grilos na noite e o crepitar da fogueira, até que Munny saiu das sombras. Estava de barba cheia e olhos pesados, quando sentou-se à beira da fogueira, com um espeto de carne numa mão e uma lança afiada na outra:

— Foi apenas uma tempestade muito forte.  Eu não estava lá. Agora saiam, e me deixem em paz!

— Este cartaz diz outra coisa. Olha para ele!

Munny permaneceu cabisbaixo. Dai puxou a lança atirada do chão.

— A invasão dos Heishis acabou. Não há mais facções ou Chefão, nem nada que justifique você apodrecer neste lugar.

— Você não sabe nada sobre mim. Vai embora.

— Isso é uma perda de tempo — sussurrou Yanaho para Imichi — O que ele deve saber sobre o Suzaki?

— Eu conheci o espertinho quando ele era mais novo que vocês — disse Munny, liberando um suspiro — Mas essa criança se foi. Eu tirei outra coisa daquela cratera enorme.

— Então você… esteve com ele?! — perguntou Mitensai.

— Foi ele mesmo?! — indagou Yanaho.

— Só restou ele — respondeu Munny entornando um copo d'água — Tudo aquilo para ele parecia um alívio.

— Munny, eu preciso saber — se aproximou Dai, o olhando de cima — Suzaki fez aquilo? E se fez, o que ele disse depois? 

Um silêncio perdurou, todos escutavam apenas a mastigação do caçador, que engolia o alimento, se levantando e virando as costas para os demais:

— Ele disse que escolheu tudo que fez e que é diferente de mim. 

Respondendo ele percorria para sua casa improvisada, deixando todos com um pesar na consciência. 

— Ele só quer ficar em paz — sussurrou Mitensai, segurando no ombro de Dai.

Dai deu as costas seguido por Mitensai e Noriaki. Yanaho por sua vez ficou ali, observando Imichi, que foi em direção a Munny, chamando-o por trás o caçador se virou percebendo o sorriso do Shiro.

— Eu sinto muito! Continue na sua jornada, tenho certeza que há um lar reservado para você ao final.

Munny se impressionou por um instante, apressando seu passo logo depois caverna adentro.

Os outros seguiam Dai, que de repente partiu a lança arremessada pelo caçador em duas, jogando os pedaços na fogueira presente. 

— Se acalma, Dai — sinalizou Noriaki.

— Por que eles estão fugindo? Masai, Raito, agora Munny. Eu lutei para que não precisássemos nos esconder! — socou um tronco.

— Não pode obrigar as pessoas a assumirem seus caminhos. Uma dia, eles entenderão — retrucou Imichi.

— Um dia, Seth vai aparecer na minha porta também. E não sabemos nada sobre ele!

— Sua família terá vocês. E vocês terão um ao outro. Se Seth fosse voltar iria ameaçar isso nesses meses que estive por aqui. 

— Tem razão, se Seth quisesse retaliar já teria feito — reforçou Noriaki.

— Que seja, vocês vão partir pela manhã certo? — encarou Yanaho e Imichi que assentiram — então vamos logo para casa.

De volta para a casa na manhã seguinte, Imichi e Yanaho começaram a fazer preparativos para a partida. Um transporte foi providenciado por Dai, cortesia de Kenjiro, abastecido com comida e guiado por cavalos saudáveis. 

Yanaho terminava de arrumar a carga com Mitensai, quando sentou-se na carroceria:

— O que vai fazer quando voltar? — perguntou o órfão.

— Estou fora por um bom tempo — colocava as mãos para trás da cabeça — já era pra eu estar quase me formando como Senshi, mas agora eu não sei o que vão resolver.

— Vai atrás do Suzaki, né?

— Claro que sim. Mesmo que eu não o reconheça mais, ainda assim é o Suzaki.

— Vai precisar de ajuda.

— Você? — olhou o garoto da cabeça aos pés.

— Estamos cumprindo a promessa daquele dia, se lembra? Pode parecer que os outros não ligam pra isso, mas você ajudou a salvar esse lugar — estendeu a mão que carregava a faixa verde que usou na arena — toma, é o que posso dar para agradecer. 

— Obrigado — pegava a faixa nas mãos — Depois do deserto… admito que nem havia parado pra pensar nisso. E com o Suzaki, o mundo pareceu ter virado de ponta cabeça. 

— Mesmo assim, você e o Imichi ficaram do nosso lado e nos mostraram que ainda vale a pena acreditar naquilo. Obrigado.

Yanaho amarrou a faixa na testa e depois bateu no peito do garoto de olhos verdes:

— Muito bem, muito bem, vamos acreditar então. Mas se quiser ir atrás dele comigo, vai precisar melhorar muito. 

— É o que espero! — respondeu com um sorriso.

Hideki, Noriaki, e as crianças apareceram na varanda acenando para os dois viajantes prontos para partir.

— Yanaho, volta para a gente continuar lutando — gritou Shiki.

Enquanto isso, Imichi e Dai andavam até a carruagem.

— Tem certeza de que isso não será um “até breve”? — entregou o cartaz de Suzaki para o Shiro.

— Eu imagino que os Kuro e Seth devam ter outros planos nesse momento — guardou o papel no bolso e colocou seu chapéu — sigam em frente — estendeu a mão para Dai. 

Os dois se encararam. Mitensai segurou sua risada com a boca.

— Isso parece que foi há tanto tempo — comentou Dai, apertando as mãos — Muito bem, sabe onde me encontrar se precisar de nós — olhou para Yanaho — Vou lembrar sempre do que fizeram pela minha família.

Yanaho desceu da carga e tocou os punhos com Dai, antes de subir no banco ao lado de Imichi que já assumia as rédeas:

— Ainda voltarei aqui para concluir o treinamento.

— Esquece, eu não sou seu pupilo. Volte aqui para tratar de negócios — respondeu Dai.

— Não estava falando de você — inclinou a cabeça para frente para olhar para Mitensai — ele precisa proteger as pessoas que ama. 

— Sério? — perguntou Mitensai.

— Muito sério.

A resposta de Imichi arrancou sorrisos de todos. Na medida em que a carruagem se afastava, os dois meninos faziam seu caminho de volta para casa.

— Tomara que fique forte logo — Dai pegou no ombro de Mitensai — nós não teríamos conseguido sem você. 

— Mas eu não lutei nenhuma… 

— Mas acreditou neles. Graças a você aprendemos que existem pessoas do bem neste mundo. Agora vamos, Mitensai. Temos muito trabalho pela frente.

“Vamos acreditar então”, pensou, virando a cabeça para olhar o menino de capa vermelha indo embora uma última vez. 

Retornando para o Reino Aka, Imichi e Yanaho fizeram seu caminho para Kagutsuchi. Os Titulares que os receberam na fronteira e nas cidades antes de seu destino os permitiram passar sem muita fiscalização. O mesmo não se repetiu quando cruzaram a entrada da capital Aka.

Ainda nos portões da cidade, eles foram cercados por cavaleiros. Oda saía do meio dos cavalos, sinalizando para dispersarem os civis das ruas. Imichi descia da carruagem, confuso:

— Saio por um tempo, e já aparecem mais problemas? 

— Assim que vier comigo, tudo será esclarecido — encarou Yanaho, ainda sentado na carruagem — O mirim não precisa ir. Pode devolvê-lo para o internato. 

— Deixe Yanaho conosco. Tem alguém que ele precisa ver antes de…

Pedindo licença, entre os cavaleiros, Onochi fez sua voz ser ouvida:

— Imichi! — apareceu, apoiando as mãos nos joelhos — É urgente, por favor. 

Yanaho desceu da carruagem, evitando os olhares de seu mestre. Alguns Senshis chegaram perto para recebê-lo, à mando de um dos Principais:

— Então é você, Yanaho? Nossa que alívio saber disso — disse Kusonoki — que ficou bem. 

— Eu não vou causar nenhum problema. Podem parar de me cercar.

— A situação é mais grave do que parece — Oda explicava — Vocês tem certeza de que o garoto vem? 

— Meu acordo com Ryoma diz que posso solicitar a presença do garoto quando bem entender — interrompeu Onochi.

— Esse acordo foi antes do sumiço de vocês. Um dia, é o máximo que ofereço. Descansa conosco e volta para o serviço.

Apesar da mansão, onde residia o escritório de Ryoma, estivesse a uma esquina de distância, Oda e os Principais escoltaram os Shiro e seu pupilo para os limites da capital. O destino era uma casa larga de dois andares no pé de uma montanha. Havia poucos vizinhos, mas os Senshis guardando o local eram inúmeros.

Yanaho ficou pela recepção, ainda cercado pelos Senshis. Já os irmãos foram levados a um escritório de frente para o muro de terra. Ryoma esperava por eles.

— Trouxe seu problema — Oda, abriu a porta — agora resolva.

— É melhor você ter um bom motivo Ryoma — Imichi entrava, seguido de seu irmão. 

— O nome de Aiuchu, te lembra alguém? 

Os olhos de Imichi saltaram: 

— Mas, como? 

— A garota foi recebida em uma de nossas fronteiras. Estava praticamente desmaiada. Não devia comer há dias, mas não parava de balbuciar um nome: Branco — se levantava — ela não tinha porque inventar nada mesmo, nem mesmo sobre a gravidez. 

— Devagar espera. Gravidez?! Não estou sabendo de nad…

— Você não sabe? Não basta sumir durante um incidente, agora esconde uma cidadã nossa, que volta à beira da morte e grávida e quer uma explicação? O que posso te responder, é que essa criança não pode nascer. 

— Ela está aqui não está? Eu quero vê-la, agora! — exigiu Imichi.

O quarto onde Aiuchu repousava era uma porta giratória de médicos e enfermeiros. Assim que Ryoma foi visto caminhando até lá com os Shiro, todos entenderam o recado e os deixaram à sós. O último a deixar o leito foi um homem de avental escuro.

— Ela está melhor agora — removia as luvas — Ela pode falar, mas sugiro que não se prolonguem muito e apenas uma pessoa entre.

— Agradeço a sugestão, Uka, mas não serei eu que vou entrar — Ryoma encarou Imichi — Está dispensado.

Onochi ficou do lado de fora com Ryoma. O caminho porta adentro para a cama de Aiuchu parecia uma trilha interminável para Imichi. Ela estava deitada, virada para a janela, com os olhos escondidos por trás do longo cabelo. 

Assim que o Shiro sentou na beirada da cama, ela virou a cabeça. Seus olhos caídos se encheram de lágrimas assim que o reconheceu.

— Branco… é você mesmo?

— Você está de volta, pequenina — repousou a mão sob sua testa — Eu sabia que um dia teria a coragem para voltar para casa.

— A Ordem me faz livre… eu finalmente entendi isso — colocou a mão na barriga por cima dos lençóis — aconteceu tanta coisa. 

— Eu sei, por isso preciso saber — limpava as lágrimas dela — quem foi? — juntou suas mãos as dela por cima da barriga.

— Sempre temos escolhas… e eu não podia simplesmente deixar os nossos corações pararem de bater. 

— Nada de ruim vai acontecer com você ou com essa criança, eu prometo. Mas tem que ser sincera comigo.

Revirando os olhos para o této, Aiuchu respirava fundo respondendo: 

— O nome dele é: Suzaki.

Imichi se levantava com os olhos arregalados, se afastando aos poucos da cama. 

— Você tem certeza? — dava passos trêmulos para trás. 

— Ele me deixou, mas não sabe disso — elevava a mão mostrando o anel em seu dedo — eu pensei que…

— Está tudo bem. 

Sorrindo Imichi aliviou os ânimos, acariciando os cabelos da garota até que adormecesse. Após isso vasculhou seus pertences num bolso, pegando nas mãos o cartaz dado por Dai. 

Quando saiu do quarto, o chamado de Onochi ergueu sua cabeça.

— Irmão, o que houve? — o segurou nos ombros — O que ela disse? Você não parece bem.

— Temos — mostrava o cartaz ao seu irmão — muito o que resolver. 


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.



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