Volume III – Arco 10
Capítulo 87: Nossa Cor Pt.2
Na floresta onde Midori e Kiiro se encontravam, Imichi e Yanaho estavam diante de Seth. O Shiro puxou o pupilo de seu irmão para perto:
— Seus inimigos são os tentáculos. Ignore os portais, não entre neles.
— Então como a gente chega nesse cara?
— Juntos — puxou sua adaga — faça sua parte.
Seth se entediou da conversa privada da dupla, conjurando sua primeira fenda sob seus pés e enfiando seu tentáculo nela. A saída do portal era entre Yanaho e Imichi. O membro artificial do feiticeiro brotou dali e rastejou pelo chão. O Shiro não estava mais lá, mas o mirim agarrou aquilo com toda sua força.
O velocista branco atirou contra seu oponente, atacando em todas as direções, forçando o feiticeiro a gastar seus portais. Imichi alternou entre cada um, indo e voltando, ao passo que Seth usava o seu primeiro tentáculo agarrado por Yanaho para si.
— Esse jogo acabou — afirmou ele.
No entanto, Yanaho saiu pelo portal, despedaçando suas amarras com um punho rubi. Seth trouxe o segundo tentáculo membro para perto, enquanto mudava quatro portais de lugar para se proteger de Imichi.
Os outros dois eram usados em Yanaho, desviando de seus ataques até que um tentáculo o levantou do chão pela perna.
Imichi agora corria na direção de Yanaho, então ele sobrepôs dois portais para desviar seus movimentos. Contudo, o corredor fez uma curva aguda de última hora, e atacou o feiticeiro.
— Previsível — disse Seth colocando um portal em sua frente.
Em uma fração de segundo, ele viu Imichi atravessar o portal como se nem estivesse ali. Seu movimento parou somente quando atingiu uma árvore próxima, pregando o feiticeiro pela barriga com sua adaga após varrer alguns metros da floresta com seu impacto.
— É como eu falo — puxou sua lâmina de volta — Nunca subestime seu inimigo.
O tentáculo que segurava Yanaho havia sumido. O garoto seguiu o rastro deixado pelo Shiro, encontrando seu inimigo escorado na árvore.
— Entendi aquela sua pedra de antes — Seth lembrava-se — Seu arremesso não desviou de meu portal, tanto quanto atravessou por ele.
— Seus portais são feitos de energia — Imichi exibiu a mão aberta, vibrando — Com minha velocidade posso vibrar através da matéria, até mesmo energia iro. Mas eu não podia correr este risco sem conhecer sua técnica, então fiz um teste vibrando e atirando um objeto primeiro.
— Magnífico. Nosso primeiro ato termina aqui, Imichi. Vocês podem saborear sua singela vitória enquanto podem. Não passa de uma inconveniência frente ao que vai acontecer com seu campeão.
— Dai é um homem de muita determinação. Ele vai triunfar contra seu oponente na arena.
— Vamos ver se a determinação dele vai salvar as pessoas que ama. Nem mesmo você é capaz de protegê-lo deste temor para sempre.
— Da mesma forma que você não é capaz de manter esses poderes por muito mais tempo. Eu vi os efeitos da bruxaria em Masai.
Yanaho encarou Imichi. Seth abriu um sorriso de canto.
— Técnicas naturais como iro esgotam as reservas do indivíduo, mas se recuperam como qualquer músculo fatigado. Agora artes anti-naturais como a feitiçaria drenam a capacidade de reservar esta energia. Em outras palavras, a bruxaria envelhece a pessoa progressivamente.
— Você é um conhecedor ávido da energia iro, mas pelo visto não conhece tudo.
— Chega dessa enrolação. Cadê o Suzaki? — o jovem apontou sua espada.
— Paciência, Yanaho — uma redoma verde envolveu Seth — O encontro prometido ocorrerá em seu devido tempo.
A cobertura então estourou discretamente feito uma bolha. Seth havia desaparecido bem na frente dos dois.
— Droga — gritou Yanaho, chutando a árvore.
— Sem tempo para lamentar — oferecia as costas ao garoto — provavelmente ele foi para Chukai, não podemos perder tempo!
Os dois finalistas despencaram sob as águas como se fosse em uma queda livre. Akira mesmo trancafiado puxou Dai para perto, abraçando as pernas do garoto. Os espinhos rasgaram sua pele e a dor fez com que soltasse o ar pouco acumulado. Quanto mais profundo, mais a luz se apagava.
“Pai…”, refletia já sem fôlego. “Bem que você disse que esse caminho não tem volta, mas… eu preciso acreditar”, estendia a mão reparando o raio da lua no topo.
Sentia um deslize sob seus pés, antes abraçados, agora eram livres. Olhando para baixo percebia apenas a silhueta do corpo do Chefão a caminho das profundezas.
Do lado de fora, Noriaki derramava lágrimas de joelhos, sendo confortado por Mitensai. Se juntando a eles, o sujeito de escudo retirava sua máscara revelando seu rosto ao tempo que apontava:
— Olhem!
— Raito?! — se impressionou Noriaki.
Guiando os olhos para onde o dedo apontava, viam Dai emergindo novamente sob a plataforma.
Ele cuspia bastante água, retomando o ar podia ouvir os gritos de vitória vindo pelas arquibancadas, seguido por aplausos. Se levantando olhava novamente para as águas escuras se questionando:
“Para ele me soltar… provavelmente o veneno deve ter feito efeito e…”
Antes mesmo de processar tudo, ouvia um sibilo familiar pelas costas, antes que pudesse se mover a serpente já havia envolvido todo seu torso.
— Mas o que? Gurai?! — percebiam os garotos.
— Essa é…
De repente duas figuras emergiram em outra plataforma, mais distante próximo às paredes da arena. Masai estirou o corpo de Akira tendo uma espada em mãos para dar o golpe final.
— Agora estamos quites, você salvou a minha eu salvei a sua — mostrava uma mordida na nuca do Chefão desacordado.
— Masai, sei o que quer fazer — tentava se soltar da cobra — mas Akira sabe de muita coisa para ser morto agora, precisamos entender sobre…
— O trato era você me entregar ele — interrompeu apoiando a lâmina no peito do Regente — na verdade, dane-se o trato. Você viveu todo esse tempo para livrar os Midori. Tenho certeza que não vai abrir mão agora que tem a chance, certo? Pois bem, eu vivi a vida toda para fazer ele pagar por aquilo.
Suas memórias traziam o olhar de sua mãe desesperada próxima à fornalha. No presente ela via o rosto inexpressivo do assassino, ao tempo que Dai parava de tentar se soltar.
A espada descia sob o lado esquerdo do peito do Chefão indefeso, os líderes de facção comemoravam ao redor, Dai era solto por Gurai no mesmo momento, se ajoelhando na plataforma já sem forças, enquanto Masai tremia ainda com a mão sob a empunhadura:
— Eu… eu esperei tanto por isso, esperei tanto para te fazer sofrer da pior forma possível! Por que você tinha que morrer dormindo, seu desgraçado!
Ela berrava próxima ao rosto do cadáver, enquanto do alto, Mitensai e Noriaki percebiam uma luz atravessando as arquibancadas. O garoto de vestes vermelhas descia dos ombros do homem de capa branca.
Yanaho, estendeu seu olhar, antendendo o chamado de Mitensai que acenava. Percebia os gritos de vitória e sorrisos no rostos dos companheiros.
— Dai... venceu — percebia olhando as ruinas do que antes era arena, esboçando um leve sorriso.
— Mas não todos — disse Imichi percebendo o desespero de Masai — Cheguei um pouco tarde.
O alvoroço dos líderes de facção ficavam ainda mais altos na medida que caia a ficha de que o Chefão das Gangues havia sido derrotado. A expressão de Yanaho mudava para uma desilução, até que percebeu Noriaki e Mitensai indo em direção ao Dai. Imichi descia para próximo da bruxa, ajudando-a se reerguer, enquanto outro sujeito despejava seu escudo, levando um objeto indo ao encontro do vitorioso.
— A matança acaba aqui? — reconhecendo a voz, Dai ergueu a cabeça percebendo Raito com a máscara em mãos oferecendo a ele.
Com o gesto de Raito, todos que estavam nas arquibancadas gritavam pelo mascarado que havia vencido o torneio. O filho de Hideki encarou a composição de madeira, antes de jogá-la no chão pisando e quebrando-a ao meio.
— Hoje acaba as matanças junto aos entulhos de nosso passado! — levantava sua voz, chamando atenção dos arredores — Para mudarmos de verdade e sermos uma verdadeira cor, precisamos abandonar o que nos fez como filhos bastardos da história e finalmente seguir em frente! Se não temos apoio de nada externo, então isso aqui é tudo o que temos — ergueu as mãos — uns aos outros!
Um silêncio perdurou pelo redor, para escutar o restante do discurso de Dai:
— Chega de gangue, facções, bruxas, fantasmas, caçadores, ninhos ou qualquer termo de nossas ruínas. Hoje está declarada a verdadeira independência dos Midori. A partir de agora, somos mais que uma figura folclórica, palco da diversão das outras nações… somos um povo!
Após o discurso, os berros de todos ali perturbam a noite tranquila de Chukai. Muitos gritaram o nome de Dai. Yanaho, Mitensai e Noriaki sorriam ao tempo que cumprimentavam o jovem que era envolvido pelos outros ao subir as arquibancadas.
— Uma promessa cumprida — disse Imichi cruzando os braços observando-os de longe.
No topo de um grande galho, na frente de um portal brilhando em verde, Seth observava a cena com uma das mãos abaixo do nariz. Percebia homens que o serviam sendo levados conforme a euforia, e ao mesmo tempo alguns sendo amarrados.
“Vamos ver por quanto tempo isso durará. Afinal, finais felizes só existem porque não vão até a morte de seus personagens”, encarou Dai do alto. “Isso mesmo, todo mundo morre um dia, meu lorde… vamos ver até onde essa determinação te levará”.
Concluindo sua reflexão ele atravessou o portal que o levou até o outro ponto, bem distante dali. Ajeitando suas vestes, se aproximou de uma espécie de santuário antigo, onde uma silhueta de um homem enorme revelado pela luz da lua, observava as estrelas.
— Você demorou.
— Sinto muito, meu lorde — se ajoelhou — não fui capaz de corresponder suas ambições.
— Minhas? — Nobura se virava com uma breve risada rouca — você é meu braço direito, logo te conheço como a palma da minha mão, Seth — estendeu uma delas — se apega em atormentá-los e esquece que isso sempre será o destino deles, você não precisa ser o antagonista. Não há nenhum proveito no que se faz debaixo do sol.
— Estava falando a respeito do outro garoto da profecia, achei que seria bom pegá-lo de uma vez — se erguia — Suzaki se saiu bem, porém se desprendeu de minhas ordens.
— Yanaho será nosso assim que perceber o que percebemos — pegou no ombro de Seth que não movia um músculo — esqueça os Midori e não desvie o assunto, lidaremos com eles assim como lidamos com todas os territórios, a partir das ordens de Itoshi.
— Sim, meu lorde — assentiu ainda sem se mexer ao tempo que Nobura passava por ele.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.