Volume III – Arco 8
Capítulo 67: Irmão
O esconderijo dos Tsuki era reconstruído de dentro para fora. Começando pelo portão extenso de madeira e as muralhas, Ryo observava o trabalho de seus subordinados, quando uma carroça mais sofisticada cruzou a entrada e estacionou nos estábulos. O jovem a seguiu com os olhos, até que dela desceu Yomi que logo se juntou ao filho, carregando uma caneca nas mãos:
— Parece que tudo correu melhor do que esperava.
— Eu sei que o terreno do marquês é nosso, mas é bom que o esconderijo volte a ser o que era — respondeu curvando a cabeça brevemente.
— Aqui é nossa base, filho — bebeu da caneca — com o Vale em nossas mãos, não temos mais por que se esconder. Sua insistência naquele Sora me irritava, mas no final deu certo. Você salvou nossa família.
— Depois de tanto tempo, de uma hora pra outra saímos das sombras — encarou o céu nublado — e tudo graças a ele.
— Só não entendo o motivo dele querer se encontrar com Koji — bebia passando seu punho sob a boca.
— Suzaki mudou — levava uma mão ao queixo — Antes ele queria ajudar as pessoas. Agora, ele parece estar movido por vingança. Algo aconteceu com ele desde a pista que dei a ele e piorou depois que sumiu.
— Vai ver que ele só encarou a realidade.
A conversa entre os familiares foi interrompida pelos recém chegados Tsuki, que saudaram Yomi:
— Senhor, Heishis retornaram para o Vale. Estão à mando do imperador para recrutar moradores próximos.
— Então já estão se preparando para a guerra. Duvidei que tentariam algo na ausência de Suzaki. Qual a região do ataque? — interrompeu o filho do Tsuki.
— As vilas abandonadas, nos subúrbios. Já é área marcada, eles sempre voltam pra lá — o olho de Ryo saltava da face.
— Não temos homens para contra-atacar. Já distribuí a maior parte para explorar o vale e o resto está reconstruindo este lugar — Yomi cruzava os braços — Esse lugar não tem muita importância. Vamos deixar essa passar.
Seu filho, no entanto, disparou na frente sem dar mais explicações.
— Ryo, espere! — gritava para o garoto que montava em seu cavalo — Onde pensa que vai?!
No Mirante Celeste o sol atravessava o topo do horizonte, a brisa soprava os ouvidos dos presentes. Entre eles, o homem amarrado se debatia diante do jovem que trazia uma lembrança na cabeça:
“O que estávamos pensando, querendo fazer de um bastardo, um príncipe?” — dizia Daisuke com o braço erguido.
Sua concentração no homem foi cortada por um toque no ombro pelo criado de boina.
— Alteza, sentimos tanto a sua falta — disse Masao, sacando uma ocarina da outra mão — sei que deve estar confuso, por favor, pela primeira vez gostaria de te pedir que — estendeu o objeto — confie em nós.
Suzaki voltou seu olhar para Daisuke, embora tenha tomado a ocarina das mãos de seu criado, que saiu da sua frente.
— Pensei ter dito para vir sozinho — disse o príncipe ignorando o criado — Qual a proposta? — perguntou seguindo em frente.
— Não vamos discutir detalhes fúteis — respondia Koji — Volte para o palácio, sirva seu posto de Heishi Celestial. Enquanto não for, lhe concederei o território Midori para governar de maneira independente. Quando chegar sua vez, poderá fazer o que bem entender, como Imperador.
— Logo você oferecendo seu cargo — arrastava a espada no solo — Nem mesmo tem controle sobre os Midori. Qual o truque dessa vez?
— Sem truques. Quer evitar essa disputa, o trono será seu e juntos todos vão temê-lo, assim como me temem — ergueu sua mão — terá o respaldo de aliar-se com os Midori, Kiiro, Kuro, até mesmo os Aka. A decisão será sua — cerrou o punho.
— Na corte nenhuma decisão seria apenas minha, por causa de pessoas como ele — disse o príncipe, erguendo a espada contra o prisioneiro.
Ficando rente ao homem rendido, Masao cobria o rosto com a boina, ao tempo que sons de trovoadas podiam ser ouvidos.
— Com suas habilidades e a influência que possuir, poderá decidir quem vive e quem morre em cada canto desse império — se aproximou dos dois — Melhor ainda, antes que pise no Palácio novamente, eu lhe darei sua vingança. Aotaka já foi destituído. Daisuke agora, depois Tadashi e Dohana — continha sua risada — imagine a cara deles quando descobrirem.
Suzaki desceu seu metal no ombro de Daisuke, arrastando até seu pescoço quente, respirando fundo, ao mesmo tempo que percebia Koji parar ao seu lado pela sua sombra projetada.
— Em meu rito de passagem, conheci um garoto chamado Yanaho e um Shiro. Meu plano era aprender técnicas novas, ganhar a confiança deles para encontrar uma brecha para invadir o território dos vermelhos — recuava sua arma — Um dia, esse Shiro me colocou para duelar com esse camponês vermelho e descobrir uma forma de nós dois vencermos.
— Quanta baboseira, de repente — bocejou Koji colocando a mão em seu ombro.
— Koji, e se mostrássemos aos Aka e os Ao, uma maneira dos dois vencerem? — sua mão tremia no cabo da espada — Haveria um jeito de chegar a um acordo sem derramar sangue?
Masao, percebia um silêncio de repente, espiando por baixo da boina percebeu o olhar esbugalhado de Daisuke para Suzaki.
— Se eu tomasse um cavalo e fosse apertar as mãos do Rei Aka ou de seu Supremo, estaria morto antes de olhar para suas faces. Mesmo que minha intenção fosse apenas conversar — cruzou os braços — É tarde demais para acreditar na inocência dos nossos inimigos. A guerra começou! — Seu grito ressoou pelo ambiente.
Com a resposta, o príncipe abaixou sua espada, incerto de sua decisão, enquanto Koji terminava:
— Por isso que estamos recrutando aqueles vadios dos subúrbios que você tanto protegia.
— Você o quê? — se afastou.
— Algo de errado? Está na hora de escolher seus objetivos ou àquelas vidas inúteis. Precisamos nos armar — dizia Koji, fingindo tapar a boca — seu irmão, Satoru, já tomou a iniciativa de assumir esse dever por nós.
— Eu já devia esperar isso de você. Desgraçado! — praguejou, guardando a espada na cintura e correndo para a escada.
— Alteza! Suzaki, por favor — clamou Masao.
Sem ouvidos para seu antigo criado, Suzaki saltou pelas escadarias, atravessando rapidamente as nuvens. Descendo os últimos degraus, ele montou em seu cavalo e disparou.
Escondida entre as florestas, a vila de indigentes às margens de Yoroniwa exibia seus moradores subindo e descendo as trilhas que levavam às suas cabanas com cestas de grãos nas costas. Na sua casa, Kyoko esmagava seus grãos, olhando a caldeira esquentar a água, quando o som de uma corneta ressoou pela montanha.
A mais velha reconhecia esse som. Largando mão do trabalho, ela tomou sua irmãzinha pelo braço e a levou para um quarto.
— Michiko, fica com a vovó — abriu a porta do quarto — Não sai daqui, entendeu?
Nas escadas da saída, ela avistou os Heishis marchando contra as cabanas inferiores. Um deles saía do meio do grupo, trazendo moradores amarrados nos braços, ligados por uma corda. A garota que estava na fila arrancava uma dor sufocante no peito da jovem que espiava:
“Kimiko!”, pensou assustada.
— Ouçam, seus ratos! — gritava o Heishi que puxava a fila — Juntem-se à guerra pelo seu povo a mando do imperador, e façam bom uso de suas vidas miseráveis!
Kyoko recuou para dentro de casa, apagando sua fogueira e tomando a caldeira nas mãos. Quando a porta foi arrombada, ela jogou água fervente nos invasores atingindo o primeiro Heishi que apareceu.
— Não encostem na minha família! — gritava, sendo segurava pelo Heishi restante.
Tentava se libertar dos soldados, quando um homem surgiu de trás esfaqueando os que estavam na entrada. O agressor cobria o rosto com um lenço e um tapa-olho, fechando a porta por onde entrou.
— Foi mal o atraso, eu… — dizia Ryo.
— Cadê o Suzaki? — interrompeu Kyoko, se reerguendo.
— Ocupado, e eu acho que esses homens já sabem disso — respondeu, espiando o lado de fora.
— Eles pegaram a minha irmã — pegou na mão do caolho — precisa resgatar ela, por favor! — aumentou o tom de voz.
Ryo fez sinal de silêncio e contou os Heishis no terreno da janela. Ao abrir a porta, virou-se para Kyoko uma última vez:
— Esconda os corpos e não saia daqui por nada.
Assim que colocou os pés para fora, Ryo voltou a se esconder no mato, por onde caminhou até chegar onde mantinham os prisioneiros bem na entrada da vila. Dos galhos das árvores, encontrou Kimiko, roçando as cordas em seus pulsos.
Quando o Heishi deu as costas para seus prisioneiros, Ryo caiu sobre ele e perfurou seu pescoço. Os outros homens do pelotão ouviram o barulho, porém o Tsuki já libertava os indigentes cortando suas amarras.
— Fujam para cima. Eu seguro eles! — gritou aos prisioneiros.
A maior parte dos moradores obedeceu sem questionar. Kimiko, por sua vez, correu até alguns arbustos, hesitando em sua fuga, assistindo ao seu salvador. Os Heishis mudaram de foco e partiram para caçá-los, sendo impedidos por Ryo que aproveitou a dispersão dos guardas para enfrentá-los individualmente.
“Estou exposto, mas não havia outro jeito de criar distração”, pensou chocando sua espada com outro.
Após as primeiras baixas, os Heishis circularam o Tsuki, que só podia se defender de um lado, enquanto escutava os ataques vindo de seu ponto cego, no olho esquerdo. Mesmo focado nos homens na sua frente, um barulho sutil dispersava sua atenção.
Ao virar para bloquear o ataque vindo de trás, via sua espada se estilhaçar em pedaços ao chocar com uma lâmina de duas pontas que conhecia bem, brilhando em azul nas mãos de outra pessoa.
Desarmado, Ryo tentou bloquear com a empunhadura, terminando por receber o ataque em cheio, arrancando alguns de seus dedos. No chão, ele sentiu a ponta daquela espada encostar no seu pescoço.
— Onde está meu irmão? — perguntou Satoru.
— Suzaki não está aqui. — ergueu a cabeça.
— Não queria ter que me contentar com um Tsuki — levantou a arma — Mas vendo você, talvez ele deixe de ser um covarde e apareça.
Foi então que Ryo levantou de supetão, afastando um Heishi. Alcançando a espada no cinto do sujeito. Contudo, antes que sentisse a aproximação de traz, um metal o atingiu por trás no ombro, fazendo seu tapa olho ceder, junto ao seu corpo que voltava a ser imobilizado.
Segurado pelos dois braços, sua nuca era empurrada, a luta para se libertar era inútil. Alheio ao que estava à sua frente, percebeu a sombra do irmão mais velho de Suzaki se aproximar. Sua última visão foi de Satoru atravessando a lâmina no lado esquerdo do seu peito.
— Que isso sirva de lição para os que fugiram — gritou Satoru, para o alto — Vocês são os próximos!
O corpo de Kimiko só reagiu ao que acabava de assistir, quando os Heishis partiram atrás dos indigentes, tapando a boca com lágrimas escorrendo, ela correu em direção à sua casa, sem olhar para trás.
Deixado à própria sorte, Ryo cuspia sangue se arrastando no solo. O gosto de ferro inundava seus sentidos e a marcha dos soldados ainda soava aos seus ouvidos. No entanto, também escutou um cavalo se aproximando.
Os passos apressados daquele que vinha na sua direção, se transformaram em um andar. Chegando perto, ele abaixou para pegá-lo nos braços e apoiá-lo numa das pernas.
— Quem fez isso com você? — perguntou Suzaki.
— Seu irmão, mas isso não importa — apertou a veste do príncipe — sei que pela minha traição, eu perdi sua confiança… Se puder me ouvir…
— Do que está falando?! — tentava pressionar a ferida — Onde está seu pai e os Tsuki?!
— As pessoas não se importam com esse lugar — tossia sangue — mas você sim. Estou aqui, porque você me mostrou que ganhar não pode custar a vida de quem devíamos governar — afastou a mão do príncipe, com as suas formigando.
— Eu só quero que isso acabe — cerrava o punho ensanguentado.
— Me escute. Goste ou não, você já é o líder para muita gente — virou a cabeça para as cabanas na montanha — Seu dever é cuidar deles e levar esse império para um lugar melhor, como imperador.
— Eu não sou quem você pensa, Ryo — respondeu, sentindo o corpo cada vez mais mole.
— Isso não é uma escolha! — levantou a voz falha, seus dedos relaxavam — Eu sei como é esse ódio, e ele me levou às masmorras de onde você me libertou. Não importa seus motivos, a vingança sempre será sobre você, mas nunca sobre os outros. O império — sua voz falhava ao tempo que toda sua ação falhava — precisa…
Tombando a cabeça para trás, Ryo soltou completamente da camisa de Suzaki e desabou sem vida em seus braços.
— De novo — lamentou, descendo o corpo de Ryo no chão com cuidado — por que sempre termina assim?
Quando ouviu a voz distante de Satoru, o príncipe grunhiu, sacou sua espada dando passos adiante sem seu capuz, sendo reparado pelos soldados que temiam cessando suas atividades após o anúncio dado por Suzaki:
— Entreguem Satoru Sora!
Abrindo espaço para os dois irmãos se encararem de longe. Entre a fileira de homens de armadura, os dois davam passos em direção um ao outro.
— É como dizem: O bom menino, a casa retorna — ria Satoru, girando a arma de duas pontas com o único braço.
— Depois de tudo que Koji fez a você — fechou o rosto — Ainda aparece aqui para me ameaçar?
— Finalmente meu pai percebe que até assim eu sou melhor que você — usou uma das pontas para mostrar sua manga solta no lado esquerdo — Eu não vou desapontá-lo!
— Ele não percebeu nada, seu imbecil! Depois de todos esses anos, ele nunca te alimentou, protegeu ou sequer falou com você. Não percebe? — parou de andar — Você é um objeto para ele.
— Que inocente! — girou com sua espada na direção do irmão.
O primeiro ataque veio na altura do abdômen de Suzaki, que se agachou, rolando pelo chão. Satoru o perseguiu com mais alguns ataques, cuja descarga emitida de seu iro para a espada de Fulgur, chegasse por meio do metal do príncipe ao seu corpo, anestesiando seus músculos.
— Estou no lugar que nunca deveria ter saído, e agora você vai ficar irritadinho? Você me deve tudo que tem. Se tivesse que passar pelo o que passei, nem estaria vivo — gritava, liberando mais eletricidade.
O próximo golpe de Satoru afastou Suzaki, cujos braços eram tomados por um comichão, ao tempo que continuava falando:
— Pensa que pode roubar tudo que é meu e ainda fingir que se importa?
— E Koji se importa? Olha para o seu braço! — dizia Suzaki, desviando dos golpes — Ele fez isso com você.
Satoru girava sua lâmina ganhando impulso e soltando raios e faíscas pelo ar, com cada golpe.
— Quem pensa que é para falar dos meus fracassos? — encurralou Suzaki contra uma árvore — Até mesmo minha falha é maior do que o lixo de onde meu pai te tirou!
— Como pode chamar de pai o homem que matou sua mãe? — seus olhos brilharam em azul.
Sua energia brotou do corpo, preenchendo seus músculos para enfrentar a eletricidade que os enfraquecia. A disputa de força entre os dois tomava o caminho de Suzaki, que revidou com uma cabeçada.
“Esses raios são apenas seu iro controlando a eletricidade de seu corpo. Meu controle sobre essa energia é maior, posso desfazer a técnica por dentro”, pensava, avançando sobre o irmão. “Sem isso ele não tem a menor chance contra mim”.
Com uma combinação de ataques laterais, ele enfraqueceu os braços de Satoru, que teve seu contragolpe interrompido por um último ataque forte o bastante para arremessar sua espada para longe de si.
— Ele a matou por sua culpa — dizia Satoru, atacando com o punho — você nem mesmo deveria ter nascido…
— Cala a boca! — Suzaki segurou a mão fechada do irmão, revidando com sua espada, marcando o rosto de Satoru.
Sentindo o sangue escorrendo no rosto com os dedos, Satoru recuou, deixando que seus Heishis tomassem iniciativa contra Suzaki.
Os moradores cativos eram testemunhas da luta, entre os estrondos, Kimiko se perdia perto de sua casa, sendo resgatada:
— Irmã!
— Kyoko! — as duas se abraçaram por um momento.
— Nossa casa, precisamos se esconder — apontou pegando a pelo ombro — onde está Ryo?
— Ele… — as lágrimas se tornaram mais frequentes.
— Volte para casa — interrompeu, limpando o rosto da irmã.
Seguindo em frente, a mais velha veio aos prantos correndo para próximo de prisioneiros parados, observando o conflito.
“Suzaki!”, percebeu juntando as duas mãos, empolgada.
Durante seu retorno, Suzaki passava pelo bloqueio de guardas, eliminando seus oponentes em poucos golpes. Quando retirou sua espada do peito do último Heishi, Satoru pegou sua espada de duas pontas de volta para atacá-lo.
— Logo você vai se encontrar com aquele Tsuki — gritou.
No meio do seu avanço, sentiu o metal nas suas mão saltar dos dedos, parando na palma de seu rival. Satoru estava desarmado e desprotegido diante de um Suzaki, que jogou suas espadas no chão.
— Tem razão, Satoru. Eu não devia ser o Heishi Celestial. Esse título pertence a pessoas como você: fraco e covarde como o resto dessa família — socou o nariz do irmão.
Suzaki deu outro golpe que o jogou no chão, arrancando uma risada de Satoru.
— Eu sou o verdadeiro filho do Koji. Você é um impostor! — cuspiu sangue no rosto do irmão.
Satoru levantou-se jogando seus braços contra Suzaki, apenas para ser bloqueado, desviado e castigado novamente. Os socos do irmão mais novo abriam o corte em seu rosto, inchavam seus olhos e abriam feridas nas juntas do punho de Suzaki, que montava no corpo indefeso do oponente para continuar a bater.
A cada golpe, Kyoko que assistia tudo dispersava sua expressão de esperança, se tornando num rosto frágil e medroso. Com o sangue de Satoru esguichando contra seu rosto, Suzaki gritou:
— Eu não te devo nada! Nunca fui um rato para me esconder nos esgotos como você.
Quando terminou de socá-lo, Suzaki se levantou e virou a face de seu irmão para o lado com um pontapé. Depois o chutou de novo, rolando até uma árvore. Com as mãos, ele pegou sua cabeça e a chocou contra o tronco algumas vezes até se afastar de novo.
— Sua vida miserável é um luxo concedido por mim, que concluí em dois anos uma missão a qual você não pôde suportar sequer um dia — limpou o sangue no rosto com o punho — Mas vou mostrá-lo o que te aguardava lá fora.
As nuvens no céu se acumulavam em uma grande sombra escura, ressoando trovões. Suzaki se preparava para precipitar o golpe de misericórdia sobre seu irmão, quando foi agarrado por trás.
— Para, já acabou — pedia Kyoko aos prantos.
As mãos gentis da garota puxavam o príncipe pelos ombros. Permanecendo imóvel, o príncipe obrigou a jovem a puxá-lo por um de seus braços:
— Chega, Suzaki!
Trincando os dentes, Suzaki soltou um grunhido forte ao virar seu braço contra Kyoko, acertando a garota bem no rosto. Caída no chão.
Com a mão na face, Kyoko apenas olhou para Suzaki, surpresa, enquanto seus olhos esmaeceram diante dela e dos olhares de reprovação dos moradores. As nuvens que acumulou no céu passaram a despejar chuva contra a montanha, que banharam suas vestes e punhos sujos de sangue.
Soltando seu irmão inconsciente deu as costas para Kyoko e os moradores, passando pelo cadáver de Ryo sem vida, montando em seu cavalo, partindo com pressa.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.