Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume III – Arco 8

Capítulo 66: Soberano

Descansando o rosto nas mãos, Koji ouvia as palavras saindo da boca do Heishi ajoelhado diante do trono, mas não o escutava propriamente. Sua atenção estava em Daisuke, que sempre olhava para os muros, através das janelas, como se esperasse por alguma coisa.

Seu transe, no entanto, seria interrompido pela porta de sua sala sendo escancarada. Levantando do trono, ele viu um homem com as vestes rasgadas, coberto de lama e com metade dos cabelos loiros raspados sendo arrastado pela guarda de seu palácio.

— Senhor, esse homem diz querer falar com vossa majestade — dizia um Heishi.

— Isso é uma espécie de teatro? — disse, rindo do maltrapilho.

— Sou eu, minha alteza — o homem se debatia — O marquês do Vale. Tenha piedade de mim, majestade. Eu falhei!

— Devo levá-lo às masmorras, majestade? — correu Daisuke de supetão, até o humilhado pegando-o pelas vestes. 

— Você já é uma falha Aotaka — gesticulou para os Heishis presentes — Deixe-nos a sós.

Todos se retiravam, como ordenado pela autoridade máxima, porém antes que o escrivão pudesse fechar a porta, foi interrompido:

— Exceto você, Daisuke. 

Quando fecharam a porta pela última vez, Aotaka se apoiou nos primeiros degraus que levavam ao trono.

— Eu já até imagino mas, eu quero ouvir de sua boca — levava a mão ao queixo — quem fez isso com você? — sorria Koji empolgado.

— Seu filho, minha majestade. Eu fracassei acreditando que tomar o assunto com as minhas próprias mãos resolveria o problema. Fui seduzido pelo poder e… agora — lágrimas desciam de seu rosto — minha casa arde em chamas!

— Que tragédia… — voltou a apoiar seu rosto nas mãos.

— Mas esse erro não foi cometido sozinho, majestade. Poupe-me de meu castigo, que entrego a você os conspiradores e a mensagem que seu filho me confiou.

— E quem vai acreditar nisso? — ria Daisuke.

— Cale-se — apontou para o homem de pé na porta — Seja breve.

— Foi me oferecido uma proposta de assassinar o Heishi Celestial por um de seus homens de confiança. Parecia ter corrido como planejado mas, ele retornou com aqueles Tsuki. Eu temo que esse possa ser só o começo — engatinhava pelos degraus — Depois de me humilhar, ele mandou avisá-lo que ele espera por vossa majestade no Mirante Celeste sozinho!

Koji fechou sua expressão, se colocando de pé, descendo a escadaria até o marquês. Aotaka suplicava, agarrando e beijando os pés do imperador, que apenas ergueu a cabeça, ecoando uma gargalhada pela sala. 

Daisuke se juntou ao imperador com risadas tímidas cobrindo a boca, assim como Aotaka, que também caiu em risadas. Contudo, a mistura de alívio com comédia daria espaço a um silêncio profundo, quando a bota de Koji se encontrou com o queixo do nobre, que rolou escada abaixo. 

— Sua incompetência atingiu o limite. Você não foi capaz de honrar nada, Aotaka. E por isso não merece mais título algum — soou um sino que retirou do bolso —   levem o lixo para fora.

Os guardas invadiram a sala, tomando o marquês pelos braços que gritava em constantes esperneios que ressoou pelo espaço, fazendo Daisuke engolir seco antes de ficar sozinho de frente ao Imperador que descia até ele. 

— Aotaka tem os recursos, porém é negligente demais para conduzir um plano para assassinar o meu filho. Sua assinatura está nessa traição, Daisuke.

— Majestade — levou um dos joelhos ao chão — Fizemos o que julgávamos ser o necessário. O Heishi Celestial já não pode ser controlado, prova disso é que ele descobriu a verdade — Koji pausava nas primeiras escadas, de frente ao homem rendido — então com a ajuda de Tadashi, Dohana e Aotaka, nós o deixamos para morrer nas Trevas.

— Vocês passaram por cima de minhas ordens — aumentou a voz — pior! Conspiraram contra mim! 

— Pelo seu bem e consequentemente do império! — Tirava uma corneta do bolso — Eu temo que o filho que almejou dentro dos muros deste palácio nunca tenha de fato existido.

— Mais segredos? — pegou o objeto, o reconhecendo — Se ao menos tivesse me contado isso dois anos atrás, isso tudo poderia ter sido evitado — guardou-a dentro da túnica — Mas nada tema, ainda há esperança para o Império — foi até a saída.

— Creio que sim, mas não com Suzaki — respondeu Daisuke, observando os passos sutis do imperador até a saída. 

A cada passo a ansiedade do nobre sufocava seu peito, quando abriu a porta Koji cochichou para os guardas no qual entraram coordenados cercando o escrivão:

— Ei! Não pode fazer isso! — tentava se libertar, sendo abatido.

O imperador seguiu pela saída sendo escoltado pelos soldados que o seguiam, voltava seus olhos apenas para ver seu antigo homem de confiança, amordaçado. 

— Preciso de um transporte ao Mirante Celeste, tragam o prisioneiro junto. E avisam Satoru que preciso vê-lo com urgência.


Em uma montanha esculpida em verde, uma trilha de pedra levava os visitantes para próximo do firmamento do céu. Em seu pico majestoso, uma estrutura erguida por mãos hábeis esperava pelo imperador acima até mesmo das nuvens. 

Dispensando os serviços dos seus no pé da última escadaria, Koji prosseguiu adiante sendo seguido por outra figura com uma boina. Já entre as nuvens, a neblina não impedia seus passos decisivos, embora a nostalgia desbloqueava sua memória, na medida em que subia seus degraus:

— Eu preciso que você... quer dizer, você precisa crescer para herdar o que abandonarei. Você quer que eu seja conhecido como aquele que não deixou herdeiros aptos? Você quer que eu passe pela mesma vergonha que tive com seu irmão? Você deve mudar tudo isso Suzaki. É o meu… e o seu destino!

De repente um relâmpago apareceu na distância, seguido por um trovão que balançou as estruturas. O criado se assustava segurando no corrimão de pedra, embora Koji apenas acenava indo em frente, perdido nas lembranças de seu filho. 

Eu… — o príncipe gaguejava. 

Se você gosta e valoriza tudo que eu faço por você, vai dar um jeito em sua reputação. Vai sair daqui e cumprir seu Rito de passagem. Nem mesmo seu irmão se acovardou da situação. Satoru valorizou os sacrifícios que fiz por ele. E você?

— Tudo bem, eu farei! — respondia Suzaki, baixando a cabeça. 

— Espero que não me desaponte!

Já acima das nuvens, Koji havia alcançado o lugar paradisíaco, banhado pelo sol daquela manhã. Seus olhos foram guiados pelas colunas de mármore do mirante, local do seu encontro marcado, já visível por ele nas escadas.

Vá meu filho. Espero que depois desses anos, chegue aqui como um homem de verdade! Eu sei que você vai conseguir, porque eu escolhi você! 

Após ter dito estas palavras, via Suzaki mais novo seguindo o trajeto para os limites do território Ao. Atingindo o topo, as costas frágeis cobertas pela jaqueta azul do menino, eram substituídas no presente pelos ombros largos do Heishi Celestial que o aguardava. 

Suzaki deixava a luz daquele amanhecer desimpedido acariciar seu rosto, ainda de olhos fechados se perdia em suas lembranças:

Eles não conhecem esse mundo como eu. Estão com medo, por isso querem controlá-lo. Vou mostrar para meu pai que os diferentes podem discutir numa mesa sem os horrores da última batalha.

— Isso seria uma revolução e tanto — apertava a mureta com as mãos, lembrando das palavras de Onochi — Mas terminar uma é mais difícil que começar.

— Farei o que for preciso! 

A memória em sua mente, pintava o quadro da imperatriz exibido a ele pelo seu pai em sua volta, cujo rosto pronunciava somente uma frase: 

— Você me desapontou.

Sem abrir os olhos, Suzaki deixou a brisa atravessar seus cabelos suavemente, ao contrário da dor que sentiu, junto ao sangue escorrendo pelo ombro quando sua aura azul crescia pela primeira vez na sua infância. 

Temos que tratar de continuar o treinamento — estendeu a mão ao garoto ferido no chão — Não há tempo a perder, não é Suzaki?

O príncipe se encolhia do frio, mas já podia ouvir bem os passos de Koji, que abria um largo sorriso, a poucos metros de seu filho agora de olhos abertos. Suzaki tirou sua espada da bainha, apontando para face do Imperador, fazendo-o recuar a mão estendida. 

— Responda — Suzaki olhava para sua espada, depois para seu pai — o que eu sou para você?

— Então me convida para cá e me destrata cobrando explicações? — ria balançando a cabeça — estava errado em esperar uma atitude diferente vinda de você.

— Uma hora, disse que precisava de mim. Na outra ordena minha morte porque descobri que mentiu para mim durante toda a vida — aproximou a ponta da sua espada — Como espera ser recebido depois que me fez passar naquele lugar.

— O que aconteceu contigo foi… infeliz. Mas — deslizou os dedos pela lâmina — não foi por ordem minha.

— Daisuke, Tadashi, só agem com seu comando! — balançou a arma afastando a mão que a segurava — Sabia que poderia perder o trono se a verdade viesse à tona, por isso quis acabar comigo como fez com Asami. 

— Pare com esse drama, você está aqui vivo, não está? Por que mataria minha melhor criação? — erguia as duas mãos — além disso, se a verdade fosse revelada, não seria só eu que perderia meu título — os dois se encaravam — Como pretende fazer tudo que quer sem o título de Heishi Celestial que eu te dei?

Ignorou a lâmina, indo em diante com os olhos do príncipe o seguindo a cada movimento:

— Você não deve saber, mas os Sora sempre foram os rejeitados da corte. Daisuke viu nossa briga como uma oportunidade de fazer o Império voltar para o comando antigo — passou por Suzaki, recostando no parapeito — ele iria te matar me deixando sem herdeiros, e então se aliar aos outros membros da nobreza, incluindo os Tsuki.

— Que garantia tenho disso? — disse Suzaki, abaixando a espada — você é um Sora e é o homem mais poderoso do império. 

— E isso me custou mais do que pode imaginar. Antes de mim, os Sora nunca tiveram um Imperador sequer — ao lado do filho que guardava sua arma, contava os fatos do passado:

“Sempre dedicados a trabalhos menores na corte, assistimos os Chisei expandirem nossos domínios e os Tsuki os governarem das sombras. Revezando-se um com o outro, eles transformaram esse reino em um Império. Nós éramos os párias, vivendo de suas raríssimas caridades, mesmo com o título da nobreza.”

A história contada passou diante dos olhos de um Koji mais novo, que observava quase uma dezena de crianças correndo pelo jardim aos fundos do palácio imperial. Elas brincavam diante do garoto isolado num balanço debaixo de uma árvore. 

Seus olhos baixos saltaram ao ver uma menina entre o grupo. Cabelos escuros, combinando com os olhos, destacados por sua pele clara e vestido branco. Com o passar do tempo, a diversão entre as crianças da corte se aquietava, isolando a garota. Abrindo a oportunidade aguardada por Koji, que foi ao seu encontro com flores em mãos. 

— Y-Yua — sua fraca voz fazia todos observarem — Para você.

A princesa com o rosto avermelhado ameaçava pegar o presente, quando de trás do rapaz, viu seus amigos mais altos e fortes o pegaram pelos braços o arremessando ao chão. 

— Não pode falar mais alto, Koji? — um deles colocou a mão no ouvido — Eu não tô te ouvindo — o chutou no chão, ao tempo que os outros gargalhavam.

— Que patético, pra que perder o tempo com um Sora.

— Nada disso, Yomi — agarrava o agredido pela camisa.

— Não precisa machucar ele, Haruki — pediu Yua.

— Sabe por que gente como você me irrita? — cuspiu no garoto caído — Porque não tem coisa pior do que lixo que pensa valer alguma coisa — as agressões continuavam. 

Limpando a saliva do seu rosto, Koji tentava se levantar, somente para ser chutado de volta ao chão, dessa vez sendo puxado pelos pés. O grupo de garotos arrastaram o menino por alguns metros, até uma espécie de bueiro. 

— Se você não sabe o seu lugar — levantou ele do chão, lhe tomando as flores — Pode deixar que eu te mostro! — jogaram esgoto abaixo. 

Caindo sobre os resíduos do castelo, Koji gritava por socorro até cair em lágrimas. Tudo que recebeu de volta foram suas flores arremessadas de onde veio. 

“Aquela humilhação nunca saiu da minha cabeça. Tolerei horas aquela imundice até que deram falta. Mas foi perdido no odor sufocante, ouvindo as risadas do alto que percebi: Poderosos existem, pois esse mundo permite a existência daqueles alvos de risadas. No fim eu só precisava ser além de um alvo. 

Com essa sabedoria, passei a respeitar minha posição, engolindo todo o desdém, mas sem esquecer que… eu quem deveria por último de todos ao meu redor. Foi com essa mentalidade que espreitei, até a oportunidade aparecer.”

Nos corredores antigos do palácio, nobres e Heishis carregavam seus familiares desfalecidos nos braços de um lado para o outro. Alguns até mesmo ficaram inconscientes no meio do caminho. Koji, agora mais velho, apertava seu peito com uma respiração fraca, lutando para sair da cama.

“Criamos os Midori em parceria com os Kiiro na esperança de que esse novo poder pudesse nos colocar à frente dos Aka. Entretanto, esse poder não foi criado e sim tomado de nossas energias para formar a nova cor. O fenômeno natural e até então desconhecido, ficou conhecido como Pulsação, matando inúmeros das duas cores envolvidas. Poucos dias depois, descobri algo ainda maior.”

Apoiado pelas saliências externas do palácio, Koji escutava um debate das janelas da sala do trono:

— Que grande plano o seu, majestade. Agora veja o que essa aposta nos rendeu?

— Acalme-se, Haruki — Yomi tomou a palavra do imperador — Ninguém poderia prever uma coisa dessas.

— A situação está igual em todo o Império. Com certeza, será o mesmo nos Kiiro. Os vermelhos descobriram em pouco tempo e começaremos uma guerra enfraquecidos!

— Foi uma aposta — resmungou o imperador, recostando-se no trono — temos tempo para fazer outra, a maioria dos mortos são plebeus apenas — tranquilizou.

— Desgraçado! — Haruki apontou uma espada — escolheu criar mestiços com uma  nação estrangeira invés de confiar no nosso poderio militar, não tem direito de agir com desdém!

— Saia daqui! — bradou Yomi, levantando sua arma em resposta — como ousa desafiar o imperador?!

— Não se esqueçam que esse trono é seu por pouco tempo — guardou a arma se retirando — e não será de um Tsuki novamente. 

De uma janela do alto Koji se esgueirava, arregalando os olhos com as últimas palavras dita por Haruki que soaram como uma música para seus ouvidos.

“No Império, cada família pode nomear um candidato. Os Tsuki tinham poucas chances. Já os Chisei tinham Haruki, com Yua prometida a ele. Para vencer seus inimigos, precisa se tornar a solução dos problemas deles.

Com os meus anos trabalhando como escrivão no palácio, não demorou muito para descobrir e explorar a infidelidade dos Heishis. Cobrando pelo meu silêncio e outros favores, designei Haruki a uma viagem solitária às pressas. Na calada da noite, eu mesmo espremi a vida fora daquele corpo indefeso, esmagando seu pescoço com minhas próprias mãos.

Tadashi haveria de disputar a guerra, logo tanto os Chisei quanto Tsuki estavam sem um nome qualificado. Quando me candidatei, a maior parte dos Heishis já me apoiava, seja por dívida ou gratidão. Meu golpe final foi oferecer a paz entre as famílias, num casamento entre as casas da nobreza. Yua era finalmente minha.

Somente depois entendi que minha vitória havia se tornado uma benção escondida para os Tsuki. Herdei uma guerra que não era minha e já estava perdida antes de começar. Logo depois os Midori afastaram nossas tropas de seu território. Tornei-me o bode expiatório pelos erros de meus antecessores. Havia somente um meio de garantir minha sucessão: o Heishi Celestial. 

Através dessa tradição esquecida, eu entregaria um guerreiro capaz de tudo, conhecedor de tudo. Um vingador da corte, para chamar de meu.”

As nuvens abaixo reluziam com a tempestade vindoura. Pai e filho lado a lado conversavam em um raríssimo momento. Suzaki, que até aquele momento ouvira o relato de Koji, recuou do parapeito para questioná-lo:

— Seu plano foi perfeito, exceto por um detalhe: Asami.

— Era linda, sabia? Cabelos e olhos azuis, como os seus.

— Como pode falar assim? 

— Beleza exterior nem sempre quer dizer a mesma coisa para a pessoa por dentro. Asami, era como muitas mulheres do seu ofício. Como se tratava de uma diversão… infame, mantive discrição.

— Até ela engravidar.

— Não, até Satoru falhar no rito. Asami era uma aproveitadora das melhores e conseguiu o que queria de mim, mas eu não estava ali para negociar com a ralé. Enviei os Heishis atrás dela para assustá-la. Quando tentou matar a criança para evitar seu castigo, eu tinha outros planos.

— Dohana entregou uma poção enfraquecida. Ainda assim, Asami ainda poderia ter me matado. 

— Você subestima a responsabilidade que uma mãe sente pela sua cria. Na barriga é uma coisa, vivo na sua frente, chorando por ajuda, é outra. Prometemos livrá-la da punição caso nos entregasse a localização da criança.

— Outra das suas mentiras. Ela foi parar nas Trevas, Dohana me contou antes de me jogar lá.

— Ainda você com essa história? Asami não morreu por ordem minha. Foi uma vingança pessoal da baronesa.

— Que você aceitou sem pensar duas vezes — bateu na mureta — mas uma peça não se encaixa… Você me disse que a imperatriz morreu no meu parto.

— Ah, ela — levou a mão ao queixo, erguendo a cabeça para o céu — Quando soube de você, ela recusou o papel de mãe que a ofereci. Então, precisei tomar as medidas cabíveis.

— Espera — se afastou por um momento — você… o que fez com Yua?!

— Foi díficil mas… é nesses momentos que nossa sabedoria cresce — reparou em suas próprias mãos.

— Você a matou! Traiu ela e ainda passou a vida toda exibindo ela como uma forma de me motivar, até com o quadro! — gritava acusando seu pai.

— Eu amava Yua, mas o amor é frágil e frustante… se priorizar ele, você será o alvo — passou a caminhar na direção do príncipe — eu precisava estar acima dessas relações, para que nada ficasse em nosso caminho. Isso nunca foi uma disputa entre mim e você, e sim nós dois contra a corte e o mundo. Eu te criei para que quando chegasse a hora lutasse ao meu lado, quando ninguém mais faria.

— Para que eu matasse por você — se afastava a cada passo do imperador.

— E não é isso que fazem as outras nações? — cruzou os braços — Para quem prega tanto sobre união, já se perguntou por que os vermelhos nunca tiveram um incidente com mestiços? Eles viram o que a pulsação fez conosco. Acha que eles rejeitam os outros povos por um preconceito infantil? É tudo sobre poder, por isso eles são o que são.

— Você não é nenhuma vítima — apontou a espada novamente — Fala tanto sobre o egoísmo dos reinos, mas nenhuma atitude que já tomou na sua vida deixou de ser em benefício próprio. Consegue justificar o assassinato até de sua mulher, mãe de seu filho! — cerrava a face.

— Yua, Hariku ou Satoru, são apenas minhas conquistas, sacrifícios para algo maior — encostava seu peito na ponta afiada — você sabe bem o que é isso… no fundo somos iguais. Capazes de tudo por aquilo que queremos. 

— Eu e você não temos nada em comum! — levantou a voz, recuando até bater com as costas em uma mureta. 

— Vamos ver — dava um passo atrás sacando um sino do bolso.

Com o toque do objeto, dos arbustos, um homem de boina carregava um prisioneiro cuja cabeça estava coberta e os braços amarrados, o colocando de joelhos diante de Suzaki. 

— Deseja vingança? — removeu o saco de pano, revelando o rosto de Daisuke amordaçado — Eu concedo a você, com uma proposta. 

O prisioneiro ergueu a cabeça, cruzando olhares com Suzaki que o reconheceu arregalando os olhos, percebendo a expressão de desespero do homem ao rendido.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

   

 



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