Nisoiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume III – Arco 8

Capítulo 63: Maldições

Quando suas amarras romperam, Suzaki jogou os braços para onde podia. Era uma montanha de pessoas nas suas costas, usando dentes e unhas para perfurarem sua carne e rasgarem suas roupas.

Aos gritos, ele jogava o peso das suas costas nas paredes, soltando um de cada vez. Quando o último foi jogado de volta ao chão, Suzaki finalmente caiu de joelhos.

— Isso não está acontecendo — sussurrou a si mesmo, segurando sua cabeça.

O ar fétido do buraco invadia suas narinas e intoxicava suas feridas. Uma mistura de sangue, lama e fezes preenchia o chão em que estava. Vazando pelas telhas de madeira que bloqueavam a saída, os relâmpagos denunciavam o que havia por baixo daquela camada de sujeira. Um crânio fitava sua cabeça baixa diretamente.

Suzaki apertou os olhos e balançou a cabeça com força antes de levantar. Com pressa, ele correu para a parede e começou a escalar.

— Eu vou sair daqui — arranhou as pedras, apoiando os pés para escalar — Eu não posso ficar aqui — empurrava as paredes para baixo, até cair.

Novamente, os prisioneiros se amontoaram nele para outra vez serem chicoteados para longe aos gritos, tapas e pontapés. Eles voltaram após uma segunda, depois terceira e então quarta tentativa frustrada do príncipe.

“Está tão longe…”, pensava, esticando a mão para o topo, notando uma gota de sangue cair sobre sua face.

Enquanto encarava suas mãos feridas, os prisioneiros retornavam a atacá-lo. Mas dessa vez seu corpo não respondia. 

Quando finalmente se colocou de pé, sendo puxado em todas as direções, ele cerrou seu punho e o enterrou no peito do primeiro agressor que viu.

O estalar seco dos ossos reverberou pelo poço, intimidando todos ali que ficaram em um silêncio mortal, exceto pelo choro de dor do ferido, que se arrastava por debaixo das águas.

— O que eu estou fazendo? — virou a cabeça para as paredes e voltou a escalada.

Com as horas se passando, a chuva cessou. As unhas do príncipe rachavam a cada pegada nas pedras, gerando gotas de sangue que escorriam pela sua palma e gotejavam para o fundo.

Quando tentou um novo apoio com os pés, a parede cedeu ao seu peso derrubando-o de volta ao abismo. 

Dessa vez, sua queda espirrou todo aquele líquido sujo para os lados, como uma pequena onda. 

— Todo mundo só vai até a metade — uma voz mais velha cortou os ouvidos do jovem — Eles enceram o alto todo dia para não deixar ninguém escalar.

— Não me interessa — respondeu Suzaki, empurrando os prisioneiros famintos para o lado.

Voltando a subir, Suzaki caiu antes mesmo de apoiar os dois pés na parede. Suas unhas descolaram da pele, fazendo-o gemer de dor.

— Você ainda tem tempo, desfrute. 

— Tempo? Eu não tenho tempo! — Cerrou os punhos, forçando a dor — Tenho que sair daqui agora!

Na sua direita, sentado com as costas escoradas, estava um senhor de cabelos brancos e barba densa, vestindo uma malha com ombreiras.

— Estamos falando de tempos diferentes — coçava a barba — Você está falando do tempo de sair. Eu tô falando da água — apontou para seu ouvido.

Uma corrente, fluindo por perto. O som era tímido, mas a água abaixo de Suzaki ondulava na altura de seus tornozelos.

— Estamos abaixo de um rio — apontou para cima com o polegar — Quando chove, a água sobe. Quando sobe… — desceu o dedo. 

— Esse lugar será… — concluiu Suzaki, vendo um osso boiar entre suas pernas — Submerso.

— Leva algumas horas até a água subir pelo menos.

Pisoteando as águas, ele ergueu o homem do chão pela malha:

— Como eu posso sair daqui? Responde, agora!

— Não tem saída. Só a escolha de como vai morrer. Se continuar abrindo feridas irá pegar infecção ou coisa pior. Eu prefiro morrer de fome. 

— Deve haver um jeito! — o pressionou contra a parede — Por onde a água sai?

— Pelo mesmo lugar de onde entra — apontou com a cabeça para uma grade de ferro, por baixo da água — Ela só escoa quando o nível do rio desce.

— Se eu ficar aqui por um dia sequer… 

— Eu tô aqui há alguns. Já vi um pessoal que durou uma semana e meia, nada mais que isso.

— Como você sabe disso tudo? — perguntou o soltando.

— Eu já desovei muita gente aqui. Ganhei a vida assim, mas perdi ela também pelo visto.

— Se trabalhou aqui, sabe como sair! 

— É o contrário. Senão, já tinha saído — o jovem recuava com a resposta — relaxe, vai durar mais tempo que eu, se é que isso importa pra você. 

As gotas escorrendo pela tábua no topo caíam sobre eles. Parando outra vez para olhar ao redor, Suzaki viu alguns prisioneiros rastejarem pela água, pegando em ossos para roer. Outros estavam enrolados nos próprios braços, mordendo suas peles repletas de bolhas. 

O homem que havia esmurrado mais cedo naquele dia estava agarrando seus pés. Incapaz de dizer uma única palavra, ele abraçava o tornozelo do príncipe enquanto chorava de dor.

— O que alguém faz para acabar num lugar como esse? — questionou-se o príncipe, levantando o homem.

— Deixa esses animais. Usam mais as bocas que a mente.

O sujeito nos braços de Suzaki lambia sua camisa ensanguentada até ser despejado num canto.

— Eles são pessoas!

— Eram pessoas. Cruzaram o caminho errado e estão amaldiçoados.

— Eu nunca vi isso — analisou o homem que socou, reparando nas suas feridas abertas.

— A baronesa usa esse lugar para descarte desses tipos de doenças. Normalmente aparece entre as prostitutas e os clientes. Eles tentam esconder, mas não adianta. Estão amaldiçoados pelo destino. 

— E qual maldição causou para estar aqui?

— Eu só tentei tirar alguém daqui, mas ela foi morta durante a fuga — ria, levando a mão ao rosto — que patético, pensar que uma vida fosse compensar todos que joguei aqui. Minha consciência me traiu e agora vou sentir o que eles sentiram — elevou seus olhos ao teto.

Suzaki olhava ao redor, ao tempo que água já batia em sua cintura. Passava as mãos na estrutura, percebendo que era feito de pedras e parte de tijolos. 

Uma pequena onda atravessou o príncipe e bateu na parede, perturbando os ladrilhos. 

— Você disse que Dohana usa esse lugar para descarte. Parece antigo, a água está desgastando as estruturas — apoiou-se em um canto.

— O que tem?

— Quando a água subir mais, posso forçá-la contra a estrutura. 

— Só tem um problema — ergueu um dos braços — estamos à beira de um precipício — levantava o dedo indicador — Se danificar a estrutura, vamos todos cair para nossas mortes.

— Mas, talvez...

— Se é assim que quer morrer, vá em frente — interrompeu virando-se para a parede.

Suzaki, por outro lado, deslizou suas mãos pelas extremidades e forçou os tijolos para frente, sentindo suas fragilidades. Depois recostou-se como seu companheiro e começou a meditar.

Distante dali, os pássaros anunciavam a chegada de um novo dia, sobrevoando montanhas, banhadas por tímidos feixes de luz que atravessavam as grandiosas nuvens no céu. 

Descendo as escadas da sua casa, uma garota observava o caminho da ave, concluindo: 

“Ufa, parece que a temporada das tempestades está próxima do fim”. 

Enquanto amarrava as cestas de palhas que carregava, não demorou muito para o céu ser novamente coberto de cinza. Foi então que se preparando para partir, a garota reparou num conhecido correndo em sua direção.

— Ryo? O que você… 

— Kyoko — interrompia ofegante, olhando para um lado e para outro — precisamos conversar. 

— Estou indo buscar comida. Não quer esperar? — descia as escadas com as mãos cheias. 

— Então vamos — pegou uma das cestas. 

Kyoko tomou a dianteira, cruzando as trilhas, contornando os mesmos estreitos de sempre, só que dessa vez, avançando por outros limites mais distantes. Pelo caminho, ela pôde observar os campos que já visitou no passado. Todos consumidos pelas tempestades.

Durante o trajeto, Ryo quebrou seu silêncio:

— Suzaki sumiu.

— Como assim?! Ele passou aqui faz uns dias.

— Como ele estava da última vez que o viu? — perguntou Ryo enquanto afiava seu único olho em cada canto.

— Machucado e estranho. Nunca vi ele daquele jeito. 

— Então ele passou por aqui depois. 

— Depois do que? — a pergunta foi respondida com um empurrão de Ryo, levando os dois para uma moita atrás de um tronco.

O caolho se jogou por cima da garota tapando sua boca com as mãos, ao mesmo tempo que fazia sinal de silêncio. Pouco segundos depois, três homens de armadura se fizeram visíveis. 

Quando passaram, Ryo se ergueu junto com Kyoko. Seu olho, por outro lado, estava nas pegadas deixadas pelos sujeitos:

— Essa foi por pouco.

— Nunca vi soldados por aqui — retomou com as cestas do chão. 

— Estão cada vez mais frequentes na região — voltaram a caminhar — Por isso eu vim para cá. Nas cartas, eu encontrei uma pista para Suzaki. Agora, ele sumiu depois de checá-la. Pode ter descoberto algo lá e não quis me contar.

— Ele deve ter seus motivos. 

— A última vez que os Heishis se tornaram agressivos nessa região foi quando Suzaki viajou para o deserto — parou de caminhar — Eles voltarem em tão pouco tempo só sugere uma coisa — repousou as cestas no solo. 

— Suzaki é forte — lançou suas mãos sobre as plantações — Ele sempre volta. E quando isso acontecer, só de olhar aqueles Heishis vão dar meia volta. 

— Pode ser, mas todos tem uma fraqueza — levou a mão sob o tapa olho — Às vezes fico pensando se sua força de vontade tenha o levado para um problema de onde não pode escapar. 

— Sabe de quem está falando? É o Suzaki — pegou em seu braço — pode muito bem ter viajado para o exterior, só. 

— Ele me avisaria, mesmo que fosse para a fronteira com os Kuro como faz, nunca seria sem aviso. É por isso que vim. Kyoko. Suzaki pode estar em perigo e eu preciso saber se ele deixou alguma pista. 

A garota soltou o braço inclinando a face para o chão, com os olhos semi abertos. Quando negou com a cabeça, Ryo suspirou e levou as mãos à cintura. 

— Achamos comida pelo menos. 

— Sim — erguia a cabeça com um sorriso de leve — Obrigada, Ryo.

Os dois retomaram o caminho de volta para casa. Ryo, entretanto, voltava a martelar sua coxa com os dedos:

— Kyoko me diga, por que vê Suzaki como um herói? Além do motivo dele ter te salvado é claro.

— Sei que não devia passar de uma espécie de gratidão, mas… — elevou seus olhos para o céu — Suzaki é diferente. 

— Diferente como? 

— Desde que perdi meus pais na “guerra do sangue”, sempre me perguntei o motivo de eu merecer isso. A resposta eu soube quando meu irmão se foi nas disputas posteriores — apertou as mãos entristecendo a face. 

— Sente falta deles?

— Eu era muito nova quando meus pais se foram, mas lembro bem do meu irmão. Mesmo sozinho, ele nunca deixou faltar nada em casa. Meu irmão, era forte para suportar e eu era fraca, e talvez… por isso eu mereci passar por essas perdas. 

— Não diria que é assim que funciona — se aproximou. 

— A questão é que: se somos pessoas tão descartáveis a ponto de sermos armas de guerra, por que Suzaki se importa conosco? Por que eu mereceria algo assim também?

— Entendo, estou começando a entender essa “diferença” — dizia Ryo, já vendo a casa de Kyoko na distância — Acha que consegue assumir daqui? — ofereceu a cesta — Preciso voltar para casa.

Aceitando o pedido, Kyoko tomou a segunda cesta nas mãos e voltou para as suas irmãs. 

Por outro lado, Ryo tomou o cavalo que havia deixado próximo. Durante seu caminho, se pôs novamente a pensar: 

“Aquele líquido seco no ataque falso, só pode ter sido uma armadilha. Por que não pensou nisso, Suzaki?” 

Acima do poço, os Heishis estavam de guarda à beira do precipício bem à frente deles. Alguns espiavam por entre as frestas da tábua, já outros sentavam ao redor de uma pequena mesa de madeira, jogando moedas.

— Caso dez que eles não passam dessa noite.

— Duvido. O rapaz é o Heishi Celestial, esqueceu? Deve ser casca grossa.

— Criado a vida toda num castelo? Se pá, morreu do coração assim que viu o que tinha lá embaixo — levantou-se da cadeira e foi até o poço — Ei, vossa alteza, se ainda tá vivo dá um sinal! 

As risadas ecoavam até o fundo, mas não penetravam nos ouvidos de Suzaki. A manhã do dia parecia morta com o céu negro, com nuvens carregadas. 

A água já subira o bastante para alguns boiarem. O velho de cabelos brancos havia se libertado das ombreiras, a fim de permanecer acima das águas. 

O brilho de um relâmpago, fez Suzaki vislumbrar seu reflexo nas águas assim como os corpos submersos abaixo dele. Após isso, apenas se estirou boiando na água, fitando seus olhos com o topo. 

— Não vai tentar mais nada? — percebia o gesto — Está quase na hora. 

— Você já disse, se eu fizer isso, todos podem morrer — estendeu a mão ao topo — mesmo que seja o único jeito. Não seria… justo. 

— Rapaz, olhe para nós — puxava seu braço — ou melhor, escute — apontou o dedo para cima, com as risadas ecoando — isso não é mais sobre justiça, você quem decide. 

— Está me dizendo que eu posso decidir se essas pessoas vivem ou morrem da pior forma possível? — Se reergueu encarando o velho. 

— E não é assim que sempre funcionou?  — abriu os braços — Neste mundo quem decide são os poderosos. 

— Eu não queria isso! — socou a água. 

— Pode acreditar, ninguém aqui queria, mas todos nós fomos vencidos na força — se escorou em um dos cantos — a propósito, sou Yuzuru.

O jovem comprimiu os lábios e ergueu a cabeça para a tábua. As águas do poço se agitaram. Um dos prisioneiros sucumbiu e foi submerso bem na frente de Suzaki, que ainda estava imóvel.

— Sou Suzaki — respondeu o rapaz, mergulhando.

Estava escuro, sujo e estreito. Ele nadou próximo ao fundo, onde fechou os olhos e uniu as mãos novamente.

“A água deve limpar o resto da seiva da noite da minha pele. Mesmo assim, tenho poucas chances”, refletia, deixando sua energia fluir pelo corpo.

Um prisioneiro submerso, lutando pela sua vida, perturbava a concentração do príncipe. Mesmo de olhos fechados, escutava bem acima dele, a fraqueza na remada de seus braços, a pesada água arrastando ele para o fundo. 

“Yanaho, agora eu entendo, o mundo, a promessa… é tudo grande demais. Na minha volta, queria impedir que algo como a Vila da Providência jamais se repetisse. Mas… a desgraça e crueldade estão nas entranhas, onde nem ao menos imaginássemos que poderia existir, como esse poço”, prendia a respiração. “Nesse exato momento, eu sou o único que ouve a agonia dessas pessoas… eu também sou muito pequeno. Essa é minha maldição”

Suas mãos brilhavam com uma luz branca, emitindo um kazedamu que sacudiu o poço. 

Algumas pedras caíram sobre as águas, porém o lugar ainda estava de pé.

“Também entendi que todos nós estamos muito distantes daquela promessa. Então, ainda que o mundo seja grande, os responsáveis por ele são pequenos como nós. Por isso não vou deixá-los escapar, não haverá impunidade”.

A primeira rachada fraca, gerou uma ferida em seus braços. “tente de novo”, ordenou a si mesmo. 

Seu próximo pulso de energia estremeceu até mesmo a superfície. Os Heishis todos correram para a abertura, quando perceberam rachaduras na terra. O lugar estava cedendo.

“Mais uma vez!”, mais cortes se abriram “sinta a dor, as mentiras, decepções!”

Seu fôlego estava no limite. Com um último esforço, ele soltou um terceiro kazedamu, que mal balançou as águas.

“Preciso de ar”, abriu os olhos, seu coração disparou.

Bem na sua frente, o sujeito que estava se afogando o agarrou, trazendo ambos para o fundo. Lá, a água penetrava nas narinas, inundava a boca de Suzaki.

“Tem que ser agora!”, juntou as mãos uma última vez. “Foque na dor!” 

Sem fôlego e numa fração de segundo seu pânico, sua dor, desferiu outro kazedamu. Este cuspiu um jato para fora do poço como um gêiser, rompendo a superfície e terminando de erodir a construção.

No começo, todos ali embaixo foram soterrados. Em poucos segundos, os detritos correram montanha abaixo, varrendo tudo na beirada, inclusive os Heishis.

Suzaki era acertado por todas as direções, ao mesmo tempo que tinha a água dentro de si empurrada para fora com cada impacto até que se agarrou a um galho seco exposto nas paredes do abismo. 

Ele emergiu da enxurrada de terra, porém não sozinho. Segurando uma das pernas do príncipe com a própria vida, estava um prisioneiro quase desfalecido.

— Segura firme — gritava Suzaki, ainda grogue — Eu vou nos tirar daqui.

O homem não respondeu, porém depois que o deslizamento cessou, Suzaki começou a escalar de mãos nuas. 

A cada fincada de seus dedos no paredão de rocha, um grito de dor ecoou pelo lugar. 

A pele de seus braços estava tingida com o sangue dos cortes abertos pelo kazedamu. Suas pernas tremiam e a respiração falhava. 

Prestes a atingir o topo, o peso do homem agarrado à sua perna fazia seus pés vacilarem no apoio. 

Quando deu mais um salto, seus joelhos e mãos deslizaram pela rocha, descendo alguns centímetros antes do topo.

“Só mais um pouco”, pedia a si mesmo, quando um vento gélido soprou sobre ele.

Os trovões estremeceram seu corpo e seus dedos estavam prestes a vacilar graças à chuva. Suzaki colocou a cabeça por cima dos ombros para vislumbrar o abismo debaixo dele e sentiu um frio na espinha. 

Com um nó na garganta, Suzaki gritou ao homem agarrado a ele:

— Estou sem forças para subir nós dois. Posso levantar minha perna um pouco para você se agarrar à montanha e subir esse último trecho sem mim. Você consegue?

O homem estava desmaiado, com sua testa vermelha em sangue. Suzaki o chamou outra vez e não recebeu nada além do silêncio.

— Por favor… — pediu Suzaki, encostando sua testa no paredão.

Lágrimas desciam pelo seu rosto. Suas mãos escorriam pelas pedras, prestes a cair. Sem olhar para o que havia abaixo dele, o príncipe ergueu sua perna livre e começou a pisotear as mãos que o seguravam.

— Me desculpa… — pisou outra vez, contendo os soluços.

Sem aviso, tudo que ele pôde ouvir de confirmação foi o suave ruído do corpo do prisioneiro cortando a chuva daquela noite, enquanto caía para sua morte.

Suzaki reuniu forças e deu o último salto para a liberdade. Retornando à superfície, ele cambaleava pela floresta escura até desabar, apoiado somente pelas suas mãos fatigadas. 

Apertando a terra molhada nos seus dedos, o jovem de joelhos, trincou os dentes, soltando um berro antes de enfiar a cabeça por baixo dos ombros, chorando copiosamente.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

   














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