Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume III – Arco 10

Capítulo 85: Verdadeira Presa Pt.1

A plateia prendia o fôlego em antecipação. O açougueiro forçava-se contra Yanaho, sangrando, cuspindo e batendo em tudo que estava abaixo de seu largo corpo. Nas arquibancadas, Mitensai mexia a cabeça de um lado para o outro para entender o que acontecia. Noriaki, apoiado em muletas, discutia a luta com Dai:

— Com certeza o Açougueiro está infiltrado a mando do Chefão, assim como foi com o Raito.

— O Chefão é ganancioso demais para perder o poder em um torneio qualquer. Ele também é esperto demais para trapacear de maneira escancarada.

— Esse açougueiro, ele sempre respondeu a todas as gangues — disse Mitensai — agora sabemos a quem ele serve de fato. 

— Estamos mais perto dele do que nunca — cerrou o punho — ele vai pagar por tudo isso — completou Dai.

Abaixo deles, Yanaho lutava para respirar. A armadura de carne de seu oponente, vazava por suas roupas rasgadas, pressionando o plexo do garoto. Foi então que ele segurou o rosto do açougueiro, cerrou o outro punho e começou a esmurrá-lo para fora de si.

A cada golpe, ele sentia algo espetar sua palma aberta. O homem em cima dele estava mordendo sua mão. Yanaho gritou mas continuou a bater, até que salpicou seu punho com o próprio sangue.

“Desculpa, Dai… Imichi… Esse é um risco que preciso correr”, seu punho brilhava em vermelho.

Com um punho rubi, Yanaho arremessou o açougueiro para longe. Rapidamente ele dissipou a luz de suas mãos. Todos ficaram sem entender o que se passava, porém não deixaram de vibrar.

De cima, Kemono levou sua mão ao ombro de Imichi:

— Ele é muito forte. Deve ser frustrante se segurar.

— Ninguém viu seu iro vermelho — disse Imichi, encolhendo os ombros — Ele ainda está no controle.

Os dois lutadores se erguiam do chão.

— Carne importada? — comentava o açougueiro entre risadas — Já me trouxeram alguém diferente como você para mim. Eu não sabia na época. Era jovenzinho que nem você, só que melhor arrumado. Ai, queria tanto poder cerrar aqueles ossinhos.

— De quem você está falando?

— Ah eles me deram um nome, mas… Eu esqueci! Mas aquele rostinho inocente, os olhos azuis. Nem teve coragem de usar aquela espada de duas pontas…

Yanaho mal deixou seu oponente terminar a frase. O açougueiro jogou seu corpo para defender. A espada do mirim ficou presa entre os pedaços de carne, mas ele apoiou as duas mãos e rasgou aquela couraça morta uma vez. Desviando de um braço gordo e desengonçado, Yanaho passou sua lâmina outra vez, traçando o corpo até toda sua proteção escorrer pelas areias. 

— Assim você só me deixa com mais fome, garotinho — o açougueiro juntou as mãos para um soco.

Antes que pudesse descer os braços para um golpe, ele recebeu um gancho direto no queixo. Yanaho apoiou seus pés em cima dele até derrubá-lo debaixo dos seus pés.

— O que — chutou seu rosto — você sabe — depois pisoteou — sobre o Suzaki?!

— Pus o dedo na ferida? — cuspiu sangue em risadas.

— Fala logo! — puxou pelo pescoço.

Kemono espiou os camarotes. O representante já estava de olho nele e Imichi.

— Todo mundo aqui vive perdendo a cabeça. A gente não precisa de mais problemas. Ele vai comprometer a gente mais do que o homem que nos visitou naquele dia. 

— Está falando do líder de facção? — Imichi se virou para Kemono. 

— Sim, Hideki né? Uma pena que a vinda dele deu a prova que eles precisavam de onde Dai vinha — apontou para o representante olhando para eles — Eles saberem é uma coisa. Agora, toda essa gente…

Imichi afastou o olhar e prendeu a respiração. Yanaho terminava de espancar o açougueiro, mas nenhum sinal de rendição era dado, dando um soco após o outro, o jovem estava com a máscara e suas mãos ensaguentadas. 

Se levantava percebendo sua espada do lado do corpo imóvel do açougueiro. Sua visão trouxe a memória de um corpo no deserto, pronto para ser finalizado. 

“Faça mais!”, uma voz percorreu sua memória. “Se lembre da promessa… não retenha sua espada!”.

Com a lembrança da voz feminina e o olhar amarelo afiado de Yasukasa, Yanaho pegava a espada prestes a estocá-la no peito do agressor. Sua atitude foi interrompida por um sopro, em um piscar de olhos Imichi segurava seu braço.

— Está desacordado — tirou a espada de suas mãos — Volte para a arquibancada.

A plateia olhava de um lado para o outro, como se tivesse perdido algum detalhe. O Shiro aparecerá em pleno ar. Os guardas dos bastidores correram ao seu encontro:

— Ei, você não pode fazer isso.

— Desculpa, eu não encontrei vocês no caminho — ele coçou a cabeça, esboçando um sorriso desajeitado. 

As autoridades trocaram olhares entre si. O representante então declarou:

— A facção de Kenjiro, triunfa uma vez mais. Ganham o direito de visitar o Chefão. 

Kemono observava com um sorriso o Shiro retirando o vencedor do centro da arena, desviando seu olhar percebeu o representante mascarado acenando com a cabeça

Ele o seguiu para outra passagem subterrânea. Esperando por eles, estava o homem repleto de tatuagens. A passagem ecoava com seus murros em um bloco de concreto, ao mesmo tempo que lampejos verdes iluminavam a escuridão no ritmo de seus golpes. 

— Regente, ele está aqui — sinalizou o representante. 

— Você é eficiente — o bloco rachava com o soco — Até demais.

— A plateia não viu, mas ele — apontou para o mascarado — Asuma seu nome né? O cara que saltou na arena como o vento. 

— Sou um homem prático, Kemono — virou-se estalando o punho — ofereça algo mais concreto.

— O líder de facção deles não é aquele acabado do Kenjiro. Vi o verdadeiro partindo de onde se hospedam dias atrás. O nome dele é Hideki, é conhecido como “o pai” por sua comunidade de órfãos. O Shiro pensa que esta informação já é conhecida por vocês. Tudo que preciso fazer é atrair ele e sua turma, e serão todos seus. 

— Uma fera trabalha melhor encurralada, pelo visto — ria pegando no ombro de Kemono — Entendo porque nosso líder poupou sua vida naquela vez.

— Tenho muito mais a oferecer pelo preço certo. Basta devolver meus equipamentos de volta! 

— Leve-os até lá o quanto antes — voltava sua atenção para o bloco, onde seu próximo soco o partiu em dois — se não encontrarmos o Shiro, considere-se morto.

De volta aos fundos da arena, Yanaho ignorou os guardas que os empurraram para dentro, pegando o primeiro balde de água que viu para lavar o sangue do rosto. 

— Depois de tudo que passou, nunca imaginei que estivesse tentado a matar aquele homem — questionou Imichi, se aproximando. 

— Ele usava partes de pessoas mortas por ele como armadura — sacudiu as mãos molhadas — não entendo bem a justiça do mundo, mas nesse caso…

— Uma vez me perguntou porque Onochi te escolheu. Ele viu algo diferente em você  — cruzou os braços — Se quer ser como os outros, nada vai mudar.

Descendo das arquibancadas ao encontro deles, Dai e Mitensai apareceram.

— Se me permite, Imichi — dizia o filho de Hideki — eu conheci o açougueiro, é um maníaco sem pudor. 

— Suzaki quase fez a mesma coisa — dizia Mitensai, encolhendo os braços.

Yanaho e Imichi se viraram para ele.

— Mas ajudamos ele a se conter — Mitensai continuou — acho que mundo precisa de ajuda às vezes.

— Resolvemos isso depois, afinal você é maior do que essa luta — colocou a mão sob o ombro do mirim — por agora, preciso saber se consegue sentir Kemono.

— Está indo na direção norte, por que? 

— Eu o perdi de vista desde que desci na arena. Precisamos correr, com o que ele sabe, é perigoso ficar solto. Na verdade… ele nunca foi confiável.

Partindo dali em alguns metrôs, por entre as ruas de Chukai encontravam um lugar abandonado distante dos comércios. O lugar era um cativeiro bem reconhecível aos olhos de Imichi. Yanaho seguiu seus instintos até encontrar a corda com seu sangue logo na entrada.

— Ele sabia. Desde quando?

— Deve ter percebido quando fiquei mais perto dele, quando você foi lutar — Imichi levou a mão ao rosto. 

— Desde quando Kemono planejou isso? 

— Ele disse que descobriram sobre seu pai. Só não disse exatamente como. 

— Kaganshi ou… Raito! Ele deve ter me entregado! — os olhos dos garotos saltavam.

— Não, Kemono me contou que descobriu na visita surpresa do seu pai. Guardou essa informação de mim, talvez tenha oferecido a eles — começou a alongar as pernas — Hideki corre perigo.

— Ei, se você vai correr, como vamos chegar até lá? — questionou Dai. 

— Peguem a carroça de Kenjiro e venham logo depois. Eu chegarei primeiro.

O último aviso de Imichi foi acompanhado com o sopro de sua partida. Mitensai segurava o chapéu que escapou de sua cabeça, o restante retornou às pressas para o abrigo de Masai. 

Aprontando tudo e com poucas explicações, Kenjiro liberava seu veículo ao tempo que Masai observava os garotos brigando próximo a entrada, prontos para embarcar. 

— Ficou maluco, me deixar aqui? — puxava a carroça para subir — Hideki e as crianças estão em perigo! — gritou Noriaki.

Dai desceu do banco do condutor e o segurou pelos braços.

— Você mal consegue firmar seus pés, só vai atrapalhar — se impediu de completar — não vou deixar que nada de ruim aconteça. Depois de tudo não vai confiar em mim? 

— Já estamos atrasados — suplicou Mitensai — A viagem não é curta.

Kenjiro apareceu junto com Masai na ponte que liga as duas torres: 

— Aí, só não destruam minha carroça. Eu não tenho outra melhor. 

— Cuide deles, Masai — Dai subia no veículo. 

— Volte para a final — respondia, enquanto Gurai se enrolava em seu braço — Estou mandando.

Noriaki recuou, assistindo seus amigos partirem do bosque.

Em poucos minutos, Imichi chegou na propriedade de Hideki. Ele recuperava seu fôlego, colocando suas mãos sob os joelhos, na medida em que notava nenhuma perturbação no ambiente. Os guarda-costas do chefe o abordaram assustados.

Quando entrou no casarão foi recebido pelos órfãos perambulando pelo lugar. 

“Parece que cheguei a tempo”, percebia Hideki vindo até ele.

— Eu não quero a sua raça por aqui, se Dai lhe enviou…

— Dai está a caminho — interrompeu —  Você e todo esse lugar pode estar em perigo. Estou aqui para protegê-los. 

A explicação de Imichi levou a paciência e horas do dia. A noite caiu e os órfãos se preparavam para voltar a seus quartos, quando Hideki se levantou da mesa. Do alto da torre, um alarme soou. Antes que eles pudessem sair para ver os recém-chegados, a porta da casa se abriu. Os olhos das crianças brilharam com a visão.

— Mitensai! — uma criança corria para abraçá-lo. 

— Ei, Shiki. Não deveria estar aqui nessa hora — disse Dai. 

— Crianças não costumam conhecer limites. — caminhou Hideki com os braços cruzados.

Imichi se colocava entre os dois, até que Dai e Yanaho vieram logo atrás.

— Soube que conseguiu chegar até o Chefão — comentou Hideki — Isso foi tudo uma desculpa para essa reunião familiar?

— Na verdade — uma voz desconhecida veio do alto — ele foi além de minhas expectativas. 

Todos olharam para fora, uma figura de vestes pretas e olhos verdes brilhantes saltou da torre. Ele caminhou para a entrada vagarosamente. Sua pele tinha tom amarelado. 

— Quem é você? — perguntou Hideki.

— Não percebi ninguém chegando enquanto estava aqui — disse Imichi se colocando na frente de todos. 

— Vocês demoraram tanto pra chegar — ignorou os questionamentos, se aproximando pela entrada. 

— Esse é… — reconhecia Mitensai, perdendo ar. 

— Alguém precisa colocar ordem na casa — o homem proclamou, se virando para Imichi.

Com um estalar de seus dados, uma portal esverdeado brotou sob as solas de Imichi, o sugando sem aviso para uma origem desconhecida. 

— Esse portal — Dai, puxou sua espada — todos pra trás! 

— É ele! Seth! — gritou Mitensai afastando a criança.

Yanaho bateu no peito, se juntando a Dai.

— Sem o Imichi aqui vai ser difícil. Não vou me segurar.

Seth olhou de canto para Hideki, este aceno fez Dai cerrar seus punhos olhando para os que estavam atrás dele: 

— Pegue as crianças e fuja, Agora! 

Hideki relutou ao tempo que Mitensai correu para as escadas que levavam aos quartos dos órfãos e ficou de guarda. 

— Um Aka por aqui? — virou-se de costas — vejo que temos surpresas — abria o mesmo portal como antes. 

O brilho verde iluminou Dai e Yanaho que cercavam o sujeito que atravessou o portal.

— Volta aqui — gritou Yanaho saltando na frente.

— Yanaho, espera — exclamou Dai.

A ponta de uma lâmina surgiu de dentro da fenda verde. Yanaho levantou a guarda para se defender, mas foi logo arrastado de volta para perto do filho de Hideki. Alguém diferente atravessou para dentro da casa dos órfãos. O capuz e as vestes negras eram idênticas a de Seth, escondendo todo seu corpo, enfatizando o reflexo das afiadas espadas de duas pontas que carregava.

— Não é possível — disse Yanaho, congelado.

— Suzaki?! — perguntou Dai.

O espadachim sequer pronunciou uma palavra. Em vez disso, seus movimentos foram rápidos como um raio, atravessando a sala em busca de Hideki. Raízes brotaram das tábuas do piso, envolvendo seus braços e pernas.

— Mitensai, tira todo mundo daqui, agora! — gritou Dai — Eu não sei quanto tempo eu…

Suzaki forçou seus braços, arrancando as plantas do chão. Yanaho interviu cruzando espadas com ele logo em seguida, permitindo que Hideki se distanciasse. Contudo, sua defesa logo estremeceu. Uma corrente percorria seu corpo, o paralisando. Um chute no peito o arremessou para a parede da outra ponta. 

Suzaki então juntou suas mãos.

— Droga, isso é… — Yanaho reconhecia — todos, se abaixem! 

O sopro do kazedamu de Suzaki se tornou um vendaval, liberando um pequeno redemoinho, que começou a varrer todo o lugar. 

Mitensai estava abrindo cada porta, anunciando a evacuação, quando o chão sob seus pés cedeu por conta da habilidade de Suzaki. Os órfãos estavam longe, ele se segurava para não cair quando uma mão foi esticada para ele:

— Qual foi, a gente não pode perder você agora.

— Kin?! — foi puxado de volta para cima.

Atrás deles, a passagem de volta para as escadas estava com um vão para o andar debaixo.

— Anda, tem gente desse lado que vai ter que sair pela janela — disse ela.

O lugar estremeceu novamente. Dai fez nascer outros caules, que separam os braços de Suzaki. O príncipe renegado era amarrado por raízes mais firmes, ao tempo que os ventos cessaram, dando lugar aos gritos de ajuda dos órfãos, que desciam as escadas correndo até a saída. 

— Isso não… — Mitensai observava o jovem de vestes negras — pode estar acontecendo!

— Então é você mesmo — suspirava Dai, se aproximando de Suzaki preso — o que deu em você?

Os pés de Imichi não encontraram chão para pisar. Estava caindo na noite escura, acompanhado somente pela lua, as estrelas do céu e uma gélida brisa. Ele caiu em uma duna, deslizando até as areias logo abaixo. Olhando ao redor, reparou que estava no deserto Kiiro.

— Então é você — cuspiu areia da boca e se colocou em posição de corrida.

Uma luz ofuscante branca clareou o deserto, cortando as areias, chacoalhando a própria terra. Um estrondo grave assustava os animais e viajantes da madrugada, ecoando até as florestas que começavam a surgir no caminho do Shiro. Ele estava quase em Midori, quando o chão sobre seus pés sumiu. 

Ele caiu na noite, acompanhado pela lua, as estrelas e a mesma brisa gélida. Dessa vez, caiu de pé na duna. Um portal verde se abriu abaixo das dunas, de onde Seth saiu.

— Ainda não fomos devidamente apresentados, todavia sei que está familiarizado com minha técnica. Portanto, aceite o conselho de alguém mais experiente e desista.

— Parar agora? — chacoalhou a terra das roupas — Logo quando comecei a pegar o ritmo?

O final do corredor dos quartos tinha uma janela. Kin colocou a cabeça para fora e gritou para os guardas:

— Ei, me ajuda aqui!

Os homens se posicionaram na direção da janela. Um a um, os órfãos saltaram para seus braços. Quando sobrou somente os dois mais velhos, Mitensai deu meia volta:

— Pula também — avisou — Eu deixei um para trás.

— Quer morrer?! — gritou em ouvidos surdos — Ah, que droga vocês.

Kin saltou para os braços dos guardas. O restante dos homens de Hideki invadiram a casa, cercando Suzaki no casulo que Dai fez ao seu redor. Contudo, uma descarga elétrica implodiu sua prisão verde.

Um por um, o invasor eliminou os guardas que se amontoavam sobre ele, traçando a fila como um relâmpago. Dai criava vinhas para capturar seus pés, mas ele se mantinha pisando sobre os inimigos. As faíscas de seus golpes começaram a incendiar suas plantas.

Yanaho o interceptou com um kazedamu, o jogando contra uma parede, mas Suzaki lançou uma onda elétrica larga que o atingiu, neutralizada pela sua cura Aka. As chamas nas folhas se alastraram para a casa. Uma barreira de labaredas riscou a sala, separando Dai e seu parceiro de Hideki. 

“Droga não dá pra apagar. Se eu usar o Kazedamu depois daquilo, tudo pode desabar”, pensou Yanaho.

Mitensai saltava para o vão criado pelo ataque de Suzaki, descendo para a luta.

— Mitensai, temos que salvar os que restaram! — ordenou o menino de olhos vermelhos.

— Todos já estão fora. Só falta um — colocou a mão na boca — Shiki, cadê você?

Dai cruzou as chamas para enfrentar Suzaki. Com um giro de sua lâmina de duas pontas, ele abriu a defesa do Midori. A última coisa que ele viu foi um punho cerrado vindo direto para o seu rosto antes de acordar escorado nas paredes ardentes da casa.

Hideki não tinha para onde fugir. Suzaki se aproximou dele quando algo agarrou seus pés, saindo debaixo de uma mesa.

— Fica longe dele — gritou uma criança, chorosa.

— Shiki! — gritou Mitensai.

“O que essa criança faz aqui?”, Dai lutava para se levantar. “ Eu preciso tirar eles dessa”.

O pequeno batia e chutava as canelas de Suzaki até suas mãos suspendê-lo pela camisa. Hideki avançou contra o invasor, derrubando a criança no chão, mas foi logo retaliado com uma joelhada no estômago. O antigo príncipe ergueu sua espada.

— Sai de perto da minha família — Dai esticou as mãos.

As vinhas brotaram entre as tábuas. Mesmo destruídas rapidamente pelo fogo, elas se enrolaram no tronco de Hideki e a criança, os afastando da espada de Suzaki. 

Durante o trajeto que os trouxe para perto de Dai, eles deixaram rastro de sangue. Hideki começou a agarrar seu braço direito, jorrando sangue onde não havia mais uma mão.

— O que você fez?! — Dai observou a criança envolta nos braços de seu pai.

— Isso dói — Hideki dizia entre gemidos — mas ele está a salvo.

Com um tímido kazedamu, Yanaho espalhou as chamas para Mitensai pegar Shiki nos braços.

— Corram — avisou o mirim, correndo na direção do inimigo — Esse lugar vai desabar.

— E você? — Dai o agarrou — Eu não vou te deixar aqui.

— Vai embora — empurrou Dai, se preparando para Suzaki que vinha chegando — Eu sei o que tô fazendo!

Ao tempo que todos partiram, apenas os dois permaneceram dentro da casa. Yanaho atravessou o caminho de Suzaki. As chamas rodeavam os dois lutadores que cruzaram espadas entre si.

— Agora somos só eu e você — disse o mirim.

Após dois golpes defendidos por Suzaki, ele tomou distância e carregou seu kazedamu. Seu sopro, porém, foi direcionado para o teto. Uma parte do andar debaixo desabou sobre eles. 

Suzaki usou suas lâminas partindo os destroços acima dele, correndo para a saída, mas Yanaho se jogou nele.

— Aonde você pensa que vai? — se forçou contra ele — Ainda nem conversamos sobre essa loucura, Suzaki! 

Suzaki o chutou de cima. Yanaho não perdeu tempo, unindo as mãos novamente. O vento atingiu e rompeu os alicerces do local. Próximo da saída, o príncipe renegado pulou apenas para ter seu pé segurado pelo mirim que cuspia sangue dizendo:

— Se for preciso vou derrubar tudo em cima de nós!

Os destroços da residência de Hideki caiam sob os dois garotos, causando um estrondo ao redor.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

.



Comentários