Nisoiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume III – Arco 10

Capítulo 81: Primeiro Órfão

O dia seguinte amanheceu com uma nova rodada de confrontos na arena de Chukai. Enquanto os concorrentes assistiam das arquibancadas, o grupo de Dai se atentava a cada anúncio da próxima batalha. Foi então que o representante mascarado chamou dois novos competidores. 

O sibilo de cobra retornou aos ouvidos de Dai, que não tirou os olhos do combatente de túnica que descia pela escada ao seu lado. Seu oponente era um homem alto e forte de cabelos lisos e castanhos.

Contudo, o homem deu um passo para trás quando viu uma serpente com um verde brilhante rastejar para fora do capuz. Ao puxá-lo para trás, seu adversário se revelou como uma mulher de cabelos longos e pretos. Seu animal desceu de seu pescoço, se enrolando no cajado de madeira que ela sacava.

O representante deu as costas para os dois, retornando ao seu camarote. Mokukami puxou sua espada:

— Masai, a Rastejante. Pensa que me engana com essa marionete fajuta? 

Um corte largo e horizontal buscou Masai bem no tronco. Contudo, ela jogou as costas para trás, jogando os pés pro ar e dobrando os joelhos em volta da lâmina.

Antes que Mokukami se desse conta, sua oponente acompanhou a trajetória da espada, indo parar nas suas costas. Finalmente, ela apoiou seu cajado nos ombros do homem, permitindo sua serpente picar o chefe de facção.

Ele caiu convulsionando até morrer.

— Excelente, Gurai — a serpente voltava ao seu cajado após ser acariciada pela dona — menos um… 

Após o sussurro desferiu um golpe com seu cajado bem na cabeça do oponente que já estava desacordado no chão. O sangue escorria pelo cenário, espantando alguns ao redor, o grupo de Dai trocava olhares arregalados, ao tempo que ele mantinha seus olhos em Masai, que colocava novamente o capuz, voltando para as arquibancadas.

Sob uma areia suja de sangue, as próximas lutas foram acontecendo. O coliseu se esvaziava, abrindo a visão dos que permaneciam ali. Foi então que o chamado para luta foi ouvido por Dai, justamente contra o nome que esperava ver. 

— Bem que você disse que seria o Hiroshi — disse Noriaki. 

Seu oponente estava sentado alguns degraus abaixo deles, acompanhado por outro homem, mais novo, de cabeça raspada. Quando o representando o chamou para sua luta, aquele chefe de facção levantou sua mão:

— Os termos do meu combate serão alterados. Este ao meu lado lutará por mim. Já seu rival será um alguém da comitiva de Dai.

— Pedido reivindicado — sinalizou o representante — Então quem será seu oponente?

— Do que estão falando? — gritou Dai descendo as escadas. 

— Algum problema? — a pergunta do representante mascarado fez Dai se recolher — seu oponente tem maior importância na hierarquia, ele pode muito bem requisitar isso, agora escolha quem irá te representar! 

A intimidação do representante fez com que Yanaho, Mitensai e Kenjiro olhassem para Dai, que engasgou com as próprias palavras enfurecido: 

— Vejo que usou o dinheiro para outros custos — disse Dai, franzindo a sobranchelha, encarando o homem que tentou lhe subornar. 

Seus punhos cerrados fragilizaram após sentir um toque no ombro, ao se virar estava Noriaki o que sussurrou: 

— Já devia esperar por isso. Está tudo bem. 

Notava a mão de seu amigo estendida, pedindo sua espada. Entregando sua arma, Dai assistiu aos dois combatentes descerem para o ringue. Na medida que marchavam para suas posições, o oponente de seu amigo atrasou o passo, ficando lado a lado com ele.

— Engraçado ver você aqui.

— Essa não é a hora, nem o lugar, Haruto — Noriaki balançava sua espada

— Dessa vez você não pode fugir do combate. 

Imichi se aproximou de Dai pela direita, Yanaho pela esquerda.

— Se ele perder estamos fora, podia ter me escolhido — disse Yanaho. 

— Não é bom arriscar nossas identidades aqui Yanaho — respondia Imichi — fora que não sei o que aconteceria se soubessem de sua raça. 

— Aquele líder tentou me subornar ontem, provavelmente usou isso para me tirar do caminho dele — apoiou as mãos na mureta — vamos ter que se acostumar a possibilidade de eu não puder lutar e, confiar em Noriaki mesmo que ele não goste de lutar.

— Mas ele sabe? — questionou Yanaho.

A pergunta foi cortada pelo ressoar do metal abaixo. Cada passo a frente de um, o outro respondia com seu próprio. Uma batalha no centro das areias havia começado até que os metais colaram um no outro, se recusando a ceder. Nesse momento, Haruto tirou uma das mãos da empunhadura, desferindo uma bofetada na face de Noriaki.

Depois de um chute nas canelas e um coice com o cabo da espada, Noriaki cambaleou, apoiando-se no chão em três membros. 

— Poderia dizer que esperava mais — ergueu sua espada — Mas seria mentira. Até nunca mais, fujão.

A lâmina desceu, encontrando um brilho verde saltando da pele de Noriaki. Quando a luz abaixou, Haruto encontrou uma defesa firme na espada segurada por apenas uma mão de Noriaki. Colocando a segunda, ele forçou-se contra seu oponente até voltar a ficar de pé. 

— Então você é daqueles. Não importa, essa corzinha não vai te safar dessa.

Das arquibancadas, Yanaho deu um sobressalto. Kenjiro as mãos para o alto, suspirando aliviado, enquanto Imichi só abriu um sorriso no rosto.

— Na verdade — sussurrou Dai — ele me ensinou tudo que sei.

— Quanta praticidade alguém precisa ter — Imichi coçava o queixo — para despertar sua aura sem treinamento algum?

— Noriaki é órfão desde muito tempo, teve que se virar em meio ao caos que vivíamos aqui — observava os movimentos do amigo — ele não tem só a aura, o que mais tem é força bruta… já vi ele carregando todo tipo de coisa pesada — completou Dai. 

Noriaki atacava sem perder o contato com a espada de seu oponente, impedindo qualquer recurso como braço ou pernas de machucá-lo. 

— Sabe depois daquela vez, confiaram em mim  para trabalhos melhores. Reunir lenha, cuidar de gente velha, nada disso. Eu passei a andar com gente grande.

— Você e eu não medimos as pessoas do mesmo jeito.

— É, o trabalho que vai te matar, eu tô sendo pago para fazer — revidou com uma cabeçada.

Cambaleando, Noriaki subiu a guarda. O corte que acertou a lateral de sua espada, arrastou sua defesa para o lado, cortando o lado de seu rosto. Ele voltou a se apoiar no chão, mas logo ficou de pé.

— Pago para matar pessoas que você nem conhece direito. Como essa história com as bruxas melhorou alguma coisa? — girou a espada contra as pernas de Haruto.

— Melhorou para o meu lado — deu um passo atrás, pisando na espada — Podia ter melhorado para o seu, se não tivesse fugido.

— Você tinha me enganado!  — largou da arma e lhe acertou um soco no rosto.

Caindo em cima dele, Noriaki marretou a cabeça de seu rival quando foi chutado para longe. Em vez de recuperar sua espada, Haruto partiu para cima ainda de mãos nuas. O rosto de Noriaki tombou para o lado. Sua mão tentava alcançar a espada a centímetros de seus dedos. Uma memória brotou em sua mente.

Haruto e Noriaki estavam aos pés de uma carruagem virada ofegantes, com pedaços de madeira nas mãos, manchados de sangue. Os cavalos se soltaram, mas ainda estavam por perto. Estava escuro, nada à vista muito a frente. Nem mesmo a lua havia no céu. 

Jogados pela estrada estavam baús com a tranca arrancada. De dentro deles saíram espadas, facas e tochas.

— Esses bandidos vão se ver comigo! E agora correm, como uns bons covardes.

— O que estamos carregando? — a voz de Noriaki vacilava — Haruto, você disse que era comida!

Haruto correu para levantar a carruagem, mas seu parceiro não o acompanhou.

— Para quem são essas armas?

— Eu sei lá. Deve ser para dar jeito em alguma dona rabugenta. Eles prometeram uma grana boa. Anda logo!

— Meu trabalho não devia matar pessoas — andou até um dos cavalos soltos.

— Ficou maluco? Vai me deixar aqui? — via Noriaki montar no animal — Ei, volta!

Antes de partir, ele olhou para as espadas espalhadas no chão. Estava na mesma situação no presente, exceto que agora suas mãos alcançavam por uma. 

Sua cabeça girava. Sangue escorria pela sua testa. O peso de Haruto o amassava contra a terra áspera. Foi então que Noriaki jogou os braços no rosto de seu inimigo, arranhando sua face. 

— Covarde! — ele tombou para trás — Isso não adianta de nada!

Notando o ferimento em sua bochecha, se distraiu com a dor permitindo Noriaki alcançar sua espada. 

Com o metal em mãos, impulsionou seus braços contra o chão levantando Haruto que subia sob suas costas. O oponente caiu de costas para o chão, ao tempo que Noriaki girou seu tronco enterrando a espada de raspão no ombro do sujeito caído.

— Não tem coragem nem de me matar pelo visto — ria Haruto notando o leve ferimento — por mim tudo bem, ganho a grana e tenho arranhões como prejuízo. 

— Isso já não é problema meu — voltou seus olhos as arquibancadas, vendo seus amigos comemorarem e o representante acenar declarando sua vitória. 

— Isso Noriaki! — gritou Mitensai. 

— Aposto que vai virar as costas que nem naquele dia, não entra na minha cabeça o quanto de dinheiro que jogou fora! 

— Naquele dia, eu não queria me envolver com a caça às bruxas — Noriaki ficava de pé — acabei esquecendo das verdadeiras vítimas pela obsessão de sobreviver. E mesmo recuando ainda assim, não fiz o suficiente para que as coisas melhorassem — apontou para o oponente — eu podia ter te detido lá atrás. 

— Faz logo então, fujão! — gritou. 

— Tem razão — pegava na espada enterrada. 

— Ei, calma aí! — se levantou de supetão — você não… 

Sua queixa era interrompida por Noriaki limpando o sangue da arma e a guardando, estendendo a mão dizia: 

— A mais valor na vida do que no dinheiro, Haruto. 

Os dois se encaravam ao tempo que o representante mascarado se aproximava, Haruto virou de costas com as mãos sob o ferimento, deixando Noriaki sem resposta alguma. 

— A facção de Hiroshi foi derrotada — olhou para Dai — Seu território agora é seu para fazer o que bem entender.

Nas arquibancadas, Dai suspirou aliviado. Yanaho deu um tapa em suas costas:

— Você tem um mestre e tanto. 

— Eu não tenho mestre — deu de ombros. 

Kenjiro entrou no meio dos dois, os abraçando pelo pescoço com os braços:

— Se eu soubesse que ele era tão bom, tinha colocado no seu lugar. O que acha?

— Vamos celebrar a vitória — dizia Imichi, afastando Kenjiro dos meninos — Com moderação desta vez. Subestimamos a capacidade dos chefes de alterar as regras. Temos que nos preparar. 

— Imichi — o rosto de Yanaho empalideceu — eu perdi o Kemono…

— Onde foi a última vez que o sentiu?

Antes das lutas acabarem, Imichi percorreu a direção apontada por Yanaho a respeito de Kemono. No meio de uma mata seca e abandonada, uma cabana nos arredores de Chukai. A casa estava vazia, de pessoas ou de qualquer móvel ou utensílios. O lugar foi sugado, debandado. Havia somente uma única pessoa nos fundos, deitado sobre uma rocha, mastigando uma espiga.

— Mesmo que tente não pode fugir de mim.

— Não estou tentando, mas costumo descansar após uma refeição. 

— O combinado foi retornar antes do anoitecer, não fugir em plena luz do dia. Não esqueça que estou com suas garras — se aproximou Imichi. 

— Devia me agradecer por cumprir com o que pediu — estendeu as mãos para casa — Isso é um cativeiro. Líderes de facções estiveram aqui. 

— Estiveram, está abandonado. O que esperava conseguir com isso? — perguntou Imichi, tapando o nariz. 

— Pelo que ouvi dos nossos rivais na arena, meu antigo líder agora não tem uma base fixa. Ele se locomove se hospedando entre as maiores facções, que estão espalhadas por todo território. E parece que chegou a vez de Chukai. 

— E ele já teve alguma? — levava uma mão ao queixo.

— Acho que sempre foi assim, eu só nunca perguntei. Eles vinham até mim. Se não tem onde procurar, tem sempre onde se esconder — pegava sua máscara — Ele está de olho em cada ponta dos Midori.

— Se quem procuramos domina as técnicas que diz, tenho uma ideia de onde possa estar. Nos últimos meses, visitei o território Kuro somente para ser teletransportado para fora. Seu líder poderia fazer a mesma coisa e mesmo assim, eu não fui expulso daqui.

— E o seu ponto é?

— Talvez este homem de quem fala e o que procuramos não sejam a mesma pessoa.

— E você falando para não subestimar ninguém — ria se levantando — Acha mesmo que vai resolver as coisas sem ele aparecer? Ou está racionalizando seu medo? 

— Não estaria trabalhando pra mim se não quisesse encontrá-lo — caminhava ao lado — Posso encontrar gente melhor para fazer esse serviço, se continuar me trazendo a lugares assim.

— Eu acabei de lembrar que tem um lugar para procurar — passou o polegar acima da boca — bem debaixo do nosso nariz.

Quando Imichi terminou de checar Kemono, as lutas do dia haviam terminado. De volta à propriedade de Kenjiro, ele reuniu os garotos no bosque detrás da casa. 

— Para que nos trouxe aqui, Imichi? — perguntou Yanaho, se sentando no chão — Alguma coisa com o Kemono?

— Kemono está sob controle. Agora você, servirá de exemplo para mim. Nossos amigos de iro verde esconderam um segredo de nós.

— Não foi a intenção dele — Dai ficou entre o Shiro e seu amigo mais velho — Noriaki nunca deveria ter lutado. 

— Estou mais surpreso do que zangado — olhou por cima de Dai — Como descobriu seu iro? — perguntou para Noriaki. 

— Era comum sermos emboscados por bandidos. Comecei muito jovem, grupos menores, onde cada um queria o seu dinheiro e que se dane o resto. Um dia fiquei para trás, fiquei enfurecido, mas tinha que voltar para casa seguro. Quando percebi, já estava lutando com esse brilho. 

— Tem dificuldade em controlar as emoções. E então a aura aparece.

— Depois das bruxas, iro deixou as pessoas com um… Mal olhado. Eu mesmo não sabia da existência dessas coisas até ver o Suzaki com meus próprios olhos — disse Mitensai com as mãos na cabeça — Dai nunca me contou sobre Noriaki.

— Usar a aura não é algo recomendado por aqui, em algumas épocas era confundido com a bruxaria… — encarava a palma da mão — na verdade até hoje. Eu mesmo pensei que era um quando despertei. 

— Eu nunca te pedi para usar isso — Dai colocou a mão em seu ombro — Só queria que me ensinasse.

— Despertar a sua aura foi o melhor que pude fazer. Ao menos você sabe controlá-la. 

— Espera, espera — Yanaho ficava de pé — Por que nunca usou seu iro esse tempo todo?!

— Não é tão simples. Nunca pudemos treinar muito, para não chamar atenção.

— Pois, isso acaba hoje. Se quiserem vencer, precisam quebrar as barreiras e se abrirem para a possibilidade de descobrirem um pouco sobre si mesmos.

Dai desviou o olhar de Imichi, porém Noriaki respondeu de imediato:

— Outros chefes vão tentar me explorar para vencer Dai. Eu aceito seu treinamento.

— Espera, você? Tem certeza depois de tudo o que…

— Eu não vou mais me esconder. 

— É isso, precisamos ficar forte se quisermos proteger uns aos outros — se empolgou Mitensai ficando entre todos ali — eu quero treinar também! 

— Mas você não tá pronto pra lutar. 

— Está tudo bem, você também já passou por essa fase, Yanaho. 

A dúvida saiu do rosto de Dai. Sua aura floresceu em seu corpo por um momento até começar a piscar e sumir.

— É o máximo que consigo.

— Sua praticidade está fraca. Noriaki passou uma boa parte da vida em batalhas com iro, agora você é uma outra história.

— Prati-o-quê?

— Tudo no seu tempo — Imichi jogou os braços para trás das costas.

Os próximos dias foram de treino, luta e repetição. Mesmo na iminência de novos adversários, tanto Dai quanto Noriaki evoluíram a cada hora, minuto e segundo de prática com Imichi. Seus ensinamentos refletiam diretamente na mais imediata das batalhas. 

Dai estava mais forte. Os oponentes que o forçaram para fora dos confrontos, encontraram Noriaki mais confiante. As constantes vitórias os mantinham vivos na competição. 

Um mês após o início do torneio, o bosque onde treinaram pela primeira vez já era praticamente um campo aberto. Dois sujeitos com fitas verdes amarradas nos braços, cruzavam espadas de madeira. A medida que um atacava outro defendia, até que um golpe de baixo pra cima fez o choque entre os objetos soar, alcançando os ouvidos dos que assistiam. 

— Não se esqueça do real objetivo do exercício, Dai — Imichi cruzou os braços. 

Nenhum detalhe escapava de Mitensai, de pé atrás de Imichi. Ao lado do Shiro estava Kemono bufando pela boca, com Yanaho um pouco mais afastado, do outro lado do campo. As risadas do oponente de Dai, paralisaram a luta por um momento. 

— Qual a graça, Noriaki? — perguntou erguendo a madeira. 

— Deve ser difícil para você — avançou com um golpe da esquerda para direita — nunca ganhou de mim, parece que não vai ser agora. 

— Se for o caso — abaixou, obtendo o torso exposto de Noriaki — acho que você quem deve lutar na final! 

Dai estava prestes a soca-lo, quando seu braço foi segurado. Os grossos braços de Noriaki sustentaram todo o corpo de Dai, o arremessando ao chão. Ele ficou deitado, virado para o céu noturno. 

— Então levante-se! — gritou Noriaki — pois é você quem deve lutar. 

— Pensei que você fosse o melhor — se levantava. 

— Nem sempre o melhor vence — atacava obrigando Dai a se esquivar — mas não é isso que importa de verdade, e por isso você já me venceu.

— Do que está falando? — avançou pelos lados. 

— Desde que acendemos o braseiro, fiquei dividido com o que fazíamos. Depois da minha primeira luta, tudo clareou e agora olha o quão longe chegamos. Tudo porque começamos a acreditar. Em nosso iro, nosso treinamento, nossos novos companheiros. 

Dai cessou seus golpes. A espada de Noriaki estava inclinada para o chão: 

— Desde que seu pai me achou, sempre assumimos a derrota mesmo sem nunca ter lutado. As facções eram muito maiores que nós. Tanto tempo passei escondido, pensando que interferir machucaria mais do que ficar parado, mas você me ajudou a perceber que não é sobre ser melhor, mas sim sobre acreditar. 

Os olhos de Dai piscaram verde por um instante. Ele deu um forte pisão que fez brotar raízes do solo, agarrando os pés de Noriaki. 

Segurando a mão armada do oponente, pegou em seu braço usando seu corpo como barreira para derrubar seu oponente para o outro lado. O peso de Noriaki sob suas costas o fez gritar, ao tempo que a fita verde sob seus ombros caía junto ao oponente. 

— Meu pai — se afastou deixando apenas Noriaki no chão — passou uma vida inteira sendo obrigado a aceitar o que odiava. Ainda criança percebi isso, e então, meu sonho se tornou dar uma vida melhor para ele. 

— E hoje — pegava a fita verde do chão — para os Midori — sorria Noriaki estendendo a mão. 

— Acho que sim — amarrou em seu braço novamente. 

De repente, Mitensai começou gritar para os dois lutadores, apontando para o solo:

— Você conseguiu, Dai! As raízes.

— Acaba só quando os dois estão de pé — alertou tentando levantar o primeiro órfão. 

— Deixa que eu me levanto sozinho — zangou Noriaki. 

— Acho que nem preciso perguntar como os dois venceram — disse Imichi.

Os três começaram a rir. Dai e Noriaki se aproximaram uma vez mais apertando as mãos. Kemono percebia a alegria deles cruzando os braços, enquanto Yanaho ergueu seus olhos para as estrelas que infestavam o céu daquela noite:

“E então vamos vencer novamente, né, Suzaki?”


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

 



Comentários