Volume II – Arco 7
Capítulo 55: Vilão Pt.2
Reparando na espada cravada na areia, Nagajiyu olhou para Yanaho através do reflexo da lâmina, antes de virar.
— Por que errou? Acabe com isso logo — disse o Kuro.
— Algo vai acabar hoje, mas não será eu ou você — sentou-se no chão, de frente para os gêmeos — Você queria saber por que fiz tudo isso, acho que agora sei. Eu quero acreditar em algo melhor.
— Algo melhor? — riu — Olha para nós. Às portas da morte pelo fútil desejo de matarmos uns aos outros, tendo falhado em nossas missões.
— Só é fracasso quando desistimos. E minha missão ainda não acabou.
— Os cadáveres dizem outra coisa — alcançava o corpo do irmão ao lado — sabia que isso iria acontecer e mesmo assim… Não dói menos — retirou a espada da areia e jogou para Yanaho — Eu já perdi tudo, termine logo com isso.
— Quer saber, você tem sido realmente um fracassado! — pegou a espada nas mãos para ver seu reflexo — Vir até aqui, travar uma pequena guerra, deixando os ideais de seu pai para trás.
— O sonho do meu pai morreu junto com ele.
— Errado de novo. Se o seu pai era quem você disse que foi, o legado dele não é como ele viveu e sim o que acontece assim que ele morre, independente do progresso. O sonho dele devia viver em vocês, mas desistiram de tudo!
— Fácil para você dizer, não sabe pelo o que tivemos que passar. E mesmo que desse certo, pensa que o mundo vai esquecer do que fizemos aqui? Por algo muito mais antigo que nós dois, mataram meu pai.
— Eu não sabia dizer pro seu irmão porque as espadas são forjadas, mas eu sei porque ergo a minha. Quando era criança, a primeira vez que usei uma de madeira, foi para impedir um Senshi de cobrar impostos de uma pessoa.
— Mais uma batalha fútil.
— Não, esttava me arriscando pelos outros. É mais valioso proteger uma vida com a espada do que tirar uma. Vocês escolheram usar a espada para matar essas pessoas, em vez de proteger o que seu pai deixou. A situação piorou por causa de vocês!
— A única coisa que pude carregar do meu pai foi a vingança, nada mais.
— Você disse que o ciclo sempre passa adiante e — arremessou a espada para longe — é por isso que não vou fazer isso. Estou me libertando deste ciclo.
O olhar de Nagajiyu seguiu o objeto arremessado, pouco depois de se voltar ao seu adversário, cuja atenção já estava toda voltada para algo atrás do Kuro. Ele virou-se para ver e reparou que não havia nada além do pôr do sol.
— Do que está falando?
— Alguém como eu nunca deveria ter sido alguém na vida — continuou Yanaho — Mesmo assim, meu pai nunca desistiu de lutar pelo meu sonho. Deviam voltar e consertar o erro de terem vindo até aqui.
— O que pensa estar fazendo? Quer que eu fuja daqui? — bateu no peito — Depois de tudo que fiz?!
— Tudo tem um propósito. Estou dando algo que ninguém te deu: uma chance de terminar diferente. Às vezes a resposta não está onde procuramos, mas ela está esperando ser encontrada. Viva, só assim vai poder fazer valer a pena.
De repente, Nagajiyu sentiu algo puxar sua camisa. Ele olhou para baixo e viu seu irmão. Encarando Hirojiyu e depois Yanaho, Nagajiyu se levantava com dificuldades, colocando o gêmeo nos ombros.
— Isso vai acabar te matando — afirmou Nagajiyu, começando a andar.
— Vou continuar lutando — respondeu Yanaho, deitando por completo, em descanso nas areias.
O jovem Kuro começou a andar pelo deserto, olhando para trás repetidamente, esperando por alguma reação diferente de Yanaho. Contudo, ele permaneceu resignado com sua decisão. Nagajiyu olhava para trás sem entender, quando foi puxado pela manga da blusa:
— Vamos… irmão…
— Aguente firme — lágrimas desciam, rente à face do jovem que fitou os olhos para o horizonte à frente.
As estrelas já se brilhavam no céu, quando o Sol cruzou completamente o horizonte. Na distância, Yanaho podia ver Nagajiyu cair, levantar-se e continuar vagando, ao passo que a gelada brisa da noite já se anunciava pelo arrepio da sua espinha.
Quando os gêmeos atingiram o topo de uma duna, Nagajiyu perdeu as forças, deslizando com seu irmão até o chão. Ele o pegou de volta, e continuou vagando, mas quando olhou em volta já não estava mais no deserto.
Debaixo dos seus pés estavam terra, grama, e mais a frente flores escuras, visíveis somente pela luz da Lua que surgia no céu. Pelos lados, reconheceu as largas encostas e distantes planaltos. Eles haviam retornado a depressão Kuro.
— Como chegamos tão rápido? — disse a si mesmo, reparando em um brilho verde de trás — será que...
— Nagajiyu… — balbuciou seu irmão, interrompendo — aqui é…
— Os Campos de Ibu, a entrada principal de nosso território — ajoelhou-se, pegando a mão do gêmeo — aguente firme, mais um pouco e teremos ajuda!
— Sempre quis vir aqui… certo? — sua voz falhava, com os olhos se fechando — Eu sempre recusei.
— Não pense nisso agora, só respire por favor! — começava a chorar, quando um portal de cor verde abria-se novamente. Um homem alto de olhos esmeraldas e vestes pretas cruzou a fenda, se colocando à frente dos dois.
— Pelo menos… pude te mostrar… — tossiu, perdendo fôlego, enquanto sua boca e olhos se tornavam como de uma estátua já sem vida.
Imediatamente Nagajiyu começava uma tentativa de reanimá-lo, enquanto o homem à frente apenas observava.
— Nada disso, Seth, me ajuda! — pressionava as mãos no peito de Hirojiyu — Você não pode morrer! Não vai embora! — Notando o homem quieto, gritou — anda, me ajuda! Faça alguma coisa!
— Patético, ele está morto — respondeu Seth, tirando seu capuz negro.
Desistindo de reanimá-lo, Nagajiyu abraçou o corpo frio de seu irmão, aproximando-se de sua orelha dizia em soluços:
— Por quê? Por que eu não posso ir junto com você?
— A morte realmente é um tédio, e pensar que meu lorde enxergava um enorme potencial em vocês dois — dizia, circulando Nagajiyu com seus passos — se tivessem o escutado, ele não teria morrido.
— Você… não sabe de nada — murmurou Nagajiyu.
— Que seja — estalou os dedos conjurando uma bolha ao redor de si mesmo e dos gêmeos — mas queremos estar de olho em tudo.
Em poucos segundos, a bolha sumiu, transportando-os para outro lugar, longe dali.
Em Oásis, os olhos tímidos de Kusonoki se abriram encarando o teto de um edifício desconhecido. Recobrando a consciência, o sujeito se erguia com seus ouvidos perturbados por discussões na sala ao lado, porém o peso de seu corpo o jogou na cama novamente. Aos poucos, sentiu passos pesados indo até ele. Virando a cabeça, viu uma garota que carregava um copo d'água em sua direção:
— Senhor Kusonoki, finalmente acordou.
— Princesa Hoshizora? Deviam ter ido embora e… — pegava a bebida e, prestes a bebê-la, encarava o líquido por um momento — o que está havendo?
O Principal ficou sentado na cama com a ajuda de Hoshizora, quando ouviu gritos vindos da sala ao lado:
— Como podem ser tão incompetentes?! Eu quero saber onde está meu pai!
— Ele sumiu e voltamos da evacuação a pouco tempo — dizia Hoshizora, de cabeça baixa e voz trêmula — depois que minha irmã soube que a pirâmide foi erguida. Não sabemos o que houve e você não acordava e…
Sem perder tempo, Kusonoki ficou de pé, indo até a sala na qual Yasukasa berrava. Ao abrir a porta pôde vê-la apontando dedos aos Senshis, enquanto era segurada por sua mãe.
— Já falei, alteza, o patriarca havia informado que partiria junto com vocês na evacuação — um deles se explicava — Houve algum engano.
— Chega Yasu, eles não sabem de nada! — a mãe a puxava pela manga.
— Eu fui o engano — afirmou Kusonoki, revelando-se — Ele enganou a todos nós.
— Você! — Yasukasa correu pegando Kusonoki pelo uniforme — Onde é que ele está? — perguntou com os olhos prestes a saltar de seu rosto.
— Ele quis se responsabilizar por tudo. Eu queria impedi-lo, pensei que estava de acordo, mas terminei derrubado por um sonífero — abaixou a cabeça, mordendo a mandíbula — sabe bem onde ele está.
Respirando fundo, Yasukasa soltou o Senshi e chamou seus homens para perto.
— Precisamos ir!
— Do que está falando, Yasukasa! — gritou sua mãe.
— Eu não vou ficar parada — interrompia a passada após cruzar a porta para olhar sua irmã — Espero que vocês fiquem aqui até eu voltar.
— Eu vou com você — disse Kusonoki, chamando a atenção da sala — Se aqui ainda não foi invadido, pode haver tempo!
Com a máxima pressa, eles deixaram Oásis à caminho da pirâmide. Todos portavam lanternas de fogo penduradas em seus cavalos, além de estarem cobertos da cabeça aos pés para se protegerem do frio da noite.
Quando chegaram, o esquadrão de Yasukasa circulou pela pirâmide, em busca de algum vestígio de luta, mas a escuridão não os permitiu enxergar as rachaduras na construção. Tudo parecia abandonado, alguém da cavalaria encontrou algo.
— Um sobrevivente! Ele está ferido, tragam um cobertor — gritou um Kishi, acenando para o grupo.
O corpo de Yanaho estava aos calafrios. Suas feridas incharam, sua boca estava seca e seus olhos lutando para se manterem acesos. Aproximando o calor da lanterna de seu corpo, Kusonoki pôde reconhecê-lo mesmo através do rosto ferido.
— Deve ter fugido do ataque, está aqui há muitas horas — sugeriu o socorrista.
— Não — disse Kusonoki, olhando ao redor vendo uma espada jogada na areia — Com esses ferimentos ele só estava fazendo uma coisa: lutando. Foi enviado por mim com o primeiro time de interceptação dos invasores.
— Vamos entrar na pirâmide, com certeza terá mais pistas por lá — sugeriu outro Kishi.
— Essa pirâmide não se abre de qualquer jeito, precisa ser ativada pelo patriarca — dizia Yasukasa — Teremos sorte se encontrarmos qualquer passagem — apontou para Kusonoki — Você, cuide dele.
Deixado pelos cavaleiros, que começaram sua busca por uma entrada na pirâmide com sua líder, o principal cobriu o garoto, impondo as mãos sobre seu peito. Enquanto transferia sua energia para o mirim desacordado, ele pensava:
“Que garoto surpreendente. Sua fé nele não foi mal colocada, Supremo.”
Investigando mais de perto, os Kishis encontraram uma abertura na pirâmide. As tochas antes acesas já haviam esfriado, graças ao vento, restando somente a luz do luar, que iluminava pela abertura no topo.
Yasukasa disparou na frente de seus homens, reconhecendo o que estava no chão, banhado em luz branca. Seu coração batia mais forte a cada passo, quando ajoelhou perante uma peça de tabuleiro entre as vestes pesadas do homem procurado. Ela revirou cada tecido, mas nenhum vestígio de seu corpo havia restado.
— Procurem aqui dentro! — ordenava — Ele deve estar aqui. Não pode ter ido embora.
Yasukasa remexia nas roupas com maior ferocidade. Um de seus companheiros ao invés de investigar foi até ela.
— Princesa — ele encostou em seu ombro — Eu sinto muito.
— Eu não pedi para terem pena! — pegou na peça reparando na escrita “Rei”, se levantou cerrando o punho com o objeto em mãos — Quero que procurem!
Do lado de fora, Yanaho recobrava a consciência, remexendo-se com a energia que fluía pelo seu corpo.
— Melhor não se mexer.
— Você é o… — tentava pronunciar as palavras.
— Você cumpriu sua missão — recolhia suas mãos — Foi uma luta e tanto aqui. Pode sentar?
Em pouco tempo, Yasukasa e seus cavaleiros retornavam para perto do Principal. A princesa empurrou o jovem Senshi para o lado e se dirigiu imediatamente ao garoto.
— Ele já pode falar? O que aconteceu aqui? — disse Yasukasa, com olhos inchados.
Durante a conversa, Kusonoki reparou num dos cavaleiros carregando vestes reconhecíveis aos seus olhos.
— Está muito ferido, precisamos continuar as buscas aos demais, ainda não fomos até a fortaleza — respondeu Kusonoki.
— Não — disse Yanaho com a voz trêmula — todos morreram, só restou eu.
— Yanaho! — gritou Yasukasa, chacoalhando o garoto pelos ombros — eu preciso saber o que aconteceu aqui! Cadê o meu pai?
— Seu pai e eu lutamos contra os dois Kuro e… — engoliu seco — ele subiu até o topo, carregou um ataque muito intenso. Quando vi, só restaram as roupas.
As palavras do mirim, fez com que os cavaleiros mais ao fundo se retirassem. Outros levaram as mãos à boca, segurando o soluço.
— E os inimigos?! — insistiu Yasukasa, com a voz trêmula.
— Havia dois deles. Eram gêmeos, mas um deles parecia… mais velho. Foi esse que sobrou de pé depois do ataque do senhor patriarca, só que eu venci ele.
— V-Venceu? Cadê os corpos deles, então? Só ele fugiu? Seja claro!
— Os dois foram embora — abaixou a cabeça Yanaho.
Yasukasa tirou as mãos dele e virou para seus homens:
— O que estão esperando? Vamos atrás deles! — berrava com os olhos cheios de lágrimas — Precisamos encontrá-los e pôr um fim nisso! Para ontem!
— Chegamos tarde — sussurrou Kusonoki para si mesmo, cerrando os punhos — Eu fracassei.
Os homens montavam de volta em seus cavalos, mas Yasukasa continuava de pé, imóvel, deixando as lágrimas escorrerem por seu rosto. Por sua vez, Yanaho correu para ficar de pé, sendo segurado por Kusonoki.
— Não… esperem! — todos ficaram paralisados — eles já foram. Eu… não pude impedir eles de irem. Já devem estar longe.
A princesa despertou de seu transe agarrando Yanaho novamente, gritando:
— Você disse que havia vencido o restante, como eles fugiram? Desembucha, o que você fez?!
— Ajudou na fuga dos inimigos?! — outro acusava.
— Espera! — disse Kusonoki, separando os dois — deve ter alguma explicação para isso.
— Eu vou procurá-los, mas quero que os restantes fiquem com os Aka — ordenou Yasukasa, partindo junto com seus homens subindo nos cavalos — Quero este sobrevivente detido até eu voltar!
— Espera, não pode fazer isso — gritou Kusonoki, sendo cercado pelos guardas.
Os cavalos dispararam pelo deserto, enquanto seu companheiro Senshi rendia-se aos cavaleiros que ameaçavam sacar suas espadas. Por outro lado, Yanaho se perdia em seus próprios pensamentos:
“Esperem… já acabou”, caía nos braços de Kusonoki novamente, desacordado.
Na madrugada fria, o silêncio permanecia na Capital Kiiro com a maioria dos moradores em uma vigília tensa, ansiosos pelo retorno da última expedição. Cavalos tomam a dianteira de uma carroça, cercada por outros Kishis, que trilhavam um caminho em meio às cidades do centro.
O primeiro animal tinha a princesa como guia, seguida por outros quatro vindo de trás. A cabeça inclinada para baixo por todos os que retornavam da caravana, por si só já declarando o estado de luto da derrota.
Com a chegada em definitivo à capital Oásis, o desembarque contou com guardas levando o mirim detido pelos braços, enquanto Kusonoki os acompanhava. Correndo em direção a irmã que descia do cavalo, Hoshizora se aproximava enquanto as duas eram observadas pela mãe.
— Irmã — chegava pegando nas costas de Yasukasa — onde está nosso pai?
A princesa que havia chegado se virava revelando seus olhos inchados, estendendo a mão para a irmã com a peça que a mesma havia dado ao seu pai antes de tudo. As lágrimas desciam junto às pernas de Hoshizora, de joelhos frente a cena enquanto a mãe se aproximava.
— Eu não pude fazer nada — disse Yasukasa chorando abraçando a irmã agachada.
As mãos de Kasa alcançavam as de suas filhas, em um abraço triplo, buscando confortar a dor da perda. Os soluços e gritos evidenciaram a morte do patriarca no confronto, sendo notada por todos ao redor.
Longe dali, num subsolo escuro, a temperatura do local fazia o jovem conduzido ansiar pelo lado de fora. Ainda fraco, seus olhos semi-abertos percebiam as celas entre duas paredes.
— Ele precisa ser recuperado antes disso — dizia Kusonoki vindo de trás — uma infecção e ele poderá morrer.
— Isso não é problema nosso, as ordens da princesa foi para prendê-lo — um dos Kishi respondia se virando — inclusive, a partir de agora terá que requisitar uma visita para encontrar com o garoto — completou, se colocando à frente do principal.
O outro que carregava Yanaho, abria uma cela mais ao fundo, jogando o jovem em seu solo úmido.
Jogado ao silêncio, a noite fria passou para o dia de maneira abrupta após o descanso. Por uma pequena abertura os feixes de luz do sol iluminavam o local cercado por quatro paredes, com uma delas cercada por ferros verticais.
— Mas… o que é isso? — pegou nos ferros tentando balançar.
“O que eu fiz para estar aqui? Eu só… cumpri com minha missão, eu não quis ajudar nenhum inimigo eu só…”, apoiava a cabeça nas barras, quando algo veio à memória.
— Se acha que vai ganhar uma medalha por isso, espere até o mundo querer compensar o certo com o errado... — dizia Sota segurando no ombro do garoto com a outra mão — Uma hora chega a sua vez.
Com a lembrança, ele tirou as mãos dos ferros gelados e levou elas à sua própria cabeça.
— Ajudar seu inimigo pode ser um ato de justiça, mas essa tarefa é para pessoas perfeitas, que não pertencem a esse mundo, não para garotos como você.
Yanaho apenas olhou uma última vez para a cicatriz na palma de sua mão direita, antes de lembrar de mais uma fala de um dos seus oponentes:
— Aqueles que querem ser um herói, se tornam o pior dos vilões.
— O que seria cumprir a promessa nesse caso, Suzaki? — sussurrou para si mesmo, levando a mão a cabeça.
Era uma manhã, o céu no deserto estava carregado de núvens cheias, revelando um dia incomum para um visitante comum, em uma vila antes amistosa, agora completamente destruída. Um cavalo parava em meio a uma vila consumida pelo fogo. O que restava das casas foi levado pelo vento, exceto por algumas fundações chamuscadas.
Ainda havia cinzas no ar, morte na atmosfera. Uma chuva fraca atingia os ombros pesados e incrédulos do rapaz encapuzado de baixa estatura, que descia da montaria, caminhando pelas casas até encontrar uma duna mais alta, exibindo uma lápide partida.
Chegando ao topo, reparou no pedaço de pedra faltante, enterrado parcialmente nas areias. Pegou o bloco, agachou até a altura da lápide e uniu os dois pedaços para formar o nome escrito nela: “Hajime”. Depois de verificar a identidade, ficou de pé e tirou seu capuz alheio a chuva, recebendo uma breve abertura entre as núvens, tendo um feixe de luz sob seus olhos azuis arregalados.
— Eu queria ter voltado para cá em outras circunstâncias, Hajime — dizia Suzaki, voltando-se para o que restou da morada da família, rangendo os dentes — era para eu estar aqui… para protegê-los! — ajoelhou-se socando a areia molhada.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.