Nisoiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume II – Arco 7

Capítulo 55: Vilão Pt.1

O horizonte e o Sol já estavam cada vez mais perto de se tocarem, colorindo o céu em laranja, quando o povo de Oásis continuava sua evacuação. No entanto, os recentes tremores e o surgimento de uma construção familiar, despertou a atenção de cidadãos e Kishis igualmente.

O novo edifício que se projetava no céu era uma pirâmide, coberta por calcário branco, recheada por blocos de pedra largos e alinhados, onde pelas frestas escorria areia. Em seu topo, uma ponta de bronze, que assim como sua superfície pálida, reluzia à luz do Sol poente a oeste, assim que uma nuvem de fumaça foi dissipada por uma enorme explosão.

Pendurados em uma de suas faces, os gêmeos se seguravam num bloco que se projetou para fora. Nagajiyu era erguido por seu irmão, aproveitando para recuperar o fôlego, escorando-se nas paredes externas, percebendo seus bolsos vazios:

— Acabou as bombas. Você está cada vez mais ferido, o que faremos quando eles saírem de onde se esconderam?

— O que fizemos desde que saímos de casa — limpava o sangue que escorreu por sua boca, enquanto as marcas em torno de seu corpo perdiam brilho — fique atento!

Em pouco tempo, a procura dos gêmeos era correspondida. Na face oposta à que eles estavam, uma abertura foi criada ao comando do patriarca. O som das roldanas internas e da areia que as comandava, despertou a dupla que corria até a origem para receber seus oponentes perdidos.

Provando a brisa vespertina pela primeira vez após o confinamento forçado, Yanaho e Osíris reconhecem os gêmeos chegando pelo alto.

— Está vendo o sem camisa — apontou Osíris para Hirojiyu — Deixa ele comigo, você fica com o outro. Foque no caminho e não na batalha.

— O que tem no topo? — Yanaho olhava para o cume, além dos dois adversários.

— Lá estarei próximo do Sol o bastante para criar algo que vai derrotá-los — impôs as mãos sobre a pirâmide, provocando outra mudança na sua estrutura — Siga pelo caminho que tracei e iremos confundi-los.

Os blocos salientes se recolheram para junto dos outros, ao passo que uma rampa externa, em formato de espiral, tangente à pirâmide, brotava das frestas. Um caminho de areia e argamassa, levando quase ao topo. Osíris não perdeu tempo e começou a subir pelo trajeto. Yanaho veio logo atrás. 

“Eu já havia passado e muito do meu limite me pondo de pé para voltar para cá. Tenho que restabelecer minhas energias, antes de tentar um novo Kazedamu, no meu limite o uso dele costuma fazer com que eu seja o único prejudicado”, deduzia o mirim, olhando as palmas das mãos. 

Hirojiyu saltou para o meio do caminho com seu irmão, mas um dos blocos se abriu, permitindo a Osíris entrar por ele. O gêmeo tentou chegar a tempo, mas a abertura se fechou assim que o patriarca cruzou por ela. 

— Como ele fez isso?

— Está controlando a pirâmide, ele ainda vai subir — olhou para o alto, e encontrou seu alvo já cruzando as rampas superiores — Ali! Está acima de nós!

Assim que seu irmão apontou, Hirojiyu usou as próprias mãos para cravar-se no calcário e cortar caminho pela pirâmide, escalando até a rampa onde Osíris estava. Abaixo dele, Yanaho chocava sua espada com a adaga de Nagajiyu. 

— Devia ter aproveitado a chance e ido embora — questionou o gêmeo — esqueceu tudo que falamos?

— O que o patriarca fez não muda as vidas que vão tirar se continuarem.

— Mas mudou as nossas! — afastou-se preparando outro ataque.

O punhal raspou pelo flanco de Yanaho, um ataque após o outro. Todos mirando a parte inferior do tronco do mirim. 

“Ele está forçando minha esquiva com o corpo. Assim meus pontos vão se abrir”, pensou girando sua espada para afastá-lo.

Yanaho balançou a espada contra a arma de menor porte, de modo que seu impacto pressionou Nagajiyu para beirada da rampa. O próximo ataque fez sua adaga escapar de suas mãos, caindo no deserto abaixo. Lançando-se contra o mirim, o Kuro foi contido rapidamente com um empurrão e depois pressionado contra o calcário da pirâmide, de onde pôde ver de relance Osíris e Hirojiyu duelando.

O patriarca teve sua espada freada no antebraço de Hirojiyu, que o pegou pelo pescoço. A pele de Osíris borbulhava com o calor a ponto de queimar a palma da mão de seu adversário, que resistia à dor, colocando mais uma das mãos nele para forçar sua cabeça a encará-lo frontalmente.

— Assim de perto você é como todos os outros. Eu vou queimar até os ossos antes de te largar. Olhe para mim!

A disputa pelo controle fez Osíris olhar brevemente para seus olhos de Hirojiyu. Envolvido pela escuridão do poder ocular, ele não era mais capaz de enxergar, embora um chamado pôde ser ouvido em alto e bom som.

— Patriarca! — gritou Yanaho, abrindo brecha para uma cabeçada de Nagajiyu. 

Sem forças para sair do estrangulamento, Osíris moveu o calor do seu corpo para as areias da pirâmide, onde estava prensado. Das frestas, os grãos tomaram a forma numa espécie de espinhos, que num piscar de olhos fundiram-se em vidro. Hirojiyu rangeu os dentes de dor, porém não largou sua presa até que ela arrancou um caco de vidro com as mãos e tentou enterrá-lo em seu pescoço. Finalmente, o Kuro usou da palma da mão para conter o golpe fatal. 

Livre de uma de suas amarras, o patriarca criou outra abertura na pirâmide atrás de si. Mesmo cego, ele atravessou pela fenda, porém Hirojiyu a cruzou a tempo.

Enquanto isso, Yanaho tonteava ao passo que Nagajiyu atirou-se novamente contra ele. Os dois desceram mais um pouco as rampas, trocando socos até que o mirim soltou sua espada. Aproveitando-se disso, o Kuro se apossou rapidamente dela. 

“No fim não preciso enxergar… Eu posso sentir o calor de todos eles. É… Um se aproxima de mim, posso senti-lo, mas também posso sentir o calor do dia, chamando por mim. O fim está próximo”, pensava, subindo a rampa interna vagarosamente, com a mão nas paredes úmidas para guiar-se.

Criando outra saída, Osíris chegava finalmente da ponta de bronze. No topo, ele impôs as mãos sobre o metal, sentindo seu calor e os pontos de apoio, escalando-o aos poucos, quando comandou a porta por onde saiu fechar, mas o mecanismo travou. Hirojiyu foi esmagado pelo bloco, mas conseguiu usar sua força para escapar. 

— Você não escapa de mim! — gritou, saindo do interior da pirâmide.

Contudo, assim que tentou alcançar Osíris no topo, o chão onde pisava foi preenchido por areia, que rapidamente se transformou numa lisa camada de vidro, que o fez escorregar pela pirâmide abaixo. A luz do sol refletida naquela superfície também cegou os olhos de Nagajiyu a tempo da queda de seu irmão atingi-lo. Os dois se precipitaram vários andares da rampa até conseguirem se segurar na beirada de uma delas.

De cima, Yanaho pôde vê-los ainda com vida. A seguir, voltou seu olhar para o patriarca, que atingia o topo. De repente sendo surpreendido pela rampa onde se sustentava a rampa onde estava foi recolhida ao interior da pirâmide, que se abriu e se fechou a tempo de recebê-lo, enquanto percebia:

— Espera! — gritou batendo na parede diagonal. “Ele agiu rápido e pensou em tudo até pra me livrar das mãos do outro irmão, e ainda me protejou para dar o golpe final, o que será que ele irá fazer?”, concluiu se questionando desistindo de tentar sair. 

Com o efeito do poder ocular Kuro enfraquecendo, Osíris pôde contemplar o horizonte. Estendendo as mãos na direção do sol, ele abriu um leve sorriso de canto.

— Sinto muito, Kasa, meninas — dizia em voz alta — Mas não poderei voltar.

O calor do sol penetrava no seu corpo, energizando seu iro e crescendo sua aura. Um fluxo de poder intenso acumulou-se em Osíris, gerando um vendaval que varreu os dois jovens na base da pirâmide.

“Quem diria que no fim, eu iria honrar seu último pedido? Não é, pai”, pensou encarando o sol alaranjado daquele fim de tarde.

As últimas palavras de seu pai brotaram na sua memória:

“Assim como fiz, pode pegar todo o meu legado e desfazer, mas lembre-se de que as pessoas não podem pagar pelo seu erro… Faça seu próprio caminho, meu filho” 

Os raios de sol convergiram em um feixe que atingiu Osíris na pirâmide de bronze. Então, ele descarregou toda a energia acumulada em direção aos gêmeos abaixo. Por lá, Hirojiyu erguia-se da queda, diferente de seu irmão, cuja luz crescente do feixe refletia em seus olhos estarrecidos.

— Irmão, não consigo — dizia Nagajiyu, sem forças para segurar na borda. 

Hirojiyu olhou para o ataque iminente e de volta para seu irmão e decidiu. Com a sola do pé, ele chutou as mãos de Nagajiyu da borda. Caindo da pirâmide, o gêmeo assistiu ao seu irmão saltar para o clarão de braços abertos na sua frente antes de tudo se reduzir a um branco cegante, seguido por uma explosão.

Antes que o clarão atingisse. A pirâmide balançou ferozmente, mas não cedeu. Tudo que o garoto podia ver era um filete de luz escapando pelo buraco do topo, enquanto o lado de fora acabava em um grande ruído de explosão.

Após o enorme brilho, Osíris acordou em um lugar completamente vazio. Nada ao redor, a não ser branco com uma cortina amarela no fundo, que se prolongava infinitamente da direita para esquerda, de cima para baixo. Verificou suas mãos, seu corpo, tocou seu rosto e não sentiu nenhum ferimento ou cicatriz.  

— Que lugar é… — virando de costas, percebeu suas filhas estendendo as mãos. 

— Vem papai. O vovô está te esperando — dizia Hoshizora apontando a cortina.

— Vamos indo — Yasukasa o tomou pela mão. 

Obedecendo às suas filhas, o patriarca se aproximou até a cortina e espiou pela sua fresta. Do outro lado, reconheceu seu Yasuma, seu pai e Ámon, seu avô.

— Você conseguiu me deixar orgulhoso no fim — disse Yasuma — sabia que não iria me decepcionar. 

— Obrigado pai, pena que tive que errar muito para perceber isso — respondeu antes de se dirigir a Ámon — Vovô, eu… 

Sua fala foi interrompida pelo gesto do penúltimo patriarca, que repousava sua mão sob a cabeça do neto: 

— No fim você superou o medo,  suportou todas as dores no momento certo de se colocar na frente de quem jurou proteger. Sua vida, seu legado honrou os nossos — concluiu com um raro sorriso.

Os três se abraçaram, quando vindo de trás sua mulher tocava em seu ombro, junto às filhas que pegavam em suas mãos. 

— Chegou a hora — sussurrou, Kasa.

Concordando com a cabeça, timidamente, Osíris sua família para perto uma última vez. Kasa e suas filhas então o empurraram para trás da cortina junto com seus antecessores. Uma poeira brilhante e dourada subia aos céus, levando o corpo físico do patriarca consigo e esvaziando suas vestes.

Quando os barulhos cessaram, tudo que Yanaho podia escutar era o escorrer da areia pela estrutura. Do buraco no topo, ele pôde ver peças de roupa caindo no chão. Pouco depois, a saída surgiu perto dele.

— Senhor Patriarca? — cogitou a saída, mas decidiu ir até as roupas caídas — conseguimos? — perguntou, sendo respondido pelo silêncio.

Quando se aproximou do local, a luz que descia do topo da pirâmide o permitiu reconhecer as vestes diante dele. Caindo de joelhos, o mirim vasculhou as calças, a camisa, a túnica, virou algumas peças do avesso, sem encontrar nenhum vestígio.

— Então você… Eu n-não sabia… — apertou o tecido da túnica — Não era pra acabar assim! Como você pôde? Agora… Só restou eu? 

Enquanto apertava as vestes, sentiu um objeto nos bolsos da roupa. Ele retirou o objeto e o colocou contra a luz para enxergar. Era uma peça de tabuleiro, com uma coroa entalhada na ponta. 

“Pelo menos, seu sacrifício não foi em vão”, respirou aliviado, deixando o objeto para repousar junto às roupas debaixo da luz. De repente, algo do lado de fora captou sua atenção:

— Não! — tão somente o berro arrepiou Yanaho — Você não! 

Disparando para o lado de fora, perto da base onde os irmãos tentaram se proteger, ele os encontrou na areia. Aquele que saltara contra o ataque de Osíris estava torrado. A maior parte do tronco descascado e enegrecido e seu cabelo fora pulverizado. Por fim, seus olhos, mesmo abertos, estavam sem vida. Ao seu lado, estava Nagajiyu na tentativa de reanimá-lo.

O irmão sobrevivente estava com suas largas mangas rasgadas, braços chamuscados à mostra e pernas superficialmente queimadas. Quando escutou passos de trás, virou-se, trincando os dentes, revelando seu rosto desfigurado pela raiva. 

— Você… — balbuciou antes de berrar outra vez — Você! — saltou contra o mirim.

Após rolarem na areia, entre socos e arranhões, Yanaho saiu por cima, puxando sua espada. Nagajiyu revidou com uma joelhada bem no abdômen do mirim, que caiu para trás, que fazia o sangue voltar a molhar suas vestes por dentro.

— Você vai pagar por tudo! — dizia Nagajiyu, com sua aura negra tomando seu corpo — Depois, de te matar. vou queimar essa droga de pirâmide e tudo que tiver depois dela nesse deserto maldito! — pegou a espada lascada de seu irmão nas areias

O simples ato de ficar de pé fazia Yanaho gemer de dor pela ferida reaberta por Nagajiyu. Mesmo assim, ele subiu sua guarda e recebeu o golpe de seu oponente, que cambaleou alguns passos após o choque de metais. Na próxima, Yanaho plantou os pés mais atrás e tomou impulso.

Quando o Kuro veio, o mirim balançou sua arma com força e pôde ouvir a lâmina do adversário trincar. O peso de seu ataque na guarda inimiga, fez com que o gêmeo restante se afastasse para recuperar o equilíbrio. 

“Ele parece ter recuperado as energias, mesmo estando no limite, essa raiva o deixou em vantagem”, levou as mãos ao ferimento aberto, “Mal consigo me mexer com essa dor. Eu preciso usar o que me resta para um último Kazedamu, e…”, foi interrompido por mais um avanço

— É assim que você queria, herói? Se é sangue que você quer, é o que vou te dar! — forçava o metal trincado contra o jovem. 

— Já chega! — respondeu Yanaho, o forçando para trás.

Da outra mão que lhe restava, arremessou areia na face de Nagajiyu o obrigando a se afastar. Assim Yanaho buscou unir suas palmas para ativar sua técnica, porém um avanço de seu inimigo o forçou a esquivar-se no último segundo.

“Não pode ser!”, reparou no pequeno corte que ficou em seu pescoço, acompanhado por um vômito descontrolado na escura de sangue. 

Aproximados pela disputa, Nagajiyu esfregava seus olhos, libertando sua visão comprometida, vendo o sangue escorrendo pelos dentes e nariz do rapaz. 

— Eu sabia que teria que ter tempo para manusear a habilidade, se eu interrompesse o processo, o ar de seus pulmões pode se virar contra você certo? — apoiou seu corpo em Yanaho, o forçando a se sustentar com um joelho na areia — Sem essa técnica você não tem mais nada, assim como eu! 

O ataque de Nagajiyu separou a espada das mãos de Yanaho. Exposto, o lutador desarmado moveu os braços para o peito esperando a estocada, que atravessou seu antebraço sem conseguir penetrar mais fundo em seu peito. Parados ali por um instante, o mirim reparou nos braços trêmulos de seu adversário, antes de tirar a lâmina de si e revidar com um soco.

“Se ele lutasse um pouco melhor, eu já estaria morto. Droga, não posso morrer, só mais um pouco…”, se arrastou até sua arma. “O poder do patriarca deve ter prejudicado o material, eu posso partir a espada dele”.

Assim que alcançou sua arma, sentiu Nagajiyu agarrá-lo por trás. Por baixo, recuou uma das pernas e levantou a sola contra o rosto do gêmeo.

“Isso tudo não pode ser em vão, mas eu mal consigo erguer minha espada”, pensou, arregalando os olhos, apoiado em seu joelho direito, revisitando de repente uma memória antiga:

Um garoto de vestes e cabelo azul o olhava de baixo para cima, o reprovando com a cabeça. 

É impossível existir dois vencedores nessa luta. Ele mal consegue segurar a espada. Eu me recuso a machucá-lo.

— Enquanto um de vocês estiverem no chão e o outro em pé, a luta não acaba. Continuem!

Ao passo que a criança se levantava para prosseguir o ensinamento de Onochi no passado, o mirim de hoje também erguia-se no presente.

“Eu sempre vencia na insistência, não é? Suzaki?”, fechou seus olhos, respirando fundo. 

— Maldito seja você… Isso é tudo culpa sua! Por que não morre de uma vez?!  — disse Nagajiyu avançando novamente. 

“Apenas concentre-se”, fazia das palavras dos ensinamentos nesses anos com seu mestre, serem suas. “Mesmo que o descontrole te deixe mais poderoso, ele sempre opera além de seus limites. Controle-se”, expirando e inspirando fundo, martela os antigos ensinamentos em sua mente.

— Você nunca teve pelo quê lutar! Isso nunca foi sobre você! — os gritos de Nagajiyu caíram em ouvidos surdos tanto quanto seus ataques acertavam o ar.

“Garantindo seu controle você poderá moldar a luta, da forma que quiser”, levantou sua arma para bloquear Nagajiyu com ângulos diferentes, explorando as rachaduras que reparava na espada. Após algumas tentativas, era o Kuro que desacelerou com o cansaço.

Percebendo a oportunidade, Yanaho afastou-se e segurando sua espada com as duas mãos, atirou-a contra o inimigo. Num ato reflexo, Nagajiyu se defendeu com a arma de seu irmão que se estilhaçou em suas mãos, após o bloqueio. Contudo, o mirim usava daquele tempo para unir suas mãos uma vez mais. 

— Não vou deixar! — correu Nagajiyu.

Ainda sem chegar a tempo, Nagajiyu suportou o sopro do fraco kazedamu, plantando os pés na areia. De joelhos pelo esforço despendido, Yanaho sentiu algo subir na garganta e vomitou sangue nas próprias mãos, parando assim o ataque. Com Nagajiyu ainda de pé, seus olhos foram guiados pela única espada restante ao lado.

— Se quer tanto ser um herói… — se jogou na espada para agarrá-la — agora, morrerá junto com eles! — erguendo os olhos viu a mão esquerda do garoto estendida.

Em vez de um ataque frontal, Yanaho soprou um vento nas costas de Nagajiyu, tirando seus pés do chão. O corpo fraco do Kuro não resistiu e foi varrido até seu oponente que preparava por entre os dedos ensanguentados, seu punho que brilhava em rubi, Nagajiyu percebia arregalando os olhos. 

“Ele fingiu que tinha usado todo poder, só para me atrair para um último golpe?!”, não conseguia se mover, exposto ao ar livre.

“Vou insistir, sempre acreditando em mim mesmo…”, em um impulso, saltou na direção do oponente. “Com toda força que eu tenho, toda a que eu não tenho e a que nunca tive…”, completava pensando alto, berrando em um último golpe na boca do estômago do inimigo:

— Eu não vou morrer!

O soco perdurou por alguns segundos, sangue saia pelas narinas de Yanaho, enquanto gritos de dor e determinação dos dois perturbavam o deserto. O impacto logo depois veio a arremessar o que recebeu o ataque por alguns metros, já nocauteado.

Yanaho desabava nas areias, chegando às lágrimas de tanta dor, embora consciente. Seu oponente tinha aterrissado próximo do irmão e estava tão imóvel quanto. Pelo caminho, estava sua espada, abandonada por Nagajiyu durante o golpe. 

Enquanto caminhava até os dois, ele a pegou das areias, reparando um espasmo acompanhado por tosses secas de sangue. Nagajiyu apenas observava Yanaho de pé diante dele, sequer erguendo o pescoço para fitá-lo nos olhos.

Quando Yanaho aproximou o metal próximo ao pescoço do oponente prestes a finalizá-lo. O gêmeo restante podia ver seu reflexo no metal à espera da morte quando de repente um terceiro cochichava próximo deles. 

— Naga…Jiyu — a chamada do irmão queimado, fazia o garoto de pé e o nocauteado arregalaram os olhos — Já é quase noite. O pai está esperando por nós. Que tal… irmos para casa? — lágrimas escorriam pelo rosto enegrecido e desprovido de consciência de Hirojiyu. 

O rapaz inclinou a cabeça na direção do irmão, sua respiração aguda era pontuada somente pelo esforço de estridente que lutava para escapar da garganta.

— Está vivo… — disse Nagajiyu

Imediatamente os braços que seguravam a empunhadura da lâmina pronta para acabar com a luta que perdurou todo o dia, se tornaram trêmulos, o fluxo de respiração de Yanaho mudou, embora o rosto do assassino à sua frente permanecesse inexpressivo. 

Nagajiyu tentava esticar a mão na direção do irmão, mal conseguindo a levantar, enquanto o suor escorria pelas sobrancelhas do Aka.

— Se não voltarmos para casa — continuou Hirojiyu, entre tosses — Nosso pai ficará preocupado… Você quer ir para casa não é, maninho? — o delírio continuava. 

— Irmão — lágrimas desciam no rosto sem expressão — poupe as palavras, por favor. 

O garoto da capa vermelha, fez uma expressão de desespero enquanto lágrimas escorriam de seus olhos, engolia seco antes de soltar um leve grito, completando o movimento, deixando a espada antes trêmula, intacta, de uma vez por todas enterrando-a. 


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

   

 



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