Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume II – Arco 7

Capítulo 52: Velho Ciclo

O grito da espada de Yanaho deslizando entre as ranhuras da arma de Hirojiyu, era o único ruído em centenas de metros. O vento cessara, Nagajiyu se recompunha do chão, verificando rapidamente seus bolsos para contar quantas bombas ainda possuía, vendo o impasse entre o oponente e o irmão:

“Estão quase acabando, não dá para continuar brincando”

O outro gêmeo fixou os pés no chão, que deslizavam abaixo das areias graças a força imposta sobre seu corpo. Yanaho já usava uma mão no cabo e a outra sobre a sua própria lâmina na tentativa de partir a arma adversária, repleta de ranhuras. Quando a areia já estava na altura dos tornozelos, o aprendiz de Onochi voltou seu movimento, tomando impulso para outro golpe.

— Melhor se afastar — ria Hirojiyu, bloqueando o golpe. 

— Não vou a lugar algum! — se preparava para mais um movimento.

Contudo, interrompido ao perceber uma bomba viajando até ele. Naquele mesmo instante, Yanaho estendeu sua perna contra a barriga do inimigo mais próximo, enquanto usou sua mão livre para agarrar a bomba e arremessá-la de volta a Nagajiyu.

No meio do caminho a bomba estoura, criando uma nuvem de fumaça negra, que cobriu a área. Yanaho aproveitou a escuridão para se lançar acima da névoa escura outra vez.

— Por que ele não ficou cego como os outros? — perguntou Nagajiyu se aproximando do irmão.

— Ele é diferente, tem alguma habilidade que bloqueia nosso poder ocular — respondeu Hirojiyu em posição de ataque. 

— Portanto não o subestime como fez, é por causa dele que estou tendo que usar uma das bombas para gerar a fumaça, já que ele desfez a outra.

— Não podem se esconder de mim! — gritou Yanaho, descendo com o punho cerrado. 

O soco arrastou Nagajiyu alguns metros, mas assim que Yanaho se preparava para continuar, Hirojiyu surgia da fumaça balançando sua espada contra ele. A rapidez do Kuro o surpreendia, cortando-o de raspão no flanco. Sentindo a dor, ele gira seu corpo inteiro em um golpe circular, se afastando.

“Droga, não consigo isolá-los!”, praguejava consigo, “Todos se foram e nesse ritmo eu vou durar muito pouco. Preciso focar no plano, focar em desviá-los“, descia para olhar as suas mãos, “Eu só tenho energia para três kazedamus. Quem sabe se eu puder juntá-los para usar um só, com toda minha força…”

— Você começou, agora eu vou terminar — dizia Hirojiyu, arrastando sua lâmina pela areia — Tenha a dignidade dos seus companheiros, morra junto a eles e saia de nosso caminho.

— Eu não vou sair daqui até cumprir com a missão — respondeu Yanaho, se colocando de pé.

— Esses vermelhos não deviam estar aqui, muito menos um garoto como você.

— E o lugar de vocês seria matando todo mundo que cruza o caminho de vocês?

— Você não sabe no que está se metendo, muito menos o motivo de estar aqui — dizia Nagajiyu com as mãos sob a fumaça — pelo visto é só um garoto descartado pelo seu próprio exército. 

— Cala essa boca!

Os olhos de Yanaho eram guiados por Nagajiyu, que corria para trás da fumaça que vinha. Contudo, não havia tempo para persegui-lo, pois seu irmão já partia para o ataque. Na medida em que a cortina escura se projetava para os lados, como uma boca prestes a engoli-lo, o mirim saltava para trás a cada ataque de Hirojiyu.

Em pouco tempo, a fumaça chegava às costas do aprendiz de Onochi, surgindo um braço da névoa para agarrá-lo. No último instante, ele agachou do corte de Hirojiyu, que rasgou o gás como se nem estivesse ali. 

“Ele pode materializar a fumaça? Estão tentando me encurralar”, pensou Yanaho, chutando Hirojiyu no abdômen e se afastando da fumaça, “Desse jeito, vou precisar de outro kazedamu antes da hora”.

A fumaça formava um anel em volta dos dois combatentes. A cada desvio de Yanaho para as extremidades, um membro se esticava para alcançá-lo. Quando a fumaça se projetou para seus pés, prendendo sua movimentação, só havia uma saída para o jovem que já unia as mãos para se defender. 

A sua técnica soprou Hirojiyu na direção da nuvem que se dissipou parcialmente, permitindo que o Aka visse, mesmo de relance, Nagajiyu do outro lado do véu negro, que voltava a tomar forma. 

“É a minha chance”, Yanaho disparou para abertura.

— De novo não garoto! — gritou Hirojiyu o perseguindo. 

Ao redor dos dois a fumaça se fechava, mas Yanaho já estava muito perto. Nagajiyu puxava uma adaga da sua cintura para se defender, mas percebe seu algoz guardando sua arma na cintura e juntando as mãos.

— Afaste-se Hirojiyu! — gritou para seu irmão, que prosseguiu.

Usando sua técnica levitando levemente, Yanaho dá uma cambalhota no ar, indo para as costas de Nagajiyu e o enfileirando com seu irmão, que chegara atrasado.

“Agora!”, gritou para si mesmo.

Enquanto caía na areia, Yanaho desferiu seu kazedamu mais forte. O golpe atirou os gêmeos como uma bala de canhão, jogando areia e a fumaça para os lados ferozmente. Até mesmo os cavalos dos homens previamente mortos, dispersaram com o rugido dos ventos. Após lançá-los centenas de metros na direção desejada, Yanaho seguiu o rastro de seu golpe, que riscou as nuvens do céu antes de aterrissar os gêmeos nas dunas ásperas do deserto novamente.

Chegando lá, os gêmeos cambaleavam para se manterem de pé, com seus ouvidos zumbidos e arranhões pela queda. 

“Eu-eu consegui, eu os desviei! O ataque os afastou da estrada que leva a capital”, sua respiração pesava, “Ainda tenho mais um pouco para lutar, talvez deixá-los..."

Seu pensamento foi interrompido, por algo na sua garganta, como garras perfurando o interior da sua traqueia. Ele agarrou seu pescoço, rangendo os dentes de tanta dor, ao passo que seus olhos notaram Nagajiyu, cerrando as mãos devagar.

— Como? — a pergunta escapou da sua boca, quando caía de joelhos.

Ele tentava puxar o ar pela boca, mas sentia uma trava pressionando seu pescoço por dentro. Seus olhos escureceram e seu corpo desabou na areia. 

— Devia ter aproveitado a abertura para um golpe fatal em vez de nos empurrar mais — dizia Nagajiyu, agachando para olhar seu oponente nos olhos — achou mesmo que eu ia cair nessa de novo?

— O que você fez comigo? — perguntou Yanaho, se contorcendo na areia.

— Controlar a fumaça do lado de fora e na sua garganta difere apenas no fato de que preciso ser rápido antes que seus pulmões a absorvam completamente. Desde que você ainda tenha qualquer resíduo dela enquanto respira — ele cerrava a mão com força agora, esmagando a garganta de Yanaho ainda mais — eu posso fazer por dentro de você o que não consegui por fora.

— Por-por que estão fazendo isso? — dizia Yanaho tentando se levantar de joelhos.

— Só agora quer entender — chegava Hirojiyu, descendo sua lâmina sobre a barriga do mirim — tarde demais.

Yanaho cuspia sangue, arregalando os olhos percebendo a espada o atravessando, em meio a dor aguda, caiu sob a areia já sem forças, ao tempo que a espada era retida, e Nagajiyu parava sua técnica dizendo:

— Achou mesmo que ia ser o herói com essa capa?

A vista do garoto abatido ficava cada vez mais frágil, ao tempo que ele encarava o corpo celeste do alto do domo.

No alto da torre da maior estrutura da capital, o Patriarca observava o mesmo sol deslizando suas mãos sobre a mureta da sacada, sentindo o concreto áspero pelos pequenos grãos de areia cobrindo o edifício. Uma parte do deserto que o vento levou até a ponta de seus dedos. Até que desceu sua vista observando sua despreocupada capital abaixo, enquanto o deserto no horizonte posava no canto da sua vista como um espectro na sua consciência.

Patriarca — Kusonoki se anunciou, acompanhado por outros guardas — O dia já passou da metade e só conseguimos minimizar as perdas — colocava as mãos nos bolsos, observando o sol descendo sob o topo do céu — Começo a duvidar do resultado da nossa última investida contra o inimigo.

— No mínimo, as tropas de interceptação já cruzaram com o inimigo — encostou-se na mureta com os cotovelos — Se tivessem sido aniquilados os gêmeos já estariam batendo na nossa porta — inclinava a cabeça para baixo — Meu temor é que o mirim não tenha conseguido cumprir com objetivo.

— Ele deveria mesmo já ter retornado, mas ao mesmo tempo Ryoma não o enviou por acaso. Quero acreditar em sua utilidade.

De repente, um servo entrou na sacada no meio dos guardas, carregando duas taças de vinho numa bandeja de prata, colocando-as na mureta para os dois beberem. Kusonoki mudou seu olhar para o fundo da taça, balançando ela com as mãos.

— Você é o que mais tem falado sobre cautela. Eu sugiro um plano reserva.

— Eu tenho pelo menos uns três — respondeu Kusonoki, tomando de sua taça — Não consigo me decidir qual usar.

— O poderio militar da fortaleza, mesmo contando com mais homens, é semelhante ao da interceptação. Se falharmos, não há quem proteja a chegada deles a Oásis. Uma evacuação é a única saída. Começamos por aqui até levarmos todas as cidades centrais nessa caravana. 

— Esse era um dos meus planos caso o mirim voltasse sem informações — disse, virando a taça — garantir a segurança dos civis é o mais apropriado. Melhor que lançar outra ofensiva às cegas.

— Minhas filhas podem garantir que isso ocorra da melhor maneira — virava-se para o Principal — Depois, a família real deverá seguir o mesmo caminho. 

— Entendo — deu um leve sorriso — o Supremo me mandou para cá, para impedir que você fizesse alguma bobagem. Mas tudo que vejo é um líder preocupado com seu povo e um pai preocupado com sua família — esticou a mão.

— Sou eu quem devo agradecer, Kusonoki — os dois apertaram as mãos — O tempo tem sido um grande professor. Meu pai me contou uma vez que um homem ciente de quem é, pode entender o passado e prever o futuro.

— Você mudou Osíris, tenho certeza que juntos vamos achar um jeito de… — de repente sua visão ficou turva.

O principal sentia seu corpo dormente e anestesiado. Prestes a desabar, o Patriarca segurou sua mão com o outro braço, descendo-o até o chão lentamente.

— Você ajudou mais do que o suficiente, mas um líder precisa impedir que as consequências de suas ações caiam sobre seu povo — segurava o jovem Principal nos braços. 

— Osíris… O que você fez? — balbuciou. 

— Na sua bebida — disse mostrando um frasco vazio. — Você é um Aka, tive que exagerar no sonífero. Agora, preciso acabar com isso.

As palavras do Principal entalaram e seu corpo não obedecia mais sua consciência gritante. Tudo que restava era adormecer na visão dos olhos dourados de Osíris, que se levantava do chão para continuar seu plano.

Estirado na areia, Yanaho apoiava suas mãos para se erguer, mas a dor de seu ferimento fazia seus braços vacilarem. Seus músculos tremiam ao menor esforço e a perda de sangue trazia um calafrio na espinha mesmo debaixo do Sol do deserto. 

A sombra de Hirojiyu se projetava contra a luz na frente de Yanaho, que pela última vez tentou empurrar o chão para ficar de pé, somente para receber um chute nos braços do Kuro.

— Sem últimas palavras, ô da capa vermelha? — comentou Hirojiyu — Já deve ter percebido que vai encontrar aqueles soldados e as pessoas daquele vilarejos daqui a pouco. Aceitar a crueldade, trará paz no fim.

— Se esforçar só piora o sangramento — dizia Nagajiyu, relaxando as mãos para livrar Yanaho do sufocamento — De que adianta esse sacrifício insignificante? 

Mesmo deitado, Yanaho girava o corpo e sacava sua espada. Apesar disso, Hirojiyu somente pisou no braço e imobilizou seus movimentos.

— O que você pensa que está fazendo? Acabou! — chutou a espada das mãos do mirim — pare de lutar e apenas aceite, que este mundo é cruel! A crueldade chega para todos, não é muito diferente do que aconteceu com as vilas, seus companheiros e a gente. 

— Quem você pensa que é para falar de crueldade, se vitimizando as custas desse massacre! — gritou Yanaho, com falta de ar — São covardes! Podem inventar a história que quiserem, nada vai justificar!

— Então me fale você sobre crueldade — provocou Hirojiyu, apoiando o braço sobre o joelho que pisoteava o garoto.

— Vocês são cruéis! — os dois voltaram a se encarar — Em que lugar matar um filho que estava atrás do seu pai é justo? Separaram famílias, destruíram vilas inteiras. Elas nunca vão se recuperar, por sua culpa!

Os gêmeos trocaram olhares indiferentes entre si. Hirojiyu acenou com a cabeça para seu irmão, que pegou a espada de Yanaho da areia antes de se dirigir a ele.

— Está vendo essa espada? — se agachou, mostrando o metal reluzindo com o sol — Já vi crianças usando uma dessas antes mesmo de aprenderem a escrever o próprio nome. O sangue escorrendo sob o solo, as casas que deixamos em chamas, me traz uma nostalgia, do que um dia nós sofremos. 

— Não sei do que está falando — questionou Yanaho.

— Depois que as cores primordiais conseguiram a vitória nas Guerras Separatistas, os Kuro perderam o controle do continente, se isolando em nosso território natal — contava Nagajiyu — Durante todos esses anos, nosso povo foi deixado à própria sorte. Sem dinheiro, sem comércio, somente nós em um território arrasado pela guerra. Entregues à miséria, enquanto esse continente prosperava. 

As mães não tinham o que dar de comer para seus filhos. Os pais que retornaram vivos da guerra, sofriam com os traumas. Aos que não perderam a vida nem a sanidade, restava a religião para cuidar deles, já que seus líderes lavaram suas mãos.

Foram décadas na sarjeta. Depois de tanto tempo, nos tornamos responsáveis pela nossa condição. O medo nos paralisou e com ele veio a repressão e os muros que nos isolaram do resto do continente. Mas tudo mudou quando um novo rei foi coroado. Ele não tinha medo do mundo exterior, muito menos queria governá-lo. Ele desejava abrir nosso território para o mundo. Esse homem foi nosso pai.

Como maior autoridade do território, ele acreditava que nós éramos uma cor como qualquer outra e lutou para que os Kuro fossem aceitos pelas outras cores. Mais do que tudo, era um lutador da liberdade. Ele queria ser um herói.

Cinco anos atrás, a tensão entre meu pai e as autoridades de seu governo estava mais alta do que nunca. Somente um pequeno círculo de confiança entrava em sua casa. Nos Kuro, o rei só é destituído na morte e, portanto, um atentado parecia iminente.

Mas papai suportou as pressões. Confinado em sua mansão, ele conseguiu redigir a primeira carta oficial do reino, a ser enviada para os outros territórios na hora certa. Os mensageiros foram enviados, mas nenhum retornou com uma resposta. Ele continuou tentando e tentando até que… a resposta veio na calada da noite. 

Mediante a história os dois Kuro, reviviam a noite que mudariam suas vidas, em uma grande mansão com dois andares, cercada por coqueiros, tomada pelas chamas de uma hora para outra. No seu interior somente gritos e o desespero dos vivos.

— Irmão! Não consigo… — tapava o nariz enquanto se apoiava em Hirojiyu. 

— Vou te tirar daqui. Pai! Mãe! — gritava, com a fumaça percorrendo seus pulmões. 

As paredes eram cozinhadas pelo fogo e o chão trepidava. A fumaça vazava pela porta do quarto, quando um solavanco pôde ser escutado vindo de fora. De repente, a porta era arrombada e, de dentro da fumaça, surgia o pai dos garotos. Seu rosto estava enegrecido, com os fios da sobrancelha consumidos, e a pele de seus braços estava se esfacelando. Mesmo cambaleando, ele tomou Nagajiyu nos braços.

— Por aqui, Hiro — estendia a mão livre para o irmão, que a segurou com força.

O homem levou seus dois filhos até as escadarias, mas havia um buraco no caminho. Ele olhou para os lados atrás de uma saída, mas só havia labaredas. 

— Hiro, eu preciso que confie em mim — ele disse, levantando a criança com o outro braço.

— O que está fazendo pai?

— Quando chegarem no chão, corram para a porta. Ignorem as chamas, só corram. Precisa me prometer que será corajoso.

Hirojiyu acenou com a cabeça, mesmo engolindo seco.

— Cuide do seu irmão, até eu voltar — pediu o rei, antes de arremessar seus filhos por cima do buraco, escada abaixo. 

— Pai!! — o grito de Nagajiyu ecoou pela mansão.

— Me esperem! Eu… vou salvar os outros — avisou seu pai.

Hirojiyu pôs-se de pé rapidamente, pegou Nagajiyu e correu até a saída sem olhar para trás. 

Voltando para o presente, Hirojiyu estava de costas para seu irmão, que encerrava seu relato:

— Não demorou muito para eu olhar para trás, e ver toda minha casa desabar em chamas, com todos meus familiares. Anos depois, descobrimos que o atentado foi orquestrado pelo círculo interno de meu pai. Eles adulteraram a última correspondência que escreveu, alegando que iriam invadir o continente se não obtivessem uma resposta e entregaram aos Kiiro. Fizeram um acordo de manter os Kuro isolados, desde que eles ajudassem a matá-lo. 

— Entende agora? Isso vai muito além do que você pensa — comentou Hirojiyu dando pisando na ferida de Yanaho, que gritava de dor — Quem matou nosso pai, lidera os Kiiro hoje! Nós já matamos cada suposto amigo que conspirou contra minha família, exceto por ele. Essa paz que seu continente vive, é às custas do sangue da minha família! — Tirava seus pés do garoto, ficando a espada no chão — por que acha que espadas são forjadas?

Dessa vez, não havia mais luta restante no corpo de Yanaho, que ficou estirado na areia, ofegante, olhando para o céu infinito.

— A morte do meu pai não teve o resultado que os conspiradores queriam. Grupos dissidentes iniciaram uma guerra civil que só trouxe mais calamidade — pegou alguns grãos e observou o vento levá-los da sua palma — A sede por poder e o medo de perdê-lo é o que joga as cores umas contra as outras. Meu pai não queria enxergar isso e agora você também não. Você aponta a crueldade a nós, e nós apontamos a eles, mas a culpa não muda, só é passada adiante até o dia de nossa morte. Um ciclo, como uma doença interminável das relaçoes humanas. O sonho do meu pai morreu e passar essa culpa, adiante… é o que nos restou.

…isso é o que me restou — lembrava-se Yanaho das palavras de Yukirama, soltando um suspiro fraco.

As mãos de Yanaho abraçavam a areia debaixo de seu corpo, machucando sua palma com a aspereza. Lágrimas escorriam do seu olho inchado e a cada soluço o corte em sua barriga ardia mais.

— Então por que ajudar alguém que matou nosso pai, causou uma guerra e fez diversos inocentes sofrerem por todos esses anos? — questionou Nagajiyu.

O garoto permaneceu sem resposta, virando o rosto para encarar o horizonte apenas.

— E então quem é cruel agora? Nós? Os Kiiro? Os Kuro do passado? Isso nunca vai ter fim! — terminou Hirojiyu trilhando o deserto — Agora vamos.

— Chega de pensar que existem heróis neste mundo. Aqueles que querem ser um herói, se tornam o pior dos vilões. — levantou-se e fez uma reverência — Adeus, menino da capa vermelha.

— Y-Yanaho… — o garoto balbuciou — Meu nome é Yanaho.

— Encontre na morte, a paz que te faltou em vida, se liberte deste ciclo, Yanaho — despediu-se, Nagajiyu.

Os dois partiam abandonando o desiludido aprendiz de Onochi, que tinha como companhia somente o entardecer, na medida em que a morte se aproximava.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.



Comentários