Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume II – Arco 7

Capítulo 53: Fúria e Equilíbrio

A caminho da fortaleza, onde seus homens se preparam para receber os invasores Kuro, a mente de Osíris regressava ao momento antes de sua partida. Cada moradia de Oásis estava sendo evacuada e seus moradores postos no primeiro transporte para partirem. Yasukasa, que conduzia uma fila que dobrava a rua, dava ordens aos Kishis, quando seu pai chegou.

— A evacuação está mais rápida do que pensei.

— Não poderia estar de outra forma — dizia Yasukasa, colocando as mãos na cintura, de olho na rua recheada de carroças e cavalos — Eu vou ajudar no que posso.

— Eu sei, por isso que seu lugar é com eles.

— Um dia, sim — fazia sinal para uma carruagem que parou para que ela subisse — Pelo menos nisso, concordamos. 

De repente, Osíris sentiu um aproximar por trás. Ao se virar, reconheceu Hoshizora, com sua mãe vindo logo atrás. As duas com as malas prontas para entrar no transporte. 

— Pai, por que essa evacuação repentina? Onde está Yanaho? 

— Estamos tomando precaução, vai ficar tudo bem — colocou a mão sobre a cabeça da filha — sobre o garoto, fique tranquila. Ele está numa missão de reconhecimento, devo recebê-lo aqui em breve. 

— Eu não entendo, por que o senhor irá ficar?

— Eu ainda tenho assuntos a tratar com Kusonoki — dizia Osíris, trocando olhares com sua esposa — Continue de olho na sua irmã. Ela vai precisar de você.

Com os braços pesados, o patriarca se desfez do abraço da filha, que entrou na carruagem cabisbaixa. Diante do chefe de família, restava apenas sua esposa.

— Acho bom não estar escondendo nada de mim dessa vez — disse Kasa, colocando a mão sob o rosto de Osíris. 

— Nada que você já não saiba — respondeu, unindo suas mãos com as dela, antes de abraçá-la — sem surpresas dessa vez. 

— Faça o que for necessário — se despedia, indo para carruagem — Eu te amo.

O patriarca permaneceu na calçada, vendo o veículo partir junto com os demais, quando sua consciência retornava ao aqui e agora. Ele havia chegado à fortaleza no deserto. Uma grande estrutura cercada por uma murada de madeiras pontiagudas, com torres de vigia nas pontas e preenchida por tendas recém-formadas, de onde saíam inúmeros Kishis para recebê-lo.

A cada passo dado pelo patriarca, seus homens se curvavam. Passando pela pequena multidão, seu cavaleiro o saudava

— Patriarca — se curvou por último, Susumo — eu suponho que já tenha lidado com Kusonoki.

— Sim, e obrigado por isso — devolveu o frasco vazio — Está tudo em posição?

— É claro. Agora, é uma questão de nossa primeira equipe ter sido bem-sucedida em desviá-los — levantou-se.

— Tenho confiança de que fizeram a parte deles — Osíris e Susumo se viravam para o horizonte — Resta agora fazermos a nossa.

A construção que surgia no horizonte para os gêmeos era de um acampamento, vigiado por Kishis nas extremidades e na entrada. O forte tornava-se maior a cada passo dado na sua direção, assim como o número de homens armados se fazia visível para a dupla. 

Ao atingirem a entrada, uma fileira de oponentes se colocava entre eles e a construção. Por cima dos muros, Osíris surgia, de espada na cintura.

— Podem tentar o quanto quiserem — dizia Hirojiyu dando de ombros — Não podem nos impedir de avançar até onde queremos.

— O que adianta esse menosprezo se estão exatamente onde queríamos — respondia o Patriarca, cruzando os braços — No final, minha última equipe os desviou para cá.

— Chegue mais perto e terá o mesmo destino deles — respondeu apontando a espada. 

— Acho que é vocês que não tem outro destino — finalizou Osíris, descendo até a areia, atrás da linha. 

Agindo como um só, Kishis plantaram os pés no chão e ergueram as mãos de baixo para cima. Os grãos de areia sob os pés dos gêmeos correram para a frente deles, formando um bloco maciço que os separava da fortaleza.

— Não percebem que isso é inútil? — disse Hirojiyu, avançando contra o muro de areia.

Embora seu irmão ataque, Nagajiyu ficou imóvel, de olho no que se passava acima deles, nas extremidades da fortaleza. Os Kishis acima deles preparavam seus arcos, mas não miravam na direção de seus inimigos imediatos. Quando a primeira flecha foi atirada, sua ponta flamejando rasgou o céu azul, enquanto Hirojiyu permanecia na tentativa de furar o bloqueio.

Com cada golpe, os braços de Hirojiyu ficavam mais pesados. Enterrando sua lâmina no bloco de areia uma última vez, se apoiou no paredão ofegante, suando frio, quando ouviu seu irmão: 

— Irmão, sai daí! — gritava, correndo na sua direção, carregando uma bomba. 

Sem entender, Hirojiyu reparou nas sombras dos projéteis no chão. Avistando uma saraivada de flechas, atiradas de trás da fortaleza em sua direção. Sem tempo a perder, Nagajiyu quebrou a bomba nas próprias mãos, liberando a fumaça, que enrijeceu-se para protegê-los da chuva da morte.

— Aquela areia… — balbuciava Hirojiyu — tem algo estranho nela.

— Era uma armadilha. Estão testando nossos limites, devem ser os melhores que enfrentamos até então. 

— Não se esqueça daquele plano, se formos surpreendidos — disse Hirojiyu agachado próximo ao irmão. 

— Pensei que estivesse guardando para quando chegássemos à capital.

— Eu sei mas… — de repente a areia se movia por entre suas pernas.

O barulho das flechas colidindo contra a proteção de Nagajiyu cessou. Contudo, os gêmeos sentiram novamente a areia debaixo deles se moverem, exceto que dessa vez os grãos corriam ao redor deles, ganhando volume cada vez maior.

— Esse é o próximo movimento deles — Nagajiyu criou um braço do gás de sua fumaça.

A projeção da fumaça criada pelo gêmeo enfiou seus dedos rígidos por entre a duna que se formava ao redor deles. Nagajiyu tentava abrir caminho com sua técnica, mas a quantidade de areia era imensa. 

Poderiam as flechas terem sido uma distração? A fumaça usada para nos proteger serviu de bloqueio visual para eles.”, pensava “Isso está muito pesado, eu consigo impedir essa massa de nos soterrar mas não abrir caminho…”. Foi então que olhou para o chão e viu as flechas caídas. As suas pontas brilhavam com uma energia que emanava das pontas.

— Hiro — chamou Nagajiyu — Você disse que tinha algo nas areias. 

— Era algo… que me enfraquecia — ele cambaleava. 

— Não é possível — praguejou para si mesmo, jogando uma bomba inflamável de sua bolsa para seu irmão — Pegue a bomba, e espere o meu sinal!

Do lado de fora da fumaça, por trás da muralha, Osíris orientava a linha de Kishis. O bloco de areia que ergueram a frente da construção estava mais fino, ao passo que uma parte daquela areia escoava na direção da fumaça dos gêmeos.

— Patriarca, nossas flechas ocuparam o território inimigo — avisou o arqueiro do alto do forte.

— Então já estamos posicionados. Podem enterrá-los — sinalizou o patriarca, acenando para a linha de Kishis.

As ordens de Osíris resultaram na muralha de areia se dissolvendo pelo deserto criando uma forte onda. Além de soterrar tudo a sua volta, a fumaça de Nagajiyu se dispersava no ar aos poucos, revelando os dois gêmeos cobertos de areia até o pescoço.

— Patriarca, nós devemos… — perguntou Susumo, mas foi interrompido.

— Deixe comigo — respondeu, indo na direção de seus inimigos.

Enquanto Hirojiyu se contorcia dentro da areia, esforçando-se para fugir daquela prisão, seu irmão trocou olhares com o homem que via na sua direção por alguns segundos. O sol que castigava sua face, foi bloqueado pela sombra do corpo de Osíris.

— Poupe a sua voz — gritou Nagajiyu — Você não sabe de onde viemos, pelo que passamos. Pensa que somos só uma dupla de arruaceiros?! Que ficar parado aí na minha frente vai me intimidar?

— Eu sei quem são, e é por isso que sei que vocês não tem outro destino — dizia Osíris, abaixando a cabeça — Vocês causaram sofrimento demais a pessoas que nem sequer tomaram parte na tragédia de vocês.

— Sofrimentos demais? — Nagajiyu esboçou um sorriso de deboche — A dívida de vocês não está nem perto de ser paga!

— Não medirei esforços para proteger meu povo. 

— Seu povo? — disse Nagajiyu arregalando os olhos — Você… 

— Vou arrancar sua cabeça! — gritou Hirojiyu ainda se contorcendo. 

Balançando a cabeça negativamente, Osíris apenas deu as costas, quando o nível da areia começou a subir mais uma vez. Agora, chegando ao queixo e se aproximando das bocas dos gêmeos, Nagajiyu gritou!

— Hiro, é agora!

A areia terminou de cobrir os gêmeos. Os Kishis na fortaleza espiavam por cima da muralha de areia e repararam no rosto desapontado de Osíris, que fazia seu retorno quando uma explosão eclodiu debaixo da terra. O patriarca virou a cabeça por cima dos ombros, levando as mãos à sua espada na cintura, quando o chão começou a estremecer. 

De repente, uma mão brotou daquelas areias. Se levantando estava Hirojiyu, que carregava Nagajiyu no seu outro braço. O primeiro estava coberto de pólvora, com as roupas rasgadas e o cabelo solto. As veias de seu corpo saltavam a cada inspiração e seus olhos caçavam sua próxima presa.

— Impossível — sussurrou Osíris para si mesmo, puxando sua espada.

No entanto, o patriarca viu uma segunda parede de areia se projetar na sua frente antes que pudesse tomar qualquer ação.

— O que vocês fizeram? — exclamou ele — Eu não falei para interferirem!

— Patriarca, nós cuidamos disso — um Susumo o puxou para trás.

— Isso não está certo. Ele está diferente…

A segunda barreira se formava mais a frente do que antes. No primeiro choque, o ataque de Hirojiyu fez saltar os grãos da construção dos Kishis. Apenas com as mãos nuas, o gêmeo continuou surrando o paredão, que abria rachaduras em cada soco. Por fim, aos gritos, ele enfiou os dedos entre uma das fendas e abriu a muralha com as próprias mãos. Revelando metade de seu corpo coberto por uma mancha preta, acompanhado com outras marcas da mesma cor, brilhantes. 

A areia escorria das metades do paredão sobre a cabeça de Hirojiyu, que as empurrou para os lados e saltou contra o primeiro Kishi que viu. Susumo, vendo o que se passava, chegou próximo do patriarca e o levou para dentro da fortaleza. Enquanto isso, o Kuro pegava sua primeira vítima pela armadura e arrastava pelo chão antes de arremessá-lo contra outro oponente. Mais atrás, Nagajiyu contemplava o buraco aberto pela explosão.

“O impacto foi maior do que pensei. Hirojiyu, você sempre se arrisca porque pode aguentar para depois jogar tudo de volta nos outros. Apesar do que pode fazer, posso ver que soltar isso te machuca”, refletia enquanto olhava para a luta que se passava na frente. “Eu gostaria que houvesse outra maneira”.

Os Kishis restantes da linha de frente se juntaram, criando um aríete que acertou Hirojiyu bem no peito, mas ele não se moveu um centímetro sequer. Após absorver o impacto, ele apoiou as mãos no construto de areia e o empurrou contra os inimigos. Com todos derrubados, ele ergueu a perna direita e com um mero pisão, abriu rachaduras na fortaleza, que balançou no lugar. 

Os homens ergueram-se do chão para atacá-lo com suas espadas, mas o Kuro sacou sua própria lâmina e usando de seu próprio corpo como escudo, enterrou sua arma nos inimigos um por um. Ao final de sua carnificina, suas feridas pulsavam por todo o seu corpo, assim como a cicatriz de seu rosto.

— Irmão — Nagajiyu chegava por trás.

Tomado pela situação, o gêmeo ensandecido soltou uma interjeição gutural ao seu irmão, o empurrando para o lado. 

— Eu vou destruí-lo — disse Hirojiyu, caminhando até a fortaleza.

Os arqueiros dos fundos se adiantaram para atacá-lo, mas os ignorando por completo, Hirojiyu atacou a estrutura que circundava o complexo. Ele agarrou a base do muro externo e forçou toda a entrada do acampamento para baixo. O feito comprometeu a estrutura de todo o local, que colapsou diante dos olhos de um Nagajiyu boquiaberto.

A poeira assentou sobre o terreno. Os Kishis que sobraram arrastavam-se no chão em busca de ajuda, preenchendo o silêncio fúnebre com gemidos de dor. Hirojiyu por sua vez, ajoelhava-se no chão ofegante, enquanto seu irmão se aproximava.

— Agora entende porque não queria usar esse plano? — disse Nagajiyu.

— É o que nos resta! Isso sempre foi uma viagem só de ida — se reergueu.

— Então trata de se manter vivo até acabarmos com isso! 

A dupla passou a ouvir passos na fumaça. Nagajiyu tomava a frente, tentando enxergar através dos raios sol que penetravam na poeira que se dissipava.

— Isso acaba aqui — disse Osíris, revelando-se, com a espada em mãos. 

— Então esse é o seu povo? Está no comando desse território?

— Sou o Patriarca Osíris, pois sou o cabeça não só da família Kiiro mas do povo que dela descende, designado pelo Deus Sol. Eu darei minha vida pelos que protejo!

— Disse que nos conhecia — cerrava os punhos — Então foi você?

— Sim, fui eu.

— V-Você… Depois de todos esses anos… — Nagajiyu sacou uma bomba — Tem ideia do que fez?!

— Absoluta — apontou a espada — Por isso não devo baixar a guarda. Protegerei meu povo das consequências do assassinato de seu rei.

— Sai da minha frente, Nagajiyu! — gritou Hirojiyu, correndo até o patriarca, que apenas encarava o solo, quando os dois colidiram espadas.

— O homem que matou não era só um rei. Era nosso pai!

Entre os berros, os golpes de Hirojiyu foram aparados pelo patriarca, que continuava fitando os olhos no chão. Sua pele tinha um brilho tímido e emitia um calor forte ao menor toque. Quando cruzaram espadas mais uma vez, Osíris aproveitou para desferir uma cotovelada, que passou rente às bochechas do gêmeo, que desviou. No entanto, seu rosto saiu queimado superficialmente. 

A seguir, Nagajiyu arremessou sua bomba, que criou uma nuvem negra do qual ele ficou atrás para guiá-la. De repente, saltando da escuridão, Osíris agarrou o rapaz pelo pescoço e pressionou.

— Eu não preciso vê-lo para saber onde está.

— Hiro… Jiyu… — chamou Nagajiyu por seu gêmeo, com a voz sufocada.

Lutando por ar, ele sacou sua adaga mas foi impedido pela mão livre do patriarca, que amassou a arma com as próprias mãos. Sem o seu regente, a fumaça perdia força e era soprada pelos ventos. Hirojiyu surgia da penumbra pouco depois, com espada em mãos, pronto para atacar Osíris, que com um simples gesto, ergueu um bloco menor de areia no chão. 

De imediato, Hirojiyu tentou separá-lo com as próprias mãos, mas sentiu um calor penetrando a formação. Seus dedos queimaram com a força, enquanto com um leve soco, Osíris emitiu uma brasa que transformou seu bloco em vidro bem nas mãos do gêmeo. Tomando impulso, o patriarca desferiu um soco através da grossa camada translúcida, estilhaçando o objeto junto com seu adversário, que foi arremessado até o chão. 

“Você é bom, mas ainda precisa respirar…”, concluiu Nagajiyu. Prestes a desmaiar, ele uniu o restante de suas forças usando gás na garganta de Osíris para sufocá-lo.

O patriarca soltou sua presa naquele mesmo segundo, puxando ar às pressas, embora sem sucesso. Recompondo-se, Nagajiyu pegou sua adaga partida, se aproximando de Osíris, cujo brilho da sua técnica minguava enquanto o mesmo cuspia sangue. 

— Vou tirar de você o mínimo — dizia Nagajiyu, erguendo a sua lâmina — Comparado ao que fez com a gente. 

Contudo, quando estava para finalizá-lo, uma espada surge dos flancos, desarmando o Kuro. Em um movimento rápido, Nagajiyu ergue sua guarda para defender e o próximo golpe separa um de seus dedos das mãos. A dor retira um grito de desespero da sua garganta, na mesma medida que o sangue escorre pela sua palma.

— Está tudo bem, patriarca? — perguntou Susumo, levantando sua espada manchada de sangue.

— Estou — respondeu Osíris, recuperando o fôlego enquanto era erguido por seu cavaleiro — Mas fique atento. Isso ainda não acabou — reparou em Hirojiyu chegando por trás.

O patriarca e seu cavaleiro deram as costas um para o outro. Por sua vez, Nagajiyu reunia o que restou de sua fumaça em uma nuvem menor, enquanto Hirojiyu caminhava sobre os cacos de vidro deixados pelo último ataque de Osíris.

Longe dali, o sol abandonava o topo, se aproximando do horizonte como um ponteiro indicando a passagem do dia. Os ventos jogavam a areia por cima dos cadáveres insensíveis, exceto por um corpo mais afastado dos demais. O garoto era capaz de sentir a sua boca seca e a ardência em sua pele, ao mesmo tempo que a mente lutava para se manter acordado. 

"Eu… eu vou morrer?", pensou Yanaho, cegado pelo Sol. "Os Kiiro… foram os culpados por aquilo que aconteceu anos atrás. Meu pai, minha vila… até o Yuri. Onde isso vai acabar?", esticou tentou agarrar aquela luz branca com as mãos, quando encarou a cicatriz na palma da sua mão.  

— Ei, Yanaho! — ele delirava com a voz, o garoto tirou a mão da frente do rosto, revelando um sujeito robusto com vestes brancas estendendo o braço — não irá se levantar? 

— Mestre Onochi? — sussurrava. 

A visão de seu mestre derretia diante dele. Não conseguia enxergá-lo por completo, mas reconhecia seu sorriso e a mão que continuava estendida: 

— Venha logo. 

— Do que está falando? Não consigo me mexer. Eu nem sei bem o que vim fazer aqui... mas esses garotos sim, a culpa nem ao menos é deles.

— Então a culpa é nossa? — Duas sombras se aproximavam por trás.

— Hoshizora… Yasukasa… O que vocês…

— Disse que não reteria sua espada! — cruzou os braços Yasukasa, castigando o garoto com seus olhos amarelos.

— Eu… Não. A culpa não é de vocês.

— É sua culpa? — disse Suzaki chegando junto a Katsuo, Kazuya e outros mirins — Como você devia saber de tudo isso? Devia ter treinado mais ou lutado melhor?

— Talvez. Eu não sei.

No meio daquelas sombras, uma agachava para perto dele. Diferente das outras, ele via o rosto dessa com clareza.

—  Pai? — dizia Yanaho, segurando os soluços. 

— Você precisa se levantar para me ajudar — disse, Yoroho oferecendo a mão. 

— Eu... Eu... Não cosnigo me mexer — tentava alcançar as mãos de seu pai — Eles estavam certos. Eu queria ser reconhecido, mas contra eles? É tudo… cruel demais — completou chorando desesperadamente. 

— Lembre-se do pôr do sol — disse Yoroho, estendendo a mão — Prometeu que sempre acreditaria em si mesmo, por um mundo melhor. 

— Lembre-se bem da promessa — disse Yasukasa, fazendo o mesmo.

— Lembre-se do que vamos mostrar aos nossos pais — dizia Suzaki repetindo o gesto — nós dois sempre vencemos juntos, porque não importava o quanto você caia, sempre se levantava de novo.

— Você não vai lutar, meu filho? — Yoroho repetiu a pergunta.

— Lu…tar? — questionou-se, vendo em um brilho emanar da sua ferida.. 

— Levante-se — disse Onochi, agarrando a mão direita — Faça o que é certo! 

— Hora de acordar, — Yoroho pegava na mão esquerda — Yanaho.

Com seu nome chamado, o garoto despertou do transe. A dor permanecia, mas sua ferida ainda brilhava em vermelho. Percebia sua solidão em meio ao deserto, enquanto inspirava e expirava com dificuldade.

— Eu estava alucinando? — levava a mão à ferida — Estou vivo?!


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.



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