Nisoiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume II – Arco 7

Capítulo 51: Olhos da Escuridão

As cavalgadas intensas diante a estrada de terra, diminuíram assim que os trotes dos animais afundaram a areia. Percorrendo alguns quilômetros, debaixo de um sol escaldante, os dois soldados se aproximavam de uma grande fronteira, com muros altos e largos portões guardados.

Ao se aproximarem de uma das cidades centrais, se identificaram sendo escoltados rumo à capital Oásis por Kishis, enquanto um informante corria para a mesma. 

— Não está com medo garoto? — perguntou o Senshi que o acompanhava. 

— Se dissesse que não, estaria mentindo — respondeu no cavalo ao lado. 

— Então por que se voluntariou para vir? 

— Isso não tem a ver com meu medo, e sim com o que preciso fazer — os dois se encararam por um momento, enquanto conduziam os cavalos — sei que posso parecer um jovem medroso, mas eu sou útil.

— Ter medo não é o problema, mas sim como você corresponde a ele. Afinal, eu também estou com medo — segurou suas vestes no peito — meu pai é um dos comandantes das primeiras vilas atacadas.

— Eu-eu sinto muito — respondeu Yanaho.  

— É uma ou outra — disse Tokito cerrando a face — Eu vim para salvá-lo ou vingá-lo! 

Percorrendo as cidades o comboio de homens armados eram observados pelas pessoas ao redor, quanto maior a aproximação da capital, mas pessoas se amontoavam em volta, seja por informações ou por curiosidade. 

Foi então que uma grande carruagem estacionada podia ser avistada pelo Yanaho, interrompendo a rota para a capital. Com a aproximação os Kishis se ajoelharam perante o veículo. 

— Temos que levá-los logo — disse a mais alta com cabelos longos amarelados nas pontas — receba-os formalmente, Hoshizora. — terminou cruzando os braços. 

Com a ordem dada pela mãe, a princesa descia o veículo formalmente, com a ajuda de um dos guardas. Apontando na direção dos visitantes, ela correu para recebê-lo, disparando na frente até de seus acompanhantes.

"Aquela é a… Hoshizora?", pensou Yanaho, fazendo reverência junto com o outro Senshi

— Yanaho?! Por que está aqui?

— Faz muito tempo, princesa, mas eu vim ajudar.

De sobressalto, ela o abraçou e ainda segurando-o em seus braços, continuou a falar: 

— Então você tem que ir, o pelotão de interceptação já está pronto.

Juntos, o grupo embarcou rumo ao ponto de saída das tropas, nos muros de Oásis. Quando a carruagem estacionou, Yanaho e os Senshis se juntaram a um grupo de homens que formavam à frente do patriarca. Kusonoki, que estava ao seu lado, abriu um largo sorriso ao ver os novos integrantes.

— Veja — ele cutucou Osíris — o Supremo trouxe reforços para nós.

— Patriarca, entre eles está — Susumo coça os olhos — Não pode ser, outra criança? Esse desrespeito não para?

— Esse rapaz, não me é estranho. Kusonoki, eu preciso saber o que está acontecendo.

O Principal correu na direção de Yanaho para interrompê-lo, na medida que os novos Senshis se juntavam ao pelotão.

— Eu sei o que parece — Yanaho já começava a se explicar — Mas eu vim com a permissão do Supremo. Vocês queriam um Shiro, eu sou sua melhor opção. 

— Você é o aluno de um deles? — Kusonoki começou a girar em volta do garoto — Se o Supremo o enviou isso só pode significar uma coisa.

— Sim, senhor. Me chamo Yanaho e posso superar o poder ocular dos Kuro.

As palavras do mirim arrancaram um sorriso em Kusonoki, que acenou para Susumo e seu mestre com fervor: 

— Patriarca, Susumo, mudança de planos!

O Principal e os outros dois se uniram numa roda. De tempos em tempos, ele apontava para Yanaho enquanto explicava algo para os Kiiro que o próprio garoto não conseguia entender pela distância entre eles. 

"Aquele é o Patriarca Osíris, o responsável por aquilo tudo anos atrás", cerrava o punho, lembrando de seu pai.

— Hoshi me contou que você veio, e pediu para eu vim avisá-lo de não fazer dessa tragédia algo pior — agarrava o braço do mirim de repente.

— Alteza? — o garoto jogou as mãos para trás.

— Você era a última pessoa que esperava ver aqui — Yasukasa o rodeava, o olhando da cabeça aos pés — devo admitir, está parecendo um lutador de verdade agora.

— Então você faz parte desse pelotão também?

— Escute bem — apertou seu braço e inclinou seu rosto para perto dele — Ser um lutador não é o bastante aqui. Pode ter treinado todo esse tempo, mas agora é diferente. Está sozinho agora, não terá eu ou outro alguém para te salvar. 

— Então… — ele olhou de lado para Osíris, que ainda estava em reunião com Susumo e Kusonoki — Seu pai está protegendo você. 

— Ele é maluco de confiar em você ao em vez de mim — Yasukasa engrossou a voz. 

— Acho que não é sobre confiança, mas sim um cálculo de riscos, eu tenho algo aqui que mais ninguém tem. 

— Pois bem — ela puxou a espada da cintura de Yanaho — Está vendo essa lâmina? Eu quero que se lembre da nossa promessa dois anos atrás.

— Eu vim aqui para isso.

— Você precisa impedi-los a qualquer custo — segurou o cabo da espada de Yanaho com força, a empurrando contra o peito do mirim — Eles destruíram vilas, mataram pessoas do meu povo e do seu também.

— Eu farei o que for necessário — ergueu a mão para agarrar a espada.

— Faça mais! — ela pegou na mão de Yanaho e a desceu contra o cabo para que ele o agarrasse — Seus Senshis mais fortes não estão vindo. Não terá nem eu, nem mesmo Suzaki ou algum Shiro para te salvar. Então… Não retenha sua espada. 

— Eu… — antes que o rapaz pudesse dizer qualquer coisa, Kusonoki apoiou as mãos nas costas dos dois.

— Princesa, vamos precisar de você em outro lugar. Yanaho precisa ouvir o plano antes de partirmos.

Yasukasa não protestou. Como gesto de despedida, ela acenou com a cabeça para Yanaho, tirando suas mãos da espada do jovem antes de voltar para dentro da murada. 

— Sem tempo a perder, Yanaho — Kusonoki o empurrou para frente, na direção de Susumo e Osíris.

— Bem, filho — Susumo cruzou os braços — É melhor que seja tudo que disseram de ti.

— Nosso objetivo com essa incursão é mudar o curso deles, Yanaho — Kusonoki apontou para frente, para a direita do rapaz — Queremos tirá-los de Oásis para um lugar onde teremos vantagem. Essa é a tarefa dos mais velhos.

— Eu não vou fazer parte disso?

— Vai, mas com uma leve diferença. Já que você é imune, queremos que estude o inimigo. Até agora, pouco sabemos a quantidade de adversários, muito menos sua real força. Testemunhas se contradizem porque perderam a visão ou pior.

— Você será protegido pelos Kishis — explicou Susumo — Deverá fazer um reconhecimento do inimigo e voltar com a dimensão do que estamos enfrentando.

— Exatamente — disse Kusonoki, agachando até a altura de Yanaho para falar-lhe frente a frente — Você nos dará as peças para um contra-ataque a altura. Posso contar com você? 

As sobrancelhas de Yanaho encolheram, seu rosto se fechou em um aceno positivo: 

— Sim, senhor!

Depois de ser despachado para o pelotão, ele andou até o cavalo que sobrou guardando sua espada na cintura durante o caminho. Olhando para trás uma última vez, reparou que Osíris ficou afastado desde a conversa com Kusonoki. O patriarca estava vigiando o pelotão de trás, apoiado no muro, quando Susumo chegava nele para conversar. Já sem tempo, Yanaho estalou as rédeas, partindo junto com o grupo. 

O pelotão seguia em duas formações distintas. Os Senshis mais à frente, posicionados como uma flecha, enquanto mais atrás os Kishis cavalgavam em bloco, com Yanaho resguardado no limite da formação. Na cabeça da flecha Aka, o comandante sinalizou que o Senshi ao lado assumisse o controle da formação para que reduzisse a velocidade. Não demorou muito para o responsável alinhar seu cavalo com as tropas Kiiro, ficando lado a lado do mirim. 

— Imagino que nunca esteve numa situação dessas antes — sugeriu o Senshi

— Não, senhor. 

— Então aconselho que escute bem nossas ordens — dizia o comandante — qualquer deslize não vai comprometer só a sua vida, como de todos aqui. 

— Estou ouvindo, senhor. 

— Jirato! — chamou pelo Kishi.

— Sim, Gyuta — se aproximou dos dois. 

— A tropa será dividida em duas frentes a princípio — explicou Gyuta, fitando seus olhos com as dunas à frente — sendo eu comandante da linha de frente com os Aka, e Jirato da retaguarda com os Kiiro. 

— Exato — tomou a palavra Jirato — com os relatos dos sobreviventes, é quase certo que eles virão com aquela fumaça novamente.

— Quando isso acontecer, formaremos uma terceira linha. Qualquer Senshi pego no poder ocular, deve recuar imediatamente para a retaguarda, onde você ficará também, garoto — disse trotando mais rápido — Jirato irá lhe instruir do resto. 

Com o cavalo do comandante se distanciando junto ao dos Senshis, Yanaho desacelerou lado a lado com os Kishis, enquanto Jirato tomava a frente, ficando entre as duas linhas. 

— Você é muito novo para estar aqui — outro soldado se aproximou do jovem — Qual seu nome? 

— Sou Yanaho Aka. 

— Minha família estava na última vila, mas não os achei nas carroças evacuadas — dizia trêmulo. 

— Eu… não sei o que dizer — engoliu seco.

— Tenho esperança de que foram apenas capturados, mas penso que dá mesma forma que eles não deveriam passar por isso, uma criança como você também não deveria. 

— Mas eu estou aqui e pronto! — o aumento de tom de voz chamou atenção dos Kishis ao redor.

— Sou Yakiho, e se me for concedido um suspiro a mais após esse confronto, me lembrarei de você — disse olhando para os raios de sol por um momento — Obrigado por ajudarem. 

— Nós vamos conseguir, não se preocupe — respondeu Yanaho, ao tempo que o suor escorria sob sua cabeça. 

Percorrendo as dunas, os gêmeos cobriam suas cabeças do Sol com as capas ensanguentadas de Senshis, quando avistaram cavalos se aproximando.

— Estão tentando nos atrasar? — perguntou Nagajiyu, olhando para o irmão — quem fugiu deve ter nos relatado.  

— Vieram mais cedo do que pensei, sem casas para queimar, muito menos fumaça para nós — disse Hirojiyu sacando sua espada.

— Isso não será problema — seu irmão respondeu, abrindo a bolsa e vendo a quantidade de bombas disponíveis.

Tomando uma das esferas nas mãos, Nagajiyu deixou a bomba rolar duna abaixo antes de estourar numa névoa negra. Mais a frente, o grupo estacionava seus cavalos diante do obstáculo disforme. Os Kishis recuaram, ainda montados, enquanto os Senshis desceram de seus cavalos.

— São eles! — gritou Gyuta na dianteira — Fiquem em formação! Não morram antes de cumprirem o objetivo!

"É agora… não vou deixar nada disso ser em vão! Mestre, Pai!", pensou Yanaho enquanto puxava as rédeas, junto aos outros Kishis.

Mesmo a pé, os Senshis permaneceram em formato de flecha, avançando contra a névoa, que parava de avançar logo antes da retaguarda onde Yanaho estava protegido. O enxofre no ar penetrava nas gargantas do Senshis, que caminhavam pela penumbra cautelosamente, guiados pela presença que sentiam um do outro.

— Tem um ali! — um deles grita, reparando a névoa se agitando.

— Não se precipitem! Estudem o inimigo, aguardem uma brecha! — gritou o comandante. 

O grupo muda sua estratégia, formando um anel entre eles. Foi então que um dos Senshis avistou por entre a fumaça Hirojiyu de costas. Ele deu um passo à frente, até despertar uma tosse irresistível. Pouco a pouco, o mesmo aconteceu com os outros membros da formação.

— Algo na fumaça? Mas não sentimos nada quando entra… — um deles se interrompeu quando viu um dos gêmeos bem na sua frente.

Os gritos de Senshi ecoaram pela formação, que sentiu sua energia sumir naquela escuridão. Quando Hirojiyu apareceu dessa vez no meio do círculo quebrado pela morte do primeiro. Gyuta virou-se para confrontá-lo, girando a espada na sua direção, mesmo que seus olhos estivessem fixos nos pés de seu oponente. 

"Evitando contato visual? Eles ainda estão organizados. Eu me pergunto como", pensou Hirojiyu, se afastando após cruzar espadas com o Senshi.

Após dois passos para trás, Hirojiyu agachou ao sentir outra lâmina passar rente à sua cabeça. Rolando para o lado, ataques sucessivos vindo de cada um dos Senshis o obrigaram a levantar sua guarda.

“Droga, eles têm noção da posição um do outro mesmo na fumaça. Por isso sentiram a primeira morte”, ele contra-atacou, empurrando seu atual oponente para longe. “Eu preciso ser mais esperto”.

— Eu vou na frente! Segurem posição! — disse Gyuta.

"A fumaça está nos cansando, sem que lutemos. Com essa urgência teremos que atacar, então eu serei o primeiro!", pensava enquanto empunhava sua espada, já tendo atravessado a fumaça. "Afinal de contas, eles também têm um ponto cego."

Na tentativa de perseguir o Kuro, Gyuta sente algo morder seu pescoço. Ele olha para si e não enxerga nada, como se a dor viesse de dentro. A sua tosse piora e sua respiração fica mais pesada.

— Comandante Gyuta! 

Os berros dos seus companheiros acenderam um sinal de alerta na sua consciência, o obrigando a dar meia volta naquele mesmo instante. Contudo, ele sente outra forte mordida, agora no tronco e dessa vez ele podia ver. Era uma mão projetada da fumaça, tão rígida como concreto, trincando suas costelas.

— O que é isso?! — ele cuspiu sangue.

Ele tentava se mover daquela prisão, mas seu corpo já não obedecia. Ao fundo, ele continuava a escutar a dor de seus homens, na medida em que eles caem um a um.

"É apenas um deles fazendo tudo isso? Não tem pelo menos mais. Mesmo assim, tão poucas pessoas, causando um dano tão grande", pensou.

Durante sua luta para escapar, ouviu passos vindo na direção. Hirojiyu se colocava na sua frente, pegando o rosto do comandante com as mãos e o erguendo para encará-lo. 

— Não pode escapar dos meus olhos — disse ele.

No exterior da fumaça, um Senshi cambaleava para fora, esticando as mãos pelo ar na tentativa de sentir por onde andava. Um Kishi correu ao seu encontro para trazê-lo de volta à retarguarda.

— Tokito! — percebeu Yanaho — está ferido? 

— Não enxergo nada — coçava os olhos enegrecidos — Lá dentro está pior. Eu…

De repente, o Senshi desaba no chão. 

— Maldição — protestou Jirato, virando seu corpo e reconhecendo uma mancha de sangue no seu flanco — Ele está ferido. 

— Eu... eu preciso voltar para lá — disse Tokito com um dos joelhos no chão — minha visão está voltando. 

— Co-comandante — um dos Kishis apontou para a fumaça.

A voz trepidante do cavaleiro do exército Kiiro chamou atenção para a nuvem negra dos Kuro, que começava a crescer. 

— Recuem! Se acabarmos envolvidos na escuridão, não haverá duas linhas de combate — apontou para trás.

Apesar da expansão da nuvem, Yanaho ficava para trás dos homens que recuavam. 

— O que você está fazendo?! — gritou Jirato.

— Estudando o inimigo — gritou Yanaho, unindo as mãos.

Seu brilho esbranquiçado brotou das mãos, soprando a fumaça para os lados. Por um breve instante, todos puderam ver os corpos dos Senshi já sem vida no chão, restando somente o comandante, que estava nas mãos de Hirojiyu. 

Tokito, cuja visão havia retornado, viu o Kuro estocando sua lâmina no peito de seu superior e disparou na direção do inimigo:

— Comandante Gyuta!

— Espera Tokito! — gritou Yanaho, tentando impedi-lo junto com os Kishis.

Contudo, a fumaça rapidamente engoliu a todos antes que pudessem fazer qualquer coisa.  

"A fumaça só pode estar sendo controlada”, pensou Yanaho. “Se ao menos eu achasse quem está por trás dela". 

— Vamos todos morrer — disse um dos Kishis, levando as mãos à cabeça. 

— Temos uma missão a fazer — gritou Jirato, tomando a dianteira novamente — Não permito que se rendam antes dela! Se coloquem à frente do seu povo uma última vez! — com as ordens, os Kishis se colocaram a frente do garoto, indo em direção ao conflito. 

— Yanaho! — gritou Yakiho se colocando à frente — fique atrás de nós! Se possível fuja!

"Fugir?", ele apertava o nariz para não respirar o ar. "A última coisa que vim fazer aqui é fugir. Tenho que salvar vocês!"

Soltando a respiração, voltou a unir as mãos, mas depois virou as palmas para baixo. Com uma rápida propulsão dos braços, Yanaho saltou por cima da nuvem e por ali continuou. Pairando no ar, controlando seu equilíbrio com as mãos, ele avistou um Kuro do outro lado da névoa escura, com as mãos mergulhadas na fumaça. Yanaho enfraqueceu o jato que o mantinha no ar, pegando impulso na queda para se atirar na direção do alvo.

— Peguei você! — gritou acertando Nagajiyu como uma bala de canhão.

Os dois rolaram pela areia, mas foi Yanaho o primeiro a se erguer. Correndo para a fumaça, ele desferiu outro Kazedamu, agora dissipando a fumaça por completo. Com o subir da névoa, a visão que agredia seus olhos era a areia colorida de sangue. O restante dos homens rastejavam pela areia, com os olhos enegrecidos, enquanto eram abatidos um por um por Hirojiyu. 

— Você…você matou o meu pai! — gritava um Senshi ajoelhado em frente a Hirojiyu. 

— Sinto muito — respondeu Hirojiyu, descendo a espada sobre seu pescoço.

— Tokito! — gritou Yanaho.

O mirim tentou correr, mas seus braços foram segurados por trás. Ele deu uma breve olhada e reparou no segundo Kuro, ainda coberto por areia. Mesmo lutando para sair de seus braços, Yanaho terminou subjugado por Nagajiyu que enrolava seu braço em seu pescoço.

— Você não é daqui — sussurrou Nagajiyu no seu ouvido, apertando seu pescoço — Quer protegê-los?

Em meio aos corpos, Jirato se colocava de pé. Cada vez que a levantava para defender-se, um gemido escapou de sua boca, na medida que os golpes de Hirojiyu o lançavam de um lado para outro. Por fim, sua espada afundou-se no chão e o comandante desabava, com o corpo repleto de sangue sem consciência. 

Restando apenas um entre os que forma libertos da fumaça, com os olhos tomados pela escuridão, Yakiho ajoelhado tentava encontrar sua arma, enfrentando o breu instalado em sua visão, até que notava a aproximação do oponente bem na sua frente.

— Po-por favor, eu só quero ver minha família. Eu só quero saber se estão bem — encolhia-se com as pernas estremecendo.

— Por favor — as palavras de Yanaho ficaram entaladas na sua garganta — Não faz isso. 

— Não devia ter se metido nisso, criança — disse Nagajiyu, enquanto o último sobrevivente chorava, puxando as vestes do Kuro em sua frente.

Em silêncio, Hirojiyu balançou sua espada abrindo o pescoço de Yakiho. Com o corpo desabando escorrendo sangue, o único barulho que reverberou pelo deserto era da brisa forte, com os olhos vermelhos arregalados do mirim. 

— Não! — gritou esperneando-se, alcançando os ouvidos do outro irmão.

Seus olhos foram tomados por um brilho vermelho. Tensionando seus músculos, ele sobrepujou Nagajiyu, acertando-o no flanco com uma cotovelada e depois jogando sua cabeça para trás.

— Isso já acabou! — protestava Nagajiyu, limpando o sangue do nariz — Por que ainda insiste?

Sem dar ouvidos a ele, Yanaho lançou-se contra o segundo gêmeo. O choque das duas espadas reverberou pelo deserto. O mero olhar de Hirojiyu turvou a visão de Yanaho por um instante, mas ela rapidamente voltou ao normal. 

— V-Você é diferente — comentou Hirojiyu, reparando nos olhos fixos do rapaz que rangia os dentes — está com raiva?

— Eu vou — resmungava Yanaho, ofegante — Deter vocês aqui!

 


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

   



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