Volume II – Arco 4
Capítulo 32: Duelo de Aliados
Numa região mais alta da floresta, a prova alcançou seu pico. Usagi empunhava sua espada frente à escuridão do luar que denunciava o ápice da noite. Os pinheiros altos e amontoados, impedem até mesmo a passagem da grande chuva no local.
“É difícil enxergar assim. Tenho que respirar fundo, e usar meus outros sentidos”, pensou, enquanto reagia à cada som na mata, como se um predador estivesse o rodeando.
De repente uma luz vermelha surgia contra sua posição, a aura de Tsuneo era ativada para o combate.
— Toda essa cautela é medo? — provocou Usagi.
— Eu não vi essa coragem quando fui atrás dos seus parceiros — se aproximou arremessando um utensílio para o lado.
— Isso é… uma maleta? — apontou para Tsuneo — Espera! Por que estão atacando se já estão com uma?
— Para mirins como nós, pegar uma maleta é piada. Temos que nos apegar a objetivos cada vez maiores! — a aura do mirim se apagou aos poucos, os dois retornaram à escuridão.
— Está arriscando a vida de seus companheiros apenas por uma luta comigo?
— Como se Etsuko fosse ter algum problema lidando com seus amiguinhos fracos — estavam a metros um do outro, cruzando espadas em postura — Além disso, o outro membro da nossa equipe está vagando por aí, ele nem conseguiu nos acompanhar. Essa provação é para encontrar os dignos do pelotão, não é para os fracos.
O primeiro avanço surgiu vindo de Tsuneo, que tentava romper a guarda alta de Usagi. Entre golpes de direita para esquerda, todos defendidos pelo melhor mirim.
Em uma esquiva mais rápida que o comum, Usagi defendia o ataque de Tsuneo, arrastando sua lâmina no metal do oponente na direção de seu ombro.
Prestes a atingi-lo, a espada encontrou o escudo carregado por Tsuneo.
“Ele veio preparado, não posso perder tempo aqui”, pensou mantendo a postura.
— Eu te conheço Usagi, sempre escondendo a sua força. Mas eu sei a verdade: ninguém nesse pelotão é tão bom quanto você no um contra um — sua mão que segurava o escudo brilhava em vermelho — e é por isso que preciso superá-lo!
Ele correu em direção a Usagi usando o escudo como barreira. O parceiro de Aiko jogou seu ombro para repelir, porém Tsuneo desceu sua lâmina para acerta-lo, fazendo com que Usagi recuasse, tomando impulso para trás.
— Não pode fugir para sempre! — gritou, arremessando o escudo.
Ele desviou para o lado, enquanto o escudo ficou cravado em um tronco. Tsuneo continuou seu ataque, transferindo sua energia para o punho, que brilhava em vermelho como seus olhos.
Usagi tomou o escudo do tronco e encontrou o soco de seu adversário com ele. O impacto do punho de Tsuneo na proteção partiu o equipamento em inúmeros pedaços, soprando um vento que balançou as árvores e estremeceu o chão. Apesar disso, Usagi permanecia inatingido.
— Mas o que?! — percebia o fracasso no ataque.
— Nem sempre um punho rubi vai resolver a luta — respondeu Usagi — dizia, o empurrando com o ombro, pegando na mão que carregava a espada, apertou seu pulso enquanto apontou sua espada para o pescoço de Tsuneo.
“Ele usou a energia de seu sangue além do escudo para amortecer meu punho rubi, e ainda conseguiu transferir a mesma potência de energia para os outros músculos”, pensou Tsuneo, soltando a espada já sem forças.
— Acabou — disse Usagi derrubando Tsuneo com uma rasteira.
Guardando sua arma, virou-se às costas em direção para onde foi sua equipe.
— Anda, pega a maleta. Você venceu! — esperneou Tsuneo — meu real objetivo não está aqui dentro, e sim em superar alguém lá fora! Se eu não presto nem para te derrotar, não mereço passar nessa prova! — finalizou gritando.
— A maleta não é minha, estou indo encontrar meus amiguinhos fracos, que está com nossa maleta.
— Se você pode terminar a prova com duas e provar seu poder, por que não?
— Eu também quero superar alguém fora daqui, mas eu aprendi que não é poder que nos traz honra, mas sim disciplina — continuou adiante — Uma hora, você vai aprender isso também — finalizou abandonando o mirim.
O derrotado encarava a maleta, a poucos metros de distância dele, quando outro mirim chegava para se apossar dela.
— Tsuneo, eu cheguei mas fiquei com medo do Usagi… Bem, desculpa — disse, o fraco membro de sua equipe pegando o objeto pela alça — pelo menos ainda temos a maleta.
“Então é disciplina que você tem, irmão?”, se questionava Tsuneo no chão, olhando para a lua tímida nas nuvens carregadas.
Durante sua passagem pela floresta em busca da segunda maleta que selaria o acordo das duas equipes, os que não estavam feridos permaneciam acima nas árvores, buscando novos alvos.
Yachi percebia sua cicatriz se fechando enquanto raciocinava a respeito do contexto atual:
“Já já vai amanhecer, não deu tempo. A chuva dificultou nossa sensoria as outras equipes. Também tivemos que abandonar Kento e Misugi…”
— Yachi — interrompia o pensamento se juntando ao mesmo galho onde ele se escorava — sentiu alguma equipe? — perguntou Umi.
— Não — segurava a maleta distanciando-a da mirim.
— Entendo — os dois trocavam olhares, enquanto os outros companheiros estavam em outros galhos — sabe, eu e Jin também somos filhos de um importante Senshi.
— E o que eu tenho haver com isso?
— Nós quatro aqui temos, estamos destinados a percorrer o que nossos pais foram — dizia se aproximando lentamente — mesmo que não seja nosso desejo, ou mesmo… se não estivermos prontos para isso — finalizou apontando para Nakama, chamando a atenção de Yachi para seu irmão.
— Espera que eu entregue a maleta para o livrar disso? — sorriu Yachi concluindo.
— Eu admito, Jin foi selecionado muito mais pela influência de meu pai do que por suas capacidades — ela estendeu a mão — mas, mesmo sendo injusto, eu preciso vencer essa prova para continuar na minha busca.
— Entendo — levou a maleta à frente — porém eu já tenho uma escolha melhor para o destino do meu irmão e o meu! — Mostrou a ferida cicatrizada, ao tempo que jogou a maleta para Nakama que a segurava.
Umi e Yachi puxaram suas espadas de suas cinturas, ressoando o som do impacto da disputa. Os dois desciam para o solo despertando suas auras.
— Vai Jin! Eu lido com ele! — gritou Umi, ao tempo que seu irmão seguia Nakama.
A garota vê seu oponente se aproximando e arrasta sua espada pela grama, jogando terra nos seus olhos. Ela gira para acertá-lo por trás, mas Yachi desvia e golpeia sua espada, desarmando-a, mesmo de olhos fechados.
— Eu não preciso te ver — limpou a sujeira dos olhos e pegou a espada de Umi — Somos Aka.
— Que seja — resmungou Umi, tentando atacá-lo com os punhos.
Sem permitir um passo a mais de Umi, seu inimigo riscou as duas espadas, criando uma faísca que fez arder a pele da mirim. O ar quente entrou até em seus pulmões, fazendo-a tossir sangue. No chão, tentando recuperar o fôlego, Umi já não tinha como combater Yachi.
— Umi! — gritou Jin tentando quebrar a defesa de Nakama que usava a espada, segurando a maleta com a outra mão.
Os dois ainda estavam em um galho, brigando ao tempo que mantinham o equilíbrio, quando Yachi saltou pegando no tornozelo de Jin, puxando-o contra o solo. O mirim despencou de cima por uns cinco metros, batendo com as costas no chão, derrotado.
— Esse foi o trato, Umi — disse Yachi, pegando a maleta dada por seu irmão — por mais que pense, nós não somos iguais — os dois se aproximaram dos irmãos derrotados ao chão.
— A gente faz o que pode para vencer — respondeu Umi.
— Eu acredito que você faça mesmo — dizia Nakama — mas seu irmão? Desde sempre, nunca vi tanta falta de respeito com as tradições.
— Que se dane as tradições, podem levar a maleta — disse Jin.
— Não tem respeito pela família que te colocou aqui? — respondeu Nakama, guardando sua espada
— Eu não pedi por isso! — socou o solo — não irei assumir nada que eu não quero! Mas fiquem tranquilos, em algum momento ele vai arrumar um jeito de graduar a gente. Ele acha que pode vencer com a insistência.
— Ora seu…
— Chega Nakama — interrompeu Yachi — deixei eles e vamos, já temos o que precisamos.
Nakama apenas deu as costas ao mirim para se juntar ao irmão, igualmente vitorioso. O amanhecer se aproximava, e eles partiram dali com uma maleta garantida. Umi, que se recuperava das queimaduras, se aproximou de Jin.
— Anda, levanta, temos que voltar — estendeu a mão.
— Voltar, voltar para que? — dizia amargurado — para seu pai nos dar um sermão sobre como meu pai era?
— Já conversamos disso, é o nosso destino Jin. Se não temos outra escolha, melhor enfrentar e descobrir o porque disso tudo.
— Chega. Só… chega — se levantava — vamos logo.
A equipe de Yukirama descia pelas rochas, um salto de cada vez. A lua não permitia um breu completo, mas a visibilidade e a altura de onde vinham não permitiam erros quando se segue um caminho íngreme. Katsuo preparou um disparo com seu estilingue, que acertou de raspão onde o pé esquerdo de Emi se apoiava.
A mirim escorregou e deslizou até o lago abaixo com força. Kazuya antecipa a queda, subindo a uma altura onde se arremessou no ar, agarrando Emi. Os dois colidiram um pouco acima do rio e aterrissaram do outro lado da margem, na saída leste.
— Espera aqui, Yuki — ordenou Masori — eles plantaram armadilhas — preparando seu arco com uma flecha com corda nas mãos.
— Eu já esperei demais — resmungou Yukirama, saltando sobre o trio de Yanaho.
Quando viram o filho de Yuri se precipitar sobre o chão, Yanaho afastou Katsuo, protegendo-se do impacto, que jogou pedras para os lados e abriu uma pequena cratera a beira da água.
Masori atirou sua flecha que atravessou a caverna com uma corda, onde pôde deslizar com seu arco até a luta que estava para começar. Sobrevoando o campo de batalha, ela reparou nos movimentos de Katsuo por trás de Yanaho.
Quando o camponês avançou, seu amigo estava logo atrás. Yukirama subiu sua espada, defendendo o projétil atirado por Katsuo e Yanaho buscou mudar a guarda do seu adversário ao escolher atacar pelo lado. Mudando sua postura, Yukirama defendeu o corte lateral e girou, ficando costa a costa com Yanaho e de frente para Katsuo.
O aprendiz de Onochi tentou virar rapidamente com um corte giratório, porém Yukirama já havia se distanciado dele, lançando-se sobre Katsuo, que trocava seu estilingue por uma espada. O metal dos dois colidiram
“Ele está muito na ofensiva, preciso afastá-lo!”, pensou Yanaho, guardando sua espada para unir as mãos.
Elas piscaram com um brilho branco, o que despertou a atenção de Yukirama que chutou Katsuo no peito e virou para atacar seu segundo inimigo. Yanaho aparou a espada com o próprio antebraço, empurrando Yukirama para trás e puxando sua própria arma.
— Continua me enrolando? Anda, mostra a sua técnica — provocou Yukirama, mirando no peito de Yanaho.
— Se insiste — dizia Yanaho, apontando sua lâmina entre ele e o inimigo — aqui está!
Com sua outra mão, lançou um vento forte que jogou Yukirama para cima, na saída norte da caverna. Ele se chocou contra as paredes, o que balançou o mecanismo de madeira que sustenta o caminho de pedras onde havia caído, o mesmo que o grupo inimigo havia plantado uma armadilha.
Yanaho correu para encontrar Yukirama. Katsuo se levantava tentando acompanhar seu amigo enquanto pensava:
“Estamos quase lá, Kazuya está lidando com Emi, e estamos conseguindo lidar com Yukirama. Só mais um pouco e…”, era interrompido por uma flecha que penetrava seu tornozelo direito.
O grito de dor do garoto ressoou pela gruta, chamando atenção de todos.
— Sinto muito — disse Masori chegando por trás, evitando as armadilhas, e observando a luta dos outros dois.
Mesmo percebendo que o mirim ferido carregava a maleta, ela prosseguiu para região onde estava Yukirama que se recompunha do kazedamu.
Yanaho o cercava pela passagem estreita, aproveitando do momento a sós para dialogar com o rival:
— Seu pai foi um bom Senshi, Yukirama.
— Cala a boca — se levantou socando a parede rochosa ao lado.
— Devemos honrar a memória dele com nossa dedicação.
— Eu mandei — empunhou sua espada — você calar a boca!
O ataque desesperado de Yukirama parou na lâmina de Yanaho. Os dois disputavam em força com o atrito de suas espadas ecoando pela caverna.
— Seu pai foi um herói — continuou Yanaho — ele cumpriu seu dever como Senshi.
— O que você entende sobre isso? Você nem ao menos é um Senshi — recuou Yukirama, tentando outro golpe — Meu pai queria voltar. Se ele cumprisse seu dever de fato, não teria morrido!
A força da espada de Yukirama estremeceu o chão, enfraquecendo os troncos que Yanaho e Kazuya colocaram abaixo da arena onde os dois lutavam. Os pés do camponês arrastaram para trás com o impacto de seu bloqueio. Além do chão quase cedendo, ele estava à beira de cair no lago abaixo.
— Meu pai morreu porque foi fraco. Eu vou ser forte. Forte para viver e nunca perder para ninguém.
— Você não pode ter certeza disso. Somos fortes para dar nossas vidas pelos cidadãos.
— Que se danem eles! — golpeou Yanaho do lado, jogando agora contra parede — Por acaso os cidadãos deram conta do sofrimento de minha mãe? Da estabilidade e amor que tínhamos com ele?
Encurralado, Yanaho balançou sua espada para afastá-lo, mas Yukirama agachou o corte e o acertou com uma cabeçada contra as paredes da caverna. Terminou chutando seu inimigo até o chão.
— Não, no final de tudo só eu tive que dar conta disso. Eu que tive que ser forte! — levantou a espada — E depois de todo esse tempo aparece um fraco como você pedindo para eu parar? Quem é você para me dizer isso?!
Yanaho cerrou os dentes. De bruços ele uniu suas mãos. Quando virou para encarar o ataque de Yukirama, empurrou seu braço contra o dele, afastando a lâmina que vinha para o seu pescoço. Usou seu punho, para desferir um soco bem no queixo de seu rival surpreso com o movimento.
— Eu sou um aka, um mirim, assim como você. Sinto muito por tudo o que aconteceu com você, mas não precisa ser assim. Yuri não pode ter morrido por nada, muito menos para você ter acabado assim — estendeu as mãos ao lutador caído.
— Eu já falei — Yukirama energizava sua mão, canalizando sua energia em seu punho — cala a sua boca!
Ao avançar, tentando socá-lo, foi bloqueado pela espada do mirim no último instante. A força o jogou para trás. Verificando sua espada, Yanaho viu rachaduras.
Sem tempo para pensar, Yukirama saltou com um grito desesperado por cima dele.
“Isso não!”, pensou Yanaho, percebendo o punho rubi junto a aura do adversário que crescia.
No último reflexo o mirim desviou para o lado. O soco de Yukirama atingia o solo comprometendo a estrutura da armadilha de Yanaho, derrubando a plataforma de pedra onde estavam. Ambos caíram direto no lago, mas durante a queda, uma pedra acertou o filho de Yoroho na cabeça. Desorientado, ele caiu nos braços do lago escuro.
Katsuo, que se arrastava para observar a luta, viu seu amigo cair sem consciência nas águas escuras das cavernas e tentou ajudar, mas teve que voltar sua atenção a Masori que o acertou na cabeça com seu arco.
Da saída leste, um grito pôde ser ouvido pelos lutadores, assim como o barulho de uma corda arrebentando. Masori se virou para olhar e percebeu Emi, presa contra a parede, com espinhos de madeira cercando todo seu corpo. Estava presa e sem saída.
— Droga! Esse moleque me pegou. Cuidado, Masori! — gritou ela.
Antes que a atiradora pudesse entender o que se passava, Kazuya surgiu por trás, investindo contra ela com um tranco. Os dois caíram no chão, com o mirim mais forte por cima.
— Pegue a maleta e fuja — disse Kazuya, segurando Masori pelos braços.
— Mas, mas e Yanaho?
— Você está ferido, se quiser ajudá-lo, vai. Mas não espere conseguir manter a maleta. Decida! — respondeu Kazuya, afastando a garota com o arco.
Observando o lago à frente, percebeu Yukirama saindo das águas suspirando em cansaço com sua mão direita segurando a esquerda, imobilizada.
“Droga, mesmo retirando a flecha, essa coisa dói muito para correr! Yanaho não voltou da queda… mas se eu perder a maleta…”, encarava o objeto, enquanto refletia.
Foi então que franziu as sobrancelhas, se erguendo ainda manco indo em direção do seu real objetivo, ainda com a maleta em mãos. Se colocou à frente da beira do lago, onde saia Yukirama desarmado.
— Quer ser o próximo? — ameaçou Yukirama.
Katsuo engolia seco frente a cena, não dizia nem fazia nenhum movimento, como se estivesse esperando a ofensiva do inimigo.
— Anda, me dê logo essa maleta! — avançou Yukirama.
— Sai da frente — Katsuo usou o próprio objeto para bloquear o soco do oponente — eu vou salvar meu amigo! — Em sua esquiva se lançou ao lago, deixando para trás o item.
— Yuki, o que aconteceu? — perguntou Masori, ainda em disputa com Kazuya.
Seu parceiro entrou entre ela e o adversário com um golpe, que o atrapalhou. Kazuya se afastou notando que estava sozinho, parando de lutar, percebendo a escolha de Katsuo, e a derrota de seu grupo.
— A maleta tá com a gente, vambora — disse Yukirama, erguendo-a do chão.
— Espera — empurrou Yukirama — Você vai deixar Yanaho ali? Ficou doido?
— Vamos voltar porque já conquistamos o objetivo — deu as costas — Aproveita e tira a Emi da armadilha — seguiu trajeto abandonando todos.
— Volta aqui, Yukirama! — gritou Masori.
Invés disso, resgatou Emi e se juntou a antes seu oponente Kazuya, que aguardava a volta dos dois companheiros submersos.
Mergulhando no rio, o iro de Katsuo pode guiá-lo para seu amigo, coberto por pedras de diversos tamanhos. A escuridão do lago foi inundada pela luz da aura da Katsuo, que usou toda sua força para livrar o amigo da sua prisão. Em poucos minutos, retornava à superfície com seu amigo.
Saindo da água, notou o céu mais claro. O sol já estava no horizonte, a prova havia acabado.
— Está tudo bem com ele? — perguntou Masori.
— Yanaho engoliu muita água — balançou a cabeça — Eu não estava em condições para enfrentar o Yukirama. Poxa, perdemos logo no final — Kazuya tomava posse de Yanaho desacordado.
Após pressionar o peito do mirim algumas vezes, ele despertava, deitando de lado para tossir toda a água.
— Ainda bem, que susto você deu na gente — comentou Katsuo.
— A maleta — dizia Yanaho, passando a mão na testa para sentir seu sangue — Perdemos? — notava Masori e Emi junto a eles.
— Levanta — disse Kazuya.
— A maleta não estava com você, Katsuo? — perguntou Yanaho.
— Você não saiu do rio, o Yukirama sim. Eu achei que…
— Ele entregou para o Yukirama, que nem se importou em te salvar — explicou Masori interrompendo.
— Aquele esquentadinho, fez tudo em benefício próprio — dizia Emi irritada — mas… pelo menos eu vou passar — respirava fundo.
— Mas… Mas como fica você? — perguntou Yanaho.
— Como fica você! — suspirou — sua vida vale muito mais que toda minha carreira militar, tenho certeza disso — disse com um olhar voltado para o chão.
Yanaho se levantou e abraçou o amigo.
— Me desculpa. Eu queria passar, mas não desse jeito — disse Katsuo.
— Eu errei, devia saber que ele estava disposto a tudo — lamentou Yanaho.
— Não foi culpa sua — explicou Masori — Não acredito que ele fez isso comigo, com a gente. Somos aliados, isso aqui é só uma prova! — cerrou seus punhos.
— Katsuo — dizia Kazuya, se reerguendo — Voltem todos vocês. Já amanheceu.
— Espera, e você? Para onde vai?
O mirim mais alto seguiu sem ao menos responder a súplica do garoto.
— Deixa ele — dizia Yanaho — Cada um lida com a derrota do seu jeito.
Quando retornaram à entrada da floresta, o grupo encontrou vários mirins sentados na grama. Alguns feridos, outros inconscientes, todos esgotados. Katsuo deixou Yanaho descansar na sombra de uma árvore, enquanto Tomio, que passava pelas equipes.
Após a entrega do objetivo de Yukirama, as duas restantes da equipe se aproximavam, com uma indo com pressa em sua direção.
— Yukirama! — gritou Masori, o puxando por trás.
A garota deu um tapa no rosto dele na frente de todos.
— Olha isso! — pegou no braço ferido do garoto — qual sentido disso? Essa foi a última vez! Tenho certeza que seu pai nunca deixaria nenhum companheiro para trás. Você… você nunca vai honrar ele assim!
Todos observavam a cena perplexos, Yukirama apenas se soltou de suas mãos, virou-se e se afastou dos demais dizendo:
— Que seja.
Masori seguiu para o lado inverso, se juntando aos outros companheiros.
Após a maioria se reunir, e a entrega das maletas restantes, os professores contavam as maletas avaliando.
— Espera um pouco — dizia Tomio, olhando em volta — Cadê a restante?
— Do que está falando? — questionou Katsuo.
— Pensamos que só tinham quatro — disse Umi, enquanto os outros mirins ficaram espantados.
— Pensaram é? — insinuou Arata, rindo e apontando para o último mirim a se reunir.
Kazuya, chegava enxarcado com uma maleta em mãos. O objeto estava extremamente úmido, sem marcas de sangue, irrastreável pelo iro vermelho.
— Kazuya, como você… — Yanaho tentava encontrar as palavras.
— Era para encontrar a maleta. Eu encontrei e escondi debaixo do lago — respondeu inexpressivo.
— Então nós… — Katsuo se aproximava incrédulo — Passamos! — De repente, pulou nas costas do companheiro com a maleta, comemorando.
Kazuya não esboçou nenhuma reação ou incômodo com o garoto em suas costas. Tomio recuperou a maleta das mãos do mirim, avaliando:
— Ter a maleta também era um sinal para os outros te atacarem. A ideia era que remover a marca tornaria o rastreio mais difícil, mas você adaptou essas regras para vencer. Estão aprovados.
Enquanto Katsuo comemorava com os braços para o alto, Yanaho se deixava cair, deitado na grama para observar as folhas que caíam da árvore, em meio a brisa da manhã, rindo sem se segurar.
“De todas as pessoas, logo o Kazuya. Além disso, Katsuo priorizou me salvar do que vencer. É mestre Onochi, a escolha certa sempre vai valer a pena”, refletiu fechando seus olhos ao tempo que uma folha gentilmente repousou sob sua testa.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.