Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume II – Arco 4

Capítulo 31: Melhores dos Melhores

O fim do dia era evidenciado pela diminuição da claridade na floresta. A equipe derrotada de Yachi trocava curativos com a equipe de Umi. Kento expelia sua aura curando seus aliados, enquanto os membros encostaram nos troncos das árvores, conversando sobre suas respectivas lutas que resultaram na perda da maleta.

— Para ter um membro da equipe imobilizado assim, imagino que tenham enfrentado uma boa equipe — dizia Yachi tirando uma das faixas de suas mãos — Foi a de Usagi? 

— Não, foi Etsuko e Tsuneo — levantou Umi indo até a maca do companheiro ferido — eles estavam em dois. Conseguiríamos lidar, se minha equipe não fosse mais qualificada — completou, trocando olhares profundos com seu irmão.

— Tsuneo usou o punho rubi em Misugi — disse Jin inclinando a cabeça para o chão.

— Ele ficou doido? É uma técnica muito poderosa para se usar contra um companheiro — sinalizou Nakama. 

— Ele está com sangue nos olhos. Misugi não tem mais condições de luta, eu e Jin estamos sozinhos. 

Uma leve chuva se instaurou no ambiente, quando de repente a aura de Kento apagava de forma repentina, fazendo-o cuspir sangue. Assustando seus companheiros por um momento, logo os tranquilizou: 

— Eu tô legal, eu só devo ter usado muita energia para recuperar a gente.

Após limpar o sangue da tosse em suas vestes vermelhas, Yachi amarrou uma de sua faixas na testa de seu aliado. 

— Yachi, vamos unir nossas equipes — sugeriu Umi — não há regras contanto que tenhamos êxito em conseguir nossas maletas. Se trabalharmos juntos, estaremos em maior número. 

— Isso é perfeito! — levantou-se Nakama — podemos contornar nossos ferimentos e desgaste. 

— Vai com calma irmão, sofremos para pegar uma maleta, imagina duas.

— Afinal, quantas devem ter? — perguntou Jin, levando a mão ao queixo. 

— Suponho que seja metade das equipes — dizia Yachi — a intenção deles é ficar de olho nos selecionados. 

— Metade de onze é… cinco e meio?

— É melhor você calar a boca Jin — respondeu Kento não gostando da brincadeira. 

— Como eu estava dizendo — levantou a voz junto a sua postura — são vinte e dois selecionados separados em onze grupos. O objetivo dos Senshi’s é buscar os melhores dos melhores dentre eles. Meu palpite é que tenham entre quatro a seis maletas.

— Se for quatro, nossa chance é muito pequena tipo… — reagiu Jin, sendo interrompido. 

— Vamos! — afirmou Umi — não temos tempo a perder.

Com a sinalização da principal mirim de seu grupo, Yachi se aproximou da mesma, erguendo sua espada verticalmente. Segurou na afiação do metal, apertando para provocar um leve ferimento em sua mão.

— Certo. Essa ferida deve se regenerar até um pouco antes do amanhecer — sangue escorria pelos gumes — se até lá não tivermos conseguido as duas maletas, o pacto acaba. 

— Por mim — dizia Umi pegando na mesma espada um pouco a baixo — tudo bem! 

Eles trocavam olhares enquanto a face da garota demonstrava sua sensibilidade com a dor do corte na palma da mão, a do experiente mirim apenas esboçou um tímido sorriso antes de questionar uma figura oculta:

— Não quer participar disso você também? Se tivesse com uma maleta não estaria nos bisbilhotando. 

Com a chamada em voz alta de Yachi, de trás de arbustos saiam mais três mirins, com apenas um deles sendo homem. 

— Senti a presença de dois grupos por aqui — se revelou Yukirama — pensei que estavam batalhando. De Umi e Jin eu até esperava um acordo covarde desse, mas logo de você, Yachi. 

— Está confundindo covardia com estratégia! — retrucou Nakama.

— Não me dirijo a palavra a quem nem sequer foi selecionado — dizia Yukirama, virando de costas para todos — vamos, Mei, Masori. 

Os jovens se dispersaram em meio a leve chuva no local. 

Longe dali, Usagi carregava um lobo nos ombros, já morto, até seus companheiros apoiados numa árvore, recuperando o fôlego. Todos estavam com arranhões e mordidas nos braços e pernas, mas somente Aiko tremia, segurando a maleta com força perto do peito.

— Que luta — dizia Usagi jogando o cadáver no chão — Quando falaram em predadores, não imaginei que fossem esconder uma maleta com eles.

Aiko permaneceu imóvel, com o olhar vagando pelo chão. Um trovão foi ouvido por todos, seguidos pelo aperto da chuva.

— É muito cedo para ficar assim — empurrou sua parceira, Effei.

— Deixa ela — dizia Usagi, agachando para perto — Até porque quem protegeu o objetivo foi ela. A gente só tava matando os lobos.

— Porque esse era o plano, né? Nosso papel era mais importante.

— Não existem papéis mais importantes, só maiores e menores — segurou na mão de Aiko — Se não fosse por você, não teríamos conseguido.

— Olha só para vocês — Aiko balançava a cabeça negativamente — Se eu tivesse ajudado…

— Mas você ajudou — insistia Usagi — Aiko, nosso objetivo é ficar com as maletas e foi isso que fez. Você sabe para onde deve ir, só precisa ter coragem para encarar os problemas. Até lá, você tem a gente.

— Isso só até o final da prova — provocou Effei.

De repente, uma presença se faz sentida pelo trio. Eram duas energias ao redor, com certeza não era uma maleta.

— Parece que vamos ter mais predadores — levantou-se Effei — Que baita hora para isso.

“São só dois se aproximando, quem poderia ser?” 

— É o seguinte — segurou Aiko nos ombros — Vamos fazer a mesma coisa de antes. O inimigo não vai considerar você uma ameaça, use isso ao seu favor. Vamos ganhar isso, agora vai — sinalizou Usagi.

Balançando a cabeça positivamente, Aiko ficou de pé e saiu correndo sem olhar para trás. Effei e Usagi deram as costas um para o outro, quando um mirim saltou da escuridão. Seu ataque terminou na defesa de Effei, que o empurrou para Usagi. Por sua vez, ele o pressionou contra a árvore e pode vê-lo bem de perto.

— Tsuneo? — reconheceu o mirim.

Usagi recebeu uma cabeçada que o afastou pela dor, permitindo Tsuneo escapar dele. Os dois sentiam o sangue escorrer pela testa, enquanto planejavam seus próximos movimentos.

— Eu não sei se você é muito corajoso ou muito burro vindo sozinho — comentou Effei.

— Olha quem fala — respondeu Tsuneo.

— Effei você tem que encontrar Aiko — reagiu Usagi — Eles estão atrás dela.

— Mas você precisa de…

— Só vai! O objetivo é mais importante.

Tsuneo corre para impedir Effei, porém Usagi se colocou entre os dois. Enquanto estavam presos no embate, Aiko driblava as árvores chegando às margens do rio, quando se deparou com Etsuko esperando por ela.

— Usagi é muito generoso, entregando a maleta de presente para nós assim — afiava sua espada.

— E-Eu não vou me entregar — disse Aiko, com a maleta na mão e a espada na outra.

Pelo aumento da chuva, a correnteza atrás de Aiko já transbordava lentamente, escorrendo pelos seus pés trêmulos. Na sua primeira investida, Etsuko virou de lado e esticou o pé, derrubando-a. 

— Acaba logo com isso e me entrega a maleta — estendeu a mão à lutadora caída — não quero ficar batendo em mulher cara.

Aiko virou-se do chão já com um corte, que foi defendido no reflexo. Etsuko revidou com um chute, mas a garota rolou pelo chão, escapando.

— Nem assim você entende? — disse Etsuko, cerrando os punhos — Vou acabar logo com isso então.

A água rompia as margens do rio com violência, varrendo o campo de batalha dos dois. Aiko começou a subir numa das árvores, escalando até os ramos mais altos, porém Etsuko interrompeu sua ascensão. Arremessando sua espada, ele derrubou o galho onde ela tentava se apoiar. 

Tanto a espada, quanto sua adversária caíram na sua frente, alguns galhos abaixo. Aiko tentava ficar de pé, mas seus olhos permaneciam fixos nas águas abaixo, e seus pensamentos obcecados no que poderia acontecer se cair nelas.

— Você está sem saída. Tem mais medo da água do que de mim — dizia Etsuko, recolhendo sua espada — Última chance.

Engolindo seco, Aiko olhou para baixo, depois para Etsuko e então para sua espada.

“Eu ainda não sou forte o bastante. Mas eu preciso fugir. Usagi e Effei acreditaram em mim…” pensou, trazendo a maleta para perto como antes.

Em um rápido gesto, Aiko cortou o galho onde ela e Etsuko estavam apoiados. Precipitando sobre as águas da cheia do rio, ambos foram arrastados para várias direções, colidindo com troncos, pedras e outros obstáculos. Aiko tentou se agarrar a um tronco caído, mas não tinha forças e o soltou. Ela já havia deixado a própria lâmina para trás, segurando a maleta com as duas mãos.

“Esse foi o melhor que consegui. Se eu segurar a maleta com força, talvez alguém me ache. Eu só nunca posso soltar”, pensava com os olhos fechados, enquanto era consumida pela água.

Apesar de conformada, Aiko sentiu algo puxá-la para perto. Dedos fortes, mordendo sua roupa, quase rasgando o tecido com a força da correnteza puxando para o outro lado. Ela abria os olhos, vendo Effei agarrado a uma pedra, tentando trazê-la para terra firme. 

— Não desista — gritava Effei — Você está quase lá.

Aiko contribuiu para o esforço, nadando contra a corrente até que finalmente se juntou ao parceiro naquela pequena ilha.

— Como — arfava — Como me achou? Cadê o Usagi?

— Ele ficou para enfrentar o Tsuneo, percebeu que alguém vinha te pegar e me pediu para vir. É um alívio ver que está com a maleta, você foi bem, agora vamos voltar para ajudar ele.

Mais ao norte da floresta, Yachi, Umi e seus respectivos companheiros observam uma disputa entre três equipes. Kento aguardava cuidando de Misugi. Os outros quatro circulam pelo terreno, em um lugar mais elevado.

— Já estamos olhando isso faz quanto tempo? — questionava Jin — tipo, eles já estão cansados, a chuva já até apertou.

— Nos unimos para ficar em maior número, e vamos bater de frente com três equipes? — respondia Yachi — pensei que era preguiçoso, mas tô vendo que é burro também. 

— Pega leve aí irmão. Uma equipe restará desse conflito, vai ser então que vamos conseguir essa maleta — explicava Nakama.

“Apesar de conseguirmos essa maleta, a chuva forte provavelmente já inundou o rio. Isso vai dificultar a busca pela segunda”, pensou olhando a ferida em sua mão direita, que ficava menor com o passar do tempo.

Os próximos minutos serviram para o grupo organizar a estratégia, antecipando a fuga da equipe que sairá com a maleta. Com o fim do combate entre eles, a equipe vencedora percorreu um das estradas prevista, mais aberta na floresta, após fugirem, deitaram e sentaram suspirando. 

— É agora! Avancem! — disse Yachi, enquanto Umi descia com sua equipe.

Umi pisava no membro estirado no chão. Provocando mais uma fuga dos demais para o lado contrário do ataque surpresa. 

— Agora Nakama! — Os dois irmãos vinham na direção da fuga.

Com suas espadas juntas, geraram uma faísca maior manipulada por Yachi, o elemento flamejante se expandia na direção dos fugitivos como uma barreira.

Os dois restantes caíram com queimaduras, enquanto o fogo era controlado pela força da chuva. Jin, que perseguia os dois, pegava a maleta vendo seus companheiros mirins ao chão. Tendo o objeto em mãos ele suspirou em alívio, quando uma mão pesada o pegou pelo ombro:

— Onde está com a cabeça?! Temos apenas uma maleta! Vamos! 

Após a chamada de Yachi que já partia correndo com os outros, Jin apenas perseguiu seu grupo de seis mirins, atrás de mais uma outrora maleta. Enquanto Umi, correndo, percebia sua ferida que firmou o pacto, já cicatrizando. 

No centro do território, Yanaho terminava de apertar o nó em uma das várias armadilhas da caverna que o trio havia preparado. Ergueu a cabeça e enumerou elas. Uma parede de madeiras pontiagudas que Kazuya esculpiu, pronta para ser ativada na saída leste. Outra pela passagem que leva ao norte, uma série de estacas que sustentam o chão. Caso sejam removidas, tudo cairia.

— Foi um dia cheio, mas valeu a pena — disse Yanaho, limpando o suor do rosto.

— Se preparem — comentou Kazuya — Não estamos sozinhos.

Uma fina estalactite caiu sobre o lago da caverna, espantando os três que levaram sua atenção ao que vinha de cima. Katsuo percebeu algo caindo junto da formação geológica e correu para conferir.

— Uma flecha? — pegava o projétil para dar uma olhada.

Da entrada superior, três mirins surgiram. A luz da lua atravessava as nuvens timidamente, só permitindo ao grupo no chão vê-los pela silhueta naquela distância, mas a voz de um deles confirmou quem liderava o ataque.

— Mesmo que você entregue essa maleta para gente agora, eu vou me divertir com você, Yanaho. Hoje não vai ter nenhum professor para me impedir de te ensinar uma lição.

— Então é você, Yukirama — reconhecia Yanaho, pegando na sua espada.

— Sem fugir, então? — perguntou Katsuo, preparando o estilingue.

— Não. Vamos resolver isso — ativou sua aura — aqui e agora! 

Os dois trios iluminavam o local em vermelho, preparados para o final da prova.


 Ilustradora: Joy (Instagram).

 Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

   

 



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