Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume II – Arco 4

Capítulo 30: Vencer ou Vencer

Havia chegado o dia da prova final. Após horas de viagem, os mirins se viram diante do palco onde colocariam a teste tudo que aprenderam.

Formados com os trios, todos esperavam as instruções de Tomio e Arata, que estavam entre eles e a grade que separava-os da floresta. 

— Hoje vocês começarão um período de dois dias de confinamento nesta floresta. Ao longo do internato vocês ouviram as histórias de seus veteranos sobre essa avaliação. Portanto, estão bem familiarizados com essas maletas — disse Tomio mostrou o item.

— Prestem muito atenção, vocês tão ligados que eu não vou falar duas vezes né? — coçou a garganta antes de continuar — a prova vai testar a capacidade de cada equipe em defesa, ataque e sobrevivência. Uma verdadeira simulação do campo de batalha. O objetivo é simples: essas maletas estão escondidas pela floresta, é aprovado o trio que ficar com pelo menos uma até o amanhecer! 

“São onze equipes, quantas maletas devem ter afinal?”, pensou Yanaho olhando ao redor. 

Enquanto um Senshi entregava um baú aos professores, Yanaho notou Katsuo de cabeça baixa. 

— Para avaliá-los corretamente, precisamos levá-los ao limite. Por isso, apesar da imaturidade de alguns na última semana, — Tomio abriu o baú cheio de espadas, estilingues, arcos e outros materiais de combate — vamos permitir armas letais. Não existem regras no campo de batalha a não ser a vitória.

“Droga, nunca fizemos nenhum exame com armas assim!”, Katsuo agarrava um braço com o outro.

— Senhor, e se um mirim morrer aqui? — perguntou Yachi. 

Todos se dirigiam ao baú para pegar seu equipamento. Yanaho percebia o sorriso de Yukirama ao guardar sua espada na cintura, ao passo que Katsuo se esgueirava vagarosamente para obter uma espada e um estilingue. 

— Mirim Yachi, esse é o propósito dessa prova. Tudo isso será avaliado, cada decisão tomada, principalmente a de vida ou morte. Não se esqueçam: a pessoa que você matar pode ser o Senshi que vai te salvar no futuro. O quão longe vocês vão para alcançar objetivos pessoais?

As palavras do professor chamou atenção de Yanaho que se lembrou de sua conversa com o mesmo na noite passada: 

Erguemos espadas, garoto, afiamos elas para proteção. Matar ou morrer é apenas consequência do que acreditamos. Você disse que escolheu servir porque queria dar valor à vida, mas algo que tem mais valor ainda, é dar a sua vida pelos outros.”

Yanaho pegou sua espada e voltou para junto de seus dois parceiros.

— Tem uma gruta no coração da floresta — comentou Arata — Tomem ela como referência, para não se perderem. Vai que vocês pegam a maleta e não sabem voltar, né? Essa floresta guarda um monte de surpresas. Vocês vão gostar.

— Existem predadores tão ferozes quanto seus concorrentes. Devem estar prontos para lutar contra a natureza ou usá-la a seu favor. Em caso de chuva, esse rio ficará cheio. Vocês não querem ficar por perto quando isso acontecer – Tomio acrescenta apontando para uma correnteza.

— Tá, só falta a gente fazer a prova para eles — interrompeu Arata — Podem dispersar, moleques! Essa prova começa agora!

Os portões da área florestal se abriram e os trios avançaram contra a região. Yanaho conduziu seu trio pelo rio, ao contrário das outras equipes que optaram pelos lados. Em pouco menos de uma hora, o mirim de capa vermelha atingiu a gruta mencionada por seus professores.

— Uau — murmurou Katsuo, admirando a abertura no topo que permitia a luz do sol penetrar no local — Vamos ficar aqui mesmo? — disse crescendo a voz, o que ecoou pelo local.

Kazuya tapava os ouvidos e mexendo a cabeça de um lado para o outro.

— É melhor mantermos a voz baixa já que outros podem ter tido a mesma ideia que a gente — explicou Yanaho — Temos que nos instalar aqui.

— Eu saio para caçar — se prontificou Kazuya já saindo pela abertura que levava ao norte.

Os dois amigos trocaram olhares.

— O que deu nele? — perguntou Katsuo.

— O eco deve ter incomodado ele. É melhor darmos um tempo para ele. Se demorar, nós procuramos.

Katsuo chegou mais perto do pequeno lago na gruta e ficou observando seu reflexo contra a luz vinda do teto. Sentou-se à margem da água para ficar sozinho, quando Yanaho decidiu ficar do seu lado.

— Essa última semana foi difícil. Eu não fui o melhor apoio do mundo. Você precisava confiar em mim para seguir em frente e eu escolhi me segurar.

— Poxa — chutou a água — Não precisa falar mais nada. A culpa é minha por depender muito de você todos esses anos. Eu nunca valorizei você ter me trazido tão longe e quando ficou na pior, minha primeira reação foi brigar. Desculpa, eu só quero voltar para casa com alguma coisa.

— Eu também.

— Não é igual. Seu pai sempre te apoio no que queria, mas o meu… Eu não quero ser um fracasso — puxou do bolso uma pedra e uma faca e começou a talhar — Se não for um Senshi, é isso que vou ser. 

— Então vamos fazer uma promessa — estendeu o punho — eu vou dar tudo de mim, desde que você faça o mesmo. Independente do resultado, não vamos deixar nada na mesa. 

— Eu não tenho nada para oferecer — riscou a pedra com mais força, cortando o dedo — Só erros.

— Mas me defendeu de Tsuneo e Etsuko quando voltei. Além disso, tem aguentado todo o internato, mesmo não sendo sua vontade. Isso pra mim só é possível pra alguém corajoso — encostou em seu ombro, enquanto os dois trocaram um sorriso. 

— Eu trouxe o estilingue para desenhar um pouco — terminou de riscar um círculo na pedra — mas também, não quero perder a prática de atirar. 

— É disso que tô falando — disse Yanaho se levantando. 

— Porém pessoas são diferentes de alvos, vamos atingi-las mesmo assim? Você lembra do que Arata falou sobre a prova.

— Lembro sim, por isso vai depender da decisão que tomarmos na hora. Agora vamos, temos que procurar Kazuya.

A dupla saiu da caverna em busca do membro perdido. Ao vagar pela floresta, Yanaho finalmente sentiu um iro vermelho. Ele impôs as mãos sobre Katsuo para afastá-lo até que pudesse ter certeza do que estava adiante na mata. Eram muitas presenças, mas uma se destacava, porque estava vindo de mais longe. 

No entanto, as outras chegavam mais perto até que uma delas surgiu  de trás de uma árvore.

— Yanaho! — gritou Yachi, abrindo os braços — Não esperava encontrar seu grupo tão cedo. Pensei que estivessem na gruta.

De um dos galhos no alto e de trás de uma moita, Nakama e Kento saíram para saudar seus adversários.

— Também está sem maleta? — esticou o braço para afastar Yachi, forçando um aperto de mãos invés do abraço.

— Está cuidadoso, eu respeito isso — deu de ombros — mas, para que vamos lutar se nosso objetivo nem apareceu? — apertou as mãos com o garoto.

— Nunca se sabe, não é nada pessoal.

— Estamos procurando por Kazuya, poxa. Não vai dar em nada.

— Aquele garoto se perdeu de novo? — riu Nakama — Ele não tem jeito.

— Acho que está perto daqui — completou Katsuo.

— Senti uma presença mais para frente. Acho que vocês estão aqui por sentirem a nossa. Desculpe pelo mal entendido.

— Não seja por isso. Que tal só dessa vez nos ajudarmos? Depois cada um cuida do seu.

Yanaho e Katsuo trocaram olhares, mas permitiram o auxílio daquela equipe. Poucos metros à frente, a presença sentida pelo aprendiz de Onochi crescia. Kazuya estava próximo, ou ele assim presumia.

— Você disse que ele saiu para caçar e não voltou? — perguntou Yachi, olhando ao redor — Pode ter sido para qualquer lugar.

— Kazuya é meio doido, mas sempre obedece. Ele não pode ter ido longe — disse Katsuo, olhando por trás dos arbustos.

— A essa altura, eu cruzaria o lugar atrás dele — olhando para o alto, Yanaho congelou ao ver uma maleta entre as árvores, pendurada nos galhos por uma corda na alça.

O lugar ficou morto de silêncio por alguns segundos, na medida que todos erguiam a cabeça para ver a mesma coisa que o rapaz de capa vermelha. Olhando com mais atenção, Yanaho via que a maleta estava manchada de sangue.

“Claro, os professores marcaram as maletas para serem encontradas” 

A tensão foi cortada por Nakama que arremessou uma faca na direção de Yanaho, que desviou, começando a escalar uma árvore. Yachi já tinha começado a fazer o mesmo.

— Pega a maleta, Yanaho. Eu cuido deles — Katsuo puxou sua espada e começou a atacar Nakama.

Balançando pelos galhos, Yanaho e Yachi se encontraram onde a maleta estava.

— Não é nada pessoal — afirmou Yachi, puxando a corda para si.

Yanaho puxou sua espada para cortar a corda, porém Yachi arremessou ela para Kento, que esperava no chão. Guardando a espada na cintura, o mirim soltou do galho e uniu as mãos. No meio do ar, Yanaho usou o kazedamu como uma propulsão e caiu em cima de Kento em poucos segundos. 

Enquanto os dois se levantavam, Katsuo afastou Nakama com um chute para correr até a maleta que saíra do controle de Kento. Prestes a alcançá-la, o irmão de Yachi o abraça por trás, caindo junto com ele. Ainda com a maleta em mãos, Katsuo vira o braço no adversário. Após acertá-lo com a maleta, ele saiu correndo.

No instante em que Nakama tirava uma faca para arremessar no inimigo que se distanciava, Yachi surgiu de trás.

— Me dá isso aqui — tomou a faca do irmão.

Vendo que Yachi estava no encalço de Katsuo, Yanaho preparou outro Kazedamu, quando Kento surgiu por trás, segurando seus braços.

“Não posso juntar as mãos, tenho que improvisar”, jogou a cabeça para trás “Ele se regenera bem, então isso nem vai fazer cicatriz amanhã”

Sentindo o braço de Kento se afrouxar, Yanaho cabeceou ele novamente, até soltá-lo. Chutando Kento no rosto, ele continuou sua perseguição a Yachi, que havia alcançado Katsuo.

Com um kazedamu, Yanaho o derrubou no chão.

— Isso aqui é muito para você, fica com a maleta — disse Yanaho, afastando Katsuo.

— Você não está mais se segurando — levantou-se Yachi — Acho que devo fazer jus a isso — puxou a faca numa mão e a espada na outra.

Colocando um metal sobre o outro, Yachi riscou as lâminas criando uma faísca capaz de ser manipulada por sua aura. Aquele fio de calor cresceu na direção de Yanaho que levantou a guarda, sentindo os braços queimarem. A onda de calor durou pouco mais de um segundo. Yachi usou isso para buscar um corte de lado, que foi defendido com um reflexo veloz.

— Eu posso fazer quantas quiser — Yachi forçava a sua espada contra a de Yanaho — Só depende de você, parar! 

— Nisso, eu concordo — girou o corpo unindo as mãos.

Com medo de outro kazedamu, Yachi partiu para um golpe decisivo que terminou desviado. Dessa vez, a habilidade de Yanaho soprava o mirim manipulador do fogo contra um tronco. Yachi tentou se levantar, mas caiu sentindo o tornozelo. Para pegar a maleta, começou a se rastejar, quando algo agarra seu pé.

— Acabou — Kazuya surge das sombras, erguendo Yachi do chão pelo tornozelo.

— Você veio! — gritou Yanaho 

— Deve ser — apertou Yachi com mais força, fazendo ele gritar.

Antes que pudessem retornar, Nakama surge com facas nas mãos.

— Irmão! — preparou para arremessá-las — Solta ele!

Contudo, Katsuo puxou seu estilingue e acertou Nakama bem no braço. O projétil se alojou no membro superior escorrendo sangue e arrancando gemidos de dor do mirim. No momento em que o amigo de Yanaho se preparava para atacá-lo de perto, Yachi os interrompeu.

— Chega, Nakama! — gritou.

— Solta ele — pediu Yanaho para Kazuya.

O parceiro obedeceu, largando Yachi no chão.

— Mas Yachi… — protestou Nakama.

— Chega. Vai ver como está o Kento. Quem sabe ele pode te ajudar a ver essa ferida — se levantou sozinho com bastante dificuldade.

Yanaho olhou a situação com remorso. Enquanto ponderava ajudá-los, foi interrompido.

— Não — pegou em seu ombro Kazuya — Vamos!

Deixados pelo trio vencedor, Yachi engatinhou até Kento, que já estava se erguendo do nocaute sofrido por Yanaho. Ao passo que Yachi recebia tratamento por suas feridas, recebendo energia de Kento para que sua aura o curasse sozinha, ele sentiu a aproximação de mais um trio que se revelou.

— A coisa foi tão feia assim? — comentou Jin — não foi só vocês que perderam essa.

— Yanaho foi para o outro lado — disse Yachi, socando o chão — aquele poder dele, droga! 

— Você mirou muito alto — comentou Umi, se aproximando com ferimentos leves — Eu pensei na gente virar a mesa a nosso favor. Com as circunstâncias que temos.

Mostrava um aliado em uma espécie de maca junto a eles. 


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

   

 



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