Volume I – Arco 3
Capítulo 23: Fim do Dia
No fim de um dos arcos do Sol Reluzente, um grupo de reforço chegava para terminar uma luta que já havia começado. Os Senshi’s novos empurraram os inimigos para trás, e capturaram a célula que sustentava a energia Kiiro. Vindo com eles, mensageiros passaram pelas florestas anunciando o fim do conflito aos exércitos dos dois lados. Durante esse caminho, Kenichi encontrava algo por dentro das linhas rivais, um corpo.
— Titular, algum problema? — perguntou um mensageiro.
— A criança que vimos na carruagem de resgate, ela havia dito que um Senshi a salvou — disse Kenichi, fechando os olhos do cadáver — Uma pena ter sido você, Yuri.
— O comandante Kanji disse que ele e a equipe foram tentar impedir a célula antes da ordem do Supremo, a informação chegou tarde demais nesse canto do conflito.
— Morto por ter mostrado iniciativa em fazer a coisa certa. Tantas vidas boas nos deixando sem necessidade.
— Tenho certeza que vai receber as honrarias devidas, titular. Agora, vai seguir conosco?
— Não — pegou o corpo nos braços — Vou levá-lo. Meus homens podem acompanhá-lo. As outras equipes vão desarmar as células em breve, ordens do Supremo. Meu trabalho aqui está feito.
No centro, o acordo entre os reinos chegava a um fim na medida em que Osíris crescia a potência de seu sol reluzente. O líder dos principais, na esperança de pôr um fim em todo o conflito desamarrava as ataduras de seu antebraço, com a espada em mãos para confrontar o patriarca, mas Onochi protestou:
— Essa luta é inútil, Oda. Quer causar uma guerra ameaçando o líder de uma nação estrangeira? Seu rei não deve querer isso.
— Que se dane o rei — disse Oda, cerrando os punhos.
Desferindo um soco no chão, Oda provocava rachaduras que se ramificaram debaixo do patriarca. Ao primeiro passo, Osíris sentia tudo estremecer, quando uma das rachaduras escorria lava vindo da fenda aberta sob seus pés, obrigando ele a recuar para o lado.
“Os Aka é uma terra fértil, mas ouvi dizer que a atividade vulcânica nessa região estivesse extinta. Então… como esse cara…? Bem, não importa! Ele pode ter a terra, mas os céus são meus” raciocinou, erguendo as mãos ao céu.
Um raio de luz cortava a redoma de energia Kiiro, separando dela um pedaço daquele céu amarelado, que caía sobre Oda. O fragmento durante sua precipitação, tomava a forma de uma lança, grande como uma árvore com a velocidade de uma chuva. O líder dos principais impunha suas duas mãos no solo, e de todas as aberturas, fez surgir uma pequena erupção que se chocou com a chuva amarela. A leve explosão do impacto fez subir fumaça nos arredores.
O vapor era condizente ao resfriamento abrupto, que pelos ares, nublava a visão de Yanaho que ficava impressionado.
“Esse nível de poder… como conseguem?”, pensou com os olhos arregalados.
A aura branca de Onochi brilhava na turbilhão, indicando seu papel nisso tudo.
“O calor Kiiro se dispersou. Oda bloqueou o ataque de Osíris muito no alto, sabia o que estava fazendo, mas o calor Kiiro ainda nos afeta. Esse é o tamanho do poder do sol reluzente. Não sei por quanto tempo vou conseguir manter todos seguros com isso. É arriscado, mas eu tenho que tentar impedir um deles do jeito difícil”, pensou para a seguir lançar-se dentro da névoa para interferir na batalha.
Os dois combatentes cruzavam espadas na nuvem de vapor. Nem todos podiam ver, mas seus metais ecoavam para aqueles bloqueados pela névoa densa, que se dissipava aos poucos.
— Aquela defesa custou muito de você — provocou Osíris — renda-se logo.
— Se confia tanto assim, termina a luta logo de uma vez — respondeu Oda, pisando com força, despertando um pilar de chamas.
Desviando no último segundo possível, Osíris se preparava para usar outra vez o sol reluzente.
— Já chega, eu preciso acabar com isso — estendia as mãos ao céu.
— Papai, não! — gritou Hoshizora sendo contida pela sua irmã.
— Se protejam — alertou um dos Senshi’s de trás de Oda que apenas encarava o patriarca, tempo que todos estavam apavorados.
“Droga, eu não… eu não posso morrer aqui!”, pensou Yanaho tapando os olhos.
No momento que a claridade atingia seu pico, de repente Osiris sentia suas pernas pesarem. Sobre os ombros, percebia um peso crescente. A fumaça que se dissipou, revelava a ele os arcos luminosos deixando o céu.
— Não, não, não, não, não! — gritou, vendo a própria aura se apagando — O que é isso? Não pode ser!
Apesar de estar perdendo as forças, ninguém o atacava. O primeiro a surgir do nevoeiro já fraco, era Onochi, com as mãos juntas na altura do peito, emitindo uma luz branca que escorria pelos dedos.
— Acabou — declarou — eu não queria que fosse assim — finalizou, com sangue escorrendo de seu nariz.
— Você… o que você fez?!— tentou se levantar, mas sentiu algo o puxando para baixo.
— Também tenho meus segredos, usei minha técnica para criar uma distorção no espaço ao seu redor. O peso que sente agora é resultado dessa distorção. No entanto, ela também modifica a passagem do tempo para o alvo. O que para nós foi alguns segundos desde que o vapor subiu ao céu, para você foram muitas horas, consumindo todo a sua energia — explicou Onochi tentando se reerguer.
— Não é possível, Onochi, você alcançou um poder supremo?! — se surpreendeu o patriarca.
— Ainda não estou acostumado — disse deitando ao chão sem forças.
— Onochi! — gritou Yanaho distante.
Ao passo que Oda se aproximava, outros como Senshi’s e Kiishi’s também testemunharam o chefe de estado vencido.
— Senhor… fracassamos? — perguntou seu cavaleiro vindo de trás.
— Cale a boca! — respondeu finalmente se levantando — Eu sou o patriarca! Os Aka vão respeitar o meu povo!
Ainda que sem forças para utilizar a aura, Osíris empunhou a espada. Sua filha mais nova reparava seu braço inquieto. Vendo que o Shiro já estava sem rendido ao chão, correu para um golpe desesperado.
— Não! — gritou Hoshizora, lançando-se na direção do golpe.
O pai da garota bruscamente tentou frear o golpe.
Pelos lados, Yanaho empurrou Hoshizora , jogando seu corpo no meio do ataque. Estendendo a outra mão em defesa, a lâmina atravessou levemente uma das suas mãos, que pressionava o metal para longe do peito. Todos se surprenderam com sua atitude, Onochi se levantava aos poucos ainda trêmulo.
— Garoto... quem é você? — arregalou os olhos, Osíris.
— Eu sou — dizia com uma careta de dor — Yanaho Aka — após a resposta do camponês, o mesmo sentia atrás de si.
— S-Supremo? — percebeu Onochi — Yanaho! — correu pra socorrer o garoto.
— Hoshizora? — disse Osíris se aproximando — Você está bem?
— Não graças a você — comentou Yasukasa, acolhendo a irmã. Após isso Osiris recolhia seu braço e guardava a espada perplexo, se ajoelhando.
— Atacou um inimigo pelas costas e se não fosse pelo garoto corajoso, iria ferir a própria filha — o Supremo se aproximava — acho que você mesmo já se tocou da derrota — apontou a espada ao patriarca.
— Acabou, Osíris — disse Oda repetindo o movimento trocando olhares com Ryoma.
— Está sangrando muito — Onochi notava o ferimento no pulso do garoto.
— Eu achei que…
— Está tudo bem — pegou o garoto no colo.
— Ei, branquelo, leva esse garoto pro posto pra cuidar de alguma infecção — dizia Oda, retirando uma das faixas de seu pulso — estanca o sangue com isso.
— Certo, supremo eu... — dizia fazendo o curativo.
— Vá logo, mas volte — ordenou Ryoma.
As irmãs olhavam para o shiro partindo com o garoto ferido, enquanto as duas eram observadas por seu pai ainda perplexo.
"Onde foi que eu errei, vô?", refletiu voltando sua face para o solo.
Com o fim do cerco, graças à desistência do patriarca, Onochi levou Yanaho para um posto de cuidados próximo. Mesmo com inúmeras vítimas, um cuidador ouviu o chamado do Shiro e foi atender seu aprendiz.
— Vai ficar tudo bem, sente-se — disse Onochi, removendo as faixas de sua mão — Ele vai ver o seu sangramento.
— Onochi, e o meu pai? Como ele está na fazenda?
— Não sei, tudo foi tão rápido… Sinto muito. Mas agora que a batalha passou, tenho certeza que seu tio vai averiguar a situação dele — respondeu Onochi dando um sorriso.
— Então meu tio sobreviveu — jogou a cabeça para trás na cadeira que estava sentado — Que bom.
“É… acho que acabou.”, pensou olhando para o teto.
A tarde já trazia um céu vermelho, quando um visitante fez uma visita ao quarto onde os enfermeiros colocaram Yanaho e seu mestre.
— O Supremo me falou — abriu a porta ferozmente — Eu não lembro de ter oferecido meu sobrinho para você por a vida dele em risco!
— Kenichi, ele agiu por conta própria. Tentei deixá-lo longe do conflito, mas ele veio mesmo assim.
— Está tudo bem, tio. Foi só um susto — mostrou a mão enfaixada com novos curativos — Sabe alguma coisa do meu pai?
— Eu vim aqui para ver você muito por causa dele — interrompeu virando de costas — Explico a situação no caminho, mas preciso que venha comigo.
— As fazendas não chegaram a ser o alvo inimigo — questionou Onochi — o que aconteceu?
— Ele foi chamado a ser voluntário no conflito para pagar a dívida que tinha — abaixou a cabeça — Fui eu mesmo que… tirei o Yoroho daquela fazenda. Está num estado delicado.
— Meu pai… — se preocupava com as palavras do tio.
— Vamos logo! — finalizou Kenichi impaciente.
No caminho, Yanaho apoiava-se no seu parente montado em um cavalo, enquanto percebia o sol se despedindo no horizonte. Na chegada do local onde seu pai estava, os dois passavam pelos leitos, reparando nos feridos. Eram fraturas expostas, membros amputados com gemidos de agonia a cada corredor. Quando encontraram o quarto do pai, na cama estava um homem com o rosto enfaixado.
O camponês andou devagar até o leito, fitando os olhos do homem diante dele, buscando reconhecer o pai por trás das feridas e curativos.
— Ele pode acordar a qualquer momento, por isso preciso que fique aqui de olho nele por que estarei ocupado — explicou Kenichi.
— Tudo por aquela briga, a prisão… foi por causa daquilo né? — perguntou o garoto com os olhos lacrimejando.
— Sim, ele pagou a multa — respondeu secamente.
— Então a culpa é minha? — engolia o choro.
— E se for? Lamentar não vai fazer as coisas melhorarem. Se a culpa é sua, então engula esse fardo logo, e siga em frente — voltou-se a porta do quarto — Eu vou ter que deixá-lo com você. A vila está um caos.
A saída de Kenichi, foi sucedida pela expulsão dos Kiiro da Vila da Providência pelos titulares liderados por ele.
Tendo ordenado a transição, Ryoma estava na base improvisada na colina, quando Onochi o visitou.
— Até que enfim voltou, parece que tudo correu como planejado. Apesar de alguns problemas com o garoto, peço desculpas por isso — disse Ryoma se levantando.
— O maior problema na verdade foi o Oda — resmungou — porque confiou nele?
— Oda estava aqui para entregar Isao e Hoshizora, mas também para distrair Osíris do verdadeiro plano. Por causa disso conseguimos desfazer alguns pontos dos arcos do Sol reluzente, enfraquecendo o poder. O mais difícil era fazer isso sem que Osíris percebesse.
— Então por isso ele saiu lutando do nada e gerou o vapor — percebeu Onochi.
— Sim, ele não é o líder dos principais atoa, certo? — sorriu Ryoma.
— No fim você estava certo, não podíamos depender das filhas para dissuadir o patriarca. Você conseguiu contornar a situação toda a seu favor mesmo tendo uma vila inteira rendida. Devo admitir que te invejo, Supremo — reconheceu Onochi impressionado.
— Aprendi com os melhores, falando nisso — disse, retirando uma folha de dentro da túnica — as coisas tem tudo para melhorar.
O Shiro lia um contrato, abrindo um sorriso ao notar a assinatura, correspondendo às palavras do Senshi:
— Difícil acreditar que o patriarca concordou com isso.
— A pressão pelas terras Shiro é apenas briga de ego, já estamos acostumados com isso pelos azuis. Qualquer outro governante não faria um acordo. Ele percebeu que qualquer vantagem é melhor que nenhuma. Ao mesmo tempo, preciso agradecer a você, a oferta foi sua.
— Os Kiiro precisam de terras férteis, então um acordo de livre circulação de pessoas e mercadorias deve diminuir o preço da comida para a população do interior.
— Então o que é tão difícil de acreditar que ele concordou?
— Eu sugeri um compartilhamento de terras, mas não assim. O acordo prevê uma ocupação integral dos Senshi’s nas regiões do deserto. Na prática, vocês serão os donos de uma parte do território.
— Depois do avanço dos Hanmã, não podemos deixar aquela terra sem lei. Em contrapartida, assumimos o custo do transporte das mercadorias que eles importam de nós. É uma via de mão dupla.
— Eu entendo sua posição Ryoma, mas eu e meu irmão, como sobreviventes e donos das terras Shiro, podemos ceder partes da enorme área de preservação. Nossos antepassados fariam o mesmo, se fosse pelo bem de necessitados.
— Quem diria, um Aka com mais interesses em preservar o território Shiro do que um nativo — disse Ryoma, se levantando da mesa — Onochi, é mais uma questão de respeito do que segurança.
— Quando nossas culturas nos impedem de ajudar, não estamos seguindo ela corretamente — suspirou — Irá para a capital agora?
— Sim, mandei Oda escoltar Osíris até o rei.
— Estarei lá. Primeiro vou fazer uma visita e depois encontrar meu irmão.
— Por acaso essa visita envolve o rapaz que está treinando?
— O pai dele serviu como voluntário, parece que teve problemas.
— Sendo de onde é, deve trabalhar na terra. Os ferimentos devem impedi-lo de trabalhar por um tempo. Eu sei que ele é seu aluno particular, mas eu e Oda gostamos do que vimos. Ele daria um bom Senshi e ainda poderia sustentar o pai com o dinheiro.
— Eu pensei em pedir isso para o senhor, na verdade — disse coçando a cabeça.
— É ótimo que pense igual. Apresente o rapaz em Kagutsuchi para alistar ele num pelotão de mirins.
Os dois caminharam juntos até uma carruagem para se despedirem.
— Meus agradecimentos, Supremo — disse Onochi.
— Mande saudações para Imichi! — disse Ryoma, partindo.
Os Kiiro partiram do território Aka antes do Sol retornar ao céu. Com o passar dos dias, as autoridades foram noticiando as regiões dos territórios, tranquilizando os moradores e militares com a informação de que, as relações entre as duas nações envolvidas tomaria um rumo diferente a partir de então.
Após dias de recuperação, Yoroho finalmente despertava lentamente depois de desacordar no incidente. Ao lado seu filho o percebia tentando se levantar, interrompendo o movimento, dizendo:
— Está tudo bem, pai. Eu estou aqui.
— O que… Que dor é essa? — colocou a mão sob as faixas — E a batalha?
— Você precisa repousar — insistiu Yanaho, pegando em sua mão — Já acabou.
— Eu não me lembro de nada.
— Relaxe, veja! — apontou para a luz alaranjada que atravessava a janela do local — O sol já está se pondo.
Com as palavras e um sorriso estampado no rosto do filho, Yoroho segurou com mais força a mão do garoto, quando uma lágrima descia de seu rosto.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.