Volume I – Arco 3
Capítulo 22: Culpado
A batalha na Vila da Providência se acirrava com o nascer de um novo dia. Um dos titulares mantinha seu regimento sob vigilância, rumando para o centro da região, enquanto terminavam de salvar mais um morador de um prédio em chamas. De repente, o céu foi tomado pela cor amarela. O pelotão se assustava com o cenário, olhando uns para os outros buscando uma explicação, quando um dos Senshi’s da tomou partido da situação:
— Titular Kanji! — chamaram por ele.
— Comandante Yuri, pensei que estivesse com os outros titulares. Alguma informação sobre esse calor amarelo? — perguntou a autoridade.
— Fiquei sabendo que o interior da vila pode ter sido alvo dos inimigos.
— Tem razão. O vale costuma ter pouca circulação de militares — reparou Kanji, percebendo um dos arcos vindos do centro descer até o vale — Se uma das fontes está para lá, precisamos pôr um fim nisso! — ergueu a espada.
Com o aceno do titular, os voluntários e Senshi’s seguiram para seu novo destino. Entre os homens estava Yoroho.
“Depois que apareceu esse luzeiro amarelo está fazendo mais calor com o tempo que passa. Será que eu estou imaginando coisas? Como os Kiiro fariam isso?”, se questionava.
Ao chegarem no local, as casas já estavam consumidas pelo fogo, em ruínas, e os Kishi’s patrulhavam as ruas. Levou pouco tempo para o titular encontrar a fonte exata do arco de luz. Eram dezenas de Kishi’s fazendo dispostos em círculo, com as mãos erguidas e auras ativadas.
Kanji trouxe seus homens para perto, antes de atacar seus adversários.
— Esse não era o único arco saindo do centro — disse Yuri — Derrubando esse, temos que ir atrás dos outros.
— Isso não é o que mais me preocupa — respondeu Kanji — E sim, de que podem estar esperando por nós.
A suspeita do titular foi consumada ao ouvir o tilintar das armaduras. Indicando que estavam sendo cercados pelos inimigos.
— Senshi’s, protejam os voluntários! — ordenou Kanji, puxando sua espada — O inimigo vai tentar proteger o cerco. Vamos quebrar essa barreira e tomar nossa vila de volta!
Com berros de raiva, dor e angústia, os Aka receberam a ofensiva do exército inimigo em maior número, mas seus voluntários evitavam o conflito, correndo pelas ruas. Yoroho cambaleava para longe, quando viu a mão de um inimigo ser decepada por Kanji. Ele cobriu a boca, segurando sua ânsia, ao passo que era advertido.
— Não fiquem correndo por aí assustados! — gritou o titular Kanji — Vão buscar pelos moradores!
Após o alerta, os homens se dispersaram para próximo das moradas, quando pai de Yanaho e um companheiro voluntário junto dele puderam ouvir as súplicas de dentro de uma das casas. Era uma morada pequena, mas totalmente destruída. A voz parecia vir debaixo dela.
Os dois arrombaram a porta já gasta pelo fogo e vasculhando, encontraram a entrada para um porão. Lá dentro, tudo estava mergulhado no mais absoluto escuro.
— Estamos aqui! Viemos te salvar — disse o voluntário ao lado de Yoroho.
A única fonte de luz do local eram as chamas da rua que brilhavam pela fresta da porta do porão aberta pelos dois. No entanto, um deles percebeu essa luminosidade crescendo, mas foi tarde demais. Um grito surgiu vindo da entrada e Yoroho se via diante de um homem de vestes amarelas com sua arma enterrada no peito do voluntário.
“Droga, ele só estava tentando acalmar quem estava aqui. Deve ter denunciado a posição para um Kiiro que passava aqui. E se os Senshi’s lá de fora já morreram? Isso não é nada bom”, engoliu seco.
Tomando coragem, ele se lançou para cima do inimigo com espada em mãos o empurrando. A arma do cavaleiro da dinastia ainda estava presa ao corpo da vítima. Eles rolaram pelo porão disputando pelo domínio, enquanto o Kiishi escorria as mãos pelo piso, encontrando um pedaço de madeira. Vendo pouca coisa, ele apenas girou o braço para o alto, pegando a cabeça de Yoroho no caminho, derrubando-o.
“Não posso morrer. Yanaho precisa de mim.”, pensava Yoroho, caindo de cara no chão.
— O que homens fracos como vocês fazem nesse conflito? — provocou o Kiiro montando no sujeito para golpeá-lo com a madeira.
A visão de Yoroho ficava turva, na medida que se tornava alvo de repetidos golpes na cabeça. O sangue escorria por sua testa, a consciência deixava seu corpo, quando um Senshi entrou no porão. Rapidamente, ele finalizou o agressor por trás, perfurando seu flanco.
— Acorda. Olha para mim, eu sou o Yuri. Você tem que ficar vivo! Vamos, não desiste — pegou o voluntário nos braços, notando que o coração de um dos corpos ainda batia.
O Senshi o carregou em suas costas, mas ouviu alguém se rastejando. Virou para o lado e viu um homem saindo debaixo de uma mesa. Era a pessoa que chamava por socorro. Yuri tomou os dois e os levou para próximo da carruagem que tinham usado para chegar naquele lugar.
— Encontrou os moradores? — perguntou um Senshi.
— Sim, mas esse voluntário caiu numa armadilha. Ele precisa de cuidados urgentes! — ordenou, voltando ao campo de batalha.
“Ainda bem que éramos a maioria para essa emboscada, já resgatamos boa parte dos refens, e os Kiiro já estão recuando. Se o Supremo conseguir conter o avanço do patriarca, logo estarei de volta em casa. Pode me esperar, Yukirama.”, pensou.
Aos poucos, os Senshi’s empurravam seus inimigos para trás das linhas ofensivas, cada vez mais próximos do círculo que abastecia o Sol reluzente com energia. Na caça de um dos últimos, uma criança engatinhava pelas ruas, escapando de uma das casas, quando foi colhida por um dos Kiishi’s em fuga. Ele colocou uma espada em seu pescoço, quando Yuri tomou sua frente.
— Solta ele. A batalha já acabou! — disse Yuri, apontando sua lâmina.
— Você primeiro! — ameaçou o amarelo — A batalha já acabou, né? Então solta.
— A vida dele não é um brinquedo — agachou, deixando a espada no chão, e prosseguiu andando até o Kiishi — Viu, estou desarmado. Me entrega ele.
— Não me subestime! — insistiu, deslizando a lâmina pelo pescoço do garoto, que gritou de dor.
— Jamais — deu mais passos, chegando mais perto — Última chance. Deixe-o ir!
Yuri erguia as mãos para trás da cabeça, mas o Kiishi começava a andar para trás com a criança. Em seu último passo, a aura do Senshi cresceu subitamente e sua mão flamejava em vermelho. Num piscar de olhos, ele saltou com o punho cerrado, socando o cavaleiro da dinastia a nocaute.
— Corre garoto! — gritou, empurrando o garoto para trás de si.
O garoto corria olhando para trás, percebendo Yuri aos poucos sendo cercado por mais Kiishi’s.
— Ele pegou um de nós! — gritou um Kishi que vinha para emboscá-lo — Tá desarmado, peguem logo ele.
O Senshi roubou a espada de sua primeira vítima e atacou um adversário à sua esquerda, chutando nas canelas e o agarrando pelo pescoço para cortar sua garganta. De frente, vieram mais dois com par de escudo e espada. Ele girou no ar, balançando sua lâmina, erguendo as defesas inimigas, o que abriu a oportunidade de carregar seu punho de energia. Seu soco estilhaçou o escudo adversário, permitindo que cravasse a espada no seu peito.
O segundo reagiu ao grito do parceiro, acertando sua cabeça com o escudo. Yuri rolou para trás, embora mais Kishi’s esperassem por ele ali.
“Estou cercado. Fui atraído para cá por aquele outro amarelo para dentro das linhas inimigas. Não posso voltar agora, aquela criança precisa fugir”, pensou.
Yuri socou o chão com seu iro, criando uma onda que afastou alguns Kishi’s, mas seus números eram grandes demais e o calor aumentava. Um grupo formou fila, empunhando lanças e atirou contra o Aka, que saltou sobre um inimigo próximo e usou seu corpo como escudo. Após sua morte, ele continuava a usar seu cadáver como proteção. Quando se aproximou dos atiradores, jogou o corpo neles, saltando contra o grupo. Retirando a espada da barriga de um deles, uma lança penetrava seu ombro.
Gritando de dor, ele cortou a ponta, que saía do outro lado, e puxava a estaca de madeira para fora do corpo a fim de se curar da ferida. No entanto, mais lanças eram jogadas contra ele, algumas desviadas, outras acertadas. Ele se ergueu mas foi cravado por espadas de todo o lado. Sua aura cresceu, desferindo golpes em tudo que via e se mexia, mas seu brilho estava baixo, seu corpo procurava se regenerar antes de lhe dar forças no combate.
Seu braço pesava com a espada na mão, por conta das muitas outras que estavam incrustadas no seu corpo. Na tentativa de atacar, um Kiishi desviou e passou sua lâmina pelo braço de Yuri, separando o membro do corpo.
“Yukirama, pode ser que… Talvez, você não deva me esperar dessa vez.”, sua visão escurecia.
Sua aura já não estava mais visível, exceto pelo braço que ainda permanecia junto ao corpo. Yuri cerrava os punhos uma vez mais e enterrou sua mão fechada no rosto de seu algoz, jogando ele nas fileiras inimigas. Ele se ajoelhou e, soltando seu último suspiro, caiu de cara na poça de seu próprio sangue.
“Pelo menos… o menino fugiu.”, pensou ao tempo que perdia consciência.
No centro de todo o sol reluzente, estava o centro da vila. A carruagem que trazia os Principais terminava sua pequena viagem no topo de uma colina que dava de frente com o cenário. Oda despachou todos os envolvidos no resgate, deixando apenas Yanaho, Yasukasa e sua irmã além de Isao, para ir ao lugar onde Osíris estava reunido com Onochi.
— Os mensageiros já deviam ter parado o conflito a essa hora — reparou Onochi.
— Sem compromissos antes de ver minha filha — retrucou o patriarca.
As fileiras de Senshi’s abriram caminho para os recém-chegados, que chamam a atenção de Osíris de imediato. Hoshizora, mesmo mancando, corria entre os homens, seguida por Yasukasa, para abraçar o pai.
— Hoshizora, que bom que está bem! Mas olhe para você, o que eles fizeram? — disse Osíris, limpando a sujeira de seu rosto.
— Chega — disse Yasukasa, puxando sua irmã mais nova — Agora não é hora disso.
— Do que estão falando? — reparou nos ferimentos da filha mais nova — Se esses Senshi’s imundos te feriram…
Enquanto pai e filha conversavam, Onochi via Yanaho pela primeira vez em muito tempo.
— O que está fazendo aqui? — agachou para olhar o aprendiz de perto — Eu disse que iria resolver esse problema!
— Eu consegui ajudar. A gente conseguiu a Hoshizora e nos encontramos com os principais pelo caminho.
— Você podia ter morrido! Essas pessoas são perigosas, você não está pronto para isso.
Chegando perto, Oda se juntou à conversa.
— Devia ter visto a cara de um dos Hanmã. O garoto refez o rosto dele todo.
— Oda, líder dos principais, certo? — grunhiu Onochi, se levantando — Não vou aceitar que fique encorajando o comportamento impulsivo do meu aprendiz, muito menos que comprometa a negociação que eu e Ryoma estamos fazendo.
— E onde está Ryoma? — olhou de um lado para o outro — Pois bem. É sempre assim. Ele fala, eu faço. Agora sai da minha frente.
O líder dos principais carregava Isao preso nas mãos e nos pés.
— Já que você se inteirou do que houve — interrompeu Oda, jogando Isao aos pés de Osíris — Por que não aproveita para punir o responsável para variar?
— Traste, você é um verme Oda! Parceria entre Senshi’s e Kiiro e quem sai perdendo somos nós! Devia ter vergonha. Vergonha! — gritou Isao, se contorcendo para fugir das amarras.
— Acham mesmo que vou acreditar nisso? — riu Osíris — Fui eu que exigi que devolvesse minha filha. Sejam mais criativos da próxima vez.
— Pai, foi ele — explicou Hoshizora — Se não fosse pela minha irmã e todos, nós nem teríamos sido ajudados pelos principais tão cedo.
— Fique quieta Hoshi, isso não é coisa de criança.
— Você escolheu travar essa batalha inútil ao invés de salvar a sua filha, e ainda quer mandar ela se calar? — insistiu Yasukasa.
— Não se finja inocente — disse Osíris, segurando a filha mais velha pelo braço — Antes do sequestro dela, você estava comigo a cada passo desse plano. É inútil fugir agora.
— Acabou — disse Oda — Sua filha está aqui, o responsável também. Quer levá-lo para Kiiro? Fica à vontade, mas desfaça isso.
— Desfazer? Desfazer?! — apertou Yasukasa com mais força — Pensa que tudo vai voltar a ser como antes? Que isso é só um mimo infantil?
A aura de Osíris crescia na mesma proporção dos arcos no céu.
— Está me confundindo com o Supremo. Eu não abaixo a cabeça para ameaças — disse Oda, puxando sua espada.
— Pai, não faça isso — pedia Hoshizora, mas seu pai soltou sua irmã em cima dela.
— Nós ficamos na sombra dos Aka, aguentando injustiça atrás de injustiça. O sol reluzente vai continuar até um acordo de verdade ser firmado entre nós. Eu quero o Supremo aqui. Ele e seu rei ou todos nessa vila serão os primeiros a pagarem o preço desse desgoverno!
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.