Volume I – Arco 3
Capítulo 21: Breve Despedida
No amanhecer do dia, no centro do pobre vilarejo no sudeste Aka, a fumaça dos incêndios tomava as ruas, obrigando os Senshi’s a cobrirem seus narizes. Enquanto andavam por aquela escuridão, um deles reparou em vítimas dos dois lados, além de inocentes. Dentre um deles um jovem tentava erguer o braço já ao chão, sendo socorrido pelo homem, que o carregou pelos ombros.
— Comandante Yuri — um cobrador observou o sujeito socorrendo a vítima — Por aqui! — sinalizou ao tempo que saíam da nuvem preta.
— Naoki, qual a real situação?
— Um ataque direto desses desgraçados do deserto ainda na madrugada. Os titulares conseguiram controlar as coisas no interior, mas há trabalho a ser feito.
— Não pode ter sido sem motivo. O exército deles não tem a menor chance contra nós.
— Pelo o que entendi estão reagindo a algo feito pelos Senshi’s da capital. O Supremo vai estar aqui para negociar com o patriarca em breve.
— Tantas mortes para uma vila tão humilde.
— As coisas poderiam ter ficado piores, comandante. O Senshi Supremo irá resolver isso logo logo. Os danos realmente só serão esses incêndios.
— Mesmo assim, tudo isso somente por revolta não faz sentido — analisou o Senshi.
— No que está pensando?
— E se não for uma reação apenas? Se eles já tivessem pensado nesse ataque há tempos? Se for o caso, todo esse fogo me parece mais uma distração!
— O que seria tão importante para nos distrair?
— Vai saber — finalizou ao tempo que percebia o sol se erguendo no alto do céu.
Com o andamento da batalha, mais ao norte da região, os moradores já haviam sido evacuados. Os guerreiros e voluntários, comandados pelos Titulares Kenichi e Tataka, forçavam a recuada dos Kishi’s de volta às linhas aliadas.
— Titular Kenichi! — um jovem se aproximou.
— Qual é o problema?
— Tem uma barreira de Kishi’s em torno de uma carruagem mais à frente. Solicitaram a presença de um superior.
— Deixa que eu vou lá chutar a bunda deles de uma vez daqui! — disse Tataka.
— Não, eu vou junto também! — retrucou Kenichi, indo em direção ao local apontado pelos homens ao redor.
A visão era de dezenas de homens com armadura ao redor do veículo. Com a aparição dos titulares, um dos Kiiro deu um passo à frente.
— Mas que bobagem é essa? Estão achando que isso é algum show de mágica? — questionou Tataka.
— Pedimos pelas autoridades, não por mais dois Senshi’s insignificantes.
— Somos os Titulares do sudeste Aka, autoridades da região — respondeu Kenichi, levantando uma tímida risada do sujeito com vestes amarelas à frente.
— Eu tenho cara de palhaço para você ficar rindo? — perguntou Tataka com a aura crescente, quando foi segurado por seu companheiro.
— Sou Susumo Kiiro, principal cavaleiro do patriarca. Nos avisem quando uma autoridade de verdade quiser falar conosco. Caso não tenham se preparado para nossa reação…
— Vai acontecer o que? — foi em direção ao Kishi erguendo sua espada.
— Chega Tataka! — disse Kenichi o puxando.
— Por que não avançamos por cima deles? — uma voz surgiu da carruagem.
A voz botou os cavaleiros amarelos em forma. Eles abriam espaço, para o homem que saía do veículo. O patriarca — Osíris Kiiro — tomava a frente.
— Vamos resolver isso logo!
— Kenichi, esse cara é o… — murmurou Tataka.
— Sim, é ele — respondeu o outro, voltando-se para Osíris — O Supremo virá ao seu encontro.
— É o máximo que podem fazer, já que se recusam a devolver minha filha — mostrou sua espada guardada em meio às vestes.
— Aí está você — do alto de uma árvore saltou Onochi, levitando à frente do patriarca — O Supremo imaginou que você viria.
— Você de novo! Não temos o que conversar, leve-me até ele! — ordenou o governante amarelo.
A barreira de homens com vestes amarelas baixaram suas armas. Osíris e Susumo se juntaram a Onochi e foram para um campo aberto, próximo ao centro da vila, acompanhados por outros Senshis. Lá, foram recebidos pelo Supremo.
— Sua presença aqui é muito importante, patriarca. Fico feliz que tenha aceitado meu convite — disse Ryoma.
— Senshi Supremo, certo? Como sempre, o Rei deste território está ausente. Se já não tivesse visto Chaul pessoalmente, suspeitaria da sua existência.
— Invadir uma vila pacífica não é jeito de fazer exigências, muito menos requisitar uma audiência com nosso rei. Sabe muito bem que as coisas não precisavam tomar essa proporção, patriarca.
— Onde está minha filha — interrompeu apontando a espada.
Em resposta, os Senshis ao redor apontaram suas armas em defesa do Supremo.
— À vontade, homens — pediu Ryoma
— O sequestro da princesa não se deu por parte do Reino Aka — tomou a palavra Onochi, colocando-se entre os dois — Desejamos resolver esse crime juntos. Garanto que depois, podemos decidir melhor a respeito das divisões de terras. Diferente do que pensa de mim, passei os últimos dias traçando um acordo.
— Patriarca, o sequestro foi realizado por um grupo de dissidentes de nossas forças armadas. Enquanto nos falamos, eles já estão em busca da sua filha!
Após as palavras do Supremo, o patriarca colocou uma de suas mãos ao rosto, tentando conter-se por um instante, antes de cair numa gargalhada.
— Acha mesmo, que vamos cair nessa?
— É a verdade Osíris — respondeu Onochi.
— Patriarca, essa questão já foi longe demais — continuou Ryoma — Vamos acabar logo com isso.
— Se assim insiste — debochou Osíris.
O patriarca levantou sua mão, com a aura ativada. Aos poucos, o céu era tomado pelas mesmas cores de seu iro. Arcos de energia cortavam as nuvens, podendo ser vistos por todos na cidade.
“Essa sensação. É energia Kiiro pura”, percebeu Ryoma, olhando o céu.
Todos de dentro da vila percebiam o céu amarelado, como se o sol tivesse se aproximado. O calor crescia aumentando a preocupação dos vermelhos, que notavam seus inimigos com um semblante mais tranquilo.
— Esperava por um momento apropriado há anos — os olhos de Osíris brilhavam em amarelo — Este é o Sol Reluzente.
— Suas tropas Kiiro não avançaram desde o incêndio provocado, apenas para cercar a região para isso? — o Supremo observava a direção dos arcos de energia.
— Sabe bem a matriz de nossa energia, Ryoma? — perguntou o patriarca.
— Diria que esses arcos são conectados à energia de seus aliados — observou Ryoma, com a cabeça erguida e os olhos semicerrados.
— Vocês e toda essa vila são meus reféns agora. A energia iro provocada pelo calor fornecido pelo nosso Deus Sol, é aliada da Dinastia Kiiro. Quer fazer um acordo, Supremo? Devolva minha filha ou essas pessoas verão a ira do nosso Deus. Elas serão queimadas ainda com vida pelos crimes que vocês cometeram!
— Supremo, quais são suas ordens? — sussurrou um deles vindo de trás.
Ryoma apenas dispensou seu subordinado com um aceno.
— Se fizer isso — disse o Supremo, fitando os olhos de Osíris — Vai começar uma guerra que não pode vencer. Tem certeza que quer travar uma batalha aberta conosco? Quantos homens quer sacrificar por isso? E sua filha?
— Eu não vou a lugar algum sem minha filha — retrucou o patriarca.
— O custo de manter essa prisão de energia está em vocês. Uma hora, estarão esgotados e os reforços da capital, virão fortalecidos. A vida de seus homens está nas suas mãos.
— Não me provoque — disse Osíris.
— Isto não é uma ameaça. É um fato. Sua única opção é esperar por sua filha, não importa se acredita que estamos com ela ou não.
O patriarca ponderava por alguns segundos, quando respondeu.
— Vocês tem até o pôr do sol. Nada menos que isso.
— Agradeço. Agora, se me der licença — disse, se despedindo.
— Preciso ir ao conflito — murmurou Onochi ao Supremo — Temos que poupar o máximo de vidas possível.
— Vou enviar emissários. Você fica — segurou o Shiro pelo braço — Tenho uma função para você que vai salvar ainda mais vidas, caso tudo piore.
O sol que castigava a vila Aka já penetrava nos pinheiros de uma estrada fronteiriça. Já longe da Floresta Negra, às margens de uma estrada há muito abandonada, Yanaho e Hoshizora tentavam fugir do perigo iminente. O garoto olhou para trás e lembrou-se do rio e saiu correndo. Alguns passos depois e sua fuga foi interrompida por uma flecha que havia passado rente a sua face. Suando frio, ele virou-se para encontrar um homem forte segurando um arco enorme feito de madeira. Por trás do atirador, outro aparecia, com uma espada na cintura e mãos amarradas por tiras de pano. Sua barba e bigode feito por si só mostrava seu semblante de autoridade.
— Sem estresse garoto, nós assumimos daqui — gesticulou com os braços — Pode entregar a princesa.
— Como se eu soubesse quem são vocês — segurou Hoshizora com mais força.
— Certo — acenou para o lado, um encapuzado vermelho jogou Sota desacordado — Você não tem muitos motivos para confiar na gente mesmo. Então me deixa dar uma pequena demonstração de quem somos — bateu palmas duas vezes.
De todos os cantos, surgiram outros com espada na cintura e túnicas vermelhas semelhantes a dos homens que Yanaho via na frente dele. O maior deles, com pouco mais de dois metros, arrastava pelo chão Isao amordaçado para perto do sujeito com as mãos enfaixadas, que lhe tirou a mordaça.
— Se não confiar na gente, em quem vai confiar? — soltou uma risada.
— Seu traste! Pensa que vai ficar por isso mesmo? Arrastar Takeda pro seu grupinho não vai trazer a segurança devida pro nosso Reino! — reclamou o líder da hanmã.
— Eu estava disposto a fazer vista grossa para vocês, inúteis, mas raptar a princesa foi longe demais, Isao. Seu lugar é num cárcere na capital.
— Espera um pouco… — interrompeu Yanaho — Quem são vocês?
— Eu sou Oda Aka, líder dos Senshi’s Principais, viemos a pedido do Supremo e daquele Shiro.
“Então Onochi tentou nos ajudar no final”, pensou Yanaho.
— Se vocês são Senshi’s, então porque demoraram tanto? — questionou.
— Nossa tarefa era recuperar a princesa interceptando eles pelo caminho dessa estrada. Tínhamos um informante dentro dessa organização, pelo visto, vocês chegaram antes de nós. Ainda assim, tem sorte de estarem vivos. Olha só para o estado de vocês dois, sua irmã também já viu dias melhores, princesa.
— Minha irmã? Onde ela está?!
Vindo de trás de Oda, a filha mais velha de Osíris corria para encontrar sua irmã.
— Hoshizora! Consegue ficar de pé — segurou-a pelo braço para que pudesse se apoiar nela — Acabou, nós vamos para casa agora.
— Quando chegamos, Isao já estava aos pés dela. A missão teria sido um sucesso para vocês se não fosse os incontáveis outros que ficaram pela floresta.
— Eles fugiram?
— Fugir? — riu Oda — Estão todos capturados. Vamos despachá-los junto com a princesa para a Vila da Providência.
— Vão coisa nenhuma — protestou Yasukasa.
— Olha só, a mais velha tem atitude — disse indo na sua direção — com todo respeito, alteza, a situação já evoluiu para algo muito mais grave. Depois você se resolve com seu pai, ele começou tudo isso. Vamos levar todos para a vila, eu estou no controle aqui!
— Yasukasa — murmurou Yanaho pegando em seu ombro — Meu pai está lá. Por favor.
— Tudo bem — disse a Oda.
— Certo, vamos então — perguntou o líder dos principais.
— Espera! Minha única condição é que deixem eu me despedir dos homens que trabalharam comigo nesse resgate. Eles arriscaram suas vidas e são dispensáveis a essa reunião com meu pai.
— Ah aquelas crianças? Vão logo, só não demore mais que cinco minutos! — permitiu Oda.
Yasukasa levou sua irmã e Yanaho para um pouco mais longe dos Senshi’s, perto do rio, onde estavam Suzaki e Mitensai esperando por eles.
— Suzaki! — correu Yanaho em sua direção — Eu consegui! Ela está bem.
— Desculpa não ter ajudado, tive que driblar os Senshi’s para chegar aqui e resgatar o Mitensai.
— Olha, eu saí do rio sozinho — comentou Mitensai, mostrando a camisa encharcada — Só tava meio perdido. Nunca cheguei tão longe de casa.
— Suzaki me achou primeiro. Quando vi os Senshi’s chegando, pedi para ele se esconder — disse Yasukasa
— Entendo. E para onde vocês dois vão agora? Não vai poder voltar para cidadela nessa confusão toda, Suzaki.
— Primeiro, tenho que levar Mitensai de volta. Depois, vou achar meu próprio caminho.
— O-obrigada á todos — se aproximou Hoshizora tímida, chegando perto de Suzaki — Eu não pensei que fosse te rever tão cedo.
— Naquele dia, sabia que eu era o fugitivo? — perguntou o príncipe.
— Eu sabia — sorriu gentilmente — pelo visto minha intuição quanto a você nunca esteve errada. Muito obrigada — abraçou o garoto.
“Não tinha certeza do que procurava. Mas agora entendo”, pensou estendendo os braços, chamando os demais para perto.
Observando o abraço coletivo dos cinco estava um dos principais carregando um martelo maior que seu torso. Voltou para seu grupo sendo questionado:
— E então, Masaki?
— Acho que nunca vi tanta cor em um abraço só — coçou a cabeça.
— Que bosta de relato é esse? — indagou um com um tapa olho.
— Acha que essa geração será diferente da nossa, mestre Oda? — perguntou um dos mais novos do grupo.
— Vá buscá-los, precisamos ir! — ordenou se levantando.
Depois do abraço coletivo dos cinco, Suzaki subiu em seu cavalo, Mitensai atrás dele, prontos para partir.
— Suzaki — chamou Yanaho — Vou te ver de novo?
— Quem sabe, mas quando isso acontecer, iremos vencer de novo.
— É — acenou se despedindo.
— Adeus — acenava Mitensai ao tempo que se distanciaram.
Após a partida um dos Senshi’s se aproximava dizendo:
— Vamos princesas e… garoto, temos coisas a resolver ainda — o clima voltava a seriedade depois das palavras do principal com o martelo.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.