Nisoiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume I – Arco 3

Capítulo 16: Verdade

Capital Oásis, horas antes do sequestro.

A visão do kishi aproximando-se de Suzaki e Yanaho, obrigou o príncipe a se deslocar, tornando-se um com a multidão sem que ninguém percebesse. Não podia negar o que viu. Uma figura com vestes azuis saindo do castelo era suspeita e precisava ser verificada. 

“Aquele brasão da família real. Será que você veio de tão longe, pai?”, pensou enquanto esbarrava nas pessoas mantendo aquela pessoa dentro da sua vista.

Driblando a multidão, Suzaki encontrou seu alvo distraído experimentando os produtos de uma tenda que vendia frutas. Cumprimentou-o ao tocar em seu ombro, de modo que virasse para ele, revelando sua identidade.

— Como esperado de você, me poupou o tempo de lhe procurar — se curvou perante o príncipe — Bom revê-lo, alteza — completou.

— O prazer é todo meu, senhor Daisuke — respondeu, curvando-se também — Se deseja uma discussão, estou ao seu comando.

— Aqui no meio da rua? Não estamos em casa garoto. Venha, tenho um lugar mais reservado.

O destino da dupla era uma pensão discreta, atrás do palácio do patriarca. Suzaki pôde reconhecer homens guardando o local como Heishi’s pela cor dos olhos, embora não estivessem vestidos como tal. Chegando lá, os subordinados se ajoelharam para recebê-los.

— Tantos dos nossos tão longe de casa.

— Desde que começamos nossa negociação, pedimos uma embaixada em Kiiro ao patriarca. Eu como principal mensageiro, vim aqui para fechar um acordo com Osíris.

— Como todos estão lá em casa?

— Um assunto para outro momento. Vamos ao meu escritório. 

Atravessando os corredores para uma sala aos fundos, Suzaki percebeu uma chave balançando na cintura de seu acompanhante. O lugar era espaçoso, com uma mesa e um mapa estendido sobre ela, além de um cofre na parede de trás.

— Se está vagando por essas terras, felizmente, já sabe do que estou falando — sentou-se Daisuke.

— Os interesses de Kiiro na cidadela restrita vieram ao meu conhecimento quando visitei o Índice

— E foi tudo que conseguiu lá? Sem motivações, estratégias de combate, nada?

— Tive problemas com a segurança antes que pudesse obter mais informações — engoliu seco.

— Na minha reunião com o patriarca me consultaram sobre um invasor. Então era vossa alteza. Para não dizer que foi inútil, pelo menos isso aumentou a paranoia de Osíris.

— Estou confuso. Por que queremos Osíris perturbado?

— Suzaki, onde esteve depois que fracassou no Índice?

— Visitei a cidadela restrita, a região do antigo reino. Conheci a energia Shiro com um cara muito gentil que a ensinou a mim e a outro garoto do reino Aka

— E no que isso ajuda? — reclinou-se sobre a cadeira, dando de ombros.

— Em nada, senhor — baixou a cabeça.

— Me admira que o candidato a Heishi Celestial esteja brincando de fazer amigos pelo mundo agora.

— As coisas aconteceram muito rápido — levantou a cabeça — Mas esse Shiro é importante. Está aqui para conter essa confusão entre Osíris e os Aka.

— E vossa alteza acha que isso nos ajuda? Prestou atenção no que estou tentando te falar? Felizmente, está conosco agora. A melhor coisa que faz é ficar aqui por hora até decidirmos o que fazer. 

— Sim, senhor — respondeu cabisbaixo.

Ao mesmo tempo, o Shiro responsável por trazer o Heishi e seu amigo a Kiiro continuava sua busca por seus pupilos. Quando a noite caiu sobre a cidade, foi convidado pelas autoridades a retornar ao palácio, após ter obtido informações sobre um deles. 

“Com sorte, Yanaho e as princesas devem retornar pela manhã. O problema é que não consigo pensar para onde Suzaki poderia ter ido. Ele sempre pareceu estar escondendo algo, mas o que seria? Não posso perdê-los de vista mais”, refletiu na cama antes de adormecer. 

O dia seguinte de Onochi começava com o barulho de batidas na porta. Ao abri-la, se deparou com Kishi’s.

— O patriarca ordenou que seja levado com a gente! 

— O que está havendo? 

— Não vou ordenar uma segunda vez! — um deles o ameaçou com uma espada.

Onochi obedeceu sem resistir, mas foi amarrado ainda assim. Durante sua condução, percebeu uma pequena multidão reunindo-se, todos de joelhos, virados para onde o Sol nascia, próximo ao palácio real, o destino dos guardas que o conduziam. Trazido diante do patriarca, mais uma vez, notou uma criança amarrada sob a custódia de outros Kishi’s no centro da sala. 

— Yanaho? — reconheceu o rosto abatido do garoto. 

— Onochi, eu não fiz nada! — gritou, porém foi esbofeteado por um dos guardas.

— Osíris, me disse que já não tinha nada para falarmos. O que significa isso?!

— É muito cínico! Sou eu que devo explicações? 

Percebeu as cadeiras pertencentes ao conselho vazias, exceto por duas. Uma mulher chorando baixo, sendo consolada por outra, mais nova. 

— Estive em território Kiiro esse tempo todo. Ao menos mereço saber o que se passa. 

— Minha filha mais nova foi sequestrada nas vilas desérticas nessa madrugada — anunciou a autoridade — acha que é apenas uma coincidência isso acontecer poucas horas depois de nossa negociação fracassada? — completou se levantando do trono.

— Houve um mal entendido. Eu mesmo sequer tinha a localização de Yanaho entre as horas que sucederam nossa audiência e o sequestro. Se tivesse tomado parte, acho que no mínimo eu já teria fugido para território amigo. Não pode ter sido orquestrado pelas autoridades Aka, uma vez que fui mandado por eles.

— Pode confirmar isso para o menino — disse, acenando com as mãos para os Kishi’s — Anda, fala garoto! 

Um dos guardas balançou o camponês para que falasse.

— Onochi — balbuciou Yanaho — Os sequestradores eram vermelhos.

— Isso não faz sentido. Patriarca Osíris, por favor, deixe-me ajudar!

— Se não sabem de nada, despachem esses dois para fora desse território!

Ao passo que os guardas conduziram Onochi e seu aprendiz forçosamente para fora, Yasukasa estava de olho em tudo, mesmo com a mãe inconsolável ao lado. Às portas da saída, o Shiro vira-se para dar uma última declaração: 

— É melhor pensar com cuidado sua próxima ação, Osíris. Grandes são as causas, mas também grandes serão as consequências! 

— A vida de minha filha está em perigo! Quer negociar? Comece falando para os seus donos devolverem ela! — gritou o patriarca, quando a porta se fechou atrás de Onochi.

Estavam prontos para levá-los para uma carruagem, quando decidiram amarrar as mãos de Onochi antes de colocá-lo junto com seu aluno.  

“Realmente não consigo resolver as coisas como você, irmão.”, penso ao tempo que permita-se ser amarrado.

— Se ao menos eu conseguisse fazer alguma coisa… — balbuciou Yanaho, subindo no transporte. 

— Poderiam livrar as mãos dele. É só uma criança e está desarmado — disse Onochi, observando sua cintura sem a espada. 

— É uma criança Aka, isso por si só já diz muito sobre ele — respondeu o Kishi assumindo as rédeas.

Duas ruas depois, o veículo foi interceptado por uma mulher à cavalo em um cruzamento. Ela guiou a escolta para perto das muralhas da cidade, isolado das pessoas, quando interrompeu o trajeto. Estacionada por ali, estava a carruagem de Onochi.

— Eu continuo por aqui. Dispersados!

— Mas o patriarca ordenou…

— Fora!

Os cavaleiros aceitaram as ordens se retirando com a carruagem, mas sem antes deixar Onochi e Yanaho aos cuidados dela. A nobre descia de seu animal, tirando seu capuz. 

— Yasuka-quer dizer alteza, é você? — gritou Yanaho ao tempo que ela cortava as cordas dos dois. 

— Sem escândalo! Desculpa a demora, precisei jogar com as regras por um tempo.

— É ótimo poder contar com uma ajuda oficial, mas por que ir contra seu pai, alteza? — perguntou Onochi. 

— Para ser sincera, sou eu que preciso de ajuda. Preciso resgatar a minha irmã! 

— Achei que o patriarca iria tomar as devidas providências. 

— O alvo dele são os Aka. Esse era o plano desde antes do sequestro. Ele vai atacar a vila mais próxima da cidadela restrita. Essa situação toda com minha irmã é uma cortina de fumaça.

— Seu pai seria capaz disso? — duvidou Onochi.

— Espera, a vila mais próxima? — questionou Yanaho arregalando os olhos.

— Sim, a ideia era fazer um cerco, mantendo as pessoas naquele local reféns. O resgate seria um novo acordo sobre as terras Shiro.

— E como vão manter uma cidade toda de refém contra o exército mais bem treinado do continente? — perguntou o Shiro. 

— Algumas coisas nem eu sei ao certo. A questão é que a cada minuto que se passa, minha irmã corre mais perigo. Não ligo para os raptores serem Aka, eu não posso esperar um cerco acontecer. Por outro lado, se meu pai usa isso como pretexto, Hoshizora pode ser o que faltava para um possível acordo de paz. 

— Seria bem simples, alteza, exceto que não sabemos para onde Hoshizora foi levada  — respondeu Onochi, subindo em seu veículo.

— Aonde pensa que vai? — exclamou a princesa.

— Yanaho mora na vila que será atacada. O pai dele está em apuros. Sem o acordo com Osíris, minha única opção é recorrer aos Aka por uma solução defensiva. 

— Eu vim aqui pra pedir sua ajuda e você vai me deixar aqui sem que eu possa fazer nada? 

— Princesa, eu tenho quase certeza que o sequestro não partiu das autoridades Aka. Portanto, eu prometo a você que assim que chegar lá vou propor uma equipe de que investigue e resgate sua irmã. No momento, preciso salvar as vidas dos moradores de lá. 

— Não pode fazer isso comigo. Como pode virar as costas para mim? — disse Yasukasa.

— Alteza, peço que cuide do garoto. Com o conflito que vem, não seria prudente trazê-lo à sua terra natal — disse ao tempo estalando as rédeas — Yanaho, não se preocupe, nada vai acontecer ao seu pai. Com sorte você ainda pode encontrar o Suzaki e convencê-lo a ajudar.

Com a saída de Onochi, Yasukasa viu sua esperança partir, se ajoelhando ao solo de areia dizia para si mesmo:

— Droga! 

— Vamos, alteza — se aproximou Yanaho, encostando em seu ombro.

— Do que está falando? — afastou seu braço — Nem ao menos sabemos onde ela está! 

— Eu não posso ficar aqui parado! Meu pai está correndo perigo e essa é a única coisa que posso fazer pra evitar isso. 

— Não tem mais o que fazer. Estamos nas mãos de Onochi e meu pai.

— Eu quero pelo menos tentar!

— E o que resta para fazer? Nem você sabe — jogou as mãos para o alto desabafando.

— Precisamos encontrar o Suzaki.

Após as palavras, sem muita escolha a princesa acompanhou o jovem. Estavam nos muros, então puderam ver um pouco distante, diversos comboios militares se dirigindo ao portão principal da cidade, além de uma legião de Kishi’s à cavalo.

— É insistente, garoto, admito isso. Sendo sincera, já teria fugido para meu território natal, se fosse ele.

— Não ele. Suzaki já disse que não gostaria de ter vindo aqui, então quando quiser ir embora, pode ser que procure Onochi para isso.

O raciocínio de Yanaho levou o garoto a pedir que fosse levado de volta ao palácio, onde, nos arredores, avistara Suzaki pela última vez. A princesa mais velha buscou disfarçá-lo com alguns trapos para cobrir seu rosto. Se aproximando do local da sala de espera onde Yanaho havia ficado sozinho no dia anterior, foram reconhecidos nos arredores do local que os surpreendeu, chegando por trás. Yasukasa tomava a frente do camponês, quando a figura se apresentava:

— Finalmente achei vocês. Onde está Onochi? — disse revelando seus olhos azuis.

— Suzaki, onde você estava todo esse tempo?!

—  Yanaho, porque ela está aqui? — desconfiou Suzaki. 

— Não é nada disso. Onochi precisou voltar às pressas. Vai ter um conflito na minha cidade porque a outra princesa foi sequestrada…

— É por isso que voltei, mas como sabe disso tudo? — interrompeu Suzaki, balançando a cabeça — Não importa, preciso da ajuda de vocês para resgatá-la. 

— Foi você quem invadiu o índice, se passou por um viajante e até agora tinha sumido — disse Yasukasa, puxando sua espada da bainha — É difícil engolir sua vontade de querer salvar minha irmã.

— Então você é uma princesa — disse a encarando.

— E você quem é? — aproximou a espada.

— Eu insisto, agora não é o momento para…

— Para de drama, precisamos confiar um no outro pra continuar. Então… fala de uma vez! — gritou Yanaho, batendo o pé, atrás de Yasukasa 

— Eu — respirou fundo Suzaki — sou o príncipe herdeiro do Império Ao.

— Príncipe?! — disse Yanaho, olhando para Yasukasa — Então os Ao também tão envolvidos nisso tudo?

— E o que seus mandantes queriam te mandando invadir o Índice?

— O que aconteceu naquele dia foi um erro meu. Pude conversar com representantes Ao e decidimos compensar Kiiro por essa falha.

— E como eu sei que devo confiar em você? — perguntou Yasukasa.

— Porque eu sei onde a princesa está! — as palavras do garoto, fizeram a princesa cerrar as sobrancelhas enquanto guardava a espada.

— Então vamos!

 


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

   

 



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