Volume 1
Capítulo 8: Treinamento intensivo…
Blam. O som de duas espadas se chocando cortava o ar, invadindo os pensamentos de Nimbus com uma força avassaladora.
Ele vivia e respirava as regras daquele metal, e a espada era uma extensão de seu próprio corpo. No entanto, isso não era o suficiente.
Rivalizar com Lonios em combate parecia impossível. Para piorar, ele ainda tinha que responder a perguntas difíceis entre um golpe e outro.
— Quais são os dez mandamentos dos cavaleiros? — Lonios perguntou com frieza, atacando seu aprendiz sem piedade.
— Primeiro, sempre respeitar e defender todos os indefesos — Nimbus respondeu, desviando de um golpe. — Segundo, defender os oprimidos contra a injustiça e o mal.
O som das lâminas se chocando foi substituído por um silêncio tenso. Sãr Lonios segurava sua espada a centímetros do rosto de Nimbus, que estava visivelmente exausto, suando e com o rosto vermelho. Lonios, por outro lado, parecia imune ao esforço.
— De novo. Você ainda não está com o pensamento tão afiado quanto a sua maestria com a espada — o cavaleiro repetiu pela milésima vez.
O estrondo das espadas novamente ressoou como trovões no campo de batalha.
— Quais os dez mandamentos de um cavaleiro? — Lonios avançou mais uma vez, forçando Nimbus a se esquivar com agilidade.
— Primei…
— Não! Continue do mandamento em que parou. — Lonios não deu descanso, atacando novamente. Nimbus teve que rolar no chão para escapar de um golpe mortal.
— Terceiro mandamento, Sempre cumprir sua palavra — o garoto gritou, quando contra-atacou, ainda no chão. — Quarto, jamais recusar um pedido de ajuda. — Dessa vez Lonios o desarmou enquanto Nimbus repetia a frase e praticamente no mesmo movimento já apontava a espada para o seu pescoço. — Quinto mandamento, nunca atacar um oponente indefeso — o garoto recitou e Lonios apenas riu enquanto baixava a espada.
Lonios abaixou a espada sem pressa de encerrar o treinamento.
— Outra vez. Você tem que pensar mais rápido. Em um combate real, terá de criar estratégias enquanto ataca e se defende. Vamos!
— Sexto mandamento, amar o seu povo — Nimbus recitou com dificuldade, avançando contra Lonios, cada vez mais vermelho e exausto. — Sétimo, buscar a perfeição física, mental e espiritual. — Ele defendeu outro ataque rápido de seu mestre, girando em resposta. — Oitavo, nunca roubar, trapacear, mentir ou desobedecer as leis.
Ele fez uma pausa, ofegante, e com um toque de ironia, contra-atacou.
— Não é mesmo, mestre?
Lonios executou uma finta magistral, fazendo Nimbus cair no chão, enquanto apontava a espada diretamente para seu rosto, os olhos incendiados de fúria.
— Não fale sobre o que não tem conhecimento, menino. A sorte não tem sorrido para mim ultimamente — ele disse com raiva, abaixando a espada. — Levante-se. Em posição.
Lonios circulou o campo de treino, onde a grama havia sumido, substituída por um círculo perfeito de terra e barro. Ele estava inquieto, sua paciência no limite. De repente, correu em direção ao garoto e atacou com fúria.
— Nono, ser justo e valente na guerra, e leal na paz — Nimbus gritou, quase sem ar, enquanto defendia o golpe que quase o levantou do chão.
Lonios executou outra finta habilidosa, confundindo Nimbus com um ataque que parecia vir de um lado, mas logo mudava para o outro. O garoto perdeu o equilíbrio, e por último, a espada do cavaleiro parou a centímetros de sua testa.
— CHEGA... — Nimbus ofegou, com as mãos apoiadas nos joelhos. — Não aguento mais, mestre. Vamos parar por hoje. Eu acho que nunca vou conseguir te derrotar, você me surpreende de uma forma diferente a cada vez.
— Décimo mandamento, nunca demonstrar fraqueza. Um cavaleiro deve ser a fonte que inspirará os exércitos, que encorajará seus subordinados — Lonios disse, baixando a espada.
— Você tem ficado mais ousado, isso é bom. Você precisa superar sua timidez e falta de confiança. Mas mesmo assim, não permito que me julgue. Se tenho dívidas ou me envolvo com agiotas, isso é um problema meu. Apenas foque em aprender tudo o que estou lhe ensinando.
— Mestre, o que o senhor quer que eu pense? — Nimbus falou, quase gritando. — Você não diz nada! Há semanas estamos viajando longe da estrada principal. Na semana passada, fugimos de agiotas, como se fôssemos ladrões. O senhor me faz acreditar que estou sendo treinado por um criminoso, enquanto minha mãe está lá sozinha, talvez sem o remédio dela. O que ela pensaria de mim se soubesse o que estamos fazendo?
— Garoto, eu entendo sua frustração — respondeu Lonios, com a voz grave, mas controlada. — Se me envolvi ou me envolvo com jogos de azar, quero que saiba que isso não quebra o meu código. Mas, de fato, há coisas do meu passado que lamento. Fugir desses agiotas é a minha penitência. Ninguém é perfeito, e todos têm seus defeitos. Devemos aprender a viver com eles. Um dia, você entenderá isso. O caminho que você trilha será longo e difícil, e você terá que ser forte para suportar tudo o que ainda virá.
Nimbus ficou quieto, de cabeça baixa, refletindo sobre as palavras do mestre. Aquelas palavras, no entanto, não o convenceram por completo.
— Mas não fique triste — Lonios continuou, tentando suavizar o ambiente. — Você já está se desenvolvendo, não percebe? Cada vez que tento uma manobra contra você, percebo que já a decorou. Em breve, não terei mais truques para lhe ensinar. Em breve, lutaremos de igual para igual, explorando os erros um do outro.
O cavaleiro guardou a espada e, surpreendentemente, abraçou Nimbus. O garoto tentou se desvencilhar, algo que nunca havia feito antes. Isso fez Lonios recuar, o olhar preocupado.
— Eu ainda não sou bom o suficiente. O senhor me derrota com tanta facilidade — Nimbus disse, a voz trêmula.
— Isso é porque treino desde os seis anos de idade. A experiência me deu a sensibilidade para perceber o que cada homem fará no momento em que levanta a espada. É quase instintivo. Um pequeno movimento no pulso do oponente ou um leve ajuste no ângulo da espada é o suficiente para saber como ele vai agir. Você também desenvolverá isso com o tempo. Continue avançando.
Lonios parou, com o olhar fixo no horizonte, como se as palavras não fossem dirigidas diretamente a Nimbus, mas a um lugar distante em sua memória.
Nimbus ficou em silêncio, observando o mestre. Algo ainda o incomodava, uma dúvida que não conseguia ignorar.
Lonios nunca falara sobre sua infância, mas agora, com aquela menção ao seu treinamento desde criança, algo se encaixava.
Se o mestre treinava desde tão jovem, não poderia ter sido ensinado por outro cavaleiro errante.
Ele provavelmente havia sido treinado em um castelo, talvez até fosse um nobre. Por que esconder seu passado? O garoto começou a juntar as peças e a suspeita começou a crescer dentro dele.
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