Volume 1

Capítulo 66: Duas Badaladas…

De repente, os sinos tocaram. Duas badaladas. O que Nimbus mais temia estava acontecendo: ele estava perdendo a pessoa mais importante de sua vida, e seus inimigos se aproximavam rapidamente.

— Rápido, me levantem — Lonios ordenou, com voz firme.

— Mas senhor — Leonardo interveio, preocupado.

— Respeitem os últimos desejos de um moribundo — Lonios exclamou. — Eu posso estar morrendo, mas ainda sou um cavaleiro, e cavaleiros só aceitam ordens de seu comandante — ele olhou para Elisis, que, com um simples movimento de cabeça, deu seu consentimento ao Doutor.

Eles o levantaram com cuidado, e ele, embora muito fraco, permaneceu imponente. Empurrou todos que o amparavam e, com esforço, se ergueu sozinho.

— Nimbus, se aproxime. Antes de morrer, tenho que fazer uma última coisa. Você está pronto? É hora de você se tornar um cavaleiro.

— Ele não pode fazer isso — Elisis cochichou para Nimbus. — É preciso ser o líder da nossa ordem de cavaleiros, o Grande Líder, um rei, ou no mínimo um Lorde para proclamar alguém cavaleiro. Ele deve estar delirando, Nimbus.

— O que está esperando? Como eu lhe ensinei, se ajoelhe aqui na minha frente — Lonios insistiu, com uma firmeza que não condizia com seu estado.

Sem dizer uma palavra, Nimbus atendeu ao último desejo de seu mestre, já senil. Ver Lonios assim o fez chorar ainda mais. Ele não queria lembrar de seu mestre dessa forma.

— Não me julguem, vocês devem imaginar que estou louco — Lonios tirou de um compartimento de seu sobretudo um anel e colocou-o no dedo.

— Mas... isso é um anel de Lordes de Victórius, onde você... — Valeros se levantou da maca e se aproximou, fixando o olhar no anel. Ele estava atônito, mas Lonios o interrompeu.

— Nimbus, futuro cavaleiro, você jura? Sempre respeitar e defender todos os indefesos — Lonios retirou sua espada da bainha e a encostou no ombro de Nimbus.

Todos na sala, sem exceção, se ajoelharam naquele momento, baixando as cabeças em respeito. Valeros, fraco, quase caiu, provavelmente devido à vertigem de se agachar tão rapidamente.

— Sempre defender os oprimidos contra a injustiça e o mal — Lonios moveu a lâmina da espada para o outro ombro de Nimbus.

— Sempre cumprir sua palavra — e na outra direção.

— Jamais recusar um pedido de ajuda legítimo — ele continuou.

— Nunca atacar um oponente indefeso — a lâmina desceu para o ombro seguinte.

— Amar seu povo — e continuou.

— Buscar a perfeição física, mental e espiritual — a lâmina foi mais uma vez posicionada.

— Nunca roubar, trapacear, mentir ou desobedecer as leis — continuou, sua voz carregada de peso.

— Ser justo e valente na guerra e leal na paz — ele finalizou, preparando o último gesto.

— E, por último, mas o mais importante, nunca demonstrar fraqueza. Um cavaleiro deve ser a fonte que inspirará os exércitos, que encorajará seus subordinados — e, por fim, a lâmina foi colocada no ombro direito de Nimbus.

— Eu juro...

— Então, eu, Sãr Lonios Drago, Lorde Jardinsdomar do continente Victórius, o proclamo cavaleiro. Você se ajoelhou como um menino e agora se levanta como um homem — Lonios completou, antes de tombar na cama devido ao esforço. O Doutor e a enfermeira correram para ampará-lo.

Todos ficaram boquiabertos. O cavaleiro andante que haviam desprezado durante toda a viagem era, na verdade, um dos Lordes de Victórius, o país que ditava o rumo do mundo. 

O que ele estava fazendo ali, naquele continente falido e corrupto, servindo a bordo de uma nave sucateada como a Brand? Mas naquele momento, não havia espaço para perguntas. Os piratas os haviam encontrado.

Nimbus e Elisis subiram rapidamente à ponte.

— Desculpe, senhora — Jim falou no exato momento em que entraram. — Acho que fizemos uma curva muito fechada para nos aproximar da tempestade, e perdemos a dianteira em relação aos piratas. É uma ironia, sermos alcançados aqui, justamente nas proximidades da primeira batalha onde perdemos a Peregrino. Agora corremos o risco de ser afundados. Vamos descansar juntos pela eternidade — Jim parecia falar mais para si mesmo do que para os outros na ponte.

A tempestade imensa e centenária dominava o horizonte. Estavam realmente próximos, a apenas algumas centenas de metros. Se seguissem naquela direção por mais alguns minutos, seriam engolidos pelo redemoinho de ventos púrpura no horizonte que formava a tempestade. Mas, por ora, apenas a seguiam paralelamente.

— Senhora, o Dr. Henry mandou uma mensagem da casa das máquinas. Ele está com dificuldade de fazer a nave alcançar velocidade máxima — comunicou a oficial Wenra Nyota à sua capitã.

— Tenente Ka Hikaru, por favor, tente manter distância. Ainda somos mais rápidos do que eles — respondeu a comandante, com a voz calma.

— Sim, comandante — a piloto respondeu, concentrada em manter a nave estável.

Um som suave, quase imperceptível, começou a se fazer audível. Apenas quem prestasse atenção o perceberia, e Nimbus já o reconhecia.

— Elisis, está ouvindo essa música? — perguntou ele, com um olhar atento.

— Acho que sim. Preciso da luneta — Wenra a alcançou rapidamente para sua capitã. Depois de observar através da lente, ela disse, com a voz tensa:

— Sãr Nimbus, observe.

Quando Elisis o chamou de  “Sãr, todos na sala pararam o que estavam fazendo e olharam para ele. Nimbus não se importou com a atenção, estava absorto no momento. 

Era a primeira vez que o chamavam de “Sãr”, e ser chamado assim por Elisis, em particular, soava como uma melodia mais real para ele do que qualquer som que o pirata tocava na proa de sua nave, com o enorme pergaminho enrolado nas costas. 

Ele se concentrou novamente e percebeu que o inimigo estava, mais uma vez, convocando um monstro do éter. Este monstro estava destinado a abraçá-los, e, embora ele se orgulhasse de ser chamado de cavaleiro, sabia que provavelmente essa seria a primeira e última vez que isso aconteceria.

E então, sob o som da invocação, todos quase caíram quando a nave pareceu bater contra uma parede invisível. Mas todos sabiam que não era uma parede; era um monstro do éter.

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