Nimbus: E os Cavaleiros de Cenferum Brasileira

Volume 1

Capítulo 60: Escapada…

Nimbus decididamente não conhecia as mulheres. A enfermeira Cristiane, que momentos antes lhe dera um beijo inesperado apenas para enxotá-lo em seguida, agora havia derrotado os dois guardas que tentaram abusar dela. 

Quem poderia imaginar que fosse tão letal? Ele começava a compreender: todas as mulheres dessa nave eram perigosas, sem exceção.

Enquanto refletia, viu Cristiane caminhando em direção às celas, com as chaves balançando em sua mão. A liberdade estava próxima.

— Bom trabalho, Cristiane. Ou devo dizer... Elisis? — Lonios aproximou-se com um sorriso, cumprimentando-a. — Esse disfarce ficou perfeito.

Nimbus arregalou os olhos. Aquilo era impossível. Elisis estava deitada no canto da cela o tempo todo, ele tinha certeza disso.

— Você não sabe o que maquiagem e um cabelo solto podem fazer — Elisis respondeu com tranquilidade.

— Agora entendo por que vocês amazonas usam essa maquiagem pesada. Os inimigos nunca sabem como vocês realmente são sem ela — Lonios comentou, observando-a com admiração.

— Como espiãs, precisamos manter nossas identidades em sigilo.

— Mas de onde você tirou maquiagem para usar na Cristiane? — perguntou Nimbus, ainda confuso.

Elisis, que agora amarrava os cabelos, revelou um sorriso confiante.

— Amazonas sempre têm esconderijos em seus uniformes. Nunca se sabe quando será necessário usar camuflagem.

Com o cabelo preso, seu rosto ficou claramente visível. Era ela, sem dúvidas. A surpresa deu lugar a um misto de alívio e urgência.

— Agora temos que sair daqui e retomar a Brand — declarou Elisis, determinada.

— Não podemos tomar a Brand — retrucou Lonios. — Precisamos da nave pirata do Lorde.

— E a nossa carga? — Elisis insistiu.

— Primeiro salvamos nossas vidas, depois recuperamos a carga.

— Săr Lonios, Cenferum precisa daquela carga. Levá-la a qualquer custo é a nossa missão.

— Vamos escapar daqui primeiro. Depois pensaremos no resto — Lonios respondeu, voltando-se para os prisioneiros. — Sei que estou pedindo muito, mas precisamos de todos que consigam segurar uma arma. Vamos lutar por nossas vidas. Oficiais com treinamento em armas, assumam a liderança em grupos de três ou quatro. Esta é a hora de colocar em prática o que aprenderam na academia.

Nimbus aproximou-se de Jim, seu amigo de longa data.

— Jim, fique perto de mim e use o que lhe ensinei — disse, abraçando-o.

Jim respondeu com um aceno de cabeça. Sua sorte em estar perto do Dr. Henry, durante a tomada da Brand, havia poupado sua vida.

Enquanto isso, Lonios arrombou a grade que protegia o arsenal, recuperando sua imponente espada de Aço Diamante. Elisis trocou de roupa com Cristiane, vestindo novamente sua armadura de combate, agora sem a maquiagem que tanto a diferenciava.

O Dr. Leonardo, com a ajuda de Cristiane, carregou Valeros, que ainda estava debilitado. Dr. Henry, por sua vez, pegou um machado de guerra e assumiu posição de combate. Sua experiência em brigas de bar parecia ser sua única carta na manga, mas ele estava decidido a lutar.

Nimbus permanecia ao lado de seu mestre, lutando contra uma intensa dor de cabeça e olhos ardentes, quase incapaz de mantê-los abertos.

— Peguem uma arma! Usem aquela em que melhor se saíram no treinamento — ordenou Lonios, sua voz grave refletindo a preocupação que carregava.

A batalha estava prestes a começar, e todos ali sabiam que não haveria espaço para erros.

Toda a centena poupada da chacina na Brand se armou com urgência. Elisis posicionou-se na entrada da caverna, seus olhos atentos vigiando cada detalhe ao redor. Valeros, que ainda estava sendo amparado pelo Dr. e por Cristiane, pareceu recobrar os sentidos. Ele se desvencilhou deles com esforço, cambaleando até o arsenal improvisado. 

Ao alcançar as armas, agarrou o Égipe com sua única mão funcional. Usando os dentes e a força que restava, atou o escudo ao braço amputado. O urro de dor que soltou ecoou pela caverna, mas ele ignorou o sofrimento, apertando o escudo com determinação, como se sua vida dependesse disso.

— O que está fazendo, Valeros? Você precisa descansar — protestou Nimbus, preocupado. 

— Eu tenho que cumprir meu dever! — respondeu o cescudeiro, a voz rouca mas firme. — Dessa vez, com o Égipe, eu vou derrotar aquele maldito Lorde Pirata.

Cambaleou mais uma vez, quase caindo, mas foi interrompido antes que pudesse seguir.

— Não mesmo. Você vai ficar na retaguarda — declarou Elisis, com autoridade incontestável. — Sãr Lonios e Nimbus enfrentarão o inimigo.

— Mas…

— Isso é uma ordem da sua capitã — cortou Elisis, encerrando a discussão. Contrariado, Valeros recuou lentamente até a retaguarda, enquanto Elisis tomava a liderança com um único comando.

— Avançar! 

Apesar da juventude, sua presença carregava uma autoridade que poucos ousavam questionar. Seus subordinados obedeceram sem hesitar, seguindo-a pelo túnel que conectava à caverna adjacente.

⸸ ⸸‌ ⸸‌