Volume 1

Capítulo 56: Péssimas motivações…

Era quase impossível para Lonios processar tudo o que acontecia ao seu redor. Nimbus havia desenvolvido uma Maldição, algo que nunca deveria ter ocorrido. 

Agora, somavam-se a isso os interrogatórios brutais. Três oficiais já haviam sido levados para uma sala adjacente à caverna, retornando gravemente feridos. E, ao que parecia, era a vez de mais um ser arrastado para lá. 

— Ele morreu em vão. — A voz carregada de tristeza era de Valeros, que estava sentado em um canto da cela.

Lonios olhou para ele, surpreso. Era a primeira vez que via aquele jovem perder o controle. Sempre impassível e atento, Valeros agora parecia outra pessoa: cabisbaixo, com os olhos cheios de lágrimas, despido da determinação habitual.

— Está tudo bem com você, Valeros? — perguntou Lonios, aproximando-se. 

— Sãr Lonios, foi em vão. Meu mestre morreu em vão. — As lágrimas escorreram pelo rosto do aprendiz, que parecia uma criança desolada após perder algo insubstituível. 

Lonios o encarou com seriedade, a voz firme. 

— Nunca diga isso, Valeros. Seu mestre era um cavaleiro. E cavaleiros não se sacrificam em vão. Está julgando as ações dele? Se isso for verdade, então ele era um tolo por morrer por uma causa perdida. É isso o que está dizendo? Que ele deveria ter esperado dominarmos a situação antes de derrubar a ponte inimiga? Que foi ingênuo e merecia morrer?

As palavras atingiram Valeros como um golpe. Seu rosto se contorceu em um misto de incredulidade e raiva.

— Não! — gritou, encarando Lonios com um olhar sombrio. — Está dizendo que meu mestre era um tolo, cavaleiro andante?

— Isso mesmo. — Lonios esboçou um sorriso discreto. A reação que esperava estava surgindo.

— Nunca! Meu mestre era sábio, muito mais do que você! — Valeros se levantou de súbito e empurrou Lonios contra as grades da cela.

O cavaleiro não resistiu. Era exatamente esse espírito que ele queria ver.

— Calma, garoto. Devemos focar nossa ira no inimigo.

Valeros ainda respirava pesadamente, mas se afastou, o dedo indicador apontado contra o peito de Lonios.

— Quando tudo isso acabar, resolveremos isso entre nós.

A tensão foi interrompida pelo barulho dos guardas. Eles arrastavam tenente Ka uma das oficiais da Brand, jogando-a brutalmente na cela feminina. Elisis correu para amparar a companheira, que estava visivelmente machucada, os olhos inchados de lágrimas e o rosto coberto de hematomas.

— Por que eles estão interrogando a gente? — perguntou Elisis, com a voz carregada de preocupação.

— Nã... não sei. — A oficial balbuciou, lutando para manter a consciência. — Eles queriam saber sobre a aparência da filha do Grande Líder... como ela era.

Elisis enxugou as lágrimas da colega, mantendo-a protegida em seus braços.

Lonios observou atentamente. Aquela era uma informação importante. O interrogatório indicava que os piratas suspeitavam que a herdeira do Grande Líder estava entre as prisioneiras. Ou pior: talvez acreditassem que tinham sequestrado a garota em uma expedição anterior e não sabiam qual delas era a verdadeira.

Com a mente fervilhando, Lonios se voltou para Valeros, que ainda o encarava com uma expressão de ódio.

— É para eles que devemos direcionar nossa fúria, Valeros.

O jovem respirou fundo, processando as palavras do cavaleiro, antes de assentir.

— Tem razão.

Antes mesmo que o guarda se aproximasse, Valeros deu um passo à frente e chamou sua atenção.

— Ei! Não estavam procurando voluntários para o interrogatório? Pois aqui estou eu.

O pirata parou, surpreso, antes de sorrir com desdém.

— Ora, ora, temos um corajoso aqui. Acha que pode aguentar um interrogatório conosco? — Ele apontou para os dois comparsas.

— Quer pagar pra ver?

O pirata gargalhou, deliciado com o desafio.

— Vamos levar esse aí. Quero ver o quanto ele aguenta até baixar essa crista de galo.

Com isso, os guardas se aproximaram da cela, prontos para levar Valeros. O jovem mantinha a cabeça erguida, o olhar fixo, enquanto Lonios observava em silêncio, certo de que aquele ato impulsivo poderia ser a chave para virar o jogo.

Valeros estendeu as mãos para fora das grades, permitindo que fosse algemado no mesmo procedimento que os piratas já haviam repetido com outros prisioneiros.

— Menino obediente. — O pirata riu enquanto prendia as algemas e o puxava para fora da cela. — Nós vamos cuidar muito bem de você.

— O que ele está fazendo? — perguntou Elisis da cela ao lado, com o rosto carregado de preocupação.

— Acho que ele quer resolver a situação sozinho — respondeu Lonios. Ele fez uma pausa, aproveitando para lançar uma questão importante. — Acha que eles estão com a filha do Grande Líder?

— Tenho quase certeza. Mas eles devem estar em dúvida sobre quem é ela. Provavelmente têm outros prisioneiros da expedição anterior.

— Então temos uma chance de salvá-la. Valeros deve estar planejando algo. Vai usar sua fúria contra os soldados, derrubar alguns, impor medo. Mas não acredito que ele consiga ir muito longe.

— Ele deveria esperar. Usar o elemento surpresa seria melhor. Eles podem matá-lo.

— Não acho que façam isso. Ele é um escudeiro, vale muito dinheiro em um resgate.

— Homens, sempre agindo sem pensar. — Elisis balançou a cabeça e se afastou, voltando à conversa que mantinha com Cristiane, a enfermeira.

Lonios, por um momento, achou que as duas estavam discutindo trivialidades, mesmo naquela situação desesperadora. Cristiane parecia discordar de algo, mas ambas estavam absortas no diálogo.

Enquanto isso, Valeros seguia pelos corredores da caverna, cercado pelos piratas. No meio do caminho, com um movimento rápido, empurrou um guarda contra o outro e, aproveitando a confusão, arrancou a arma de um deles. Agora estava armado, mesmo com as mãos algemadas, sem demonstrar qualquer hesitação. 

— Esse quer apanhar — disse um dos guardas, desembainhando a espada, seguido por outro. Um terceiro puxou uma faca, o que fez Lonios estreitar os olhos. Bucaneiros eram perigosamente habilidosos com facas, especialmente em ataques traiçoeiros.

— Nós somos os melhores lutadores entre os piratas do lorde... — começou um deles, antes de avançar contra Valeros.

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