Volume 1

Capítulo 55: Explicações…

A ilha parecia surgir do nada, um pedaço de terra perdido no oceano, ausente em qualquer mapa que Lonios já tivesse estudado — e ele havia examinado muitos. 

Era impossível que uma formação rochosa tão próxima ao local da batalha naval tivesse passado despercebida. No entanto, ali estava ela: pequena, desolada, sem vida, com pouco mais de um quilômetro de extensão.

A nave pirata atracou, e os prisioneiros foram forçados a marchar por aquele terreno estéril. Lonios sentia sua mente fervilhar de perguntas e estratégias. Como fugir? Qual seria sua melhor chance? 

A Brand era lenta demais para escapar das naves rápidas do inimigo. Não restava outra opção além de tomar a fragata do próprio pirata, uma embarcação ágil, perfeita para uma fuga desesperada.

Agora estavam todos presos, divididos em gaiolas dentro de uma caverna escavada na única montanha da ilha. As celas, úmidas e escuras, separavam homens e mulheres, e o ambiente ressoava o som de gotas que caíam das estalactites.

— Elisis — Lonios chamou baixinho, aproximando-se das grades que o separavam da cela ao lado.

Elisis, que estava com as mulheres da tripulação, olhou para ele e sussurrou: 

— Já sei o que você está pensando, Sãr Lonios. — Sua voz era baixa, mas firme, e seu olhar determinado. — Temos que escapar o mais rápido possível.

— Exatamente. Tem algo em mente? 

Ela abriu a boca para responder, mas calou-se imediatamente ao notar a aproximação de um dos guardas. 

— O que estão cochichando aí? — perguntou o pirata, batendo a espada contra as grades. — Silêncio! Não quero ouvir um pio. 

Elisis recuou, mas sorriu levemente para Lonios antes de se afastar. Aquela mulher era tão perigosa quanto sagaz. 

Sãr Adon tinha razão ao dizer que as amazonas eram astutas. Lonios sentiu o peso da ausência do velho cavaleiro. A jornada estava cobrando um preço alto, como Sãr Ahbran havia alertado.

Decidido, Lonios se aproximou de Nimbus, que estava sentado num canto da cela masculina, as mãos sobre os joelhos, o rosto abatido. 

— Nimbus, como se sente? — perguntou, abaixando a voz para não atrair atenção indesejada.

— Mestre, não sei o que aconteceu comigo — respondeu o aprendiz, hesitante.

— Você começou a ver as coisas se movendo devagar, não é?

— Sim. É isso. Como o senhor sabe?

— Porque eu também posso fazer isso.

Nimbus ergueu a cabeça, mesmo com os olhos vendados.

— O senhor também pode? Então é por isso que o senhor é um cavaleiro tão habilidoso!

— Não funciona como você imagina, meu jovem. Não é um dom. É uma maldição. 

— Maldição? — A confusão tomou conta da voz de Nimbus.

Lonios assentiu lentamente.

— Qual é sua primeira lembrança da infância?

— Acho que... lembro da Dona Zeliudes segurando meus braços enquanto eu aprendia a andar. Mas é algo vago.

— Não foi isso que você me disse quando conversamos com sua mãe adotiva. Você contou que lembrava de sua mãe biológica entregando você nos braços da Dona Zeliudes. Não lembra mais disso?

Nimbus ficou em silêncio por um momento, e então seu tom de voz subiu, aflito:

— Não! O que aconteceu? Por que não consigo lembrar?

— É a maldição, Nimbus. Cada vez que você usa esse poder, suas memórias mais antigas começam a desaparecer. No início, são lembranças distantes, mas o impacto cresce. Há relatos de guerreiros que perderam completamente seu passado, vagando pelo mundo sem distinguir amigos de inimigos. Meu irmão foi um deles. Seus cabelos perdem a coloração ficando totalmente brancos como suas memórias.

Lonios fechou os olhos por um instante, a dor em sua voz evidente.

— Quero que me prometa, Nimbus. Use esse poder apenas como último recurso. Prometa para mim.

Nimbus permaneceu em silêncio, claramente mergulhado em seus pensamentos. Após alguns instantes, ele finalmente quebrou o silêncio:

— Eu prometo, mestre. Agora entendo porque o senhor chama esse poder de maldição.

Lonios assentiu, satisfeito com a resposta, mas Nimbus não parou por aí. Após outro momento de reflexão, perguntou:

— Mas como eu aprendi a fazer isso? Fez parte do seu treinamento?

— Não, Nimbus. Somente os descendentes de sangue puro da minha linhagem desenvolvem essa maldição.

— Então quer dizer que o senhor é meu parente?

Lonios esboçou um sorriso contido, mas respondeu com seriedade:

— Não necessariamente. O sangue da minha linhagem se espalhou pelo mundo ao longo dos séculos. Há muitas famílias que compartilham algum vínculo distante comigo. Talvez você seja um primo distante.

Nimbus franziu a testa, confuso, enquanto Lonios prosseguia:

— Mas o mais importante é que você não é sangue puro. Alguém que não seja filho de pais ou mães diretamente da minha linhagem jamais deveria desenvolver essa maldição.

O garoto ficou novamente pensativo, como se tentasse montar as peças de um quebra-cabeça impossível.

— Então, como isso aconteceu?

Lonios suspirou, medindo as palavras antes de responder:  

— Não sei explicar ao certo. Talvez os exercícios de meditação que ensinei a você tenham ativado esse gene latente em seu corpo. Talvez um dos seus pais era particularmente poderoso no uso das Maldições e você herdou um pouco deste poder. Ou talvez tenha sido algo que eu ainda não compreendo completamente. No entanto, uma coisa é certa: você desenvolveu um poder que, pelas leis da nossa linhagem, deveria ser impossível.

Apesar de sua expressão tranquila, Lonios escondia suas suspeitas. Havia algo incomum no caso de Nimbus, algo que ele preferia não revelar até ter certeza. Afinal, a verdade poderia ser ainda mais perturbadora do que o garoto estava pronto para enfrentar.

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