Volume 1
Capítulo 54: Só desgraça…
Nimbus despertou sobressaltado, mas tudo ao seu redor era escuridão. A venda apertada em seus olhos o privava da visão, e uma dor aguda latejava em sua testa. Ele sabia, de alguma forma, que a venda tinha um propósito: protegê-lo de forçar a vista.
O que quer que tivesse feito naquela tarde fora intenso, exaurindo todas as suas forças. A vontade era de permanecer imóvel, esperando as dores cessarem, mas o destino parecia ter outros planos.
A tranquilidade do cubículo foi rompida pelo som de passos apressados. Homens invadiram a enfermaria, suas vozes altas e nervosas ecoando pelas paredes. O Dr. Leonardo estava entre eles, acompanhado pela enfermeira Cristiane e o restante da equipe de enfermagem. Pelos resmungos, parecia que estavam sendo amarrados.
Nimbus percebeu que alguns dos invasores estavam próximos à sua cama. Então, ouviu a voz do Dr. Leonardo, carregada de urgência e medo:
— Não o matem, ele é oficial. Não iriam querer matar um oficial, não é? — A mentira era evidente, mas era a única defesa que o médico podia oferecer.
— A ordem é matar todos os moribundos.
Os gritos desesperados dos pacientes sacrificados ecoaram pela enfermaria, transformando o ambiente num inferno. Nimbus sentiu um nervosismo crescente, mas seu corpo permanecia fraco, incapaz de reagir. Ele sabia que algo havia dado terrivelmente errado. A Brand, que parecia estar vencendo a batalha, agora estava sob ataque. O rumo da luta havia mudado de forma inexplicável.
— Ele não está moribundo, só precisa repousar os olhos.
Um dos homens, contrariado, soltou uma praga e puxou Nimbus da cama. Ele sentiu as mãos serem amarradas com algo que parecia esparadrapo, tão apertado que quase cortava a circulação. Arrastado pelos corredores, Nimbus percebeu o caos ao seu redor: gritos, golpes e um alvoroço geral tomavam conta da nave.
O ar frio indicava que estavam indo para o convés exterior. Pelo som abafado de orações e choros reprimidos, era evidente que o terror havia dominado a tripulação. Finalmente, Nimbus foi colocado de joelhos, sentindo o metal gelado sob as pernas.
— Vamos conversar. — A voz de Lonios soou, trazendo um breve alívio. Porém, o tom tenso revelava que a situação era grave.
— Chega de conversa, cavaleiro. Agora é hora de vocês escutarem.
— Mas senhor... — Elisis tentou intervir, mas foi cortada bruscamente.
— Calem a boca!
Um silêncio absoluto pairou no convés. O líder dos invasores continuou, com um tom que Nimbus interpretou como zombeteiro:
— Não gosto de saber que mataram meus homens. — Ele fez uma pausa, e Nimbus sentiu, mesmo sem enxergar, que o homem sorria. — Principalmente o Rick. Vocês não têm ideia do quão difícil é encontrar um anão disposto a operar aquele robô. — Uma risada escapou, carregada de ironia. — Cara, vocês não sabem o quanto isso me chateia. Mas eu tenho um pressentimento de que vão aprender.
O som dos passos indicava que ele estava caminhando pelo convés. Nimbus podia sentir sua presença perto de Lonios, como se o estivesse encarando.
— Parece que vocês ainda não entenderam que quem manda nessa área do éter sou eu. — O homem voltou a se aproximar. — Minha lei é simples: se passam pelo meu éter, têm que me pagar. Metade da carga. É só isso. Se tentarem fugir, afundo vocês. Se tentarem lutar, mato todos. Simples. Da próxima vez que nos virem, parem e paguem. Entenderam?
— Se é uma questão de dinheiro, pode levar metade da nossa carga. — Lonios tentou negociar, mantendo a calma.
— Nããão. Você não entendeu. Isso tudo é pros próximos que passarem por aqui. E vocês vão se arrepender. — Pelo som dos passos, o líder começou a se afastar. — Vocês mataram o meu anão.
O silêncio dominava o convés da nave. Apenas os passos do pirata ecoavam, reverberando como um tambor mórbido que marcava o ritmo de uma tragédia inevitável. Nem uma palavra de Elisis ou Lonios era ouvida. Onde estaria o capitão? O único momento em que sua presença era indispensável, ele não estava ali.
— Não entendi? Ninguém vai concordar? Mocinha, você disse que agora era a capitã. Fala alguma coisa.
A declaração do pirata trouxe consigo uma revelação terrível: o capitão, Sãr Adon, estava morto ou gravemente incapacitado. Talvez tivesse sido abatido na enfermaria, como quase aconteceu com Nimbus. E Jim? Onde estaria seu amigo?
— Silêncio? Só isso que vocês têm pra me dar agora? — O pirata caminhou até onde Nimbus e Lonios estavam ajoelhados. — Ei, cavaleiro, você acha que vão sair dessa inteiros?
— Não sei. O que você quer? — respondeu Lonios, quebrando o silêncio com uma voz firme.
Um estrondo abafado ecoou. Pelo deslocamento de ar e a vibração ao seu lado, Nimbus percebeu que o pirata havia golpeado Lonios com força suficiente para deixar marcas.
— Devo admitir, você é corajoso. Outros na sua posição estariam se mijando nas calças.
Lonios cuspiu, provavelmente sangue, mas não respondeu.
— Bom menino. É assim que se faz. A partir de agora, só quero ouvir “sim, senhor” ou “não, senhor” nas minhas perguntas. Vocês entenderam?
O pirata se afastou, mas Nimbus sabia que ele apenas estava se preparando para continuar seu discurso. Era um espetáculo, uma performance para reafirmar seu domínio.
— Eu não queria matar vocês, sabem? Mas agora estou num dilema terrível. Como vocês vão me pagar? E eu não vou voltar a ser um mercador andando com a minha navezinha por aí! Não mesmo? Isso não é vida pra mim.
Sua voz oscilava entre desespero e sarcasmo.
— E vocês mataram muitos dos meus homens, e o Rick é claro, ele era muito importante pra mim. Mas eu não posso matar todos. Afinal, vocês precisam espalhar minha palavra, não é mesmo?
Ele cochichou algo para alguém, e Nimbus não conseguiu ouvir. Em seguida, passos se multiplicaram no convés. O choro abafado ganhou força, seguido por sons que congelaram o sangue de Nimbus.
— Vocês têm que ser o exemplo. Matem metade deles!
— Não, não façam isso! — gritou Elisis, sua voz carregada de desespero.
O som de lâminas cortando carne rasgou o ar. O pranto deu lugar a gargarejos e ruídos sufocados de afogamento.
— NÃÃÃO! — Elisis gritou até sua voz fraquejar. Em estado de choque, ela recobrou as forças apenas para perguntar, num lamento: — Por quê? POR QUÊ?
— Até que enfim você falou, mocinha. — O pirata se aproximou dela, seus passos lentos e deliberados.
— Por quê? — Elisis repetiu, entre soluços.
— Você não ouviu? Vocês tinham que servir de exemplo. Além disso, eu tenho um problema grave de espaço nas minhas masmorras. Não dá pra acomodar mais de duzentas pessoas naquelas celas apertadas. Cem de vocês me parece um número mais razoável.
Nimbus tentou não pensar se Jim estava entre os mortos, mas o pensamento o atingiu como um golpe gélido.
— Os oficiais foram poupados — continuou o pirata, agora num tom quase casual. — Valem muito dinheiro. Seu país vai me pagar bem para tê-los de volta. Eu avisei que vocês iriam se arrepender.
Ele se afastou novamente, mas sua voz não tardou a ecoar outra vez.
— Além disso, os que morreram são só tripulação. Daquela gente tem de sobra no seu país corrupto. Já mandei um mensageiro perguntar ao seu “Grande Líder” quanto ele quer pagar por vocês. Afinal, se ele rouba metade do dinheiro do povo com aqueles impostos, deve ter muito para me dar.
Lonios finalmente ergueu a voz:
— Não tenha tanta certeza. O Grande Líder não vai pagar um tostão por nós, não depois de você ter afundado a nave nova dele. Somos descartáveis, apenas propaganda barata para fazer o povo acreditar que ele está agindo durante a crise.
Houve uma pausa.
— A carga de duas naves não seria suficiente para abastecer todo o país. No máximo, atenderia às necessidades do partido, e as migalhas seriam distribuídas como um grande gesto, enquanto o povo aplaude o esforço heróico do Grande Líder.
O pirata riu, mas sua risada era amarga.
— Cavaleiro, então eu acho que meu problema de espaço nas masmorras vai aumentar. Reze para que você esteja errado.
⸸ ⸸ ⸸
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