Volume 1
Capítulo 53: O preço da vitória…
Elisis estava na enfermaria, retribuindo o cuidado que Nimbus lhe oferecera tempos atrás, quando a ajudou após o confronto contra o monstro do éter. O ambiente era um caos absoluto.
Enfermeiros corriam de um lado para o outro, tentando atender os feridos, enquanto os gritos e gemidos de soldados em agonia preenchiam o ar sufocante. A enfermeira Cristiane, sobrecarregada, lutava para coordenar a equipe médica diante da crescente demanda. No centro de toda aquela confusão, Dr. Leonardo examinava Nimbus, desacordado sobre uma maca.
— Qual o problema dele, doutor? Ele vai ficar cego? — perguntou Elisis, preocupada.
Dr. Leonardo iluminava os olhos de Nimbus com uma pequena lanterna, observando atentamente através de uma lente.
— Acredito que não. Parece que ele forçou a visão além do limite. Houve pequenas hemorragias nos capilares dos globos oculares. Com alguns dias de repouso, ele deve recuperar a visão normalmente.
— Hemorragias? O que pode ter causado isso?
— Não sei. Nunca vi algo parecido. Mas, seguindo as orientações de Sãr Lonios, vamos apenas sedá-lo e deixá-lo descansar. Ele ficará bem. Agora, com sua licença, preciso cuidar de casos mais urgentes.
Aliviada com a explicação, Elisis deixou a enfermaria. Sua presença era necessária em outros lugares. Soldados precisavam de liderança, e a nave precisava ser reorganizada.
Enquanto caminhava pelos corredores da Brand, não conseguia afastar da mente os últimos momentos de Sãr Adon. Ele era o maior herói que já conhecera, e sua última investida contra a ponte inimiga foi algo que nunca esqueceria. Aquela imagem parecia gravada em sua memória, ao mesmo tempo inspiradora e dolorosa.
Quando se aproximou do corredor que levava à ponte, avistou uma cena que a surpreendeu: Lonios estava abraçando Valeros. O jovem, sempre altivo e implacável, parecia agora uma criança assustada, chorando no ombro de uma figura paterna. Elisis sentiu o peso daquele momento e, para que notassem sua presença, começou a pisar mais forte, até que os dois se afastaram.
Foi ali que ela percebeu o quanto Sãr Adon significava para Valeros. Ele o criara desde pequeno, moldando-o como escudeiro, mestre e figura paterna. O amor e a conexão entre cavaleiros e seus discípulos eram muito diferentes do que Elisis conhecia.
Entre as amazonas, as relações eram frias, utilitárias. Escudeiras eram armas moldadas para o combate, ferramentas descartáveis caso não sobrevivessem. Bastava buscar outra menina num orfanato para substituí-las. Isso valia até para Elisis, criada por sua própria mãe, que nunca lhe dirigira um sorriso de afeto.
Sem entender completamente o que Valeros sentia, mas tocada pela fragilidade que ele demonstrava, Elisis se aproximou. Sem dizer uma palavra, abraçou-o com toda a força que tinha, tentando transmitir o conforto que as palavras não podiam oferecer.
Pela primeira vez, permitiu-se emocionar diante da vulnerabilidade do seu amor, aquele homem, tão forte em aparência, mas profundamente abalado pela perda.
Nesse momento, o alarme ressoou pela Brand. Duas badaladas ecoaram como um aviso sombrio: mais piratas estavam se aproximando. Apesar de ainda abalada pelo que ocorrera, Elisis não hesitou. Correu até a ponte e, ao chegar, dirigiu-se à janela para avaliar a situação.
— Relatório! — Sua voz carregava uma determinação que escondia qualquer resquício de fraqueza. Agora, ela era a oficial responsável pela segurança da Brand, uma responsabilidade maior do que jamais imaginara carregar.
— Comandante, temos apenas trinta por cento das forças operacionais. Podemos mobilizar cerca de cinquenta por cento se incluirmos os feridos com condições leves — informou o Tenente Ka.
— A Brand sofreu várias avarias no casco. Estamos com apenas oitenta por cento de integridade estrutural. Em relação à munição, temos setenta por cento das reservas, o que nos permitiria algumas horas de combate — completou a primeira-tenente Wenra.
— Mobilizem todos os homens disponíveis, Tenente. Precisamos de cada soldado! — ordenou Elisis, com um tom que não deixava margem para questionamentos.
— Comandante, a senhora não entendeu. Não temos como lutar contra aquela nave. Nossa situação é crítica. Além disso, os prisioneiros a bordo ainda não foram devidamente confinados. Se perdermos o controle sobre eles, podem tomar a nave e nos forçar a enfrentar dois inimigos ao mesmo tempo — interrompeu Lonios, que, mesmo tendo pedido demissão, continuava assumindo um papel estratégico.
— Então vamos fugir! — propôs Elisis, sem hesitar.
— Receio que isso também não seja possível. — Lonios apontou para a silhueta no horizonte. — Aquela é uma nave classe Vingança, uma Fragata. Rápida, com um poder de fogo devastador. Se tentarmos fugir, seremos abatidos à distância. Se ao menos estivéssemos com a Peregrino...
— E o que sugere então?
— Precisamos negociar. Durante a negociação, podemos preparar um ataque surpresa, mas devo alertá-la: mesmo assim, as chances não estão a nosso favor. A mobilidade superior deles nos coloca em desvantagem.
— Acha que vão querer negociar? — Elisis cruzou os braços, analisando a situação com olhar crítico.
— Acho que sim. É o motivo de ainda não terem nos atacado diretamente e de se movimentarem tão devagar.
— Provavelmente a nave que derrotamos era parte do grupo deles, certo? — questionou ela, tentando montar o quebra-cabeça.
— Sem dúvida.
— Façam alguma coisa, seus inúteis! — gritou o capitão Jones, incapaz de lidar com a tensão crescente.
— Cale a boca. — Lonios avançou sobre ele, e o velho capitão, temendo outra pancada que o deixasse desacordado, recuou em silêncio. O sorriso discreto de Elisis deixou claro que ela apreciava o domínio de Lonios. Afinal, ele não era mais subordinado da nave, apenas um passageiro com experiência.
— Mande um pedido de trégua pelo rádio. Vamos até eles em um bote para conversar.
Após o pedido ser aceito, Elisis, Lonios, Valeros e, após insistência, o capitão Jones, embarcaram em um bote salva-vidas. Este bote na verdade se tratava apenas de uma pequena balsa com balões de ar quente que a sustentavam e uma pequena turbina acoplada a um tanque de hidrogênio que mal tinha força para impulsionar a balsa. A nave pirata tinha um bote parecido.
Navegaram até encontrar o bote inimigo posicionado à meia distância entre as naves.
Ao se aproximarem, um homem de meia-idade os esperava na sua plataforma improvisada, suspensa por um balão de ar quente rente ao éter. Atrás dele, cinco guardas permaneciam atentos. Ele os recebeu com um sorriso debochado, como se já soubesse exatamente como aquele encontro terminaria.
— Vejo que notaram a superioridade da minha nave. Sábia decisão. Quem está no comando aqui?
Elisis fez menção de responder, mas o capitão Jones se adiantou, interrompendo-a.
— Eu estou no comando desta embarcação. E quero deixar claro que aceitamos a sua rendição. Caso contrário, meus homens vão executar todos os piratas capturados a bordo daquela nossa nave. — Ele apontou para os prisioneiros no convés, cercados por armas e espadas em riste.
O pirata inclinou levemente a cabeça, com um sorriso que transbordava desprezo.
— Acha mesmo que me importo com eles? São piratas, descartáveis. Matem todos se quiserem. Há milhares esperando a oportunidade de navegar sob meu comando. Agora, rendam-se. Quero apenas a sua nave.
— Minha nave uma ova! — Jones vociferou, sacando com um movimento desajeitado, um pequeno canhão de mão a hidrogênio que tinha escondido nas vestes, uma arma rudimentar e proibida em Cenferum.
Antes que pudesse sequer erguer a arma, algo impossível aconteceu. O capitão paralisou por um instante, e então a arma caiu de sua mão, batendo no chão do bote. No mesmo instante, ele levou a mão ao peito, onde uma adaga estava cravada, tão rapidamente que ninguém percebeu o movimento do pirata.
Jones cambaleou, seus olhos buscando Elisis como se ela pudesse salvá-lo, mas suas forças o abandonaram. Ele tombou e caiu do bote, desaparecendo no éter sem sequer um último grito.
Elisis ficou imóvel, tentando processar o que acabara de acontecer. Nunca havia visto algo tão veloz. Era como se o pirata tivesse reagido antes mesmo de o capitão pensar em puxar sua arma.
A raiva, porém, começou a se sobrepor ao choque. O maldito capitão havia destruído o plano. O elemento surpresa estava perdido, e agora os piratas estavam alertas.
A comitiva inimiga, que poderia ter sido eliminada, estava completamente preparada para qualquer ataque. Pela última vez, o capitão Jones havia condenado tudo, e desta vez pagara com a própria vida.
Elisis soltou lentamente as adagas que mantinha escondidas atrás das costas. O pirata, percebendo o gesto, sorriu com ainda mais arrogância.
— Boa ideia, moça. Isso é uma decisão sábia. Como pode notar, sou superior a vocês. Não podem me surpreender.
Ele estava certo. Sua velocidade superava até mesmo a de Valeros, que era o mais rápido entre eles. Enfrentá-lo seria suicídio.
— Repito. Agora temos um acordo? Quem está no comando?
Elisis abaixou a cabeça, pensativa. As vidas de centenas de pessoas estavam em suas mãos. Lonios havia deixado claro que, em combate direto, não havia chance de vitória. A segurança da tripulação e dos passageiros era sua prioridade.
— Eu. — Sua voz saiu firme, apesar do peso da decisão.
— Ora, ora, uma moça tão jovem. E o que me diz?
Ela ergueu os olhos, enfrentando o olhar do pirata com uma determinação gélida.
— Nós nos rendemos.
⸸ ⸸ ⸸
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