Volume 1

Capítulo 52: Perdas Irreparáveis…

Lonios olhava incrédulo para o desastre diante de si. O vazio deixado pela perda da Peregrino parecia tão profundo quanto o éter que a engolira. 

— Maldição... Perdemos a Peregrino — murmurou, afundando-se em uma das cadeiras da ponte inimiga.

A mente fervilhava com cenários e possibilidades, mas nenhuma solução parecia clara. Antes que pudesse aprofundar-se em seus pensamentos, ouviu passos pesados e viu um grupo de piratas sendo escoltado para dentro da sala. Haviam se rendido após o combate, e entre eles, Lonios reconheceu o invocador.

Num ímpeto, avançou até ele, agarrando-o pelo colarinho com força suficiente para fazê-lo engasgar.

— Faça o monstro soltá-los — exigiu, apontando para o vazio onde a Peregrino havia desaparecido.

O homem sorriu com um misto de ironia e desprezo.

— Não é assim que funciona, parceiro. Eu só chamo o bicho. Depois disso, ele faz o que quiser.

O soco de Lonios foi tão rápido quanto brutal, quase derrubando o invocador. Este cuspiu sangue e, com um sorriso sangrento, provocou:

— Devem me matar logo, ou vão se arrepender.

Valeros já estava com a espada em mãos, avançando com a intenção de acabar com ele ali mesmo.

— Não — ordenou Lonios, estendendo o braço para barrar o companheiro. — Ele deve ser interrogado. Vamos levá-lo para Cenferum e garantir que seja punido.

— Ainda acho que ele é perigoso demais para ficar vivo — rebateu Valeros, olhando com desconfiança para o prisioneiro.

Mesmo assim, abaixou a espada e seguiu Lonios para fora da ponte inimiga. Nimbus já havia sido levado para a Brand, e os soldados continuavam recolhendo os corpos e tratando dos feridos. 

Enquanto isso, o invocador, ainda escoltado, lançou uma última ameaça:

— Vocês estão mortos.

Valeros fez menção de voltar, mas Lonios segurou seu ombro firmemente.

— Temos coisas mais importantes agora.

O caos era evidente. Os soldados moviam-se entre os destroços, levando os feridos ao doutor Leonardo. O capitão, com metade do rosto roxo, estava de pé na ponte da Brand, gritando ordens e insultos para todos à sua volta. Assim que viu Lonios e Valeros se aproximando, despejou sua ira sobre eles.

— Seus cavaleiros incompetentes! Como puderam perder a nave mais importante do nosso país? Vocês são um bando de inúteis!

Valeros, já com os nervos à flor da pele, respondeu antes que Lonios pudesse intervir:

— Eu não sou cavaleiro, e você é o verdadeiro inútil aqui, seu velho burro. 

O capitão o encarou com olhos faiscantes.

— Você é um lixo, igual aquele velho imprestável que chamava de mestre. Está destituído do posto. Agora é só um soldado. Vá limpar a sujeira dos oficiais.

A explosão foi imediata. Valeros sacou a espada e avançou em direção ao capitão, pronto para cortar-lhe o pescoço. Antes que pudesse terminar o golpe, Lonios interveio, segurando-o com toda a força.

— Não vale a pena, Valeros — disse, olhando nos olhos do amigo. — Você tem muito o que fazer. Precisa comandar seus homens e honrar a memória do seu mestre. 

Virou-se então para o capitão, os olhos carregados de desprezo.

— E você... O velho que você tanto despreza deu a vida para conquistar aquela nave. Não te mato agora apenas por meus votos como cavaleiro. Mas saiba que minha paciência acabou. A partir de hoje, não espere minha ajuda para mais nada.

Com essas palavras, Lonios retirou o broche que simbolizava seu posto de cavaleiro e o atirou no chão.

— Estou fora.

Ele saiu da ponte, seguindo Valeros, que já havia partido em silêncio. O caos continuava ao redor, mas o vazio deixado pela Peregrino e pelas escolhas de cada um parecia maior do que qualquer perda material.

O capitão permaneceu ali, com os olhos arregalados, paralisado diante da situação. Quando Elisis se aproximou e percebeu que o velho não estava assumindo o comando, começou a dar ordens aos soldados no convés. 

Enquanto isso Valeros segui Lonios pelos corredores da Brand.

— Eu não quero comandar mais ninguém em combate, Sãr Lonios. Acho que não consigo sem o Sãr Adon — Valeros falou com a cabeça baixa, a voz embargada de emoção.

Lonios, vendo o sofrimento do jovem, tentou acalmá-lo.

— Calma, Valeros. Tudo vai ficar bem. Mesmo com as perdas, conseguimos sobreviver — disse, abraçando o garoto com firmeza. Valeros não resistiu, e as lágrimas começaram a cair. Ele nunca havia visto Valeros tão fragilizado. Por baixo da postura rígida e do espírito guerreiro, havia apenas um adolescente quebrado.

— Lonios, o que eu vou fazer sem ele? Ele era tudo que eu tinha.

Sem palavras, Lonios apertou ainda mais o abraço, tentando transmitir um pouco de consolo. Ficaram ali por alguns instantes, parados no corredor, o jovem suspirando no ombro do homem. O silêncio foi quebrado por Lonios.

— Eu estou aqui.

— Eu sei, obrigado pelo apoio, Sãr Lonios — Valeros disse, se recompondo ao perceber que alguém se aproximava pelo corredor.

Era Elisis, que ao ver a cena, aproximou-se sem dizer uma palavra. Lonios deu espaço para ela, e a moça, com um gesto de carinho, abraçou Valeros também. Lonios se afastou, deixando os dois a sós, mas antes falou, com um tom grave:

— Daqui para frente, a vida para nós dentro da Brand não será fácil. Seu mestre, embora reservado, era a força que mantinha o capitão nos eixos. Elisis ainda não tem a experiência necessária para lidar com ele, e eu... não posso fazer muito, já que me demiti como cavaleiro da Brand. 

Lonios Continuou.

— Precisamos espalhar isso entre os soldados. Agora cabe a vocês comandarem a nave. O capitão só controla o rumo que tomaremos, mas é dever de vocês controlar a força militar a bordo. Se tivermos sorte, chegaremos ao continente sem mais problemas. Posso contar com vocês?

— Sim, senhor Sãr Lonios — Elisis respondeu, com a confiança de quem já tomava para si a responsabilidade.

— Sim, senhor. Conte comigo. O mestre iria... — Valeros começou a falar, mas foi interrompido.

Os sinos soaram novamente, duas badaladas longas, ecoando pelo corredor. Mais piratas se aproximavam.

— Que merda é essa? Só pode ser brincadeira — Valeros resmungou, irritado enquanto o alarme tocava. Elisis, sem hesitar, correu para a ponte o mais rápido possível.

Foi então que Lonios compreendeu a mensagem que o Invocador havia dado antes. “Vocês estão mortos.”

— Não é brincadeira. Era por isso que o Invocador estava sorrindo. Ele sabia que reforços estavam chegando — murmurou Lonios, com um aperto no peito.

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