Volume 1

Capítulo 44: A primeira vitória…

A Brand navegou por dias costeando a tempestade. O barulho constante dos ventos, incômodo no início, tornou-se parte da rotina da tripulação. 

Lonios, a pedido do capitão, estava praticamente dormindo com sua armadura. Uma semana depois, ele foi convocado à ponte junto com os cavaleiros. 

À medida que avançavam, as luzes da nave começaram a se apagar, até restarem apenas as veladas nos corredores.  

Na ponte, Lonios encontrou Adon, Valeros e Elisis. Ele trouxe consigo Nimbus e Jim.  

— Senhores, finalmente chegamos ao nosso destino — anunciou o capitão, mostrando a vastidão de éter ao redor da nave.

— Como assim? Não estou vendo nada — retrucou Adon.

— Claro que não, Sãr Adon. Estamos no meio do nada, só há éter à nossa volta — respondeu o capitão com um sorriso irônico.

— E o que significa isso? Por que nos chamou aqui? — questionou Lonios.  

— Porque, se minha manobra genial estiver certa, vamos ver os piratas atrás de nós... agora. 

Após alguns segundos de expectativa, luzes começaram a surgir no horizonte.  

— Aquelas luzes são dos piratas? — perguntou Elisis. — Não podem ser da Peregrino que ficou para trás?  

— Não. A Peregrino está no nosso flanco direito. Vi há pouco tempo, eles também estavam apagando as luzes — respondeu Valeros.  

— Impossível! Como estamos à frente de uma nave mais rápida que a nossa depois de uma semana? — exclamou Adon.  

— Eu avisei que íamos fazer um desvio — replicou o capitão.  

— Não é possível! Em uma semana navegamos... — Adon fez cálculos rápidos e concluiu, surpreso: — Foi um desvio de mil e setecentos quilômetros!

A capacidade do capitão impressionou a todos, exceto Lonios, Nimbus e Jim, que já esperavam algo assim pelas previsões de Jim.  

— Vão, preparem os homens para a batalha. Quando nos virem, já estaremos sobre eles. A noite está escura, não terão chance.

Lonios ordenou que Nimbus e Jim ficassem em seu camarote e que Nimbus vestisse sua armadura. 

Enquanto isso, a tripulação se organizava. Após alguns minutos, Lonios retornou à ponte, onde todos já estavam em posição de ataque.  

— Sãr Adon, seus homens estão prontos — informou Boagrius, empunhando um martelo de guerra e trajando uma armadura com um ombro pintado de vermelho.  

— Em posição, Boagrius. Prepare os homens. Vamos abalroar a nave dos piratas antes de atacar.  

— Sim, senhor. — Boagrius desceu as escadas para organizar a guarnição.

Lonios olhou para Adon.  

— Quantos homens temos exatamente, Sãr Adon?  

— Cento e quatro, contando comigo. Todos em perfeitas condições — respondeu Valeros, apressado. — Ou cento e cinco, se incluirmos Nimbus. Afinal, o senhor deu uma armadura para ele.

Lonios ignorou o comentário com um leve sorriso.  

— Então, cento e quatro. Será uma luta fácil. Nossa guarnição é suficiente para derrotar esses piratas, e ainda temos os soldados da Peregrino. Quantos são lá?  

— A tripulação da Peregrino tem cerca de seiscentos, com duzentos soldados na guarnição.

— Um passeio no parque — comentou Lonios, confiante.

As luzes da nave pirata tornaram-se mais visíveis à medida que se aproximavam. Quando a Brand e a Peregrino estavam muito próximas, os sinos de alerta dos piratas finalmente soaram, mas era tarde. A Brand chocou-se violentamente contra o casco inimigo, e ganchos foram lançados para conectar as naves. Pouco depois, a Peregrino colidiu no lado oposto da nave pirata. 

Lonios, Valeros, Adon e Elisis lideraram o ataque, avançando pela vanguarda.  

— ATACAR! — bradou Adon, sua voz ecoando pelo convés.

Alçapões se abriram, e os soldados da Brand surgiram gritando em direção à nave pirata. Encontraram-se com os soldados da Peregrino no convés inimigo, enquanto os piratas saíam como feras, atacando ferozmente.

— Por que eles estão tão loucos? Estão lutando até a morte — observou Valeros, desviando de um golpe e derrubando um pirata com seu escudo.  

— Porque sabem que os capitães das naves de ataque costumam executar os sobreviventes. Para eles, é melhor morrer lutando — explicou Lonios.

Valeros franziu o cenho enquanto abatia outro inimigo.  

— Isso me parece cruel. Não sabia que os capitães faziam isso.  

— Não é algo que se registre no diário de bordo. Eles apenas anotam que os inimigos preferiram a morte à rendição — respondeu Lonios, desarmando um pirata antes de empalá-lo com sua espada.

— Maldição, estão se matando... — murmurou, enquanto o combate caótico continuava ao redor deles. 

Elisis, com sua característica maquiagem de guerra — rosto pintado de branco e asas negras desenhadas ao redor dos olhos —, posicionou-se estrategicamente afastada do combate. 

Cada disparo de seu arco era letal. Suas flechas atingiam os pescoços e cabeças dos piratas com precisão quase infalível. Quando errava, o que era raro, acabava ferindo algum desafortunado que estivesse atrás do alvo. 

Lonios observava impressionado, relembrando o que Sãr Adon dissera: ela era a maior matadora da Brand.

Poucos minutos após o início da luta, a batalha foi vencida. Os piratas sobreviventes estavam feridos ou rendidos pela guarnição das duas naves. 

Contudo, um estrondo interrompeu a calmaria. Uma explosão sacudiu a nave pirata, enquanto fumaça negra escapava da estrutura. 

Do interior destruído, o capitão pirata emergiu, escoltado por Flavius, Portos e Araniz, cavaleiros da Peregrino.

— Pegamos o capitão, mas ele conseguiu destruir a engenharia. Os geradores estão em perda total — anunciou Araniz, com expressão grave. Ele segurava um livro envelhecido. — Também encontramos o diário dele.

— Vocês não terão minha nave — rosnou o capitão pirata. Ferido e com as mãos amarradas, ele olhou ao redor com fúria. — Prefiro o éter à humilhação de morrer como um cachorro.

Num movimento repentino, ele se libertou dos guardas e correu para a borda da nave. No instante em que saltou, Elisis o alvejou com uma flecha certeira, cravada em pleno voo. Os piratas rendidos gritaram em celebração à morte honrosa de seu líder.

— Eu também sou humana. Sufocar e derreter no éter é uma morte horrível — justificou Elisis, encarando os olhares boquiabertos ao seu redor.

— Devia tê-lo deixado derreter — murmurou o Capitão Jones, que havia saído da ponte de comando da Brand. 

Ele caminhou até o grupo e tomou o diário das mãos de Araniz, abrindo-o com curiosidade. 

— O que faremos com os sobreviventes? 

— A nave está inutilizável. Deveríamos deixá-los afundar com ela. A tripulação deve seguir seu destino junto à embarcação — sugeriu Araniz, com um tom de sarcasmo. Os piratas se entreolharam, inquietos.

— Não concordo — Lonios se manifestou. — Devemos mantê-los como prisioneiros. Quando chegarmos a Cenferum, eles serão julgados pelos seus crimes.

— E onde vamos colocá-los? Não temos mantimentos para alimentar tantos homens, nem espaço para encarcerá-los — rebateu Araniz.

O capitão Jones sorriu de forma sombria e deu a ordem final:

— Prendam-nos na nave pirata e soltem os ganchos de abalroamento. Que afundem como pedras.

A Brand e a Peregrino mantinham a nave pirata suspensa apenas pelos ganchos. Seus balões de atracagem não estavam inflados, e suas turbinas haviam sido destruídas. Sem os ganchos, o afundamento seria inevitável.

— Isso mesmo! Morte aos piratas! Eles afundaram nove das nossas na última expedição! — exclamou um soldado, arrancando aplausos de outros.

— Então agora é uma cruzada de vingança? — Lonios questionou, com o semblante fechado.

— Não é vingança, é justiça — respondeu Araniz, encerrando a discussão.

Os piratas capturados foram amarrados e deixados sentados no corredor central da nave pirata. 

As portas foram seladas, e a tripulação retornou às suas respectivas naves. Os ganchos que seguravam a nave foram soltos, e ela começou a mergulhar, inclinando-se para o fundo do éter. 

Lonios ficou em silêncio, observando. Os gritos de terror dos piratas ecoaram quando a embarcação desapareceu nas profundezas. Ele balançou a cabeça em desaprovação.

Essa foi a primeira vitória, e esse fato nunca foi documentado no diário de bordo do Capitão Jones.

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