Volume 1
Capítulo 45: Mais Piratas…
Elisis, Sãr Adon e Lonios compartilhavam uma indignação silenciosa diante da atitude do Capitão Jones e dos oficiais da Peregrino.
Executar covardemente os piratas rendidos era algo que feria profundamente seus princípios.
Desde então, evitavam qualquer contato direto com o capitão. Os dias seguiram arrastados, cheios de tensão velada.
Elisis, por outro lado, encontrava uma dose de felicidade nos encontros secretos com Valeros.
O romance entre os dois era escondido de todos, um segredo guardado com cuidado. Quando não estava com ele, porém, ela se sentia isolada.
Nimbus, que antes era seu confidente, havia se afastado completamente após a tentativa frustrada de se declarar.
Aquele dia específico marcara Elisis. Ela sabia que estava usando Nimbus para provocar ciúmes em Valeros, mas não esperava que o desfecho fosse tão doloroso, até para ela mesma.
Aos poucos, percebeu que sentia certa atração pelo rapaz. Se Valeros não tivesse cedido aos seus encantos, talvez hoje Nimbus fosse uma possibilidade. Mas o passado estava selado, e as palavras de sua mãe ressoavam em sua mente: não se faz uma omelete sem quebrar alguns ovos.
Com o passar do tempo, a relação entre Elisis e Valeros esquentava. A atração mútua crescia a ponto de quase culminar em uma relação íntima.
Elisis, porém, recuou ao lembrar os conselhos de sua mãe: uma boa amazona deveria preservar sua virgindade enquanto fosse jovem.
Isso seria um trunfo em missões onde precisasse se passar por donzela. Perder essa qualidade significaria decepcionar sua mãe, uma mulher cuja crueldade nas lições era algo que Elisis não ousava enfrentar.
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Os sinos da nave soaram, cortando o momento de treino. Nimbus sabia que duas badaladas indicavam piratas à vista.
Mesmo ciente de que não participaria da luta, ele vestiu sua armadura de couro e se dirigiu à ponte de comando, onde já estavam Sãr Adon, Elisis, Valeros e Lonios.
Todos observavam uma nave pirata navegando à frente.
— Mais uma para perseguir — murmurou o capitão, relembrando sua última caçada, uma manobra agora lendária entre a tripulação.
— Não sei, capitão. Essa nave não parece estar fugindo — alertou Sãr Adon, com uma expressão séria.
— Está ficando velho, Sãr Adon? Talvez caduco? Maldição, só me deram os piores para esta tripulação. É um milagre ainda conseguirmos navegar! — retrucou o capitão, ácido como sempre.
Sãr Adon ignorou o comentário, como de costume. Evitava conflitos, especialmente agora que esta seria sua última viagem.
O capitão, no entanto, parecia tirar proveito disso, humilhando-o sempre que tinha oportunidade.
— Acho que Sãr Adon tem razão. Os piratas estão manobrando... Estão virando em nossa direção — comentou Valeros, sorrindo ao perceber que seu mestre estava certo.
— Isso é preocupante. Piratas não costumam enfrentar naves em desvantagem numérica — acrescentou Lonios, com uma expressão de preocupação que Nimbus conhecia bem. — Nimbus, quando a luta começar, desça para o meu camarote.
Nimbus assentiu em silêncio, evitando falar. Sentia que, em momentos tensos como aquele, o melhor que podia fazer era não atrapalhar.
— Deve ser um grupo de piratas de elite — disse Sãr Adon, tão tenso quanto Lonios.
— Devo alertar os guardas? — perguntou Valeros, assumindo uma postura mais séria ao captar o clima.
— Sim. Coloque-os em alerta máximo — ordenou Adon.
Nimbus observava tudo em silêncio, percebendo que a situação era ainda mais grave do que aparentava.
Os minutos se arrastavam, carregados de tensão. A nave pirata, mais veloz, começou a descrever círculos em torno da Brand e da Peregrino, como um predador cercando sua presa.
Imitando o movimento, o capitão ordenou que a Brand seguisse a mesma trajetória. A Peregrino, por sua vez, parecia adotar a mesma estratégia, resultando em três naves girando em rotações opostas.
— É a nossa chance. Vamos girar no sentido contrário e colidir de frente com os piratas. Quando o combate começar, a Peregrino os atacará por trás. Uma manobra perfeita! — declarou o capitão, idealizando o plano sozinho e ignorando o conselho de seus oficiais.
— Capitão, antes de tudo, precisamos entender por que os piratas não estão fugindo — sugeriu Adon, com uma preocupação evidente.
— Que nada, você está ficando medroso com a idade! — rebateu o capitão, desdenhando.
— Que música é essa? — Nimbus perguntou, franzindo o cenho ao perceber uma melodia ao longe.
— Também estou escutando há alguns minutos — respondeu Lonios, em tom intrigado.
A Brand manobrou, avançando diretamente contra a nave pirata, que, por sua vez, vinha em sua direção. Os canhões logo estariam ao alcance, enquanto a Peregrino, logo atrás, diminuía a distância para os piratas, mantendo a pressão.
— Mestre, todos estão prontos — anunciou Valeros, surgindo do andar inferior ao lado de Boagrius. Nimbus olhou para baixo e viu os homens aglomerados na escada, ansiosos e armados.
Conforme se aproximavam, a música crescia em intensidade. Nimbus, com uma luneta emprestada por Jim, avistou no convés inimigo um homem tocando uma flauta.
Às costas, carregava um enorme tubo, de onde parecia ler um papel enquanto tocava. Ele apontou o estranho espetáculo para Lonios.
— NÃO! Todos, preparem-se! — gritou Lonios, alarmado. — Eu já ouvi uma música como essa. Aquele homem é um invocador.
— Não pode ser. Eu os conheci na guerra — comentou Adon, com uma voz tensa. — Eles convocavam feras para o campo de batalha. Mas não há feras gigantes por aqui... a não ser...
Antes que terminasse, um monstro colossal emergiu do éter, abaixo da Peregrino. A criatura tinha quase um quilômetro de diâmetro e envolveu a nave com tentáculos monstruosos.
A Peregrino ativou as turbinas ao máximo, tentando evitar ser arrastada para o abismo.
O silêncio na ponte de comando era palpável. Todos estavam estupefatos. Finalmente, Lonios quebrou o torpor, murmurando quase inaudivelmente:
— Sempre disseram que monstros do éter eram impossíveis de convocar. Parece que estavam errados... ou esse invocador é excepcional.
— O que estão esperando, seus idiotas? Temos que salvar a Peregrino! — rugiu o capitão, tomado pelo desespero.
— Isso explica por que os piratas não fugiram — constatou Adon, ignorando o capitão. — Mas como enfrentaremos um monstro desse tamanho? Nem com duas naves o derrotaríamos.
— Foi exatamente para enfrentar criaturas como essa que Sãr Ahbran me chamou para esta viagem. Se nos aproximarmos da Peregrino, eu conseguirei salvá-los — declarou Lonios, com convicção.
— Você tem certeza? — indagou Adon, surpreso. A ponte parecia isolada no tempo, apenas ele e Lonios falavam. O capitão os encarava, apavorado.
— O que um simples cavaleiro andarilho faria contra um monstro do éter? Não diga asneiras! — vociferou o capitão, incrédulo.
— FAÇA ALGUMA COISA, SEU IMPRESTÁVEL! — gritou, dirigindo-se a Adon. A ironia da situação fez Nimbus esboçar um sorriso discreto.
— Me coloquem perto dele e eu cuidarei disso — afirmou Lonios, encarando Adon com determinação e ignorando o capitão.
— NÃO SEJA IDIOTA! NÃO VOU FAZER ISSO SÓ PORQUE VOCÊ QUER! — protestou o capitão, ainda incapaz de compreender o plano.
Imediatamente, Sãr Adon ergueu o escudo de Aço Diamante e desferiu um golpe violento no rosto do capitão.
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