Volume 1
Capítulo 40: Traição…
No dia seguinte, Nimbus acordou com o corpo todo dolorido e um péssimo gosto na boca. A ressaca da bebedeira da noite anterior era imensa, sua cabeça parecia prestes a explodir.
Ele percebeu que a vida real não era tão gloriosa quanto o velho viajante do éter costumava dizer. Ao olhar para cima, viu Jim, ainda roncando na cama de cima do beliche, aparentemente em paz enquanto o resto do mundo parecia estar em ruínas.
Depois de tomar o café da manhã, Nimbus soube que o Alferes Ari, seu superior na equipe de limpeza, havia até falado com o capitão sobre ele e Jim não terem ido trabalhar. Lonios teve muito trabalho para resolver o mal-entendido.
Eles se encontraram com Valeros no restaurante, e ambos riram bastante da situação. Valeros contou que o capitão Jones, Lonios e Adon tinham saído para negociar a venda da carga das naves e comprar os suprimentos necessários para o retorno.
Quando terminaram o almoço, Jim apareceu pela primeira vez após a briga. Sob a luz do dia, era possível ver os danos em seu rosto: os olhos roxos, o supercílio cortado, e, pela expressão ao comer, a boca machucada por dentro. Ele não falou muito naquele dia.
Elisis apareceu por volta do horário do almoço, mas não se juntou a eles. Ela almoçou com a enfermeira Cris, e as duas conversaram muito.
À tarde, Elisis convocou quatro guardas e partiu com eles e Cris para a cidade. Inicialmente, pensava-se que ela os tinha levado para proteção, mas quando retornaram no final da tarde, descobriu-se que estavam apenas carregando as compras.
Os pobres guardas estavam sobrecarregados com caixas e sacolas, enquanto as duas estavam extremamente felizes e faladeiras.
Nimbus e Jim fizeram o combinado de inspecionar as naves atracadas no porto. Jim, no entanto, não falou muito sobre as naves. Ele estava com a boca cheia de aftas por causa das pancadas da briga e se limitou a comentar sobre as características de cada uma de forma hesitante.
Quando voltaram à Brand no final da tarde, encontraram uma grande confusão na porta de entrada. O capitão, Lonios e Adon estavam lá, esperando por alguém, mas o capitão parecia extremamente irritado.
— Onde está aquele irresponsável? Maldição! Me deram os piores profissionais que existem em Cenferum! — o capitão vociferou, olhando furiosamente para todos à sua volta.
Ele se referia a Lonios, um cavaleiro andarilho, Adon, um velho quase aposentado, e Elisis, uma amazona recém-proclamada.
— Não se preocupe, daqui a pouco o Dr. Henry vai chegar. Ele é sempre assim quando chega nas cidades — Adon tentou acalmar o capitão, mas parecia não ter muito sucesso.
— Vamos esperar só mais cinco minutos, tenho certeza de que o Alferes Ari tem plena capacidade de comandar a engenharia. — O capitão explicou, claramente agitado.
Estava claro que ele queria colocar o seu puxa-saco no comando da engenharia, mas isso era um problema. O garoto era um incompetente total e não sabia nada de mecânica, além de ser odiado por todos ali.
— Lá está ele, capitão — Lonios apontou para Dr. Henry, que aparecia virando a esquina em direção à nave.
Quando Henry se aproximou, o estado dele ficou evidente. Na noite anterior, ele estava usando roupas novas, mas agora elas estavam rasgadas, sujas, e exalavam um fedor nauseante.
Muito provavelmente, ele havia acordado na sarjeta, como havia dito no dia anterior. No entanto, ao chegar perto dos outros, puxou a gola da camisa e exibiu marcas de batom no pescoço.
Talvez tivesse conhecido uma bela dama e passado a noite na sarjeta; quem saberia a verdade seria apenas ele.
— Noite memorável! — Ele sorriu, claramente satisfeito com a bagunça que havia causado.
— Noite? Já é fim de tarde, onde você estava, seu irresponsável? Estamos prestes a sair! — O capitão cuspiu para o lado enquanto gritou.
— O senhor foi bem claro e disse que sairíamos somente amanhã pela manhã — Henry respondeu, impassível.
— Parece que ele conseguiu convencer o pessoal da Peregrino a partir ainda hoje, para aproveitar o sol e voltar mais rapidamente — explicou Lonios.
— Chegaremos mais rápido — completou o capitão.
— O senhor sabia que eu chegaria apenas no início da noite, já avisei, capitão. E cheguei até mais cedo — Henry retrucou.
— Não me lembro de ter tido essa conversa com o senhor — disse o capitão com desdém.
— Isso é mentira. Eu fui até sua cabine avisar que chegaria no começo da noite.
— Como pode me acusar de mentiroso? Tem testemunhas que viram essa conversa? Tem? — O capitão falou sarcasticamente.
— Como eu teria testemunhas se conversei com você dentro do seu camarote? — Henry estava começando a perder a paciência.
— Vá para seus aposentos, Dr. Henry. O Alferes Ari está organizando a engenharia para partirmos — o capitão mandou, ainda irado.
— Eu não vou para os meus aposentos, tenho trabalho a fazer na engenharia — Henry respondeu, desafiador.
— Isso é uma ordem. Vá para os seus aposentos e se limpe dessa imundície que cobre seu corpo.
O capitão apontou para as roupas sujas de Henry.
— E, Doutor Henry, por irresponsabilidade e desacato à autoridade por me acusar de mentiroso na frente dos meus oficiais, o senhor está exonerado do cargo de Tenente Comandante da engenharia. Agora o senhor é apenas Tenente e ficará encarregado da equipe de mecânica. Sãr Adon e Lonios, vocês devem notificar a todos que o Alferes Ari foi promovido a Tenente Comandante da engenharia. E todos o chamarão de "Dr. Ari" a partir de agora.
— Ele não pode ter o título de “Doutor”! Para isso é preciso estudar por muitos anos em uma universidade — Lonios protestou, indignado.
— Esses detalhes não me importam. Ari é um dos meus homens de confiança aqui na nave. Essa é uma ordem: todos devem chamá-lo de “Doutor” de agora em diante! Estamos entendidos?
— Isso foi um plano seu, não foi, capitão? Era tudo o que você queria, colocar aquele garoto no comando da engenharia — Lonios acusou, furioso.
— Fique sabendo, Sãr Lonios — o capitão foi sarcástico ao pronunciar seu nome —, só não o exonero também porque já estamos partindo e não encontrei nenhum cavaleiro para o seu lugar. Se fôssemos para outro porto, seus dias e os da sua corja aqui nesta nave estariam contados. Sinta-se com sorte.
Com essas palavras, o capitão se virou e foi para a ponte de comando, deixando Lonios e os outros em um silêncio carregado.
Todos estavam visivelmente alterados, o peso das maquinações do capitão e sua tentativa de colocar o puxa-saco Ari como comandante da engenharia ainda pairando no ar. O clima tenso era palpável, e ninguém sabia o que esperar da situação.
Após as despedidas, seguiram o Dr. Henry até seu alojamento, sentindo a nave começar a se movimentar para deixar o porto.
Da janela, puderam ver a Peregrino navegando ao lado da Brand, começando a recolher seus dois balões de atracagem, antes de entrar em velocidade de cruzeiro.
A situação se agravou ainda mais quando eles se lembraram da necessidade de contornar a outra extremidade da tempestade, a mesma área onde a frota havia sofrido um ataque na última expedição.
Se decidissem seguir o mesmo caminho de volta, as naves levariam o dobro do tempo para o retorno devido à navegação contra o giro da tempestade. Atravessar aquele trecho seria, sem dúvida, a parte mais arriscada da viagem. Navegar pelo éter infestado de piratas, onde até os proscritos evitavam passar, parecia um desafio ainda maior.
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