Volume 1
Capítulo 4: Perguntas…
Uma das coisas que mais incomodava Nimbus era o fato de Sãr Lonios ainda não tê-lo treinado no uso de armas, nem sequer lhe revelar o destino para onde estavam indo. Apenas lhe atribuía tarefas e narrava histórias de suas façanhas.
Era o sétimo dia de viagem, e Nimbus acreditava que já era hora de parar e montar acampamento. Felizmente, ainda tinham sobras de um coelho gordo caçado no dia anterior, o que significava uma trégua na dieta de carne seca.
Quando Lonios pediu que ele escolhesse um local para o acampamento, Nimbus analisou a estrada e apontou para uma grande árvore ao longe.
— Aquela ali. Será fácil montar a barraca debaixo dela. Vou cuidar de tudo.
Sem esperar aprovação, conduziu seu cavalo calmamente até o local. Desencilhou os animais, montou a barraca com destreza e saiu para recolher lenha. Depois de acender a fogueira, sentou-se sobre os arreios para descansar, mas a voz de Lonios interrompeu o momento. O cavaleiro estava ao lado da barraca, duas espadas em mãos.
— Acho que agora que você já está acostumado com o cavalgar, podemos começar o seu treinamento.
Os olhos de Nimbus brilharam.
— Verdade? Finalmente! Vamos começar!
Lonios riu ao ver o entusiasmo do garoto.
— Não espere moleza, mas sei que você estava aguardando por isso. Não começamos antes porque seria interrompido até se habituar à viagem.
Pegando uma espada longa embainhada na cintura, Lonios a ergueu. Tinha cerca de um metro e vinte de comprimento, com um cabo suficientemente grande para ser empunhado com ambas as mãos.
— Esta é uma Espada Longa, ou Espada de Duas Mãos, como alguns chamam. É a arma que eu mais domino. Não é tão pesada quanto parece, mas o tamanho exige que seja usada com as duas mãos.
Demonstrou a empunhadura correta, segurando com a mão direita perto da lâmina e a esquerda próxima ao final do cabo. Posicionou-se de forma diagonal, com a perna esquerda à frente e a espada apontada para o céu, paralela ao corpo.
— Vê essa postura? Fique sempre um pouco de lado em relação ao oponente. Isso reduz sua silhueta, dificultando que ele o acerte.
Em um movimento rápido, Lonios avançou com a espada. Nimbus, desarmado, encolheu-se instintivamente, mas o golpe parou a poucos centímetros de seu corpo.
— Note como deslizei os pés, sem levantá-los demais. Isso garante firmeza no chão, essencial em caso de ataques inesperados. Claro, durante uma luta real, haverá situações em que precisará saltar, girar ou até atacar com uma única mão. Mas a base é sempre aproveitar as oportunidades que os adversários oferecem. Muitas batalhas são decididas nesses momentos.
Após a demonstração, Lonios embainhou a espada novamente e retirou outra de seu cinto, entregando-a a Nimbus.
— Esta será a sua espada. Não é tão refinada quanto a minha, mas as dimensões são idênticas.
Nimbus pegou a arma com reverência, experimentando seu peso e equilíbrio. Quando se preparava para desembainhá-la, Lonios o deteve.
— Devagar. Não treinamos com espadas verdadeiras no início.
Ele pegou as espadas que havia cravado no chão, entregando uma ao garoto.
— Estas são espadas de treino. Não têm gume, mas são duras o suficiente para quebrar ossos se usadas com força excessiva.
O garoto segurou a espada de madeira e a examinou. O peso parecia familiar, e o coração disparava com a empolgação do primeiro treinamento.
Nimbus sentiu novamente o peso da espada. Girou-a no ar, percebendo que era mais pesada que a anterior. Com ambas as mãos, ajustou a empunhadura exatamente como Lonios havia mostrado.
Mas antes que pudesse se preparar, viu o cavaleiro avançar em sua direção com um ataque repentino. Instintivamente, ergueu a espada e aparou o golpe, apenas para ouvir Lonios gritar:
— Muito bem! Parece que você captou o espírito da coisa.
Antes que pudesse comemorar, o cavaleiro o empurrou, e Nimbus caiu no chão.
— Mas você se esqueceu do mais importante: uma boa base. Sem isso, cairá toda vez. Agora entende a importância da posição correta?
Lonios recuou alguns passos, retornando à posição inicial. Em seguida, investiu novamente, dessa vez com mais violência. Nimbus respirou fundo, ajustou sua postura como havia aprendido, e aparou o golpe. A lâmina de Lonios desceu com força, mas o garoto permaneceu firme, seus pés bem plantados no chão. Dessa vez, ele conseguiu empurrar o cavaleiro, que precisou recuar um passo.
— Você está começando a entender a dinâmica do combate — disse Lonios, satisfeito. — Quero que foque nisso. A partir de agora, tudo em que pensar deve ser sobre o combate. Viva o combate. Depois, quando tiver internalizado, mude o foco para outra coisa. Assim você se tornará bom em tudo que desejar. O segredo é o foco.
Aquelas palavras ecoaram na mente de Nimbus, cravando-se como ferro em brasa. Ele assentiu, decidido.
— Sim, mestre, vou tentar.
Lonios o corrigiu imediatamente, segurando firme seus ombros.
— Não tente, consiga! Cavaleiros não tentam. Eles vencem ou são derrotados. Tentar é falta de convicção. Saiba o que quer e acredite que pode alcançar, Nimbus.
Depois de um longo olhar, Lonios sorriu.
— Mudando de assunto, estou impressionado. Você conseguiu compreender em uma única tentativa o que outros alunos levam horas para aprender. Tem certeza de que nunca viu uma luta de espadas antes?
Nimbus corou, desconcertado.
— Não, senhor!
Era verdade. Suas únicas referências de combate eram brigas de faca entre bêbados na saída de bares do Juramento. Nada remotamente parecido com uma luta de espadas.
— Por hoje é o bastante. A partir de amanhã, treinaremos três horas por dia, faça chuva ou sol. Chegaremos, armaremos acampamento e começaremos. Agora, descanse. Vou contar algumas histórias. Mas antes, diga, que lição você aprendeu hoje?
— Manter sempre os pés firmes no chão?
Lonios balançou a cabeça.
— Não. A lição de hoje é: ``você precisa de foco para obter resultados``.
Enquanto as palavras ressoavam, Nimbus notou uma movimentação nas sombras. Algo avançava em alta velocidade.
Sem pensar duas vezes, ele executou a manobra que havia ensaiado no início da viagem: começou a recolher os pertences do acampamento rapidamente, preparando-se para um possível ataque.
Quando estava quase colocando tudo no lombo dos cavalos, Lonios fez um sinal para que parasse. Observando atentamente, o cavaleiro concluiu que o recém-chegado não representava perigo.
Nimbus respirou aliviado, mas permaneceu atento, ainda com o ensinamento do mestre pulsando em sua mente.
O cavaleiro desacelerou o galope ao avistar a fogueira próxima. Quando chegou, puxou as rédeas bruscamente, fazendo o animal relinchar em protesto. Nimbus notou que, se aquele ritmo fosse mantido, o cavalo não aguentaria por muito tempo, a criatura parecia exausta, banhada em suor e tremendo.
— Oooooa! — disse o cavaleiro, batendo com leveza no pescoço do animal. — Muito bem, Trovador, agora descanse. Boa noite, senhores. Sou Gilee, mensageiro do Governo, e levo informações urgentes para Aldair.
Lonios o cumprimentou, apresentando-se sem revelar sua identidade de cavaleiro.
— Gilee, sei como funciona. Precisa de algo? Comida, talvez? Temos de sobra.
— É bom quando um homem entende nossa profissão. Geralmente, sou obrigado a mostrar o decreto governamental para ser bem recebido à beira de uma fogueira.
Enquanto Gilee devorava os restos do coelho que Lonios havia preparado, Nimbus o observava, intrigado.
— Perdoe minha curiosidade, mensageiro Gilee, mas o que o leva tão apressado a Aldair?
— Nada secreto, se é isso que pensa. Estou levando ordens de racionamento. Como deve saber, a 52ª Expedição foi um fracasso, e as especiarias essenciais não chegaram a Cenferum em quantidade suficiente.
— Como assim? — Nimbus interrompeu, preocupado.
— Haverá racionamento de alimentos, remédios e materiais importados essenciais. Trago aqui a lista completa. — Ele bateu na bolsa de couro pendurada em seu ombro.
Nimbus gelou. Dona Zeliudes precisava de remédios específicos para suas enfermidades.
— Senhor, posso ver essa lista de remédios?
Gilee, entre mordidas na carne, retirou um pergaminho e entregou ao garoto. Nimbus se aproximou da fogueira para lê-lo, e seus olhos se arregalaram ao reconhecer os nomes.
— Mestre Lonios, preciso voltar para casa. Três dos remédios da minha mãe estão nesta lista.
— Como assim, Nimbus? Seu treinamento está apenas começando.
— O senhor não entende. Não há mais treinamento. Preciso cuidar da minha mãe.
— Calma aí. Temos um acordo. Você não pode simplesmente desistir.
O mensageiro, indiferente à tensão, continuava a roer os ossos do coelho, apenas observando.
— Mestre, o remédio para o mal do coração dela está nesta lista. Sem ele, ela não vai sobreviver. O senhor viu o que acontece quando ela fica sem.
— E o que você fará se voltar? Vai fabricar remédios do nada? Fazer mágica? Não há o que possa fazer. Isso é um racionamento.
— Gilee — perguntou Lonios, voltando-se ao mensageiro —, quanto tempo ainda temos antes que os remédios acabem?
— Uns oito meses, talvez mais com o racionamento. As doses serão menores, mas pessoas com maior necessidade terão prioridade.
— Viu, Nimbus? Não é algo que vá acabar de imediato. É apenas uma redistribuição mais racional.
Nimbus começou a chorar, e Lonios o abraçou.
— Calma. Vai dar tudo certo. Temos meses pela frente. Deve ser por isso que o Grande Líder convocou todos os cavaleiros para a capital.
— O senhor é um cavaleiro? — Gilee especulou, surpreso.
— Sim, Sãr Lonios, o cavaleiro andarilho.
— Um prazer. Raramente encontro um. Por acaso o senhor seria Lonios, um dos sete lendários da guerra?
— Não, confundem sempre. Não sou ele.
Gilee pareceu aceitar a explicação e fez um pedido.
— Senhor, como sabe, carrego mais do que mensagens escritas. Tenho ordens verbais que preciso entregar ao próprio regente de Aldair, e devo chegar o mais rápido possível. Não gostaria de usar meu decreto para requisitar um cavalo.
— Leve o cavalo do garoto. Minha égua, Tempestade, é um animal de combate, lenta demais para sua missão. Pretinho está descansado.
— Agradeço muito. — Gilee rapidamente trocou os arreios de Trovador para o cavalo de Nimbus. — Aqui está uma carta de crédito. Ela cobre o custo de um novo cavalo, caso ache necessário.
Ele afagou Trovador antes de montar em Pretinho.
— Obrigado pela carona, amigo.
Nimbus observou enquanto o mensageiro cavalgava em direção ao horizonte, sumindo em passos acelerados rumo a Aldair.
— Viu, Nimbus? Hoje você aprendeu mais uma lição. Um cavaleiro sempre deve ter dois cavalos.
⸸ ⸸ ⸸