Volume 1

Capítulo 5: Aprendizado…

Lonios já estava há mais de um mês com Nimbus e, a cada dia, sentia-se mais intrigado. O garoto era pontual, obediente e surpreendentemente rápido em aprender. Sua habilidade crescente com a espada trazia à memória alguém da infância de Lonios, um rosto há muito distante.

Naquele dia, Nimbus parecia especialmente inspirado. Por duas vezes, Lonios precisou recorrer à sua experiência para superar o garoto, que demonstrava uma energia incansável.

Durante mais uma rodada de treino, Lonios avançou com um golpe diagonal. Nimbus, atento, aparou a lâmina sem dificuldade. O cavaleiro tentou desequilibrá-lo com um chute na perna, mas o garoto saltou para o lado, rolando no chão e, em um movimento ágil, levantou-se novamente. Antes que pudesse reagir, Lonios já estava sobre ele, desferindo outro ataque. Nimbus conseguiu aparar mais uma vez, mantendo-se firme.

Lonios ergueu a espada para um novo golpe, mas Nimbus tomou a iniciativa. Com rapidez, atacou, forçando o mestre a transformar sua ofensiva em uma defesa. A espada de Lonios desviou a lâmina do discípulo, mas Nimbus aproveitou o movimento. Girou o corpo, recuperando o equilíbrio, e lançou outro ataque. Mais uma vez, Lonios defendeu com habilidade.

O cavaleiro então tentou espetar Nimbus com a ponta de sua arma. O garoto bloqueou o ataque e girou novamente, aproveitando a força do movimento para mirar a cintura de Lonios. Apesar de ser uma investida poderosa, o golpe foi mais uma vez defendido.

Notando a dificuldade de seu mestre em aparar a força do giro, Nimbus tentou repetir a manobra, desta vez no sentido contrário. Lonios, porém, previu o movimento. Antes que o golpe pudesse ser desferido, empurrou Nimbus, que caiu de bruços no chão. Ao se levantar, encontrou a ponta da espada de Lonios apontada para o seu rosto.

— Nunca repita o mesmo ataque — disse Lonios, com firmeza. — Um espadachim experiente memoriza cada golpe que recebe e se prepara para enfrentá-lo novamente.

Lonios baixou a espada e estendeu a mão para ajudar o discípulo a se levantar.

— Mas eu mudei! Primeiro girei para um lado, depois para o outro.

— Pequenas variações não são mudanças reais. Em uma luta, você precisa ser imprevisível. Pense duas vezes antes de cada movimento, ou, como dizia meu mestre, faça a segunda coisa que vier à sua mente, não a primeira. A primeira é sempre a mais óbvia.

— Entendido, mestre. Vamos de novo! — Nimbus colocou-se em posição de combate, animado.

— Por hoje, basta. Já está tarde, e guerreiros precisam descansar. Durante tempos de paz, é fundamental dormir bem, pois podem enfrentar noites insones em missões futuras.

— Tudo bem, mas podemos comer antes? — Nimbus sorriu, guardando a espada enquanto caminhava para a barraca.

— Comer? Quem chegar primeiro fica com o maior pedaço! — Lonios disparou em direção à fogueira, sem dar chance ao garoto. 

Quando Nimbus percebeu, seu mestre já estava à frente. Lonios chegou primeiro e pegou uma coxa de perdiz que estava assando no fogo.

— Mestre! Isso é trapaça!

— Foi uma aposta justa. Você tinha vários metros de vantagem. Esperava que eu o avisasse antes de sair correndo? — Lonios respondeu com um sorriso, mordendo a carne.

Nimbus fingiu estar chateado, mas logo caiu na gargalhada junto com Lonios. Naquele momento, o cavaleiro percebeu o quão extraordinário era aquele garoto.

Nimbus, ainda tímido, começava a se soltar. A relação entre eles se fortalecia, e o progresso no treinamento era impressionante. Nunca Lonios tivera um aprendiz que aprendesse tão rápido.

Apesar disso, havia muito a trabalhar. Nimbus carecia de autoconfiança, uma característica indispensável para um cavaleiro, que deve liderar com segurança e clareza. Lonios sabia que o tempo cuidaria desse aspecto. Ele imaginava que teria anos para moldar o jovem aprendiz.

Ou pelo menos era isso que esperava. 

⸸ ⸸‌ ⸸‌

Nas semanas seguintes, Sãr Lonios dedicou-se a treinar Nimbus com disciplina e rigor. 

Por três ou quatro horas diárias, o garoto aprimorava sua habilidade com a espada, chegando a resistir a três movimentos consecutivos de seu mestre antes de ser derrotado. Cada sessão revelava sua rápida evolução e determinação.

Os dois viajavam pelo centro do continente, mas Lonios evitava as estradas principais. Preferia atalhos e trilhas estreitas, mantendo uma postura cautelosa. 

À noite, escondia a fogueira entre arbustos e falava pouco com os raros agricultores que cruzavam seu caminho. Sempre encapuzado, sua precaução parecia crescer a cada dia.

Em uma dessas trilhas, um cavaleiro desconhecido aproximou-se a galope, reconhecendo Lonios de imediato.

— O senhor não é Lonios, o andarilho?

— Depende de quem quer saber.

— Sou mensageiro de Calamidade. Lá, o senhor é famoso.

O encontro foi breve, mas deixou Lonios em alerta. Ele trocou novamente de trilha e decidiu acampar em um local isolado, pedindo a Nimbus que não montasse a barraca. Em vez disso, ensinou o garoto a se orientar pelas estrelas. Aos poucos, a tensão do encontro se dissipou, mas não a vigilância do cavaleiro.

Dias depois, Nimbus começou a reparar na espada de Lonios, sempre envolta em faixas encardidas e nunca desembainhada. O garoto não conseguia conter a curiosidade, especialmente ao notar o cabo escarlate com o entalhe de uma cabeça de dragão. Quando finalmente perguntou, Lonios apenas sorriu.  

— Eu sabia que esse momento chegaria. Mas, antes de falar sobre a espada, preciso lhe contar uma história.

Lonios relatou a lenda de uma família de ferreiros de Victórius, famosa por criar armas com o fogo de dragões. O clã começou humilde, mas, com o tempo, sua ambição os transformou em lordes poderosos. Eles forjaram o lendário Aço Diamante, mais leve, forte e durável do que qualquer outro. No entanto, a arrogância os consumiu, e sua história tornou-se um alerta de como o poder pode moldar o caráter.



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