Volume 1
Capítulo 3: O início da jornada…
Uma vastidão verde se estendia ao longo da estrada de terra estreita, pontilhada por pequenos bosques. Essa era a única descrição que Nimbus conseguia dar da paisagem que o acompanhava há dias.
O cenário parecia um deserto humano, vazio de qualquer sinal de vida, exceto por um humilde mercador que cruzara com eles, limitando-se a um aceno de cabeça antes de seguir seu caminho.
A solidão, porém, era amenizada pelos sons das folhas dançando ao vento, o aroma de flores desabrochando e a presença quase invisível de riachos sinuosos. A natureza pulsava, vibrante, com pequenos animais ignorando completamente os dois viajantes.
Eles seguiam preguiçosamente a cavalo. Lonios montava sua égua de guerra, Tempestade, que parecia exalar força e disciplina, enquanto Nimbus cavalgava Pretinho, um cavalo de carga dócil, porém teimoso, claramente desconfortável com seu novo papel como montaria. Apesar disso, ambos os animais exibiam uma beleza que parecia fundir-se ao encanto da paisagem.
Após uma semana de viagem e tímidos diálogos com seu mestre, Nimbus começava a se acostumar ao ritmo do trotar. Passar seis a oito horas por dia no lombo de um cavalo era um desafio monumental para ele.
A cada parada, aproveitavam para descansar e saciar a fome. Carne seca era o alimento mais frequente, mas, quando o sabor insosso tornava-se insuportável, recorriam à pesca nos riachos ou à caça de coelhos descuidados, que Lonios acertava com precisão infalível de seu arco.
Os primeiros dias foram marcados por dores intensas. O esforço contínuo e a postura rígida sobre o cavalo causaram feridas e cansaço extenuante. Quando Nimbus reclamava, Lonios apenas soltava risadas altas, zombando da inexperiência do aprendiz.
Com o tempo, o garoto começou a rir também, levando as provocações na esportiva e criando um laço mais leve com seu mestre.
Agora, enquanto o silêncio dominava o caminho, intercalado apenas pelo som dos cascos e o farfalhar do vento, Nimbus se pegava relembrando o dia de sua partida. A despedida ainda era uma memória fresca, cheia de emoções que ecoavam dentro de si, misturando nostalgia, esperança e incerteza.
⸸ ⸸ ⸸
Horas antes de deixar Aldair, dona Zeliudes desabou em lágrimas. Nimbus sentiu o coração apertar ao ter de abandoná-la, mas sabia que aquele era o seu destino.
Era o sonho que o guiava e que agora se tornava realidade. Bastava-lhe isso, e a certeza de que sua mãe ficaria bem. Aquela mulher forte, que o criara com tanto amor e ensinamentos, era a razão pela qual ele se tornara quem era.
Despedidas são difíceis, mas essa era a mais dolorosa de sua vida. Deixar sua casa e sua mãe era complicado, mas abandonar a cidade onde vivera desde sempre era um desafio ainda maior.
O mais longe que já se aventurara fora até o porto, sempre acompanhado pela multidão que aguardava os Viajantes do Éter. Nunca estivera sozinho, muito menos ao lado de um estranho recém-conhecido.
Dona Zeliudes, apoiada na bengala entregou o anél de seu antigo marido para Nimbus e abraçada ao filho, soluçava.
— Eu lembro quando você era só um bebezinho e sua mãe te colocou nos meus braços. Tão pequenino e indefeso.
Nimbus tentou sorrir, mas a emoção transbordava.
— Mãe, eu lembro um pouco desse dia, mas é algo muito vago. Acho que é a minha lembrança mais antiga.
Lonios arqueou uma sobrancelha, surpreso.
— Boa memória.
— Meu filho é um gênio, eu disse para o senhor!
— Isso nós veremos, dona Zeliudes. Veremos — respondeu o cavaleiro, lançando um olhar avaliador para o garoto antes de bagunçar-lhe os cabelos com um sorriso. — E não precisa esconder. Eu sei que você está chorando.
Nimbus finalmente cedeu e chorou junto à idosa. Por longos minutos, ele escutou suas recomendações, apenas concordando com a cabeça enquanto tentava controlar o pranto.
— Está na hora de partirmos — disse Lonios. — A estrada é longa, e preciso chegar à capital o quanto antes.
Dona Zeliudes, com os olhos fixos no cavaleiro, o interrompeu.
— Escute bem, senhor. Se eu souber que você destratou meu menino sem uma causa justa ou não cumpriu o prometido, você vai se ver comigo. — Ela deu um beijo firme na testa de Nimbus. — E se ele sofrer qualquer mal, eu juro que te persigo até o inferno, se for preciso. E você vai se arrepender de cada instante em que o fez sofrer.
Lonios não retrucou, apenas assentiu em silêncio e montou em Tempestade. Nimbus o seguiu, mas com evidente desajeito, ainda aprendendo a se equilibrar no lombo do cavalo.
Na medida em que se afastavam, o garoto olhava para trás. Primeiro, viu a fachada da velha casa desaparecer na distância. Depois, as vielas estreitas transformaram-se em avenidas largas, e a favela deu lugar aos palacetes luxuosos. Quando as muralhas da cidade ficaram para trás, restaram apenas as estradas solitárias.
Nimbus respirou fundo e murmurou para si mesmo:
— Da próxima vez que eu te vir, mãe, eu serei um cavaleiro. Eu juro! — ele falou enquanto segurava o anél que sua mãe lhe dera.
⸸ ⸸ ⸸