Volume 1

Capítulo 33: Os Proscritos…

Adon permaneceu em silêncio por alguns instantes, antes de falar novamente.

Elisis escutando a conversa, pensou que garotos realmente eram incompreensíveis, em pouco tempo passavam de inimigos para amigos.

— Não é fácil mudar a opinião de Valeros. Dias atrás, ele os considerava medíocres, e agora eles parecem amigos. E pela velocidade com que Nimbus aprendeu, parece que você o treina há bem menos tempo do que relatou.  

Lonios não respondeu, mas seu silêncio era suficiente para confirmar as suspeitas de Adon. Até Elisis, que estava ali apenas como espectadora, sentia a veracidade naquelas palavras.

Adon continuou:

— Você também carrega uma espada, muito superior às comuns.

Ao ouvir isso, Lonios levou a mão a uma das espadas que trazia na cintura, aquela envolta por faixas de pano branco, a mesma usada para cortar o tentáculo do monstro do éter e salvar Elisis.

— Vocês são tudo, menos um simples cavaleiro andarilho e seu escudeiro. Quem é você realmente, Sãr Lonios? Se é que esse é o seu verdadeiro nome.

— Hoje sou apenas um simples cavaleiro andarilho, nada mais que isso.

Elisis notou o “hoje” na frase dele, um detalhe que não passou despercebido.  

De repente, o som dos sinos ecoou pelo ginásio: Blim-blom! Desta vez, eram badaladas consecutivas, sinalizando um alerta. 

Não era algo específico como os sinais para piratas ou monstros do éter, mas a mensagem era clara: toda a guarda deveria se preparar.

Elisis correu para sua cabine no andar de cima, ignorando a dor que cada movimento lhe causava. Vestir a armadura seria uma tarefa torturante. 

Tirar o vestido foi suportável, mas vestir o traje metálico era outra história.

A armadura, composta por placas de metal ajustadas às dobras de seu corpo, proporcionava liberdade de movimento, mas precisava estar bem justa. 

Com os ferimentos e o inchaço, a tarefa se tornou um tormento. Quando puxou a armadura acima da cintura, a dor atingiu um nível quase insuportável.

Manteve-se firme, reprimindo o grito que ameaçava escapar. A força de vontade era sua marca, e ela não cederia. 

Mesmo com os pontos se rompendo e o sangue manchando a roupa, ela seguiu em frente. Ao terminar, seu rosto estava coberto de lágrimas, a maquiagem borrada, mas estava pronta.

Diante do espelho, Elisis retomou a compostura e iniciou o ritual final. Pintou o rosto de branco, criando uma aparência fantasmagórica. 

Sobre os olhos, desenhou pequenas asas negras, que davam à sua expressão um toque ameaçador.

Era a pintura de guerra das amazonas, uma tradição que ocultava a identidade e semeava o medo nos inimigos. 

Elisis encarou o reflexo, ignorando a dor e concentrando-se no dever que a aguardava. Estava pronta para o que viesse.

Exatamente três minutos depois de entrar em sua cabine, Elisis reapareceu, cruzando o corredor com determinação. 

Deu de cara com Lonios, Nimbus e Jim, que saíam da cabine logo à frente.

— Que pensa que está fazendo? Você não vai lutar, está ferida — alertou Lonios.

— Tente me impedir — respondeu ela, lançando-lhe um olhar breve e desafiador antes de seguir em frente. Apesar da dor que a dilacerava, caminhava com altivez, deixando-os para trás com expressões de pura perplexidade.

No convés, Adon e Valeros já os aguardavam. O capitão Jones, ao avistar Lonios chegando com os dois rapazes, não conseguiu conter sua irritação.

— Que é isso? Agora você tem dois escudeiros? — inquiriu, o rosto vermelho de indignação.

— Eles são meus convidados — limitou-se a responder Lonios, com calma.

— O que está acontecendo? — perguntou Elisis, ignorando a troca de olhares.

— Proscritos — respondeu Sãr Adon, entregando-lhe a luneta.

Elisis levou o instrumento aos olhos e viu o horizonte tomado por figuras montadas em imponentes cavalos marinhos cheios de tentáculos. Equipados com armaduras de couro e máscaras que evocavam pavor, os Proscritos se aproximavam rapidamente, montados em suas criaturas cujas turbinas e aparatos tecnológicos os impulsionavam sobre o éter.

— São Proscritos cavalgando Lins. Eles têm autonomia limitada, o que sugere que há um Lorde Proscrito por perto com um Lon — explicou Adon.

— Malditas pestes! — exclamou o capitão, cerrando os punhos. — Sempre atacando naves isoladas.

Jones virou-se para Nimbus e Jim, decidido a impressioná-los. 

— Dizem que vivem no olho da tempestade, onde os ventos são mais calmos. São canibais. Comem todos os tripulantes das naves que capturam. Não sobra ninguém vivo.

Os garotos, boquiabertos, pareciam incapazes de processar aquelas palavras. Elisis, apesar da gravidade da situação, quase riu da tentativa do capitão de assustá-los. Lonios, percebendo o nervosismo deles, aproximou-se.

— Se acalmem — começou ele, a voz firme e tranquilizadora. — Eu fui capturado por Proscritos na minha primeira missão como cavaleiro. Nossa nave era mais frágil que a Brand e fomos facilmente derrotados. Na época, também estávamos aterrorizados pelas histórias que ouvimos.

Lonios fez uma pausa, atraindo a atenção até mesmo do capitão, que já havia se acomodado na poltrona.

— Eles comeram os mortos, sim, mas apenas os que morreram em batalha. Para eles, é uma honra ser devorado após a morte, assim como morrer lutando.

Os ouvintes mantinham-se imóveis, absorvendo cada palavra.

— Os sobreviventes foram tratados pelos curandeiros deles, muito mais habilidosos do que os médicos ocidentais. Descobri, então, que eles têm uma cultura sofisticada. Não acreditam em deuses, mas veem espírito em tudo: o sol, o vento, uma espada... até nós.

— E como o senhor escapou? — Nimbus perguntou, curioso.

— Fiz amizade com um jovem líder, um dos Poderosos. Ele me deixou partir. Hoje, esse garoto é conhecido como o imperador Proscrito. Não creio que se lembre de mim; isso foi há vinte e cinco anos.

— E a profecia? — lembrou Adon. — O profeta do Grande Líder previu no leito de morte: “Aquele que nasceu do éter irá destituir o governo de Cenferum.” 

— Bobagem. Quem acredita em profetas? — retrucou Jones, zombeteiro.

— O velho profeta nunca errou — corrigiu Adon, em tom sério.

— E é impossível que o nascido no éter seja uma criança de Cenferum. O Grande Líder decretou o aborto de qualquer gravidez descoberta durante uma viagem pelo éter — concluiu Jones, com um sorriso satisfeito.

— É verdade que mulheres não podem ter filhos durante viagens, mas há alguns anos dizem que um bebê nasceu durante uma travessia. O casal conseguiu fugir antes que a criança fosse morta...

Elisis ouvia a conversa com atenção. Para ela, eram apenas lendas, histórias para assustar crianças. 

Mas aquele não era o momento para distrações. O ataque dos selvagens estava iminente, e ninguém podia se dar ao luxo de esquecer disso. Decidiu intervir.

— Senhores, detesto interromper, mas acho que eles estão se aproximando — disse, apontando para a janela. Lá fora, os Lins estavam visivelmente mais próximos.

O capitão abriu um sorriso estranho, aproximou-se de Elisis e passou a mão por uma mecha de seu cabelo antes de falar:

— Sabe o que os proscritos fazem com belas donzelas como você?

Ele esperou alguns segundos por uma resposta, mas Elisis manteve o silêncio.  

— Eles as raptam, tomam como esposas e as levam para um harém. Têm dezenas de esposas.

— Eu corto aquilo que eles tem entre as pernas, se tentarem fazer isso comigo — respondeu Elisis, sua voz carregada de aspereza. 

Nimbus e Jim trocaram olhares assustados, com os olhos arregalados.

— Bom, já que eles estão muito próximos, vamos ter que nos livrar deles quando subirem a bordo — disse Lonios, aproximando-se da porta. — Acho que podemos dispensar a guarda. Só nós três damos conta. Eles são menos de cinquenta e não vão subir todos ao mesmo tempo. Vai ser fácil derrubá-los de volta enquanto sobem.

— Três não, quatro! — protestou Elisis, farta da insistência de Lonios em excluí-la da batalha. 

— Elisis, sua ajuda não é necessária. Fique e descanse. Seus ferimentos precisam de tempo para se curar — aconselhou Sãr Adon, tentando soar persuasivo.

Enquanto ele falava, Elisis já prendia os cabelos em um coque alto e preparava o arco.

— Nada pode me tirar desse combate, entenderam? Nada! — declarou, sua voz carregada de determinação. A irritação começava a ferver dentro dela. Sentia-se ferida, mas não inútil. Jurara proteger a nave ao próprio Grande Líder e não quebraria sua promessa.

O ambiente caiu em silêncio. Então o som de metal chocando-se contra metal preencheu o ar. Quando olharam, ganchos eram lançados contra o convés da nave.

Sãr Adon aproximou-se da porta, assumindo seu posto como comandante da segurança.

— Preparem-se para o ataque! — bradou, posicionando-se ao lado da porta. Valeros segurava a maçaneta, esperando o sinal.

— ATACAR!

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