Volume 1

Capítulo 29: Surpresas…

Ele estava no ginásio, refletindo sobre a luta de dias atrás. Segurava, com apenas uma mão, aquele objeto de quase cinco quilos que, meses atrás, era algo totalmente desconhecido para ele. 

Agora, a cada vez que o pegava, a espada parecia uma extensão do seu próprio corpo, uma parte de seu braço. 

Era a mesma espada que ele usara para vencer todos os soldados no seu último treino com a guarda da nave, a mesma que Valeros usara para quebrar seu nariz. 

Ele se lembrava de cada arranhão na lâmina e das imperfeições da madeira do cabo. A espada de treino agora servia como um lembrete de que, como seu mestre sempre dizia, sempre há alguém melhor do que nós no que fazemos de melhor.

Pela janela selada de vidro com cantos arredondados, ele observava a bruma que se movia rapidamente do lado de fora. 

Um imenso paredão cinza e vermelho subia até os céus e parecia girar no sentido anti-horário. 

Era a tempestade centenária, que ficava bem no meio do caminho entre Cenferum e os outros continentes. 

Um obstáculo intransponível que deveria ser evitado, mas que, de maneira curiosa, atraía toda sorte de criaturas e maus elementos. Esses usavam o fenômeno natural para atacar o fluxo de naves desprotegidas e presas desavisadas.

Enquanto estava sentado ali, perdido nos seus pensamentos, entrou Valeros. Nimbus quase tinha certeza de que aquele era o horário em que ninguém treinava no ginásio. 

Era tarde da noite, quase no horário do toque de recolher, e por isso ele o escolhera: era um dos poucos lugares tranquilos naquela hora, dentro da nave. Valeros percebeu sua presença, mas o ignorou e foi direto em direção às armas de treino.

Nimbus, ainda sentado, repetiu para si mesmo, em voz baixa, as palavras que seu mestre lhe dissera no dia anterior.  

— Não me preocupar com o que pensam de mim... Não me preocupar com o que pensam de mim... Não me preocupar com o que pensam de mim...  

Após algumas repetições, ele murmurou, derrotado:  

— Droga, eu me importo sim, me desculpe, mestre.  

Era claro que Nimbus ainda não estava preparado para absorver totalmente aquele conceito. 

Ele se levantou e caminhou em direção a Valeros, que já se preparava para o treino, escolhendo uma das armas.

Valeros percebeu sua aproximação e se virou, esperando-o. Nimbus já estava bem perto. 

O escudeiro apenas cruzou os braços, permanecendo em silêncio, aguardando que Nimbus falasse.

— Esta é a sua espada, se me lembro bem, você deixou isso bem claro no outro dia. — Valeros observou, sem mover-se.

Nimbus, sem hesitar, se aproximou e agarrou a espada pela lâmina cega, apontando o cabo em direção ao garoto. 

Sem dizer uma palavra, Valeros pegou a arma, apoiando a ponta no chão, e novamente ficou esperando que Nimbus continuasse a falar.

— Eu só treino há três meses, não há anos, como meu mestre os fez acreditar. Só queria que soubesse disso. — Nimbus disse, com a voz firme. 

Quando Valeros não respondeu, ele se virou e começou a caminhar em direção à porta. 

Foi então que ouviu a voz de Valeros.  

— Você quer que eu acredite que você treina há só três meses? Não seja ridículo. Ninguém fica tão bom em tão pouco tempo.

Nimbus parou, olhou por cima do ombro e respondeu:  

— É a verdade, eu não tenho por que mentir.

Valeros, então, esboçou um sorriso malicioso. Caminhou até a prateleira onde os bastões estavam guardados e jogou um para Nimbus. 

Antes de ser acertado nas costas, Nimbus o pegou no ar.

— Se isso é verdade, então me prove que você aprende tão rápido.

Quando Nimbus olhou novamente para Valeros, ele segurava um bastão também. 

Antes de começarem, Valeros explicou rapidamente tudo o que sabia sobre os bastões: em qual ocasião usar, os tipos existentes e como improvisar quando não se tinha outro recurso. 

Em seguida, Valeros demonstrou alguns golpes no ar e, por fim, ensaiaram defesas e ataques reais. 

O treino durou pouco mais de uma hora, e Valeros falou o mínimo necessário. Após a última defesa, ele disse, com firmeza:  

— Amanhã, na mesma hora.

Disse isso e se dirigiu para a porta, deixando Nimbus ali, parado, sem entender completamente o que acabara de acontecer.

No dia seguinte, Nimbus voltou ao ginásio na mesma hora. Para sua surpresa, Valeros apareceu novamente, e eles treinaram da mesma forma que no dia anterior. 

Agora, parecia que Nimbus tinha um compromisso diário. De manhã, ele trabalhava no grupo de limpeza da engenharia. 

Após o almoço, treinava com Lonios. Depois disso, estudava os temas que o cavaleiro o forçava a aprender, sempre descontraindo com conversas e brincadeiras com seu amigo Jim. 

À noite, treinava o uso do bastão com Valeros. Era uma rotina insana. O cansaço o fazia deitar na cama e, de tão exausto, não perceber que já estava dormindo.

Os dias passaram, e Nimbus não conseguia mais suportar o esgotamento físico. Ele estava perdendo peso rapidamente e as olheiras se tornavam cada vez mais fundas. 

Suas vestes estavam ficando folgadas, mas ele não daria o braço a torcer. Nunca abandonaria o treino de Valeros.

Apesar de não ter muito talento com o bastão, Nimbus aprendeu rapidamente. 

Mas, mesmo assim, Valeros nunca disse uma palavra sobre sua vida pessoal, opiniões ou qualquer tipo de brincadeira. 

Era uma diferença clara em relação aos garotos da sua idade, que, normalmente, costumavam fazer piadas ou compartilhar histórias. Valeros se limitava a explicações secas sobre o uso da arma. 

Certo dia, Nimbus estava particularmente inspirado, e os dois estavam exaustos de tanto se digladiar, até que, subitamente:

— BASTA! — gritou Valeros, e Nimbus parou quase que instantaneamente. Não sabia o que estava acontecendo. Por que o novo professor estava tão furioso? Será que ele havia feito algo errado?

— Eu sou péssimo com essa merda de bastão — Valeros disse, jogando a arma longe. — Se eu estivesse com uma espada ou um escudo, já teria te derrubado uma centena de vezes, somente hoje. Meu mestre me obrigou a usá-lo no combate contra você.

Nimbus ficou parado, sem saber o que dizer. Já treinavam juntos há semanas, e Valeros nunca tinha falado nada que não fosse relacionado ao bastão. 

Agora, ele revelava algo completamente diferente. Percebendo o silêncio de Nimbus, Valeros continuou.

— Você não mentiu. Está aprendendo rápido. Eu não me surpreenderia se, em breve, você me superasse com essa merda. Eu sou muito ruim com essa coisa — ele deu um sorriso, algo que não fazia na presença de Nimbus.

— Obrigado pelo elogio — respondeu Nimbus, finalmente se recompôs e conseguiu falar.

— Então, qual é a sua história? — perguntou Valeros.

E assim, Nimbus contou sua trajetória, mas omitiu, claro, tudo o que Lonios lhe havia pedido total sigilo. 

Não mencionou seu nome verdadeiro, nem a espada de Aço Diamante que possuía.

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