Volume 1

Capítulo 26: Primeiro Treino…

O trabalho na engenharia era exaustivo. Nimbus e os outros, cerca de quinze garotos da sua idade, passavam as seis horas do turno limpando manchas de óleo, esfregando geradores, paredes e o chão da área. 

Ao final, Nimbus estava coberto de graxa e óleo, mal reconhecendo a cor original do uniforme. Jaime, sempre prestativo, mostrou onde ficava o banheiro coletivo, onde todos se higienizavam antes de encerrar o dia.

Depois de um banho revigorante, Nimbus despediu-se de Jaime e seguiu para o ginásio, onde se encontraria com Lonios para o treinamento diário. 

— E aí, Nimbus, como é trabalhar na engenharia? — perguntou Lonios, com um sorriso que já denunciava a provocação. 

— Uma droga! — disparou Nimbus, a frustração evidente. — O senhor está me castigando, não é? O escudeiro do Sãr Adon é chefe dos guardas, e eu estou na limpeza!

Lonios riu, mas tentou acalmar o jovem.

— Limpeza? Desculpe, Nimbus, mas eu realmente não sabia em que função o Dr. Henry o colocaria. Acredite, isso não é um castigo. Eu não pedi que ele lhe desse um cargo especial. Veja isso como uma lição de humildade. Ser escudeiro não significa receber privilégios automaticamente. Em tudo na vida, começamos por baixo, e só com esforço e dedicação ganhamos mais responsabilidades e posições melhores.

Ele fez uma pausa, sentando-se ao lado de Nimbus.

— Eu mesmo sou o terceiro oficial da Brand. Acima de mim estão a Sãr Elisis, que é segunda oficial, o Sãr Adon, que é primeiro oficial, e o Capitão Jones, que comanda todos nós. Aqui, seguimos uma hierarquia para manter a ordem.

Nimbus franziu o cenho, ponderando. 

— O senhor está abaixo da Sãr Elisis? Mas ela é amazona há menos tempo do que o senhor é cavaleiro.

— É verdade — respondeu Lonios, com um leve sorriso. — Hierarquicamente, ela é minha superior. Mas isso não significa que eu seja inferior a ela como cavaleiro ou até mesmo como comandante. Funções e títulos mudam, Nimbus, mas isso não define quem somos.

Nimbus assentiu, refletindo.

— Entendi. O que importa não é o que estamos fazendo agora. Eu não sou um homem da limpeza. Estou apenas atuando como um momentaneamente.

Lonios viu a tristeza no olhar do garoto e bateu de leve em seu ombro.

— Isso mesmo. Mas agora chega de conversa. Vamos treinar.

Os dois foram para o tablado e começaram a prática com espadas. Estavam sozinhos no ginásio, que parecia reservado apenas para os cavaleiros naquele horário. 

As duas horas de treino passaram rapidamente, com Lonios corrigindo posturas e movimentos de Nimbus.

Ao término, o cavaleiro fez uma última recomendação.

— Nimbus, quero que vá até a biblioteca e se aprofunde nos seus estudos sobre economia. Eu gostaria de ensiná-lo pessoalmente, mas meus deveres não permitem. Aproveite, pois a biblioteca da Brand é uma das mais completas que já vi em qualquer nave.

Nimbus agradeceu e, enquanto cruzava os corredores em direção à biblioteca, avistou Ari. 

O garoto corria atrás do capitão, claramente determinado a puxar conversa. Nimbus observou de longe enquanto Ari cumprimentava o velho comandante e começava a falar algo. O capitão parecia entretido, sorrindo enquanto Ari gesticulava.  

Sem se deixar distrair, Nimbus prosseguiu até a biblioteca, determinado a aproveitar a oportunidade de aprendizado.

Quando Nimbus chegou à biblioteca, a grande porta de metal estava aberta, convidando-o a entrar. 

O lugar era vasto, com as paredes forradas de livros que se estendiam até onde a vista alcançava. 

Estantes formando corredores preenchiam o ambiente, e mesas espalhadas por todo o espaço ofereciam cadeiras para estudar, além de alguns sofás confortáveis. 

O local estava silencioso e vazio, como se poucos se importassem com os livros na nave. No entanto, Nimbus logo avistou uma figura familiar. 

Jaime estava sentado em uma mesa, imerso em um caderno e rodeado por pelo menos três pilhas de livros.

Curioso, Nimbus se aproximou.

— E aí, Jim, estudando? — perguntou, mas Jaime nem levantou os olhos dos livros.

— Sim — foi a resposta rápida.

— Mas o que você está estudando? — insistiu Nimbus, interessado.

— História naval, construção, operação, manutenção de naves, navegação, controle de avarias, mecânica... — Jaime continuou a ler e anotar sem desviar a atenção.

— Você se interessa por naves, então? — Nimbus perguntou, surpreso.

— Na verdade, meu sonho é ser capitão de uma nave como essa. Como não há muitos livros sobre isso em Cenferum, venho estudar aqui — Jaime finalmente tirou os olhos dos livros e olhou para Nimbus, percebendo seu interesse no assunto.

— Capitão? Mas você trabalha na limpeza, como pretende se tornar capitão estando ali? 

— Eu aceitei esse trabalho na limpeza para poder estudar. Se eu me dedicar, posso me candidatar para trabalhar na ponte de uma nave qualquer. Basta provar que você conhece sobre o assunto, e não tem muitas pessoas que querem trabalhar em naves, sabe?

Nimbus ficou boquiaberto. Era incrível como Jaime parecia estar na Brand apenas para estudar. 

Sua imagem sobre o garoto começou a mudar. Então era por isso que ele se esforçava tanto no trabalho.

— Uau, você pensa no futuro!

— Tenho um objetivo claro na vida: vou ser capitão um dia — Jaime falou com convicção. Nimbus percebeu que, provavelmente, poucas pessoas realmente o levavam a sério.

Aquelas palavras fizeram Nimbus refletir sobre sua própria vida. Ele, que nunca havia parado para pensar em um grande objetivo, sentiu uma pontada de dúvida.

— E você, qual é o seu sonho, Nimbus? 

— O meu? Eu já estou vivendo ele. Estou treinando para ser um cavaleiro um dia. Estou viajando em uma nave e vou conhecer o mundo. Isso era tudo que eu queria — respondeu Nimbus, com confiança.

— Tá, mas isso é só o começo. Ser cavaleiro é só a primeira etapa, o que você vai fazer depois disso? — Jaime perguntou, com uma provocação sutil.

Nimbus ficou em silêncio, não soubera o que responder. Ele nunca havia pensado em algo além de se tornar um cavaleiro. 

Seguir o código dos cavaleiros já parecia ser suficiente, mas agora, com a pergunta de Jaime, ele se sentiu perdido.

— Eu não sei — murmurou, pensativo.

— Então trate de escolher um objetivo maior do que esse. É como na navegação: se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Mas qualquer lugar pode ser um lugar ruim para você — Jaime disse, com uma sabedoria que Nimbus não esperava. 

Nimbus pensou nas palavras de Jaime e sentiu que ele estava certo. Ainda não sabia qual objetivo traçar para o futuro, mas agora sabia que precisaria de um.

— Você tem razão, vou pensar nisso. Vou escolher um objetivo para o futuro, mas ainda não sei qual vai ser.

— Isso aí, Nimbus, é nós! — Jaime levantou a mão para um cumprimento, e após um momento de hesitação, Nimbus bateu de leve na mão do garoto. 

— Tenho que estudar, recebi uma tarefa do meu mestre. 

Nimbus se afastou e pegou alguns livros sobre economia. Enquanto começava a ler, seus olhos frequentemente se voltavam para Jaime, que estava focado nos seus estudos. 

A determinação no rosto do garoto era clara, e naquele momento, Nimbus soube que, um dia, Jaime alcançaria seus objetivos.

Mas, em meio à leitura, Nimbus se perguntava: qual seria o objetivo que ele escolheria para o seu futuro?

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