Nimbus: E os Cavaleiros de Cenferum Brasileira

Volume 1

Capítulo 25: Nepotismo…

Nimbus adormeceu novamente, imerso no conforto raro de uma cama. Fazia tempo que não descansava assim, e o sono o dominou completamente. 

A noite transcorreu tranquila, e o garoto só despertou na manhã seguinte, sentindo o corpo ainda pesado do cansaço acumulado.

Quando abriu os olhos, viu Jaime já de pé, vestindo-se para começar o dia. O alojamento estava cheio de vida, com tripulantes andando de um lado para o outro, conversando e organizando suas tarefas. 

— Bom dia, Nimbus. Pronto para trabalhar? — perguntou Jaime, enquanto ajustava o uniforme.

— Bom… dia — respondeu Nimbus, a voz rouca de sono e os olhos ainda inchados.

— E aí, está animado para ir à engenharia?

— Como você sabe que vou para a engenharia? — Nimbus perguntou, surpreso que até isso já fosse de conhecimento geral. 

— Talvez porque você está no alojamento da tripulação da engenharia? — Jaime riu. — Além disso, eu vi você e o Sãr Lonios conversando com o Dr. Henry.

— Faz sentido… Então é isso mesmo.

— Exato. Se quiser, podemos ir juntos. Meu turno começa agora.

— Pode ser.

Nimbus levantou-se rapidamente. Lembrando das regras da Brand, ele pegou a espada que havia escondido debaixo do colchão e a guardou no baú ao pé da cama. 

Lá dentro encontrou um macacão semelhante ao que o Dr. Henry usava. Vestiu-se, trancou o baú com o cadeado e colocou a chave no bolso antes de seguir Jaime.

Enquanto caminhavam pelo corredor, Jaime começou a explicar como o local funcionava.

— Esse alojamento à frente do nosso é outro espaço para o pessoal da engenharia. O que fica mais atrás é dos soldados. Já o da frente deste é para a equipe de serviços gerais.

— Serviços gerais? — perguntou Nimbus, curioso.

— Sim, carpinteiros, artesãos e outros profissionais com funções específicas.

Eles chegaram à porta no final do corredor e entraram na engenharia. O barulho ensurdecedor preencheu o ambiente de imediato. Homens apressados iam e vinham, ocupados com suas tarefas.

Nimbus se despediu de Jaime e começou a procurar o Dr. Henry. Logo o avistou, conversando com alguns homens e dando instruções. Assim que notou Nimbus, Henry encerrou a conversa e caminhou até ele. 

— Bom dia, garoto. Espero que tenha descansado, porque o dia hoje será longo — disse, quase gritando para se fazer ouvir acima do ruído constante. 

— Sim, Dr. Henry. 

— Ótimo. Vamos começar.

Henry fez sinal para que o garoto o seguisse. Caminharam até uma sala próxima, onde havia armários pequenos empilhados uns sobre os outros. O homem parou em frente a um deles e o abriu.

— Este é o seu armário, Nimbus. É aqui que você vai guardar seus pertences. Dê uma olhada. 

Dentro do armário havia um avental de couro sem mangas pendurado em um cabide, algumas camisetas, um par de botas, luvas de couro e dois tampões para os ouvidos. 

— Entendeu? Agora, coloque o avental e me acompanhe.

Nimbus vestiu o avental com rapidez e seguiu Henry, sentindo o peso da responsabilidade que o aguardava.

Nimbus se perguntava que tipo de tarefa teria que realizar. Será que seria um ajudante de mecânico? Será que aprenderia a consertar a Brand? 

A ansiedade crescia enquanto seguia o Dr. Henry pelos corredores.  

Depois de alguns minutos, chegaram a um local onde Jaime, usando o mesmo uniforme que Nimbus, estava todo sujo de óleo, segurando uma vassoura e panos manchados de graxa. O Dr. Henry chamou o garoto. 

— Jim, venha cá. 

Jaime imediatamente largou o que fazia e se aproximou. Nesse momento, Nimbus percebeu que "Jim" era o apelido do jovem.

— Sim, Dr. Henry.

— O Nimbus vai trabalhar aqui com vocês na equipe de limpeza. Mostre a ele como funciona o trabalho e o que precisa fazer. Certo? — disse, depois virou-se para Nimbus. — Nimbus, todos os novatos começam na limpeza. É um trabalho essencial. Sem a equipe de limpeza, ninguém conseguiria trabalhar. Faça o seu melhor. Todos os dias, apresente-se a mim para que eu delegue suas tarefas. Entendido? 

O rosto de Nimbus empalideceu ao ouvir que seria parte da equipe de limpeza. Ele havia imaginado algo mais importante, algo que lhe permitisse aprender. Talvez fosse um castigo pelo incidente como clandestino. 

— Sim, senhor — respondeu, esquecendo que o Dr. Henry não gostava de formalidades. 

— Quando terminarem, venham falar comigo. Tenho mais tarefas para vocês.

Henry saiu, e antes que pudessem dizer algo, outro garoto chegou. Tinha estatura mediana, cabelo e olhos castanhos, e aparentava ter a mesma idade de Jaime e Nimbus.

— Bom dia, Dr. Henry. — O garoto falou, mas ficou parado, encarando o engenheiro sem ter mais o que dizer.

— Bom dia, Ari. O que você quer?

— Eu só queria desejar um ótimo dia para o senhor.

Nimbus e Jaime trocaram olhares enquanto ouviam a conversa.

— Você veio só para isso? Volte ao trabalho e saia da minha frente, moleque. — Henry virou as costas, murmurando enquanto se afastava. — Só mandam puxa-saco para a minha engenharia.

Ari, visivelmente desconfortável, olhou para Jaime e Nimbus antes de sair sem dizer nada.

— Esse aí é filho de algum figurão do alto escalão em Aldair — Jaime explicou. — O pai dele falou com o capitão, e ele começou direto como mecânico, mas o cara é péssimo. Nunca estudou nada, só faz besteira, mas o capitão gosta dele.

Nimbus arqueou a sobrancelha.

— E por quê?

— Porque ele é bom em puxar saco. Sempre que vê alguém importante, ele para tudo e vai bajular. O capitão adora, mas o Dr. Henry não cai nessa.

— Entendi… — Nimbus respondeu, desanimado.

Jaime notou a expressão do garoto e tentou animá-lo.

— Sei que você não gostou de estar na limpeza, mas é um bom trabalho. Se fizer bem, pode ser promovido a auxiliar de mecânico. Talvez na próxima viagem.  

— Acho que eu esperava algo diferente. Um escudeiro deveria ter uma função mais importante numa nave dessas. — Nimbus hesitou antes de perguntar. — E o escudeiro do Sãr Adon? O que ele faz? 

— Ah, você fala do outro escudeiro? Ele é alferes na equipe de segurança.

— Alferes? Que cargo é esse? 

— É tipo abaixo de tenente. Ele é chefe dos guardas. Tem dois oficiais acima dele, mas manda em todos os outros.

Nimbus ficou em silêncio, a indignação crescendo. Era bem a cara de Lonios fazer algo assim com ele. 

— Agora chega de drama, vamos trabalhar. Vou te ensinar tudo — disse Jaime, conduzindo Nimbus enquanto explicava as tarefas da equipe de limpeza. 

⸸ ⸸‌ ⸸‌