Volume 1
Capitulo 10: O Aliado…
Eles se levantaram e caminharam de costas, olhando para o chão, pois ninguém poderia virar as costas para o Grande Líder. Antes que chegassem à porta, os guardas as abriram, e, por fim, as portas se fecharam com um estrondo metálico, os devolvendo ao átrio.
Nimbus estava confuso. Era isso que Lonios vinha fazer na presença do Grande Líder? Então, o cavaleiro retirou o garoto de seus pensamentos.
— Isso não é bom, Nimbus. Você ainda não está pronto para uma missão dessas. Se fosse daqui a um ano, tenho certeza de que seria o momento ideal para você tripular uma nave, mas não agora.
— Além disso, não é do meu feitio servir a burocratas como aquele. Viu como ele manipulou o discurso daquele herbalista e o prendeu sem julgamento? Nimbus, você nunca deve confiar em estadistas populistas como esse. Nunca, entendeu? — Lonios disse, colocando a mão no queixo e afagando a barba, enquanto seu olhar se perdia no horizonte.
— Sim, entendi sobre o Grande Líder, mas não entendi por que ele não deixou Olozor, o que o senhor mencionou, criar os remédios que são importados? Seria tão bom para o povo, não seria? Não precisaríamos mais de expedições para comprá-los — Nimbus perguntou, curioso.
— O problema está aqui — Lonios disse, abrindo os braços e apontando para todo o castelo.
— De onde você acha que vem o dinheiro para todo esse luxo? O Castelo da Solidão é um dos mais majestosos do mundo, e os políticos de Cenferum estão entre os mais ricos do planeta.
— Isso tudo vem dos impostos cobrados da população para pagar por esses remédios, pela educação e saúde "gratuitas" para o povo. E para financiar tudo isso, temos a maior alíquota de imposto do mundo. Mais de metade de tudo o que é comercializado é imposto. O Grande Líder toma tudo para si e oferece um dos piores serviços de saúde e educação que existem. Você não foi doutrinado a louvar os feitos do Grande Líder? Tudo para os burocratas, e migalhas para o povo.
— Não entendi o que isso tem a ver com Olozor fabricando os remédios. Não mudaria nada — Nimbus respondeu, confuso.
— Aí é que você se engana, Nimbus. Se Olozor fabricasse os remédios aqui, não haveria mais razão para o Grande Líder cobrar impostos para importar esses remédios.
— Não seriam mais necessárias essas custosas expedições. A arrecadação do governo cairia, e o dinheiro para o alto escalão do regime diminuiria.
— Mas o mais importante é que o povo descobriria que pode viver sem depender das migalhas que o governo oferece. Começa com esses remédios que Olozor quer produzir, depois com as outras coisas importadas que o governo distribui em troca dos altos impostos.
— Acho que agora entendi, mestre. O Grande Líder tem medo de o povo se libertar da dependência do governo — Nimbus disse, começando a compreender.
— Exatamente, Nimbus. O alto escalão do governo enriquece às custas da dependência do povo — Lonios ficou pensativo novamente.
— Mas, mudando de assunto, estou em um dilema. Se o deixar aqui, seu treinamento estará comprometido. Se eu o levar comigo, não posso garantir sua segurança. Se eu recusar a proposta do Grande Líder, corremos o risco de ser presos como aquele homem.
— Mestre, estou disposto a correr o risco. Esse sempre foi o meu sonho — Nimbus falou, tentando segurar as lágrimas, quase desabando naquele momento. Seu mestre parecia relutante em levá-lo na missão, talvez nem mesmo em participar dela. Lonios percebeu a angústia de Nimbus e falou novamente.
— Agora não é o momento de discutirmos isso, Nimbus. Vamos sair daqui e falar com Sãr Ahbran. Ele vai nos esclarecer mais sobre o que está acontecendo aqui — disse Lonios, indo em direção à lateral do castelo.
Vindo de uma porta lateral, um homem alto, trajando uma armadura completa, avançava na direção dos dois.
Seus olhos eram de um azul claro penetrante, e sua barriga enorme se destacava. Quando se aproximou, Nimbus percebeu que o cavaleiro não era apenas grande, mas também extremamente forte. Seus braços eram tão grossos quanto troncos de árvore, e seu peito tão largo quanto a porta de uma casa.
Ele também exibia uma barba, como Lonios, mas a sua terminava pontiaguda no queixo e era completamente branca, assim como seus cabelos. As rugas profundas ao redor de seus olhos indicavam que, provavelmente, era um homem idoso.
— Sãr Lonios, há quanto tempo, velho amigo! Que prazer revê-lo — o cavaleiro saudou Lonios com um apertão de mão e uma tapa nas costas.
— Sim, muito tempo, velho amigo. O prazer é todo meu, Sãr Ahbran Ethel, mas o que está acontecendo por aqui? Nunca fui chamado assim, na presença do seu Líder?
— O momento é crítico, Lonios, e temo que somente você possa nos ajudar. Me acompanhe, vamos ao meu escritório, precisamos de privacidade — respondeu Sãr Ahbran, virando-se e começando a caminhar.
Uma única frase ficou ecoando no ar: "O momento é crítico".
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