Volume 2: Correntes invisíveis.

Capítulo 5: Reunião Familiar.

— Cara, por favor, não arruma mais confusão? A gente já tá com merda até o pescoço.

— Pietro, você precisa ser mais decisivo...

Harkin respondeu ao sobrinho enquanto o vento forte balançava suas roupas durante o voo até a Acrópole, obrigando-os a praticamente gritar para se ouvirem.

— Não é questão de ser decisivo ou não. Se você continuar simplesmente fazendo o que quer, como vamos estabelecer acordos comerciais?

— Tá dentro do plano, cara. Relaxa.

Perdendo a paciência, Pietro voou até o tio e lhe deu um soco nas costas. Ambos pararam no ar e se encararam. Os olhos de Pietro ardiam, vermelhos de raiva.

— NÃO ME MANDA RELAXAR, PORRA! EU NÃO SOU UM DOS SEUS PEÕES DE MERDA! OU VOCÊ ABRE O JOGO COMIGO, OU VAI SE FUDER PRA LONGE DE MIM!

Os olhos púrpura de Harkin se fecharam enquanto ele cobria o rosto com a mão. A exaustão por tocar naquele assunto fez um longo suspiro escapar de seus lábios.

— Cara, quando eu falo pra você relaxar, é porque tá dentro do que eu esperava da situação. Você realmente achou que a gente ia chegar aqui com propostas excelentes e ninguém ia oferecer resistência?

— Você criou atritos desnecessários e agora se expôs num nível que vai transformar tudo num inferno. Se já seria difícil antes, imagina agora, com todo mundo sabendo que você é um Empera?

— Isso pode facilitar as coisas. E, na real, não vai ser todo mundo que vai saber — só o conselho.

— Grande, mas muuuito grande a diferença.

— Qual é, Pietro, usa o cérebro. O Solomon é a porta de entrada. Eu sei que deu toda aquela merda com os playboyzinhos dele e que o planejamento saiu do eixo, mas não esquece: ele é um homem de negócios, sedento por poder. O que você acha que a Arkan representa pra ele em termos de influência?

— Você terminou de desenvolver a Arkan? E como pretende sair ileso com sua mãe por causa disso?

— As sentinelas são mais do que suficientes pra manter o equilíbrio. A Arkan será perfeita pro Império. Mas eu não sou burro... Haverá limitações.

Notando Pietro baixar a guarda, Harkin continuou:

— Sem falar que eu não escondi nada de você. Só não contei tudo porque não sabia se daria certo.

— Achei que fazer dar certo era responsabilidade de ambos. — retrucou Pietro, mais calmo, mas ainda com um leve tom ácido.

— Não é disso que tô falando. Me refiro a chamar a atenção do Solomon.

“Nem fudendo... ele não faria isso... ou faria?”

— Você planejou essa confusão?

— Agora sim temos um Pietro que tá pensando.

— Vá se foder! Qual o seu problema? Olha o caos que você causou! E pior: por que não me falou nada? Pelo menos eu teria me preparado.

“Ok... hora de abrir o jogo... parcialmete. Se ele ficar no escuro por mais tempo, vai ser pior.”

Após uma breve reflexão, Harkin mudou completamente sua expressão. O sarcasmo e a ironia desapareceram da voz. Seu rosto ficou sério quando respondeu:

— Eu não te contei porque planejava esperar um mês ou dois. Quando algum dos idiotas obcecados por combate me provocasse, eu faria o que fiz... só que em uma escala maior.

— E que diferença isso faria? Você ia atolar a gente em merda do mesmo jeito.

— Sim e não. Porque eu não ia atribuir os resultados à minha força individual, mas ao sistema Arkhan. Entendeu agora?

O rosto de Pietro passou de raiva para um olhar contemplativo. A ideia do tio era absurda... mas genial. Vencer os melhores magos da nova geração e atribuir o feito à tecnologia que ele mesmo criou seria quebrar a crença do império de que os magos eram imbatíveis, retomando o voo rumo a Eldravel, Pietro tomou a dianteira e disse:

— Me conta a versão completa do seu plano no caminho. Eu não tenho uma reserva mágica do tamanho da Acrópole igual à sua. Não aguento muito mais tempo.

Harkin sorriu e se aproximou de Pietro. Colocou a mão em seu ombro e deixou a energia fluir para ele. Após alguns segundos, voltou ao assunto:

— Isso deve ser o suficiente pra você não desmaiar.

— Obrigado.

— Enfim, meu plano inicial era esse, e eu ia te contar quando estivéssemos perto dos treinos... pra você surtar com mais calma.

Pietro lançou um olhar de canto enquanto aceleravam o voo.

— Não importa mais — disse ele. — Agora você precisa manter a calma diante do conselho. E sabe que o vovô vai te usar de algum jeito.

— Não tenho pra onde correr nessa... Mas eu lido com a nobreza de Nerio há anos. Aqui não vai ser diferente: ameaças, acordos, alianças... no fim, tudo se resume a interesses mútuos. E se alguém tentar me passar a perna...

O semblante de Harkin se fechou ao pensar em traições. Sua voz carregava uma autoridade que fez Pietro sentir um arrepio na espinha.

— Bom, digamos que eles vão entender por que a máfia nunca tentou se vingar de mim.

Com um certo remorso, Pietro apenas assentiu:

— Só não mata ninguém, por favor.

— Vou me comportar, Pietro, não se preocupe. Eu sei quando usar diplomacia. E, pra deixar claro, eu ataquei o Stein porque fiquei puto. A ideia de usar isso como desculpa pra me aproximar do Solomon surgiu depois.

— Como eu disse, não importa. Vamos nos apressar — encerrou Pietro, quando atravessaram os limites da Acrópole e entraram no círculo interno, onde ficavam as residências.

A ilha flutuante era organizada em anéis concêntricos. No centro, o colossal Eldravel se erguia como se fosse perfurar as nuvens. O primeiro círculo abrigava os prédios administrativos, cuja arquitetura renascentista conferia ao lugar um charme único. Em seguida vinham áreas verdes cercadas por mansões, completando o segundo anel. Por fim, no terceiro círculo — do centro até as bordas — estavam as instalações militares: quartéis, campos de treinamento e residências dos oficiais.

Enquanto cruzavam os jardins do segundo círculo, os dois príncipes notaram uma figura observando-os do alto de uma torre. Era Kaius. Os olhos do velho general dissecavam Harkin à distância.

— Imagino que aquele seja o comitê de boas-vindas?

— Vamos direto pra lá. Meu pai já deve estar esperando... junto com a tia Leona e o Solomon.

— Markus e o general Kaius estão lá também. Isso virou uma reuniãozinha de família?

— Tá faltando gente, mas... dá pra começar.

— Ótimo. O mentor dos meus meio-irmãos e eles mesmos, reunidos pra me receberem com uma puta festa.

— Relaxa. Seus irmãos são tranquilos. Não teríamos problemas... se você não tivesse arrebentado dois dos filhos do Solomon.

— Justo... mas foi necessário.

— Tá. Só vamos logo.

— Ok.

Ambos aceleraram em direção ao palácio. À medida que se aproximavam, a visão do velho general e dos outros irmãos ficava mais nítida. Kaius, ao perceber a aproximação, virou-se de costas e comentou com os demais:

— O garoto está chegando. Por mais que eu quisesse conversar com ele... sou conselheiro agora. Não seria apropriado.

— Ué... então por que veio até aqui? — perguntou Gordon, intrigado.

— Apoiar meus discípulos, em primeiro lugar. Vocês merecem ao menos isso de seu mestre. E... também queria vê-lo com meus próprios olhos. Preciso confirmar uma coisa.

Leona foi quem se adiantou dessa vez:

— Com todo o respeito, mestre... mas o que poderia confirmar apenas olhando para ele?

— Você verá.

Kaius não disse mais nada. Começou a se afastar, caminhando com calma até a porta da torre. Ao colocar a mão na maçaneta, parou. E então, virando-se devagar, fitou Harkin.

Era raro ver Kaius com os olhos abertos. Isso por si só já bastava como sinal de alerta. Quando suas pálpebras se ergueram, revelaram íris vermelhas, cor de sangue — brilhantes, penetrantes.

Leona e Markus se surpreenderam, mas se mantiveram imóveis. Já Solomon e Gordon estremeceram. A aura que o velho general emanava naquela direção era intensa — focada diretamente em Harkin.

“Velho louco do caralho... era isso que você queria no final? Tá testando o moleque.” — pensou Solomon, a raiva se acendendo em seus olhos.

Existe um motivo para Kaius sempre andar de olhos fechados.

Ele é um dos homens mais velhos do mundo — o primeiro general a servir sob o comando de Eiden. Sobreviveu a batalhas incontáveis, e seu poder ultrapassou os limites de qualquer humano comum. Está abaixo apenas do próprio imperador. Um simples olhar daquele que, com as próprias mãos, conduziu o fim de reinos inteiros... poderia rebaixar até o mais nobre dos heróis.

Vultor. Assim era conhecido nas guerras de conquista. Os reinos predecessores ao Império deram-lhe esse nome — “O Rosto Final.”

Harkin sentiu os olhos demoníacos o fixarem. Mesmo à distância, foi como ser engolido por uma tempestade invisível. Por instinto, levou o braço direito à frente do rosto. A prótese chiou, soltando faíscas.

“Merda... só tem psicopata nesse lugar?”

Percebendo o ataque sutil, Harkin entrou à frente de Pietro. Sabia que o sobrinho não teria concentração suficiente para manter o voo e resistir à pressão daquele monstro ancestral.

Com uma risada rouca, carregada de uma malícia quase teatral, Kaius comentou:

— Hahahaha... o garoto tem espírito. Fiquem atentos. O irmão de vocês... não é alguém que deve ser ignorado.

Ainda sorrindo, retraiu sua aura e entrou nos salões internos de Eldravel. O som da bengala batendo contra o chão ecoou pelos corredores, até desaparecer junto com sua silhueta, engolida pela escuridão do palácio.

— O velho ainda gosta de testar tudo e todos, pelo jeito... — murmurou Solomon, ainda com os olhos fixos na porta.

— O demônio rindo me dá arrepios. Ele ainda conduz aqueles treinos infernais, Markus? — perguntou Gordon.

— Qualquer um treinado por ele vira um monstro completo. Mas quem pode dizer isso melhor... é a Leona. Desde que fui nomeado general, não treinei mais com o mestre.

— Os treinos dele são normais… já a personalidade, é questionável, mas o mestre sempre quer ensinar algo. — Leona disse arrancando olhares curiosos de seus irmãos.

— Se ele demonstrou interesse em Harkin, é sinal que nosso irmãozinho tem algum potencial para ele. De qualquer forma, não vamos descobrir debatendo. — Dando uma pausa e se virando ela continuou — Acho melhor um de nós ir buscar o garoto é muita coisa em um dia só, olhem pra ele.

Quase chegando Harkin recuperava o fôlego. Sua respiração era pesada, e ele suava como se tivesse corrido uma maratona.

Pietro apoiou ele em seus ombros e começou a carregar ele:

— Obrigado por agora como escudo. — Ele disse.

— Relaxa só em ajuda a chegar na torre se eu me sentar e tomar uma água já vou me sentir melhor.

— Essa é a primeira vez que te vejo tão cansado, o que diabos tá acontecendo? Você não tem uma energia quase que infinita?

— Não existe nada infinito Pietro, eu posso ter uma reserva de energia absurda e a convergência me ajuda a ficar sempre cheio, mas depois do meu pai, o meu corpo tava próximo do limite, aí vem esse monstro das profundezas, eu atingi o limite do que meu corpo aguenta, simples assim. 

— Relaxa mais 5 metros e agente pousa.

Pietro o carregou ate a borda do palácio, na torre em que seus pais e o resto o esperava, ele colocou Harkin na beirada e tirou um cantou de dentro de seu paletó, ajudando Harkin a beber água, seu pai se aproximou deles.

— O moleque tá bem? 

— Só tô cansado velhote. — Harkin respondeu Gordon. — Eu poderia ficar melhor se você descolasse aquela ajuda que eu te pedi, mais cedo.

Suspirando lentamente Gordon respondeu:

— Você só me dá problemas e ainda me pede ajuda? O que aconteceu com o “eu só quero estudar o império, não me envolver com essa chatice imperial”. — Gordon imitou Harkin com uma fala infantil para provocar ele.

 Entre respirações pesadas Harkin perguntou a ele:

— Vai me ajudar ou não? 

— Não — respondeu Gordon.

— Sua mãe disse que Gabriela vai cuidar disso, por sinal quem é Gabriela — Markus deu um passo à frente se ajoelhando para examinar o jovem príncipe enquanto perguntava.

— Minha mãe tá bem tagarela ultimamente… depois te conto Markus.

— Tá já deu pra ver que vocês se conhecem, vão nos apresentar ou não. — a voz irritadiça de Leona interrompeu os três.

Pietro tomou a frente antes de as coisas escalarem e começou as introduções:

— Harkin essa é minha tia e sua irmã Leona Von Empera, e o pai de Stein e Drake — Antes de continuar Pietro foi interrompido por Solomon.

— Solomon Von Empera seu meio irmão, mas você já sabe disso caso contrário não teria se envolvido naquela pitoresca confusão com meus filhos.

Ele deu dois passos à frente, Solomon era a cópia de Eiden porém com cabelos grandes e olhos pretos como a noite sem lua, sua barba perfeitamente feita, pele lisa e macia brilhavam sob a luz refletindo em sua pele. Harkin se ajeitou faíscas saíram de seu braço mecânico, com grande esforço ele levantou para ficar frente a seus irmãos ajeitando suas roupas e se posicionando ele fez uma reverência da corte, formalidades para uma primeira apresentação.

— Harkin Abrasax Von Empera, a seu dispor. — Saindo de sua pose ele se virou a Solomon.

— Eu não diria confusão pitoresca já que você mandou Drake sabendo que eu iria agir, e não posso negar de que já havia decorado os rostos de todos vocês.

Ele pegou seu Magiphone e desligou o aparelho.

— Apenas por precaução, eu prometi a Pietro que levaria isso a sério. — A expressão dele mudou completamente de jovem distraído e sarcástico ele parecia agora um general pronto para a guerra. — Agora vocês todos vieram me acompanhar ou só recepção.

— Eu pelo menos só estava curiosa, você O! virou assunto da capital nos últimos 2 dias. — Leona respondeu.

— Ok, um com vendeta e outra que só é curiosa.

— Harkin, mais respeito — Disse Pietro dando beliscão em seu braço esquerdo 

— Ok mãe eu já entendi.

— Bom, de qualquer forma eu tô atrasado dez minutos, vocês vão ficar me pretendendo aqui ou deixar eu ir tomar o esporro real na frente do conselho? Depois agente bota o papo de família em dia.

— A Morgana esqueceu de ensinar bom senso pra ele. — A irmã dele respondeu.

Como um raio ela se moveu com a mão direcionada ao pescoço de Harkin seu movimento foi o de alguém pronta para matar, mas ela parou a mão antes de chegar ao pescoço. Harkin porém não se mexeu um milímetro, seus olhos púrpuras a encaravam olho a olho, a tensão era palatável a essa distância ainda assim algo dizia para Leona que era melhor não passar do ponto.

— É só isso, posso ir ou mais alguém quer brincar de valentão? — disse o herdeiro de Nerio olhando aos seus outros irmãos.

Leona abaixou a mão, e olhou para a prótese dele.

— Você tem coragem pelo menos mesmo com esse treco no seu braço.

Um estrondo de palmas ecoou nos ouvidos de todos menos Marcos, ao se virarem pro som Markus abaixou as mãos:

— Já chega nosso pai espera, junto com o conselho qualquer problema pode ser resolvido depois, Entendido?

Gordon e Solomon olharam pra Markus a raiva estava estampada em Solomon e inexpressiva em Gordon, mas nenhum deles questionou ele, nem mesmo Leona.

— Até que enfim, você pode guiar o caminho por favor Markus? 

— Claro moleque, se comporta, eu não quero ter que ouvir da sua mãe que ela me avisou.

Encerrando o breve diálogo familiar Markus seguido por Harkin e os outros foram em direção ao centro de Eldravel.

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