Volume 1: Sangue e Promessas.
Capítulo 4: Tensão.
A Academia era vasta e diversificada, oferecendo diferentes áreas de estudo, mas nenhuma tão procurada quanto a de combate. A maioria dos alunos sonhava em se tornar guerreiros—fossem magos, espadachins ou especialistas em luta. Outros escolhiam os caminhos da pesquisa e da saúde, mas o brilho do combate sempre ofuscava os demais. No fim, cada um buscava seu próprio caminho, guiado pelo talento ou pelo destino.
No topo da hierarquia acadêmica estava o Prédio Lumax, lar dos mais talentosos. Ali, títulos nobiliárquicos e conexões políticas não importavam—apenas o mérito definia quem podia permanecer. Para alguns, isso era um sinal de justiça; para outros, uma afronta. Talvez por isso a elite tenha decidido construir um espaço próprio: o Crème de la Crème, um ambiente exclusivo para os descendentes da nobreza, onde poderiam se destacar sem a presença da plebe. O imperador e outros se opuseram ao projeto, mas a decisão final coube ao diretor da academia. Para ele, separar os nobres não mudaria os resultados. No fim, a força individual sempre falaria mais alto.
Agora, no Crème de la Crème, o caos tomava conta da sala de reuniões dos nobres.
O salão era amplo, capaz de acomodar até duzentas pessoas, mas no centro apenas treze cadeiras formavam o círculo de debates. Os assentos pertenciam aos herdeiros das treze grandes casas nobres. Entre eles, o décimo terceiro lugar era reservado para um representante da família imperial—mas hoje, ele estava vazio.
Cédric, um jovem nobre de cabelos dourados e olhos ferinos, ergueu-se de sua cadeira, a fúria estampada no rosto.
— Precisamos retaliar imediatamente! — rugiu, a voz reverberando pelas paredes. — Se esse novato não respeita nem a família imperial, o que impede de atacar os mais fracos entre nós?
A multidão de nobres que assistia ao debate explodiu em murmúrios e exclamações de apoio. No entanto, nem todos compartilhavam da mesma opinião.
Vargas, um jovem de olhar afiado, recostou-se na cadeira e arqueou uma sobrancelha.
— Cédric, está com medo de um novato? — zombou. — Acha mesmo que reunir todos nós para vingar Stein é a melhor ideia? Somos os mais poderosos da academia. Imagine a vergonha se nos unirmos contra um único recém-chegado.
Cédric ficou vermelho de raiva.
— Vergonha?! Já estamos cobertos de vergonha, Vargas! Ou você não percebeu? Um membro da realeza e mais quatro dos nossos foram derrotados por um único idiota! Um deles está no hospital! Recuperar nossa honra é o mínimo!
A tensão no salão aumentava, mas foi Frédéric quem quebrou o impasse.
— Vocês dois estão errados. — Sua voz cortou o ambiente com firmeza.
Ele se inclinou para a frente, os olhos brilhando com inteligência.
— Cédric, você está simplificando demais. Se esse novato derrotou Stein, se esquivou do instrutor Ballistari e saiu ileso, ele não é alguém qualquer. — Seus olhos se voltaram para Vargas. — E você, Vargas, acha que estar no topo significa que nunca enfrentaremos desafios?
Vargas cruzou os braços, imperturbável.
— Desafio ou não, Stein é mediano. Nós não somos. Se atacarmos esse novato, estaremos nos rebaixando. Ou esquece que isso pode prejudicar nossas casas?
Frédéric voltou o olhar afiado para Cédric.
— E você, Cédric? Consegue enxergar além do impacto imediato?
Cédric abriu a boca para responder, mas hesitou. A sala inteira prendeu a respiração. No entanto, antes que ele pudesse falar, uma voz cortante veio de um dos cantos do salão.
— Todos vocês estão errados.
Os olhares se voltaram para Philip, que permanecia tranquilo em sua cadeira.
— Isso não é uma questão de vergonha ou honra, nem de análises detalhadas. Deveríamos nos perguntar: onde está a família imperial? — Ele fez uma pausa, deixando que a dúvida pairasse no ar. — Ontem, Stein foi derrotado e, pouco depois, recebemos uma notificação de reunião. Mas onde eles estão? A 13ª cadeira está vazia. Algum de vocês percebeu que estamos debatendo algo que eles sequer parecem se importar?
O silêncio caiu sobre a sala.
Então, o som de saltos ressoou no chão de mármore.
Todos os olhares se voltaram para a entrada do salão. Uma mulher avançava com passos firmes, sua presença dominando o ambiente. Seus cabelos negro-azulados e olhos azuis brilhantes pareciam talhados por um escultor divino. Sua beleza era impressionante, mas sua expressão trazia um frio absoluto.
Ela se aproximou lentamente, deixando a tensão crescer. Quando falou, sua voz carregava um tom de diversão cruel.
— Realmente, Philip... — Um sorriso frio se formou em seus lábios. — Stein é da nossa família, e nós não estamos preocupados. Então, se esta assembleia era sobre isso, podem considerá-la encerrada.
A sala mergulhou em um silêncio desconfortável.
Camila, herdeira da família imperial, varreu os rostos ao redor com um olhar afiado.
— As casas nobres não perderam honra ou dignidade por essa derrota. Talvez vocês devessem se preocupar mais com a própria segurança. — Seu olhar recaiu sobre Vargas. — Stein pode ser mediano, Vargas, mas você também teria problemas para enfrentá-lo. — E então, voltou-se para Cédric. — Você é um dos melhores aqui, mas ainda se preocupa com reputação e vergonha? — Por fim, seus olhos pousaram sobre Frédéric e Philip. — Vocês dois, ao menos, não estão falando tolices.
O silêncio foi absoluto.
Vargas foi o primeiro a se mover, cruzando os braços e encarando Camila.
— Camila... Se vocês realmente não estão preocupados, então sabem quem é esse novato. Por que não dizem logo? E por que Drake ainda não foi atrás dele?
Antes que Camila pudesse responder, Silas, outro dos doze, interveio com um sorriso sarcástico.
— Vargas, você é esperto, mas às vezes parece não saber usar essa inteligência. — Ele se levantou lentamente, ajustando o casaco. — Se vossa alteza disse para não nos preocuparmos, então estou fora. Vou treinar.
Sem olhar para trás, Silas caminhou para a saída.
Poucos segundos depois, os nobres começaram a se dispersar, seguindo seu exemplo. Restaram apenas os do círculo, com exceção de Silas permaneceram.
Camila esperou o salão esvaziar antes de ativar uma barreira de som. Sua expressão, antes fria, agora mostrava um toque de frustração.
— Silas provavelmente já sabe de algo. E para deixar claro: eu não sei de nada ainda. — Sua voz carregava irritação. — Tio Solomon apenas disse para não fazermos nada, e meu pai me igmorou. Se alguém perguntar o motivo, devemos ignorar. Drake foi falar com eles para entender a situação. Isso é tudo.
Cedric franziu o cenho.
— Se você não sabe de nada, como Silas poderia saber? Isso não faz sentido.
Frédéric cruzou os braços, pensativo.
— Isso faria sentido se Silas não fosse um Centuri. — Ele pausou, analisando a situação. — Se eu estiver certo, Okini e Pietro foram buscar esse novato, não é, Camila?
Ela hesitou por um segundo.
— Não sei todos os detalhes. O general Markus deveria ter ido, mas meu avô mandou Okini e Pietro no lugar. — Fez uma pausa, refletindo. — Se Silas conseguiu informações, não foi por meio deles.
O ambiente ficou tenso.
Cedric inclinou-se para a frente, os olhos brilhando.
— O que importa agora é: seguimos o exemplo de Silas ou esperamos pelo Drake?
Camila exalou, irritada.
— Façam o que quiserem, mas sem repetir esse tumulto ridículo. — Sua voz subitamente endureceu. — Vocês não irão atrás do novato. Não até Drake retornar. Está claro?
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A repercussão do confronto entre Harkin e Stein se espalhava pela academia. A notícia se alastrava como fogo, trazendo inquietação não apenas entre os alunos, mas também no corpo docente.
Stein não era um qualquer. Top cinquenta entre os guerreiros mais fortes da academia, derrotado por um desconhecido. O choque foi tão grande que até os professores começaram a discutir o incidente.
Na sala de reuniões, os principais instrutores e coordenadores da academia estavam reunidos. O ambiente era carregado de tensão.
Sentados ao redor da longa mesa de mármore, oito instrutores de combate, seis professores de disciplinas técnicas e três coordenadores aguardavam o início da conversa. No centro de tudo, presidindo a discussão, estava Gordon, o diretor da academia.
Depois dos cumprimentos formais, Julian Ballistari, um dos instrutores mais influentes, tomou a palavra sem rodeios.
— Espero que hoje possamos finalmente acessar as informações sobre o estudante transferido. — Ele se virou para Gordon, os olhos carregados de frustração. — Eu o conheci pessoalmente, mas ele não fala muito sobre si. Quem diabos é esse garoto?
Gordon suspirou profundamente antes de responder.
— Eu sei que Harkin já causou problemas, e vou lidar com ele pessoalmente. — Sua voz era firme, mas carregava cansaço. — No entanto, não posso fornecer mais informações sobre ele. O imperador proibiu qualquer divulgação.
A sala mergulhou em silêncio.
As palavras "o imperador proibiu" ecoaram pela mente de todos ali.
Julian Ballistari não conteve a irritação.
— Você só pode estar brincando comigo, Gordon. Esse garoto nem está no curso de combate! O que importa aqui não é quem ele é, mas o que ele ousou fazer! Ele desrespeitou o seu sobrinho! — Ele socou a mesa, a frustração evidente. — E ainda citou o regulamento da academia para me desafiar!
Gordon fechou os olhos por um instante antes de responder.
— Julian, eu entendo a sua revolta. Mas minha resposta continua a mesma: perguntem diretamente a ele ou ao imperador. Eu não posso dizer mais nada. — Ele fez uma pausa e, em seguida, acrescentou: — E, para encerrar essa discussão, Harkin está no curso de pesquisa. Foi a escolha dele.
Julian deu um suspiro frustrado.
— Pesquisa? Um estudante de pesquisa derrotando um dos nossos melhores combatentes? Isso não faz sentido.
Ele se levantou, os olhos ainda cheios de insatisfação.
— Vou confiar em você, Gordon... mas algo me diz que as coisas vão ficar bem mais interessantes por aqui.
E com essas palavras, deixou a sala, seus passos ecoando no silêncio que ficou para trás.
"Já não tenho problemas o suficiente cuidando dos meus filhos, e da Academia, e agora me aparece mais essa." — Pensou Gordon.
Fingindo não notar a insatisfação do corpo docente ele resumiu as atividades e passou para o próximo tópico.
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Enquanto o nome de Harkin era debatido na academia, o centro do poder se movia em outra direção. A Acrópole Flutuante, residência da família imperial, agora servia de palco para outra conversa crítica.
Drake avançava pela área residencial com passos pesados. Seu humor era sombrio. Desde que soubera do incidente, não conseguia ignorar a frustração crescendo dentro dele.
Chegando à mansão de sua família, passou direto pelo salão principal e seguiu para o escritório de Solomon, seu pai.
Ao abrir a porta, encontrou o homem de pé, olhando pela janela, como se já esperasse sua chegada.
— Imagino que você veio falar sobre seu irmão e o motivo de eu não ter permitido que vocês agissem. — Solomon disse, sem tirar os olhos da paisagem.
Drake assentiu, a expressão carregada de insatisfação.
— Entendi que o vovô pediu para não nos envolvermos... mas esse novato está desafiando diretamente nossa família. Vamos mesmo deixar isso passar?
Solomon virou-se lentamente, caminhando até sua poltrona.
— A situação desse garoto é mais complicada do que parece. — Sua voz era calma, mas carregada de algo mais profundo. — Eu também estou furioso, mas devemos nos manter calmos diante da fúria. Caso contrário, nossos inimigos encontrarão uma fraqueza.
Drake cruzou os braços, a frustração ainda visível.
— E deixar isso sem resposta nos torna mais fortes?
Solomon suspirou, massageando as têmporas.
— Em que momento eu disse para deixar pra lá? Sei exatamente o que aconteceu com Stein. Seu avô ordenou que Stein resolva isso. Não percebe? É uma oportunidade. O velho nunca faz nada sem propósito.
Drake hesitou. Ele sabia que seu pai nunca falava sem calcular cada palavra.
— Deixar Stein resolver isso sozinho... é isso que você quer dizer?
— Sim. Vocês estão acostumados a depender do poder do nome da família. Mas nem sempre podemos resolver tudo com força bruta.
Drake cerrou os punhos, mas antes que pudesse protestar, Virman, o mordomo da família, entrou na sala com uma bandeja de chá.
Solomon acenou para ele.
— Obrigado, Virman. Vamos comer, filho. — Ele pegou uma xícara e tomou um gole antes de continuar. — Não podemos atacar o novato diretamente... mas seu avô não mencionou nada sobre os outros ao redor dele.
Drake ergueu uma sobrancelha, confuso.
— O senhor não está sugerindo atacar Okini, está? O vovô nos mataria se tocássemos nela.
Solomon riu, quebrando a tensão.
— Não, filho. Estou dizendo para pensarmos com estratégia. O novato chegou há poucos dias. As únicas pessoas que tiveram contato com ele foram Okini, Markus e Pietro. Nenhum deles se voltaria contra nós. Então, por que ele criou essa situação? Ele fez isso sozinho ou foi manipulado?
Drake franziu o cenho.
— Se há alguém por trás dele, precisamos descobrir quem. Mas devemos fazer isso discretamente.
Solomon sorriu, satisfeito.
— Exato. Até os aliados têm suas próprias ambições. Se a pessoa por trás dele estiver em nosso círculo de confiança, precisamos agir com cautela.
Drake tomou um gole do chá, refletindo.
— Então o primeiro passo é conversar com o general Markus. Ver o que ele sabe.
— Boa ideia. Ele pode nos ajudar a entender melhor a situação. Enquanto isso, eu lidarei com os nobres, mas com sutileza. Não podemos levantar suspeitas antes da hora.
Drake assentiu e se levantou.
— Vou falar com Markus agora. Obrigado pela conversa, pai.
Solomon apenas acenou, observando o filho sair.
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