Volume 2: Correntes invisíveis.

Capítulo 4: O conselho.

Em Eldravel, Eiden sorria em seu trono enquanto os conselheiros presentes conversavam e debatiam, tentando entender a situação. Bahrein, que o observava com atenção, questionou:

— Você acha isso engraçado, Majestade? Quase destruiu a capital. Um enviado de Nerio está causando caos por toda a cidade, e agora descobrimos — por Solomon — que esse garoto é filho de Morgana. Seria possível nos explicar por que ri?

O questionamento de Bahrein calou todos que falavam e atraiu o olhar daqueles que estavam em silêncio.

"Acho que estou dando liberdade demais ao meu conselho... Não. Foi para isso que criei o conselho e a república."

Eiden observou os rostos ao redor e, por fim, respondeu:

— Há muito a ser dito. Mas, antes, quero ter certeza de que todos aqui estão dispostos a ouvir algo que pode abalar a estrutura do Império.

— Milorde, o que poderia ser tão importante a ponto de nos ameaçar? — perguntou Ivan, um dos nobres, dando voz ao temor comum entre os presentes.

— Antes de continuar, quero ter certeza de que vocês estão de acordo.

Darma respondeu, como representante informal do grupo:

— E quanto a Solomon, Leona, Kaius, Erik, Markus, Gordon... e os outros que não estão aqui?

Eiden olhou para as cadeiras vazias. Apenas as dos generais estavam desocupadas.

"Erik não voltará pelos próximos dias. Os demais estão em seus postos de controle e só virão se Kaius ou Erik os convocarem."

O silêncio da sala contrastava com a movimentação intensa da Acrópole do lado de fora. Mas as paredes de Eldravel isolavam todo som externo.

— Senhores e senhoras. No conselho dos nobres, falta apenas Solomon. Nos dos representantes públicos, somente Gordon. Os demais são generais — e, como sabem, não virão. Quanto aos nomeados por você, Darma, esses já sabem do que vou tratar.

Os conselheiros se entreolharam, confusos. Eiden ergueu o braço, e uma barreira mágica se formou em torno do salão do trono.

— Tomarei o silêncio de vocês como concordância. A barreira servirá para impedir olhares curiosos de espionar o que será dito.

— Majestade, acredito que nos dar um pouco mais de contexto seria mais prudente — disse Katherine, uma das senadoras, com voz firme.

Seus cabelos loiro-claros, quase brancos, combinavam com os olhos castanhos-mel. Observava Eiden como uma felina paciente, esperando o momento certo para atacar.

— Agora vocês vão começar a me dizer como devo conduzir tudo? E me questionar a cada passo?

Ninguém se atreveu a responder. O som de algumas engolidas secas ecoou até o trono — não de Katherine, nem de Bahrein.

"Covardes. Falam o que querem, mas não aguentam um pingo de pressão quando sou eu quem impõe."

Foi Fernanda, uma das nobres, quem quebrou o silêncio:

— Se não for para aconselhar, milorde... de que serve o Conselho?

"Finalmente alguém com coragem para rebater."

— De fato, Fernanda.

A maioria deles sentiu um nó se desfazer na garganta quando Eiden concordou com Fernanda. O ambiente aliviou um pouco.

— Enfim, contextualizando... — Eiden falou, lançando uma meia careta para Katherine. — A origem do garoto é complicada, e eu vou contar a vocês. Mas preciso ter certeza de que entenderão tudo. Antes de começar, me ouçam até o fim. Depois disso, tirarei as dúvidas. Aqueles que não estiverem de acordo, por favor, se retirem agora. Entendido?

Uma veia saltou no pescoço de Bahrein.

"Nos fazer concordar com algo que nem sabemos o que é? Somos idiotas sem cérebro agora?"

Foi Darma quem falou agora:

— Milorde, já tem minha total lealdade. Antes mesmo de o senhor perguntar, eu continuaria em qualquer caminho que vossa majestade decidisse seguir.

— Assim como todos os outros nobres — completou Fernanda. — Nossas casas existem porque vossa alteza nos salvou séculos atrás. Nossa lealdade é inquestionável.

Os nobres da sala acenaram em concordância.

— Mas... — ela continuou — precisamos ao menos nos manifestar, milorde. Nossas preocupações são importantes para que este conselho continue sendo um conselho.

Bahrein viu a brecha e falou:

— Muito bem pontuado, senhora. Se vossa majestade marchar até o inferno, o império o seguirá. Entretanto, essa é a primeira vez neste conselho que o senhor pede algo sem detalhes. É desconcertante — ainda mais depois do episódio do seu descontrole.

As palavras do senador vinham com um tom de aparente apoio, mas carregavam a acidez de um inimigo que usava a semântica para minar a posição do imperador.

"Jogos de palavras? Sério? O arsenal de Bahrein está cada vez mais pobre."

Uma luz sutil cobriu o topo interno de Eldravel, indicando que a barreira estava completa. O mundo exterior tornou-se um universo à parte da sala do trono. Nem mesmo Glaëndir conseguiria invadi-la.

— Obrigado a todos por entenderem — disse Eiden, olhando nos olhos de cada presente. Relaxando novamente no trono, retomou a fala:

— Tudo começou antes do império ser…

— Acho que agora não é hora de nos atentarmos a isso. — disse Markus. — Eu não queria esconder nada de vocês, mas o imperador ordenou. Eu não tenho o sangue dele como vocês têm, mas não desobedeceria suas ordens, ainda mais conhecendo as personalidades de vocês.

Leona não teve tempo de responder. Solomon foi quem avançou:

— Seja claro, Markus. Você claramente sabe o que nós não sabemos. Além de Kaius e Erik, você é em quem nosso pai mais confia… filho de sangue ou não.

— O ponto não é esse! — rebateu a caçula. — Pouco me importa de que útero você saiu. O importante é que você está escondendo coisas da gente — e, apesar das nossas diferenças, nunca agimos com segredos em momentos assim.

Gordon decidiu intervir, aproximando-se do grupo:

— De fato, Leona está certa nessa. Solomon é um bastardo sedento por poder, Leona é obcecada em ser a melhor guerreira, e eu sou um velho que só quer viver em paz — o que é difícil, diga-se de passagem. Mas, enfim... você sempre foi quem nos manteve unidos, Markus. E me desculpe, mas sua lealdade cega ao imperador não é uma justificativa boa o bastante pra esconder tudo isso.

Todos olharam para Gordon, surpresos. Era raro ele se envolver diretamente em momentos assim. Ainda assim, suas palavras criaram um silêncio pesado no ar. Ele pode ter sido duro, mas não havia mentira no que disse.

— Vocês não estão às cegas. Por que essa revolta comigo? — questionou Markus, visivelmente afetado.

— Porque você sabe mais do que nós — respondeu Gordon, com a voz carregada de frustração. — E isso nos preocupa.

— Se serve de consolo — disse Kaius, adiantando-se — tudo que sei caiu por terra. Ele apresentou um comportamento completamente diferente de quando o conheci... e sua força vai além do esperado.

Solomon ouviu com atenção, procurando por brechas. Leona estava curiosa, e Gordon permaneceu inexpressivo.

Antes que a conversa se prolongasse, o som seco da bengala de Kaius ecoou pelo chão, chamando a atenção de todos.

— Independente da briga familiar de vocês — disse, aproximando-se — esse jovem é descendente de Eiden. Mesmo que discordem, ele é parte da família. Aceitem-no. Pelo que conheço de Eiden... — por um instante, um leve sorriso se formou em seu rosto — ele não vai permitir que esse garoto simplesmente desapareça. E, honestamente, é melhor que aceitem logo isso. O potencial do irmão de vocês vai muito além do comum.

Todos o encararam em silêncio. Os olhos de Leona se arregalaram. Solomon ficou sério, com a expressão de quem segurava um grito. Gordon e Markus apenas mantiveram a atenção fixa no velho general.

— Hahaha... então ainda consigo atrair a atenção de vocês com palavras — disse Kaius, rindo enquanto acariciava a barba. — Me digam: qual de vocês, ou de seus filhos, conseguiria fazer o que ele fez? O moleque segurou o próprio pai de vocês. Sabem quantas vezes eu vi Eiden ser contido desde a fundação do império?

A pergunta pairou no ar. Nenhum dos herdeiros respondeu. Eles apenas se entreolharam em silêncio, sem saber o que dizer. Gordon foi o único a se perder em contemplação, e os demais notaram seu momento de reflexão.

Enquanto o imperador contava ao seu conselho, um grupo curioso se reunia na entrada de Eldravel.

— Leona, eu até entendo o Solomon... mas por que você também tá aqui?

A princesa olhou para Markus. Seus olhos eram penetrantes. O silêncio se estendeu por um minuto. Vendo que ela não respondeu, ele continuou:

— Você não precisa agir assim… Tá brava pelo quê, agora?

Perdendo a calma, ela esbravejou:

— E você ainda pergunta? Você sabia de tudo isso, Markus, e ficou quieto?! Nós temos um irmão mais novo, e você não fala nada?! E daí que o papai pediu segredo? A gente tinha o direito de saber!

Kaius manteve-se sereno, encostado na parede, observando a pequena discussão familiar. Gordon levantou uma sobrancelha ao ver Leona perder a calma.

"Por algo tão trivial..." — pensou —  "Não vale a pena se estressar por isso. Ela deveria guardar essa raiva pro moleque... aquele filho da puta dá tanta dor de cabeça quanto o Stein. Pelo menos o Stein é previsível…”

— Acho que agora não é hora de nos atentarmos a isso. — disse Markus. — Eu não queria esconder nada de vocês, mas o imperador ordenou. Eu não tenho o sangue dele como vocês têm, mas não desobedeceria suas ordens, ainda mais conhecendo as personalidades de vocês.

Leona não teve tempo de responder. Solomon foi quem avançou:

— Seja claro, Markus. Você claramente sabe o que nós não sabemos. Além de Kaius e Erik, você é em quem nosso pai mais confia… filho de sangue ou não.

— O ponto não é esse! — rebateu a caçula. — Pouco me importa de que útero você saiu. O importante é que você está escondendo coisas da gente — e, apesar das nossas diferenças, nunca agimos com segredos em momentos assim.

Gordon decidiu intervir, aproximando-se do grupo:

— De fato, Leona está certa nessa. Solomon é um bastardo sedento por poder, Leona é obcecada em ser a melhor guerreira, e eu sou um velho que só quer viver em paz — o que é difícil, diga-se de passagem. Mas, enfim... você sempre foi quem nos manteve unidos, Markus. E me desculpe, mas sua lealdade cega ao imperador não é uma justificativa boa o bastante pra esconder tudo isso.

Todos olharam para Gordon, surpresos. Era raro ele se envolver diretamente em momentos assim. Ainda assim, suas palavras criaram um silêncio pesado no ar. Ele pode ter sido duro, mas não havia mentira no que disse.

— Vocês não estão às cegas. Por que essa revolta comigo? — questionou Markus, visivelmente afetado.

— Porque você sabe mais do que nós — respondeu Gordon, com a voz carregada de frustração. — E isso nos preocupa.

— Se serve de consolo — disse Kaius, adiantando-se — tudo que sei caiu por terra. Ele apresentou um comportamento completamente diferente de quando o conheci... e sua força vai além do esperado.

Solomon ouviu com atenção, procurando por brechas. Leona estava curiosa, e Gordon permaneceu inexpressivo.

Antes que a conversa se prolongasse, o som seco da bengala de Kaius ecoou pelo chão, chamando a atenção de todos.

— Independente da briga familiar de vocês — disse, aproximando-se

— Esse jovem é descendente de Eiden. Mesmo que discordem, ele é parte da família. Aceitem-no. Pelo que conheço de Eiden... — por um instante, um leve sorriso se formou em seu rosto — ele não vai permitir que esse garoto simplesmente desapareça. E, honestamente, é melhor que aceitem logo isso. O potencial do irmão de vocês vai muito além do comum.

Todos o encararam em silêncio. Os olhos de Leona se arregalaram. Solomon ficou sério, com a expressão de quem segurava um grito. Gordon e Markus apenas mantiveram a atenção fixa no velho general.

— Hahaha... então ainda consigo atrair a atenção de vocês com palavras — disse Kaius, rindo enquanto acariciava a barba.

— Me digam: qual de vocês, ou de seus filhos, conseguiria fazer o que ele fez? O moleque segurou o próprio pai de vocês. Sabem quantas vezes eu vi Eiden ser contido desde a fundação do império?

A pergunta pairou no ar. Nenhum dos herdeiros respondeu. Eles apenas se entreolharam em silêncio, sem saber o que dizer. Gordon foi o único a se perder em contemplação, e os demais notaram seu momento de reflexão.

“Quem já parou o papai?” — Leona pensava.

Solomon balançou a cabeça.

“Todo mundo sabe a resposta pra essa pergunta...”

“Eles não vão lembrar… mas Kaius e Erik juntos conseguem parar o pai. Historicamente, Morgana conseguiu ficar frente a frente com ele... além de Leviathan… mas o segundo é só uma lenda. E talvez Haolin... Ainda assim, são poucos. Mas essa nem é a real pergunta aqui…”

Enquanto Gordon refletia, Markus tomou a dianteira:

— Seria bobagem começar a citar nomes. Magicamente falando, o Império é o único continente com uma concentração de magos tão alta. O resto do mundo até consegue produzir guerreiros mágicos, mas... tirando poucos indivíduos seletos ao longo do último milênio, ninguém seria capaz de conter o Imperador.

Ele olhou para os irmãos, que concordaram com discretos gestos de cabeça, e então voltou-se a Kaius:

— O que nos deixa com a real pergunta: o que isso tem a ver com Harkin?

— Astuto como sempre — disse Kaius, batendo palmas levemente enquanto se apoiava na bengala. — Por isso você se tornou o general mais jovem da história do Império.

— Você presenciou em primeira mão, Markus. Aquele garoto segurou a barra enquanto você estava lá. Claro, ele não fez isso sozinho, e acredito que você tenha tido grande influência na formação, e quando chegamos p peso em seus ombros diminui consideravelmente.

Kaius deu alguns passos à frente, ficando de costas para o grupo, olhando para a borda da Acrópole. A cidade se estendia abaixo deles como um tabuleiro.

— Ainda assim, ele serviu como núcleo de uma formação que canalizou o caos do mestre Eiden. Eu pergunto novamente: algum de vocês, ou de seus filhos, conseguiria fazer o mesmo?

Silêncio.

Os olhares variavam entre dúvida, frustração e curiosidade.

— De qualquer forma, julgo que isso seja apenas uma peculiaridade do garoto. Markus, Gordon — vocês são os que mais conviveram com ele. Há algo especial no garoto ou ele só é bom... assim mesmo?

Gordon manteve a expressão neutra.

"Problemas. Essa é a peculiaridade dele. A habilidade de causar problemas."

Mas, diferente do que pensava, respondeu com clareza e firmeza:

— Pietro é quem o conhece. Minha interação com ele se limitou a formalidades de diretor para aluno. O mais próximo que chegamos de conversar foi quando concordei com o anonimato dele na academia.

— Markus? — perguntou Solomon.

"Quando Morgana pediu para que eu ficasse de olho nele, achei que seria só mais um playboy. Mas nas minhas visitas a Nerio nos últimos cinco anos... tudo que aprendi sobre esse moleque é que ele é uma incógnita."

— Ele é mais do que parece.

As pupilas de Markus brilharam em vermelho ao dizer isso.

Kaius, agora realmente interessado, cruzou os braços. Markus podia não ser o mais poderoso dos generais, mas sua percepção e astúcia o tornavam um dos homens mais perigosos do Império. Ele via caminhos ocultos, lia enigmas e reconhecia talentos como ninguém.

"Mais do que parece...? Isso tá ficando cada vez melhor." — pensou o velho general, acariciando a barba com satisfação.

— Percepções individuais à parte — disse Solomon, apontando para o céu no horizonte — nosso “irmãozinho” está chegando.

Ele estreitou os olhos.

— Gênio ou não, ele tem muito a colocar em dia conosco… e explicar porque atacar meus filhos desnecessariamente.

 

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora