Nexus: O Filho das Estrelas Brasileira

Tradução: Banjoloko

Revisão: Banjoloko


Volume 1: Sangue e Promessas.

Introdução: A queda do vazio.

A tempestade rugia como se o mundo estivesse prestes a ser despedaçado. Nuvens negras rodopiavam no céu, cuspindo relâmpagos em todas as direções, enquanto ventos uivantes arrancavam árvores milenares pela raiz. O cheiro de terra molhada e ozônio impregnava o ar, e a floresta, outrora viva, agora se retorcia sob o peso do caos. Era um campo de batalha, palco de uma guerra que decidiria o destino do mundo.

 

No coração da devastação, duas figuras pairavam acima do solo destruído. O jovem, com olhos brilhantes como chamas azuis, era o retrato do caos em ebulição. Ondas de eletricidade dançavam ao redor de seu corpo, transformando o ar em um campo carregado de tensão. Sua expressão refletia mais do que raiva: era determinação, mágoa e uma profunda convicção de que estava certo, mesmo contra tudo e todos.

 

À sua frente, o dragão do vazio pairava como um monumento de equilíbrio e poder. Suas escamas negras reluziam com runas púrpuras que pulsavam suavemente, como se guardassem os segredos do cosmos. Seus olhos, profundos e antigos, observavam o adversário com a tristeza de quem já viu eras se desdobrarem e desaparecerem. Ele não enfrentava apenas uma ameaça; encarava o próprio filho.

 

— Eiden... — disse o dragão, sua voz cortando a tempestade como um trovão. — Ainda há tempo para parar. Não precisamos nos destruir. O mundo já sofreu o suficiente.

 

O jovem deu um passo no ar, e os céus responderam com trovões ensurdecedores. — Parar? — sua voz era um grito misturado à fúria e ao desprezo. — Você fala de parar depois de me arrastar para este ciclo sem sentido? Foi você, pai, com sua moralidade distorcida, que nos trouxe aqui!

 

Ele estendeu as mãos, e um redemoinho de relâmpagos formou-se ao seu redor, cada faísca refletindo a intensidade de suas emoções. — Eu não quero equilíbrio! Quero liberdade! Quero um mundo que não dependa de guardiões eternos para existir!

 

O dragão permaneceu sereno. — Você confunde liberdade com caos — respondeu, sua voz grave e controlada. — Não percebe que suas ações não vão salvar o mundo, apenas quebrá-lo.

 

A risada de Eiden soou amarga. — Quebrá-lo? O mundo já está quebrado! Você teve eras para consertá-lo e falhou! Agora é minha vez. Se preciso destruir para reconstruir, assim será.

 

As palavras cortaram o ar como lâminas. O dragão, imóvel, manteve os olhos fixos nele, sem raiva, apenas carregando o peso de uma decisão inevitável.

 

— Então, que assim seja — disse ele, resignado. — Mas lembre-se: suas escolhas moldarão não apenas o mundo, mas você mesmo.

 

Sem esperar mais, o jovem lançou o primeiro ataque. Relâmpagos dispararam de suas mãos, cortando o ar em direção ao pai. Mas a criatura ergueu uma mão, e as runas em seu corpo brilharam. Um escudo de energia púrpura absorveu os ataques, dissipando-os em faíscas. O jovem não hesitou, avançando em alta velocidade. Suas mãos, envoltas em eletricidade, atingiram o escudo com força, fazendo o ar vibrar.

 

— Isso é tudo o que tem? — provocou ele, enquanto redemoinhos de energia se formavam ao seu redor.

 

O dragão permaneceu impassível. — Sua força é impressionante, mas sua arrogância o cega. Não há vitória para você neste caminho.

 

De repente, ele avançou, movendo-se com uma agilidade que parecia impossível para seu tamanho. Suas asas geraram uma onda de choque que lançou Eiden para trás, mas este se recuperou rapidamente, disparando uma rajada de relâmpagos diretamente no peito da criatura. O impacto ecoou pelo campo de batalha, mas ele permaneceu firme.

 

— Você é forte, mas força não é tudo — disse o guardião, enquanto energia púrpura começava a se condensar ao seu redor.

 

Os dois se engajaram em uma troca brutal de ataques. Raios cortavam o ar enquanto o dragão desviava com precisão assustadora, respondendo com golpes calculados que abalavam o próprio tecido do espaço. Cada golpe moldava o ambiente ao redor, transformando a floresta em um cenário apocalíptico.

 

O jovem, porém, começava a vacilar. Sua respiração estava pesada, e o suor escorria por seu rosto. — Você sempre faz isso, não é? — gritou ele. — Sempre acha que sabe o que é melhor para todos! Mas nunca me deu escolha, pai!

 

A hesitação do guardião foi suficiente para o filho concentrar todo o seu poder em um ataque final. Raios convergiram em suas mãos, formando uma lança de pura energia. Ele a lançou com toda a força, e a tempestade respondeu, concentrando-se no ataque.

 

A lança atingiu o alvo, mas, em vez de retaliar, o dragão ergueu a mão, canalizando sua energia para conter o impacto. O céu brilhou como o dia, e o chão rachou sob a força do ataque. Quando a luz se dissipou, ambos estavam ofegantes, mas ele ainda se mantinha de pé.

 

— Isso é o suficiente — disse, enquanto uma onda de energia púrpura envolvia o jovem, puxando-o para um vazio infinito.

 

No vazio, a batalha cessou. Eiden abriu os olhos e viu o pai em sua forma humana, sereno, mas cansado. Antes que pudesse falar, outra presença surgiu. Uma figura envolta em um brilho dourado apareceu, seus olhos profundos como o universo.

 

O guardião a observou com uma mistura de alívio e melancolia. — Ahvren... — disse ele, sua voz carregada de emoção. — Sabia que você viria.

 

Ela se aproximou lentamente, seus olhos fixos em Empera. — Sempre foi inevitável, irmão. Você lutou pelo equilíbrio até o último momento, mas o ciclo está rompido.

 

Voltando-se para o jovem, ela continuou. — Você não entende o que destruiu, mas terá tempo para aprender. Porque o tempo é tudo o que você terá. — Seus olhos, cheios de uma sabedoria incompreensível, fixaram-se nele. — Nós, dragões, não morremos completamente. Existimos no ciclo. Mas você rompeu isso. Agora está fora do ciclo, como eu.

 

Eiden estreitou os olhos, confuso e defensivo. — O que isso significa?

 

— Eternidade — respondeu Ahvren, sua voz quase um sussurro. — Um presente e um fardo. Você viverá enquanto o mundo viver, e talvez além dele. Mas isso não é liberdade. É responsabilidade.

 

— Ahvren... — começou Eiden, mas o pai o interrompeu, tocando-lhe o ombro. — Meu último ato será dar a você o título de Visra Empera. Não porque concordo com você, mas porque o amo.

 

Com essas palavras, o vazio se desfez.

 

A tempestade dissipou-se lentamente, dando lugar a um céu límpido, onde o sol nascente tingia as nuvens de um dourado cálido. No centro de uma vasta cratera, onde outrora existia uma floresta vibrante, um lago começava a se formar, alimentado pelas incessantes chuvas que pareciam refletir o luto do próprio mundo. Ali, no meio do vazio recém-criado, Eiden permanecia imóvel, flutuando na superfície da água. Seus olhos, antes cheios de fúria e convicção, agora fitavam o nada.

 

Dias passaram, e ele não se moveu. As palavras de Empera ecoavam em sua mente, como um mantra inevitável: “Você está livre, mas não das consequências." Cada lembrança da batalha, cada troca de golpes, parecia gravada em sua pele como as runas que agora cobriam seus braços. O peso de sua vitória parecia maior do que qualquer derrota.

 

"Imortalidade..." – Ele pensou, olhando para o reflexo de seu rosto na água. As palavras de Ahvren voltaram à tona. A explicação sobre a eternidade dos dragões — a existência cíclica, o renascimento constante, a conexão com o fluxo do mundo — agora parecia uma cruel ironia. Ele havia rompido esse ciclo ao matar Empera, assumindo para si um peso que não compreendia completamente.

 

— Livre... — murmurou, a palavra saindo amarga. — Não sei se isso é liberdade ou uma prisão ainda maior.

 

Sua mente vagou para a memória mais vívida de Empera: o pai que, mesmo em seu último ato, sorriu para ele e o amou. "Você não pode mais existir no meu mundo, mas eu o amo." Essas palavras eram uma lâmina afiada, cortando mais fundo do que qualquer ataque físico. Pela primeira vez, ele questionou se realmente entendia o que havia conquistado.

 

Naqueles dias de isolamento, o vazio ao seu redor parecia refletir o que sentia por dentro. O conhecimento de Empera, agora parte de si, surgia em flashes desconexos — fragmentos de uma mente que transcendeu eras. Cada nova compreensão ampliava o peso que carregava, transformando sua vitória em uma introspecção dolorosa. Ele percebeu que sempre buscara força, poder e controle para moldar o mundo, mas nunca realmente considerou o que isso custaria.

 

— Você sabia que isso aconteceria, não é? — disse ele para o vazio, como se Empera ainda pudesse ouvi-lo. — Sabia que eu ia sentir isso. Você deixou que eu vivesse a dor de ser como você, para que eu entendesse o que significava ser um guardião. Um preço pelo qual eu nunca pedi...

 

Eiden fechou os olhos, deixando o silêncio do lago envolvê-lo. Ele se lembrou da infância, do olhar protetor de Empera, das lições compartilhadas no topo das montanhas. Cada memória era um lembrete do elo que ele havia rompido, não apenas com o pai, mas com tudo o que ele representava.

 

No entanto, entre a dor e a dúvida, algo começou a emergir. Uma pequena faísca de vontade, um desejo de se mover, de encontrar um propósito além da destruição. As palavras de Empera retornaram: "Não se considere o mal do mundo, mas tampouco ache que é o bem dele. As histórias são moldadas por quem as conta."

 

Ele olhou para o céu, onde a luz do sol banhava o lago recém-formado, refletindo-se em sua superfície como se o mundo estivesse começando de novo. Talvez houvesse algo a construir, algo que ele ainda não entendia completamente. Ele tocou o reflexo com a ponta dos dedos, criando pequenas ondulações que distorceram sua imagem.

 

— Talvez eu tenha sido tolo, pai — murmurou. — Mas se ainda estou aqui, é porque posso fazer algo com isso. Algo diferente. Algo meu.

 

Ele não sabia quanto tempo ficou ali, mas quando se levantou, sentiu um peso menor em seus ombros. Observou as runas brilhando em seus braços e tocou a tatuagem no peito, onde o símbolo de Empera agora residia. Era um lembrete, uma marca de tudo o que ele havia perdido e tudo o que havia ganhado.

 

— Você me deu liberdade e um fardo, pai. Mas também me deu uma escolha. E eu farei algo com isso — disse, sua voz ganhando força. — Vou moldar o mundo à minha maneira, não por vingança ou controle, mas para encontrar algo... algo que valha a pena.

 

Ele deu o primeiro passo para fora do lago, a água escorrendo de seu corpo enquanto o sol aquecia sua pele. À medida que caminhava em direção à borda da cratera, o vento soprou suavemente, carregando consigo o eco de um rugido distante. Ele parou, olhando para o horizonte.

 

— Obrigado... — murmurou, como se falasse diretamente ao pai.

 

Eiden ajustou a faixa rasgada em sua cintura e seguiu em direção à floresta, onde novas sementes já brotavam entre os destroços. O ciclo do mundo continuava, e ele agora fazia parte de algo maior. O preço da eternidade era alto, mas ele estava determinado a pagá-lo.

 

Seu destino era incerto, mas, pela primeira vez em muito tempo, ele se sentia livre.

 

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